O PATINHO FEIO FIM
Com as aulas, o surf e a ilustração da história da Sofia, fico tão cansada que me adormeço mal pouso a cabeça na almofada.
Nem dou conta da crescente tensão entre os Pais e acordo uma noite assustada com as vozes alteradas.
Ouço frases soltas, estás a trair a minha confiança, diz a Mãe, mas que mal há em dar o próximo passo? repete o Pai.
Acabo por me levantar, fico no corredor a tentar ouvir mais, mas há um click, sinal de que abrem a porta da sala e fujo de imediato para o meu quarto.
O que é aconteceu? O que é que a Mãe quis dizer com " trair a minha confiança"? Dou voltas à cabeça, mas não encontro uma resposta e não me atrevo a perguntar.
O Pai não está na cozinha quando vou tomar o pequeno almoço, a Mãe está tensa e diz laconicamente que o Pai foi viajar.
Viajar sem me dizer nada? penso, mas a Mãe saí da cozinha, está visivelmente perturbada.
Passo o dia preocupada, a Sofia tenta acalmar-me, já sabes que os adultos discutem, afirma, sim, mas porque é que o Pai foi viajar e não me disse nada? friso.
A Sofia não tem resposta para isso e o ambiente na casa está frio. O Pai telefona-me, mas evita responder à pergunta crucial: onde está e quando volta?
Naquele sábado, vai-me buscar para a aula de surf, cheguei ontem à noite, explica, tenho que falar contigo, por isso, o Gonçalo não vai.
Sentamos-nos na areia com as pranchas ao lado e o Pai começa a falar, que a Mãe e ele tiveram uma divergência profissional, que a Mãe está irredutível e por isso, decidiram terminar a parceria.
Infelizmente, continua, essa divergência também se reflecte no nosso relacionamento pessoal e por isso, voltei para o meu antigo estúdio. Provavelmente, terei que comprar um apartamento maior para ter um quarto para ti, mas por agora, fico por lá.
Cala-se, sorri-me e eu sinto-me tão gelada que não consigo falar. Acabo por me levantar, pego na prancha e vou à procura de ondas.
O Pai segue-me, já me consigo equilibrar na onda, regresso à praia, volto para apanhar outra onda.
A segunda onda atira-me rudemente para a praia, fico ofegante, o Pai está preocupado, mas eu abano a cabeça, quero voltar para casa, peço.
Não falamos durante a viagem de regresso, nem quero ouvir a Mãe que também quer esclarecer a situação.
Sinto-me como se tivesse sido apunhalada, estavas morta! ri-se o Gonçalo quando o confesso, mas a Sofia empurra-o para fora do quarto e ficamos as duas sentadas no chão sem falar.
Neste momento, não consigo explicar o que sinto, apenas que me volto a sentir "feia" como se tudo tivesse sido culpa minha.
Mas não é...
FIM
Comentários
Abraço e saúde
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Beijos. Votos de uma boa noite!