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A mostrar mensagens de agosto, 2022

A DISCUSSÃO PARTE III

  Espero que não vá de jeans e T-Shirt branca com o logótipo da ONG, desabafa a Madalena com a Teresa e a amiga ri-se. A Clarinha pediu-lhe conselhos, a Mãe fala de vestidos brancos e véus, conta, eu quero uma coisa mais simples e acho que a Teresa me pode ajudar. Gosto dos vestidos étnicos que usa, pensei numa coisa do género! O resultado é um vestido midi, amarelo claro com mangas rendadas, como acessórios, a Clarinha escolheu um colar e pulseiras em prata. Os sapatos de salto alto são de um amarelo mais forte, o cabelo preso num simples rabo de cavalo, a Clarinha está linda e a Madalena respira de alívio. No Registo, só estão os noivos, os Pais e os irmãos, a restante família e os amigos esperam-nos no restaurante, o Bernardo Júnior nomeado fotografo oficial pela Tia de Máquina em riste. É um almoço sossegado, com piadas comedidas, os noivos despedem-se por volta das cinco da tarde, vão passar a noite num hotel perto do aeroporto, partem muito cedo na manhã seguinte. A Madalena está

A DISCUSSÃO PARTE II

  Perfeitamente natural, concorda o Bernardo, é uma história do teu passado que poderia ter acabado mal, mas que ultrapassaste com força... A Clarinha não devia ter tocado nesse assunto, as circunstâncias são diferentes! Mas para ela não, suspira a Matilde, podemos falar noutra coisa? Preciso de desanuviar a cabeça, tive uma história complicada, errei bastante, mas está no passado. A Clarinha conta à Mãe o que se passou, a Madalena fica indignada, isso pertence ao passado da Matilde, não podes, não tens o direito de falar nisso! Tens que ser um pouco mais diplomática, Clarinha, trabalhas para uma ONG e sempre achei que isso era importante! Ok, ok! Falhei, fui muito pouco diplomata! exclama a Clarinha, mas estava a falar com a minha irmã! Não há dois pesos e duas medidas, interrompe a Mãe, e não vamos falar mais neste assunto! A minha família está em pé de guerra, desabafa a Clarinha nesse noite, o Mateus fica calado, espera que a noiva desenvolva o assunto. A Matilde irritou-me, eu fal

A DISCUSSÃO

  Estou muito preocupada, confessa a Madalena naquela manhã à Teresa, a Clarinha quer casar com o Mateus e passar a lua de mel a trabalhar como voluntários numa ONG em África. Há quanto tempo é que ela o conhece? Seis meses? a Teresa está confusa e a amiga suspira, está a ser tudo muito rápido!!! Eu e o Telmo não sabemos o que pensar...depois do que aconteceu na Argentina... Não com a Clarinha, pensa a Teresa, aquela menina está sempre em movimento, tão impulsiva....mas não disse nada, pois a Madalena está muito transtornada. Em casa, a Clarinha está a arrumar os armários, a seleccionar as roupas que leva e as que vai doar à organização e a Matilde (a Mãe telefonou-lhe desesperada, será que lhe podes meter algum juízo na cabeça???) senta-se na cama, sem saber muito bem como começar. Tenho que comprar uma nova mochila, diz a Clarinha, e um outro saco cama, tenho que perguntar ao Mateus onde comprou o dele. Tens a certeza que é isto que queres? repete a Matilde, não achas que te estás a

TEMPESTADE FIM

  O quê??? Vou ficar prisioneiro em casa, a aturar a Inês? protesta o Edgar, ninguém está a dizer isso, idiota, corta a nossa irmã, durante uns tempos, vamos questionar tudo o que fazes, exigir respostas concretas sobre a necessidade de gastares dinheiro, continua. O Edgar está tão surpreendido que quase não respira, o Miguel dá-lhe uma palmada nas costas, podes ajudar o Matias na gestão da empresa, o meu irmão olha para mim, assustado, não entende nada do assunto. Sorrio, podes ajudar-me a planear e a organizar um ginásio, interrompo, podes pesquisar os fornecedores de equipamento desportivo, pedir cotações, não é assim tão complicado. Podes ser o motorista da tua Mãe, sugere o António, a Teresa diz que ela está ansiosa por voltar a trabalhar, mesmo que seja em part-time. E as aulas? pergunta o meu irmão em voz sumida, o Miguel encolhe os ombros, organiza-te! responde, levanta-se, a reunião está concluída, o tio António acerta alguns detalhes com o Edgar. Resolvo ir com ele, não entro

TEMPESTADE PARTE IV

  O assunto tem que ser discutido com a família, aviso, vamos esperar pelo Miguel para falarmos, até lá, ficas em casa, só sais para ires ao Instituto e ao Centro Desportivo. Mas o que é que eu faço relativamente a quem devo dinheiro? protesta o meu irmão, não me vais emprestar dinheiro???? Não, vamos discutir este assunto em família, repito, depois decidimos o que fazer... Tenta protelar, diz que estás a arranjar o dinheiro, propõe um prazo...e nada de falar com a Mãe sobre isto! O Edgar não diz mais nada, fico a pensar que talvez fosse melhor emprestar-lhe o dinheiro, mas nada me diz que isto não volte a acontecer. No regresso, o Miguel convoca uma reunião de irmãos, pedimos à Teresa para organizar um almoço, uma visita, qualquer coisa que distraia a Mãe. A tia fica confusa, quer saber porquê, o Miguel desculpa-se, promete contar-lhe tudo depois e a Mãe, os miúdos e a Inês vão passar o dia com a Teresa na vila. A Inês sente que os irmãos lhe escondem qualquer coisa, tenta ficar, mas

TEMPESTADE PARTE III

  O dia foi longo e cansativo, tudo o que quero é um bom banho e dormir. Mas o Miguel telefona pouco depois do jantar, quer saber se estamos todos bem, acha que a Mãe lhe está a esconder alguma coisa e manda-me um SMS. Tenho que lhe telefonar, contar as idiotices do Edgar, as discussões com a Inês, mas não é isso que me preocupa, confesso, é o facto dele chegar de madrugada, ser visto pelos miúdos e estes fazem imensas perguntas. O meu irmão suspira, tem uma nova namorada? pergunta, mas eu não sei, há muito tempo que eu e o Edgar não temos uma conversa franca, temos interesses diferentes, estamos a afastar-nos. Tens que falar com ele, explicar-lhe que está a preocupar a Mãe, insiste o Miguel, mas eu não concordo. Acho que é melhor esperar que estejas cá, respondo, falamos os dois com ele e talvez aceite melhor! O Miguel não fica muito convencido, desliga e eu estendo.me na cama, devia sair e divertir-me um pouco, mas estou tão cansado. O Edgar entra no quarto, fico surpreendido e não r

TEMPESTADE PARTE II

  Ignoro-a, é o melhor a fazer, a Inês gosta de provocar as pessoas, a família perdoa-lhe, mas os outros podem ser muito desagradáveis. O problema é que a minha irmã não desiste, espero que a vida lhe ensine que temos que ser moderados. Felizmente, os meus sobrinhos estão tão cansados que adormecem pouco depois de começar a ler a história. A Mãe e a Inês estão a falar na sala, hesito, vou ter com elas ou não? mas prefiro ir para o meu quarto, trouxe trabalho para rever. Adormeço rapidamente, com o computador ligado, papéis espalhados pelo chão, nem dou conta das horas a que o Edgar chega. Deve ser tarde, "escandalosamente tarde" como refere a Inês na manhã seguinte quando a Mãe me pede para falar com ele. Mas é normal chegar por volta das cinco e meia, seis da manhã, protesto, e porque é que tenho que ser eu falar? Talvez aceite melhor, continua a Mãe, ultimamente o teu irmão está um pouco agressivo, já lhe chamei a atenção, pede desculpas, mas depois "esquece-se".

TEMPESTADE

  Suspiro, isto de ser irmão do meio é cansativo, mas não me posso queixar na verdade. Os meus irmãos e irmãs podem ser uma verdadeira tempestade tropical, mas se alguma coisa correr mal, somos uma muralha. Estranho todas estas metáforas, talvez porque sou a mente criativa da família, tomei conta da gestão da empresa de design da Mãe e estou a vigiar as obras de renovação das casas que o Pai comprou. A Mãe está preocupada, é trabalho demais, diz, mas o Tio António e o irmão ajudam-me, também eles têm casas na vila, conhecem as pessoas certas. Fico cansado, é certo, não tenho um minuto de descanso, porque a Filipa mudou-se para cá com os miúdos e fomos obrigados a participar nas tarefas domésticas. Felizmente, o Luís e a Matilde são miúdos fantásticos, nada rebeldes, o único problema é com o Edgar que continua a pensar que é o melhor do Mundo e arredores. Ontem, li eu a história, protesta o Edgar, é a tua vez, Inês. Tenho um encontro marcado... Com quem? interrompe a Inês, trocista, a t

O CONSELHO FIM

  A conversa com o Gonçalo não corre bem e terminamos, não sei bem porquê, confesso mais tarde à minha Mãe, mas acho que é o mais correcto. Peço a transferência para aulas que ele não frequenta, não estás a ser radical demais? pergunta a Mãe, abano a cabeça, precisamos de começar de novo, explica. A Sofia telefona-me, não quer acreditar, também acha que estou a exagerar, mas compreende que estou confusa, que preciso de tempo para pensar, para descobrir o que quero. O tempo passa, de vez em quando eu e a Sofia encontramo-nos para beber um café, conversar um pouco. A Sofia está radiante, adora o trabalho, é excitante, um permanente desafio, explica, e tenho tido uma gravidez sem complicações. O Dinis queria saber o sexo, diz, mas eu quero que seja uma surpresa! E vocês? pergunto, o que é que decidiram fazer da vossa vida? e a Sofia suspira, entrelaça as mãos, ampara a barriga. O Dinis conheceu alguém, responde, têm muitos interesse em comum e ele está verdadeiramente interessado. Fico ca

O CONSELHO PARTE V

  Eu acho que tomaste a decisão errada, conta o Gonçalo, a Matilde defendeu-te...embora diga que era capaz de não ter essa coragem!  E discutiram por causa da minha gravidez? repete a Sofia, não te diz respeito, Gonçalo, só eu e o Dinis é que podemos decidir! E, se queres a minha opinião, não me admira nada que a Matilde termine tudo contigo!!! ÉS UM BRUTO! Enquanto isto se passa, eu ando de um lado para o outro no meu quarto, nervosa e com vontade de gritar, o Gonçalo mostrou-se tão insensível! Será a pessoa ideal para eu construir a minha vida? a minha mente pergunta-me. Ter interesses comuns não basta! respondo, tenho mesmo que rever o que quero desta relação! e fico surpreendida quando a Mãe bate à porta e entra. Passa-se alguma coisa, Matilde? pergunta, estás a andar de um lado para o outro como uma doida! Acabo por me sentar no chão, a Mãe prefere a cadeira, ouve-me até ao fim,. Quando termino, a Mãe suspira, dá-me uma palmada amigável na mão, tenho a certeza de que o Gonçalo não

O CONSELHO PARTE IV

  A Teresa sorri, o que é que achas da decisão da nossa filha? e o António suspira, acho que é ainda muito cedo para assumir tal responsabilidade, confessa, mas se é o que quer, sei que o ponderou bastante, vou apoiá-la! Eu também, diz a mulher, só não entendo porque é que foi falar primeiro com a Carolina! Sempre nos mostramos disponíveis para falarem abertamente sobre os que preocupam... O marido encolhe os ombros, para te ser franco, pensei que isto aconteceria com o Gonçalo e não com a Sofia! responde. Entretanto, a Sofia está a jantar com o Dinis, um Dinis que a ouve muito sério até ao fim. Também tenho pensado nisso nestes últimos dias, comenta, tudo isto aconteceu rápido demais, eu ia propor vivermos juntos para nos conhecermos antes da chegada do bebé.... Não concordo, interrompe rapidamente a Sofia, seria stress demais, acabávamos por ficar juntos pelas razões erradas e o bebé ia sofrer mais tarde com dois Pais que se detestam. O Dinis ri-se, acho que não te ia detestar! És um

O CONSELHO PARTE III

  No emprego, a gravidez de Sofia não é um problema, o horário será híbrido, avisam-na, provavelmente nos dias em estiver presencialmente na empresa, é possível que tenha que ficar até às nove, dez da noite, mas o resto do tempo pode organizar como quiser. Desde que cumpra os objectivos, acrescentam. A Sofia adora a ideia, o Gonçalo acha estranho esse tipo de horário, a Matilde ajuda-a a transformar um canto do quarto num escritório confortável. Porque a Sofia decidiu ficar em casa dos Pais, não me quero precipitar, explica, eu e o Dinis temos que nos conhecer! Mas vão ter um filho juntos, protesta o Gonçalo, isso não tem nada a ver, interrompe a Matilde, são adultos responsáveis, vão assumir o filho, mas não têm obrigatoriamente que viver juntos! Às vezes, és um pouco antiquado, diz a irmã, pareces que não vives nesta época! O mundo não é só desporto. O Gonçalo não fica nada ofendido, as mulheres são muito complicadas, confessa mais tarde ao primo Miguel, também podemos ser complicado

O CONSELHO PARTE II

  Em casa, explico à minha Mãe o que aconteceu, espero que a tia saiba o que dizer, concluo. A Mãe suspira, é natural que esteja confusa, tem planos e uma criança implica uma adaptação, uma reorganização de prioridades, diz, tenho a certeza de que vai tomar a decisão certa! É a minha vez de suspirar, o meu Pai morreu quando eu era criança, mal me lembro dele, mas sei que a Mãe teve dois empregos para nos sustentar, eu e o meu irmão mais velho. Logo que pode, o meu irmão arranjou um emprego, contra a vontade da Mãe que achou um absurdo, estudou à noite, é agora advogado estagiário num gabinete de advocacia. A partir dos dezoito anos, eu também comecei a trabalhar em part-time, como modelo, empregada de mesa, monitora (no Centro Desportivo onde conheci o Gonçalo), tentei dar dinheiro à Mãe, mas ela recusou. Talvez seja por isso que sou quase obcecada com os cuidados para evitar a gravidez e nem sempre compreenda porque é que as pessoas ficam admiradas quando isso acontece. Mas estou preo

O CONSELHO

  Nada de ficares grávida, avisa-me o Gonçalo naquela noite, nem respondo, tomei as minhas precauções para que tal não aconteça. Claro que quero ser mãe, mas não já, o que aconteceu à Sofia, foi um acidente, a pobre está em estado de choque. Não sabe o que fazer, tens que falar com o Dinis, aconselho, é do Dinis, não é? e a Sofia olha para mim espantada. Claro que sim, responde, há algum tempo que estou sozinha, sem namorado, tive uma história complicada e... interrompe-se e eu não insisto. Preservativo? pergunto e a Sofia acena que sim, sempre, se calhar, tinha alguma fissura, não sei, opina. Ok, tem calma, fala com o Dinis, decidam o que querem fazer, repito, faz uma lista dos prós e dos contra. E, depois fala com a tua Mãe. Não vou fazer um aborto, exclama a Sofia, mas o que é que eu digo no emprego? Vou entrar agora e dentro de oito meses, terei que ter licença de maternidade. Sofia, respira fundo, estás muito nervosa e isso não ajuda, observo, primeiro fala com o Dinis, o resto re

A FESTA FIM

  Então? O que é que aconteceu? o Gonçalo está preocupado, encontrou-me como que em transe no meio da sala. Nada, ofereceram-me um emprego, respondo, ainda não assimilei o facto, nem sei se disse que sim! Quem é que te ofereceu o emprego? Conta tudo, exige o meu irmão impaciente, está sujo, o cabelo cheio de lama, a roupa suada, mas fica ali no meio da sala, à espera. Sento-me, enviei uma série de CV's para editora, gabinetes de tradução e uma dessas editoras ofereceu-me um lugar de assistente de um dos directores, acho que na parte de recepção e análise de manuscritos. Mas não era isso que querias??? o Gonçalo quase grita, assusta a Matilde que entra nesse momento, o que é que se passa? questiona a namorado. A estúpida da minha irmã recebeu uma oferta de trabalho e está em estado de choque, explica o meu irmão apressadamente e a Matilde sorri, é muito bom! Era isso que querias! diz e eu lembro vagamente de ter abordado o assunto com ela durante o almoço em família. Quando é que co

A FESTA PARTE IV

  O Centro está cheio de pessoas, a Matilde apresenta-me à família dela, acabo por me sentar ao pé deles, são pessoas simpáticas e partilho com elas a alegria de ver a Matilde vencer. O Dinis está a coordenar a regata, nem falo com ele, o meu irmão acena-me, está a organizar uma corrida de obstáculos, pensa que eu quero participar. Estás doido, pá, afirmo, corrida, pilates... ainda aceito, agora obstáculos, participa tu! e o meu irmão nem responde, dá meia volta, deixo de o ver. A Matilde convida-nos para almoçar com a família, é um almoço divertido, descontraio, participo nas brincadeiras. Já tens material para um outro livro, sussurra o Dinis quando nos encontramos em casa, resolvi fazer o jantar, mandei-lhe um SMS, vem cá jantar, escrevo, traz pão fresco! Faço a minha especialidade, risotto de cogumelos, o Dinis fica um pouco surpreendido, não estava à espera de um prato totalmente vegetariano. Ok, como carne de vez em quanto, explico, adoro peixe, mas a minha alimentação é essencia

A FESTA PARTE III

  Acabo por seguir o conselho do Gonçalo, passo os dois dias seguintes a reler, alterar o que acho necessário. No fim de semana, dou o livro como concluído, envio para a editora e o meu irmão decide que tenho que me divertir. Por isso, vamos jantar fora, eu, o Dinis, o Gonçalo e a sua nova namorada, não gosto nada da rapariga, não sei dizer porquê. O jantar é agradável, a Matilde até é  muito simpática, divertida, até interessante, arrependo-me do que pensei como confesso ao Dinis quando ela e o Gonçalo resolvem ir até à discoteca perto do rio. Eu declino o convite, estou cansada, quero dar um pequeno passeio e depois dormir. O Dinis fala um pouco de si, quer saber do enredo do meu livro, mas rio, se a editora aceitar, envio-te um convite para o lançamento, digo. O Dinis sorri, inclina-se, beija-me suavemente nos lábios, retribuo, há algum tempo que não estou com ninguém. É uma noite calma, carinhosa e o meu irmão assobia quando nos vê juntos na cozinha na manhã seguinte. A Matilde sil

A FESTA PARTE II

  Acordo já passa das sete, tomo um duche rápido, equipo-me e saio para correr. Fico surpreendida quando vejo o Dinis à minha espera no início do percurso, não me deitei muito tarde, explica, também gosto de correr bem cedo. Fazemos o percurso em silêncio, no regresso, paramos no pequeno café, tomamos o pequeno almoço e o Dinis diz que é trabalhador/estudante, trabalhar no centro faz parte do estágio obrigatório do último ano. E depois? pergunto, o Dinis fica calado por uns minutos, enviei o CV para vários colégios privados, para alguns ginásios e espero continuar por aqui, diz, cresci na zona, conheço-a bem, posso ficar em casa da minha tia. A tua tia vive aqui na zona? repito, quem é? e o Dinis ri, é a dona da tabacaria, ah, a D. Clotilde, é muito simpática, muito prestável, exclamo. Conversamos mais uns minutos, o Dinis tem que ir para o Centro e eu tenho que terminar os capítulos, estou completamente bloqueada, todos têm o destino traçado, menos aqueles dois! Se calhar, até já sabe

A FESTA

  " Fechei-me" na casa da vila para concluir o livro, mas o meu irmão aproveita a ausência do Tio Gonçalo e dá uma festa naquela noite. Não resisto ao cheiro do churrasco contra o qual a nossa Mãe teria protestado veementemente. Resignou-se ao facto de não nos ter tornado vegetarianos, mas limitou o consumo de carne vermelha e fomentou a degustação do peixe cozinhado de qualquer maneira, sempre acompanhado com vegetais. Vejo que o meu irmão comprou carne de frango, sirvo-me de dois pequenos bifes, ketchup, um pouco de arroz e muitos vegetais. Escolho um sítio abrigada para degustar em paz, estou com fome, a noite está linda e afasto-me por momentos do bloqueio que sinto. Não sei muito bem o que fazer com as duas personagens principais, tenho que encontrar uma solução, mas o que pensei parece-me ridículo. Estou a matutar no assunto quando um rapaz masculado, talvez da idade do meu irmão se senta ao meu lado. Olá, deves ser a Sofia, a irmã do Gonçalo, eu sou o Dinis, e estende-

A REFORMA FIM

  Até o Pedro está presente, o António tem uma procuração e envia-lhe as actas, os resultados do exercício da sociedade. A Maria Rosa falou com tanto entusiasmo do plano da Clarinha, explica, eu tinha que o ouvir! A Maria Clara pesquisou bastante, é clara na exposição do plano, até fez um PowerPoint para ilustrar as ideias e eu sinto-me literalmente a " inchar de orgulho" como confesso mais tarde à Rita. A Teresa fica um pouco renitente quando a Clarinha fala nas refeições, pois como é para crianças, tem que haver carne e sabemos como a Teresa é defensora do vegatarianismo. Podemos falar sobre carne biológica, esclarece a minha filha, até já estou em contacto com uma quinta para fazermos uma visita. A Teresa morde os lábios, a Clarinha apresentou um argumento válido, não pode recusar. O António apressa-se a agradecer a apresentação, a Clarinha entrega-lhe um dossier com o resumo e fica combinado termos nova reunião dali a três dias, para te comunicar a nossa decisão. A Clarin

A REFORMA PARTE V

  Os gémeos portaram-se muito bem, conto mais tarde à Rita, não sei se é a presença do Telmo, mas comeram tudo o que lhe foi posto no prato, foram para a cama sem protestar e adoram estar com o "pimo Gonca", repito. A Rita ri-se, e tu? Tiveram tempo para descansar, conversar, ver casas? pergunta e eu suspiro, vimos qualquer coisa, mas para já, não vamos arriscar. Queremos levar as coisas com calma... afinal, estes últimos anos não foram fáceis... Não, não foram anos fáceis, concorda a minha irmã, mas nem tu nem o Telmo desistiram...e conseguiram dar a volta por cima. Essencialmente, queremos ter paz, repito, mas estou preocupada com a Clarinha, acho que está a pensar novamente em ir para fora. O Telmo proibiu-a, mas ela já é maior, não podemos impedir que ela tome essa decisão. Pode ser que ela mude de ideias, diz a Rita, afinal, ela também teve um ano complicado e é inteligente o suficiente para saber o que está a arriscar. Mas ela argumenta que há muita coisa a fazer e só é

A REFORMA PARTE IV

  Fico curiosa, não conheço bem a miúda, aliás, nem mesmo o Miguel, o filho da Laura, a irmã problemática do António e do Gonçalo, tenho que parar de a chamar assim, penso. A Maria Rosa é uma adolescente desengonçada, mal vestida, um pouco mal educada, a quem a Clarinha põe em dois tempos no seu devido lugar. Repreendo-a com o olhar, mas a minha filha ignora-me, tratei-a como trato os meus sobrinhos quando são malcriados, justifica-se mais tarde. A Maria Rosa fica surpreendida, não se atreve a responder, talvez nunca ninguém lhe tenha falado assim. Torna-se mais civilizada, confesso mais tarde à Rita, e o certo é que a Clarinha a convenceu que passar duas semanas como monitora júnior no tal acampamento é boa ideia! Tenho que concordar com ela, diz a Rita, na loja, a rapariga era capaz de se sentir "fechada", " sufocada"... Não sei qual foi a ideia do Pedro, o Gonçalo também não acha que seja a melhor solução para uma adolescente tão revoltada. E a Clarinha entende m