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A mostrar mensagens de outubro, 2020

VIVER COM O MAJOR - PARTE VI

O Amadeu transforma-se, torna-se mais carinhoso, mais alegre e às vezes, tenho que lhe dizer que estou apenas grávida. Lê revistas de decoração, traz amostras de cores, o rapaz tem que ter um quarto amplo, arejado, cheio de cor, explica. Já pensaste que pode ser uma rapariga? pergunto, não será melhor escolhermos uma cor neutra como, por exemplo, o cinza clarinho?  Que horror! reage o Major de imediato, mas eu rio-me e ele acaba por sorrir. Acabamos por escolher o verde clarinho e ele e o Bernardo passam as tardes de sábados a pintar o quarto. Ás vezes, o Gustavo aparece para ajudar e eu perco a cabeça a preparar o enxoval. O bebé não vai usar metade disso, avisa o Major, mas eu mando-o calar, o nosso filho tem que andar na moda. A única sombra é a relação com os filhos, aceitaram muito mal a notícia, o Amadeu não conta nada sobre o que foi dito naquele almoço. Não estive presente, estava muito enjoada e fiquei a descansar.  Quando ele voltou, com a cara fechada como quando o conheci,

VIVER COM O MAJOR - PARTE V

  Mas que ideia a tua de me trazeres ao hospital, refilo, mas não me lembro de mais nada, pois, diz o Amadeu mais tarde, voltei a desmaiar. Fizeram-me todo o tipo de análises e já a noite ia bem adiantada, perguntam-se se estou com " atraso". Ia responder que não, mas lembro-me que efectivamente estou uns dias atrasada, mas achei que isso se devia ao stress da mudança, das novas funções na Universidade. O médico sorri, deve estar de umas quatro semanas, descanse, vou prescrever umas vitaminas, mas logo que possa, consulte o seu médico de família. Saio meia atordoada da sala, o Amadeu espera-me todo nervoso no hall, então, o que disseram? e eu digo baixinho, falamos lá fora. Quando conto a novidade, o Amadeu fica muito branco, penso sinceramente que vai desmaiar, oh, Amadeu, o que se passa? fala comigo. O Major respira fundo e repete, um filho? e quando confirmo meia envergonhada, solta uma grande gargalhada. O meu filho vai ser mais novo que o meu neto! diz, divertido. Em cas

VIVER COM O MAJOR - PARTE IV

  A nova casa fica pronta e o Amadeu diz que temos que dar uma festa de inauguração. O grupo do Clube de Leitura comparece em peso, a Carolina e o marido também e eu convido alguns colegas da Universidade. O Nicolau está bem disposto, o novo romance está a ser um sucesso e conta histórias hilariantes sobre as palestras que dá. Será verdade? pergunto baixinho ao Amadeu e este ri-se alto, o Nicolau tem um sentido de humor caricato, parece ser muito formal, mas acredita, não é. Dá-me um beijo na face, afasta-se, o Bernardo quer falar comigo, diz alegremente, mas eu sei que não está. Os filhos declinaram o convite, veio apenas a Catarina, a ex-mulher do Frederico. O Amadeu tem pena que eles se tenham divorciado, eu não tenho tanta certeza, a Catarina é uma rapariga atraente, estava a ser mal amada pelo Frederico. A festa é tão divertida que o último convidado só saí depois da uma da manhã. Estou tão cansada que decido arrumar no dia seguinte, não te preocupes, eu ajudo-te, promete o Amadeu

VIVER COM O MAJOR - PARTE III

  O apartamento é amplo, arejado com acabamentos topo de gama, como diz a agente, mas eu tenho a sensação de que estou isolada do Mundo. É uma área em franca expansão, acrescenta a agente, mas tanto eu como o Amadeu gostamos do buliço da parte antiga da cidade. Nota-se que a agente não ficou muito satisfeita quando lhe dissemos isso, mas uns dias mais tarde, telefona-nos e diz-nos que encontrou o local perfeito. A fachada do prédio foi remodelada, o interior renovado e há um T2 Duplex que deve ser perfeito para os Senhores, conclui. Gostamos imenso do open concept do apartamento, podemos dividir o andar de cima e ter cada um o seu escritório. Estamos perto da estação de Metro, da livraria e do restaurante onde o Major janta às vezes com o Nicolau e com o António. É perfeito, concordamos, o preço não é muito elevado, talvez nem seja necessário pedir um empréstimo. Eu opto por alugar o meu apartamento, o Amadeu já recebeu duas ofertas pela casa dele. Uma era muito baixa e os filhos rejei

VIVER COM O MAJOR - PARTE II

Para ser franca, não sei o que esperava, confesso à Natália no dia seguinte ao almoço. Sempre frios, sempre distantes, ouviram sem interromper o Pai e no fim, olharam um para o outro e disseram " não" ao mesmo tempo. Mas não porquê? foi a pergunta do Amadeu, ninguém vai ser prejudicado, venda ou alugue a casa. É a casa onde sempre vivemos com a Mãe, não nos parece ser muito correcto vender uma coisa que ela adorava, explica o Frederico. Sabes, nem me atrevi a respirar, achei aquilo um absurdo e depreendi que o Amadeu pensava o mesmo e a Natália toca-me na mão em sinal de solidariedade. Foi uma discussão brutal, nem me atrevo a repetir o que disseram, porque o Frederico e o Francisco foram muito ingratos, continuo. A Natália suspira e pergunta, mas decidiram alguma coisa? Foi a Maria, a namorada do Francisco quem os acalmou, conto, achou a discussão um absurdo quando a solução era muito simples: vende-se a casa, divide-se o dinheiro e cada um investe-o como quer. Por isso, em

VIVER COM O MAJOR

  Viver com o Major pode ser complicado. Contam-me que a primeira mulher estava sempre a chamar-lhe a atenção para o facto de estar em casa e não no quartel. Em casa, a prioridade era o diálogo, a negociação e para isso, o Major devia escutar mais as pessoas. Não me posso queixar disso, porque o Major é um bom ouvinte, até consegue ser divertido. É rigoroso nos horários, é um facto, mas eu também o sou, porque trabalho na Universidade e chefio uma equipa. Já não me lembro bem quem beijou quem, se fui eu ou se foi ele. Sei que acordamos juntos na cama dele com o Sol a entrar pelas cortinas entreabertas. Começamos a passar os fins de semana juntos, ou na cidade ou fora, a explorarmos trilhos e uma noite, o Major perguntou-me se eu queria viver com ele. Não posso negar que não tenha pensado nisso, mas decidi não ser eu a abordar o assunto. Onde vamos viver? Na tua ou na minha casa? Talvez na minha, sugere o Major, tem mais espaço, tu vais querer um escritório. Não sei, os teus filhos pode

O CASAMENTO PERFEITO - FIM

  A Clarinha está impossível naquela manhã. Não quer beber o leite, entorna o sumo, enche a boca com o pão e depois cospe para cima da mesa. A Mãe dá-lhe uma palmada, o Gustavo fala-lhe grosso, mas a Clarinha apenas se ri. Suspiro de alívio quando ela saí com o Gustavo, mas a Mãe está preocupada. A Clarinha era um doce, agora está uma grande rebelde, comenta, não sei mesmo o que fazer, tenho que conversar com o teu Pai, acrescenta. Vão encontrar uma solução, digo para a animar, mas a Mãe nem me escuta. Saio também, tenho aulas toda a manhã, depois vou para a biblioteca terminar um trabalho. Por isso, tenho o telemóvel desligado e só o ligo quando entro na cafetaria. Estou cheia de fome, quero comer qualquer coisa antes de voltar para casa. Vejo sete chamadas perdidas da Mãe, quatro da Rita e uma do Gonçalo. O que terá acontecido? murmuro e estou a clicar no numero da Mãe quando ouço um grito. As conversas param e todos procuram descobrir donde vem o grito. A Clarinha, a minha irmã desa

O CASAMENTO PERFEITO - PARTE V

A Maria acha que a minha Mãe é uma pessoa sensata, às vezes, os Pais destroem a relação com os filhos, porque os obrigam a escolher, diz. Concordo com a atitude da tua Mãe, a Clarinha vai aprender a separar as coisas e isso vai ser útil na vida, remata. Foi o que os teus Pais fizeram? pergunto e a Maria abana a cabeça, a minha Mãe tentou que eu ficasse contra o meu Pai, mas ele nunca falou contra ela e nem admitia que eu o fizesse, explica, por isso, decidi que era mais simples não comentar. A Rita não concorda com a atitude da Mãe, a Clarinha vai ficar ainda mais confusa, observa, mas o Gonçalo apoia a cunhada. Devem ter tido uma discussão sobre isso, pois mal se falam no dia seguinte no escritório, estou lá para atender telefones e abrir o correio, a Rita paga-me as horas. Mas quanto mais penso no assunto, mais me convenço de que a Mãe e a Maria têm razão; a Clarinha deixa de falar na " amiga do Pai", conta apenas as actividades do fim de semana. Tanto eu como o Gustavo seg

O CASAMENTO PERFEITO - PARTE IV

  Mudar de casa é uma boa oportunidade para nos concentrarmos noutra coisa; temos que decidir o que vai para a casa nova, o que vamos doar e o que vamos vender. Eu queria uma mobília nova no meu quarto, mas a Mãe diz que não é possível. Quem me salva é a Rita, oferece-me uma colcha e uns cortinados novos. Pinto a minha velha secretária, coloco umas prateleiras na parede e o meu canto de estudo fica todo moderno. O Gustavo e uns amigos pintam o quarto dele e o resultado é que parece ser mais uma caverna do que um quarto de dormir, A Clarinha assusta-se, a Mãe suspira, este meu filho tem umas ideias estranhas, mas o Gustavo defende que é o refúgio perfeito para um homem. O António ri-se, acha piada, eu também tenho um, diz, mas a Teresa chama a atenção de que não é a "caverna do Batman". O Pai não diz nada quando lá vai buscar a Clarinha para passar o fim de semana com ele. De vez em quando, eu e o Gustavo almoçamos ou jantamos com ele, mas se estamos ocupados, o Pai não insist

O CASAMENTO PERFEITO - PARTE III

  Claro que tive um ataque de nervos, pensei que a Maria estava errada e que ia aguentar o impacto sem dizer um ai. Mas custou-me ver o Pai a embalar roupa, livros, tudo o que lhe pertencia e sair de casa definitivamente. O Gustavo quis ficar, eu estava indecisa, mas não podia deixar a Mãe sozinha. Quando o Pai se foi embora, olhamos uns para os outros e unimos-nos num grande abraço. Eu e a Mãe desatamos a chorar, creio que o Gustavo também tinha vontade de fazer o mesmo, mas achou que não o podia fazer. É o homem da casa, tem que ajudar a Mãe e ser forte. Mas ser forte, como diz a Rita mais tarde, não significa que não se possa quebrar, gritar tudo o que vai na alma e depois, avançar. Doí mais se não admitires que estás magoada, explica a minha tia e acabo por concordar com ela. Sinto-me um pouco perdida nos dias seguintes, parece que o trabalho não rende e às vezes, tenho vontade de bater na Clarinha. Está sempre a perguntar pelo Pai, a Mãe explica pacientemente que ele não vai volta

O CASAMENTO PERFEITO - PARTE II

  Eu não quero saber mais nada, peço desculpa e saio. A Mãe quer que eu fique, é um assunto importante, mas eu não consigo. Fecho-me no quarto, ligo o PC, vejo quem está online. É a Maria quem me responde, os Pais também se divorciarem e ela escuta-me pacientemente. " Não há casamentos perfeitos, tu sabes disso!" escreve " Claro que nunca pensamos em divórcio, principalmente que sejam os nossos Pais a tomar essa decisão. Há outra mulher, outro homem?" " Não sei; não quis saber. O Gustavo ficou lá, a fazer uma série de perguntas... Talvez amanhã, com calma pergunte mais detalhes!" conto. " Não, devias ter ficado! É importante que ouças as explicações dele...." insiste a Maria. " Não consigo!" repito e depois de mais uns minutos de conversa, desligamos. A Mãe bate-me à porta, Matilde, podemos falar? mas eu finjo que estou a dormir e ouço os passos dela a afastarem-se. No dia seguinte, o ambiente está tenso na cozinha, apenas a Clarinha fa

O CASAMENTO PERFEITO

  Continuo a dizer que isto de ser a irmã do meio, não tem piada. A Rita acha que é apenas uma fase, a Mãe não concorda e diz que serei sempre a voz da razão entre o Gustavo e a Clarinha. Como se fosse possível lidar com a arrogância do Gustavo e a teimosia da Clarinha! Como se tu também tivesses um feitio fácil, comenta o simpático do meu irmão. E tu não te tivesses esquecido da Clarinha no parque, observo e o Pai manda-nos calar de imediato. Obedecemos, nem sempre o Pai janta connosco e sabemos que não gosta muito de palhaçadas. Mas, esta noite, os Pais estão nervosos e eu e o Gustavo esquecemos as hostilidades e concentramos-nos nos sinais corporais. Os Pais não se tocam, evitam olhar-se e a conversa é formal, com grandes pausas. Ups! sucedeu qualquer coisa grave, penso e vejo pela cara do meu irmão que concluiu o mesmo. Quando terminamos de jantar, a Mãe faz-me sinal para levantar a mesa enquanto prepara a Clarinha para a cama. O Pai e o Gustavo instalam-se na sala, discutem o jogo

O GRUPO DE ESTUDO - FIM

Ups! Pelo Pai? pergunto e o Gustavo diz que a mulher tinha um companheiro que foi morto mais tarde num tiroteio. A Clarinha foi entregue à Segurança Social, tentaram encontrar familiares e não conseguiram, comenta o Gustavo, nessa altura, a Mãe já tinha ido ver a miúda, estabeleceu logo laços com ela, convenceu o Pai a adoptá-la. Tudo o que a Clarinha precisava e precisa é de amor, observo, o que vi esta noite foi muito amor entre todos; ela vai superar, mas não sei se será boa ideia ela estar novamente com a tal Sofia. Elas conhecem-se desde bebés, a Sofia ouviu a avó falar no caso, lá estava aborrecida com a Clarinha e achou que aquilo era uma grande ofensa, esclarece o Gustavo e com um beijo na face, deixa-me em frente à porta do prédio. A minha Mãe também concorda comigo quando lhe conto a história, coitadinha da Sofia, também deve estar confusa, de um momento para o outro, ficou sem a amiga, repete. As pessoas deviam ter cuidado com o que dizem, insiste, pensamos que elas estão no

O GRUPO DE ESTUDO - PARTE VI

A Clarinha fica intrigada quando digo que sou adoptada e pergunta com quem vives então? Mostro fotografias dos meus Pais, ela quer saber porque é que me adoptaram. Não podiam ter filhos, tinham muito amor para dar e então, adoptaram-me, explico, sabes que há muitos meninos que não têm Pais e que estão sozinhos num lar.  Tu e eu tivemos sorte, porque encontramos alguém que nos ama, digo consciente de que a Clarinha já deve ter ouvido a frase várias vezes. Talvez soe diferente por eu ter sido adoptada. A miúda morde os lábios, sussurra pois e eu respiro fundo. Hesito, não sei se devo continuar a falar, talvez tenha dito o suficiente para a acalmar. A Sofia é má, não é minha amiga, foi ela quem disse que os meus Pais não são meus Pais, declara a Clarinha. O Gustavo e a Mãe suspendem a respiração, venho a saber mais tarde que a Clarinha não falava na amiguinha há muito tempo. Não, a Sofia não é má, falou no que não devia, esclareço, às vezes, acontece, as pessoas não pensam e dizem a prime

O GRUPO DE ESTUDO - PARTE V

Hesito, não sei bem se o devo dizer, mas alguém está a sofrer e talvez possa ajudar. Sei, sim, também sou adoptada e o Gustavo olha-me surpreendido. Também soube por alguém mal-intencionado, continuo, mas era um pouco mais velha que a Clarinha e os meus Pais foram excelentes na forma como geriram a situação. Os meus Pais explicaram a situação à Clarinha numa versão simplificada, interrompe o Gustavo, o problema é que se divorciaram pouco depois e isso afectou muito a miúda. Também nos afectou, a mim e à Matilde, mas gerimos isso de outra maneira, observa o irmão da Clarinha e eu sorrio em concordância. Posso falar com ela, se quiseres, talvez ajude se ela souber que há outras pessoas na mesma situação, ofereço-me. O Gustavo fica calado por uns minutos, vou falar com a minha Mãe e ver o que ela diz, mas gosto da ideia, confessa. Telefona-me uns dias depois, estou livre para jantar com eles no sábado? os Pais acharam a ideia interessante e talvez a Clarinha fique mais calma. Conto a situ

O GRUPO DE ESTUDO - PARTE IV

  A conversa dominante durante aquela semana é a morte da Júlia e o que acontecerá ao ex-namorado, mas o Gustavo não manifesta qualquer opinião. Preocupa-me, mas tanto a Marília como o Rafael dizem que, como o Pai dele é o chefe da investigação, talvez haja conflito de interesses e o Gustavo tenha optado por não dizer nada. Nunca se sabe quem está a escutar, podem interpretar a opinião dele de forma errada e comprometer a investigação, explicam. Não estarão a ver CSI's em demasia? pergunto a rir, mas até são capazes de ter razão. Ao que eu sei, a família do Gustavo é muito unida, sente-se mais à vontade a conversar sobre isto com eles do que propriamente connosco, remata o Rafael. As sessões de estudo continuam, o Gustavo demonstra ser um bom investigador e o professor elogia o nosso trabalho. Naquela semana, a Marília e o Rafael não aparecem, ela tem consulta no dentista, ele vai buscar os Pais ao aeroporto, somos só nós e é em minha casa. O Gustavo aparece atrasado, pede imensa d

O GRUPO DE ESTUDO - PARTE III

Despedimos-nos, prometo visitar a loja brevemente e saímos. O Rafael dá-me boleia, os outros preferem apanhar o Metro. Ficamos a saber umas coisas sobre ele hoje, comenta o Rafael, mas continua a não se abrir muito. Ainda não nos conhece bem, não esperas que conte a história de vida de imediato, respondo, e soubemos da história da Júlia porque estavam lá outras pessoas que assistiram e falaram. O Rafael sorri, para em frente da minha casa e depois de combinarmos um encontro na cafetaria da Universidade às nove, entro em casa. A Tia Áurea veio para jantar, quer saber as novidades e não penso no Gustavo ou na Universidade até ao dia seguinte. Quando chego à cafetaria, a Marília já lá está e faz-me sinal para me sentar na mesa dela. Há pequenos grupos espalhados pela sala, todos a falarem baixinho, presumivelmente do que a Marília me conta. A Júlia foi encontrada morta e suspeitam do ex-namorado. Imaginas? Ser espancada até à morte por alguém que supostamente te ama? a Marília está indign

O GRUPO DE ESTUDO - PARTE II

Parecia emproado, mas é muito acessível, simpático, diz o Rafael no dia seguinte. Também me surpreendeu, concordo, mas viste como ergueu uma barreira quando lhe perguntamos pelo pulso? Não admira, observa o Rafael, não deve ter sido fácil ser maltratado por causa de uma sujeita que se fartou de rir. Não lhe chames sujeita, repreendo, mas o Rafael acha que a Júlia é uma parvinha, que se anda a exibir pelos corredores da Universidade e em quem não se pode confiar. Na semana seguinte, encontramos-nos para estudar na casa do Gustavo. Ele abre-nos a porta, acompanhado por uma miúda que não deve ter mais que sete anos e que apresenta como sendo a Maria Clara, a minha irmã mais nova. Hoje, portou-se mal, veio directa da escola para casa, explica o irmão, agora vai lanchar e depois, fica no quarto a brincar, ok? A Clarinha não lhe respondeu, nota-se que está furiosa, mas obedece. Não é parecida contigo, repara o Rafael e o Gustavo sorri, não, somos todos diferentes, o que é bom, não é? Nota qu

O GRUPO DE ESTUDO

  Conheço o Gustavo de vista, das aulas, da cafetaria, da biblioteca da Universidade. Está sempre rodeado de amigos, é popular e não tenho coragem de " meter conversa" como diria a minha tia Áurea. Até acontecer aquele episódio; há quem se tenha rido, outros dizem que o Gustavo não teve qualquer hipótese de se defender, mas todos estão de acordo numa coisa: não gostaram da atitude da Júlia. O ex-namorado a agredir uma pessoa que estava apenas a conversar com ela e ela a rir-se às gargalhadas. O Gustavo torna-se mais reservado, pede para gravar as aulas, afinal tem o pulso directo fracturado. Encho-me de coragem e pergunto-lhe se não quer fazer parte do meu grupo de estudos. Podes estudar pelas nossas notas, passamos as tuas para o computador, lês as nossas pesquisas, digo para o convencer. O Gustavo agradece, é capaz de ser boa ideia, comenta, vou precisar de ajuda nas próximas semanas e por isso, naquele dia, acompanha-me a casa do Rafael. Ás vezes, encontramos-nos na biblio

O NAMORADO - FIM

  Claro que as coisas não voltam a ser como antes, não confio totalmente nela, mas tenho saudades dos miúdos e até a bebé Inês me dá um xi-coração. Continuam a convidar-me para as festas, sempre que posso, vou assistir aos jogos dos rapazes e torno-me no mentor do Miguel. Ajudo a Filipa a estudar e a estabelecer um plano para não se perder e ela recupera facilmente. Aprendeu a lição, há tempo para tudo, diz a Teresa. Continuo envolvido em alguns projectos, os meus Professores estão satisfeitos e propõem o meu nome para um estágio no estrangeiro. Os meus Pais estão hesitantes, mas, por coincidência, o Gustavo também vai fazer um estágio na mesma cidade e como não estarei sozinho, autorizam. Tenho muita coisa a preparar, parto amanhã, há uma pequena festa no bar habitual, mas nada de beberem demais, avisam os Pais. A noite é animada, pedem-me para dar notícias sempre que possível. Vou ter saudades deles, confesso ao Gustavo e este responde que seis meses passam num instante e que tenho q

O NAMORADO - PARTE VI

Aceito o estágio, é só por um mês, os Pais vão passar uma semana à Madeira e levam a Guiomar. A Gabriela fica em casa de uns amigos e eu aproveito o estágio ao máximo. Sou pontual, interessado, disciplinado e as pessoas até me dizem que tenho " entrada livre ", posso colaborar com eles em pequenos projectos mesmo quando estiver em aulas. No último dia do estágio, encontro o Gustavo que me desafia a ir com eles, eu, o Bernardo, o Jaime, esclarece, acampar com o amigo deles, o Major. Já sabes, disciplina militar, diz e ah, sim, o irmão da Filipa, o Miguel também vai, espero que não haja problema, acrescenta. Não, não há problema, sempre me dei bem com o Miguel e este fica contente por me ver. É ele quem me conta que a Filipa reprovou a algumas cadeiras, os Pais ficaram surpreendidos e desiludidos e houve uma grande discussão. Os Pais acham que o Guilherme não está a ser um boa influência, confidencia, que ela está mais interessada em sair do que em estudar. Até a Teresa acha um

O NAMORADO - PARTE V

No regresso do fim de semana prolongado, noto que a Filipa está estranha, desculpa-se com as saídas em trabalho dos Pais e ter que ficar com os irmãos. Isso nunca foi um problema, observo, até te ajudo, mas a Filipa recusa delicadamente e o Gustavo, com quem almoço na cafetaria da Universidade, pergunta-me se ela não estará interessada noutra pessoa e não sabe como me dizer. A Filipa, não, reajo de imediato, mas fico a pensar se não será verdade. Sempre confiamos um no outro, não tínhamos segredos e agora, parece que há uma parede. A Filipa acaba por me contar tudo depois de jantarmos em casa dela, ela e o Guilherme estão juntos há uns meses, têm muitos interesses em comum. Pensei que nós também tínhamos interesses em comum, friso e a Filipa fica muito corada. Desculpa, não te queria magoar, mas estamos apaixonados, queremos estar juntos, repete. Fico meio aturdido, nem sei bem como me despedi e quando estou na rua, telefono ao Gustavo que me escuta atentamente. Ao menos, já sabes, com

O NAMORADO - PARTE IV

  Como estamos na fase final da tese e precisamos de ajuda, sugiro ao Guilherme que a Filipa trabalhe connosco. A minha namorada fica entusiasmada e mostra ser uma pessoa disciplinada, ponderada e briosa. O Guilherme fica surpreendido, a Filipa está entusiasmada e assim, sempre passamos mais tempo juntos. O Guilherme convida-nos para jantar após entregar a tese ao Professor. Escolhe um restaurante italiano, perto da casa dele, venho cá muitas vezes, diz. O jantar é agradável, a conversa é fluída e a Filipa está bem disposta. Ainda sugere irmos a um bar, mas a Filipa declina o convite, está um pouco cansada e amanhã, prometeu ajudar a tia na loja. O Guilherme não insiste, deixa-nos em casa e não sabemos mais nada dele. Estamos ocupados com as nossas aulas, com as frequências e quando concluímos a última, decidimos celebrar. Vamos a um bar ali perto do caís e encontramos lá o Guilherme com uns amigos. Falamos um pouco com ele, mas depois voltamos para o circulo dos nossos amigos. A Filip

O NAMORADO - PARTE III

  Quando chegamos à festa, nem muito tarde, nem muito cedo como recomenda a Mãe, a Teresa e o António já lá estão. Apresento-os aos Pais, eles são simpáticos, acolhedores e a Teresa chama a irmã. As três mulheres ficam a conversar, o Pai aceita a bebida que o Gustavo lhe oferece e entretanto, chegam a Rita, o Gonçalo, o Bernardo e a Mãe. Depois, é a vez do Major, da Glória e mais alguns amigos dos Pais da Filipa que não conheço. A Gabriela fica muito interessada no irmão mais velho da Filipa, o Miguel, mas este cumpre os preceitos da boa educação e depois de se assegurar que estão servidas, junta-se ao grupo liderado pelo Major. A minha irmã fica desapontada, o Miguel é tão giro, ouço a cochichar com a Guiomar, que só se interessa pelos doces e quando sabe que a Teresa tem uma loja, faz-lhe uma série de perguntas. Ainda penso em intervir, mas a Teresa está animada a explicar-lhe como funciona a loja e a Guiomar tão interessada que a Filipa não deixa. Mal temos tempo para falarmos, há q

O NAMORADO - PARTE II

  Os meus Pais estão encantados com a Filipa, as minhas irmãs invejam-lhe a roupa e eu sinto-me orgulhoso. O jantar é um sucesso, à saída, a Filipa deixa um convite: a Mãe vai dar uma pequena festa e gostaria muito que fossem, frisa. Os meus Pais estão indecisos, não será cedo demais? pensam, mas acabam por concordar. Nós também? querem saber as minhas irmãs e a Filipa sorri, claro que sim, esclarece. Oh, Mãe, não tenho nada para vestir, ouço-as assim que fecho a porta e acompanho a Filipa ao elevador. Diz que a Zara tem coisas giras e em conta, aconselha a minha namorada e eu rio-me. Tens que me dizer alguma coisa sobre os Pais dela, pede a Mãe, sei que a família é grande e unida, vê-se pela forma como a Filipa fala deles. Faço um pequeno resumo, a Mãe diz que está curiosa e pergunta se uma tarte de pêssego é suficiente. Não quero chegar lá de mãos vazias, explica, o teu Pai vai levar vinho para o dono da casa. Concordo, a tua tarte de pêssego vai ser um sucesso e sou encurralado no c

O NAMORADO

Espero que a Filipa não queira ter cinco filhos; a casa parece uma creche, porque, além dos irmãos, estão os primos e até os filhos de vizinhos. Não digo que não seja divertido, temos que ser criativos para os manter distraídos, mas fica-se exausto. Por isso, acho que três é um numero adequado a uma família como a minha. Eu sou o mais velho, dois anos mais tarde nasce a Gabriela e quatro anos depois, a Guiomar. Não gostei nada do nome, Guiomar, mas a Gabriela era muito amiga de uma menina com esse nome e os meus Pais não a quiseram desapontar. Tive uma infância feliz, houve birras e choros, mas os Pais encararam tudo com bom humor. Talvez tenha sido por isso que conviver com a Filipa e a creche tenha sido fácil. Para a Filipa, a família é muito importante e estou muito interessada na Filipa. É atraente, bem-disposta, curiosa e temos muito em comum. Hoje, vem cá jantar, estou nervoso, será que vai gostar dos meus Pais e das minhas irmãs? Tenho uma conversa séria com a Gabriela e com a G

A BRIGA - FIM

A Margarida é persistente, convida o Gustavo para uma festa em casa dela. Convida também o Jaime, o Bernardo e a Matilde que fica muito lisonjeada com o convite. Mais tarde, a Margarida confessa-lhe que precisava de todos os aliados possíveis para " abrir a mente " do Gustavo. O Gustavo gosta das pessoas que encontra na festa, há risos, brincadeiras, mas ninguém ultrapassa as marcas. Acaba por entrar no grupo de estudo da Margarida, começam a conversar mais e a sair juntos. O meu irmão acorda para vida, goza a Matilde e o Jaime ri, ainda bem, não quero um cunhado zombie. Mas quem é que está a falar de casamento? pergunta a Matilde, a fingir-se indignada, mas nunca se sabe as voltas que a vida dá. A Amélia e o Bernardo também se estão a dar muito bem e a Madalena respira fundo, parece que a vida vai entrar num período calmo, desabafa com a Rita. A Rita não tem tanta certeza disso, pode haver gravidezes inesperadas, diz, por amor de Deus, vês sempre o lado pior das coisas, recr

A BRIGA - PARTE V

Mas a Madalena não tem tempo para falar com o ex-marido sobre o Gustavo, porque este está ocupado com um caso que causa furor na Universidade. A tal Júlia aparece morta e o suspeito principal é o ex-namorado. Bem feito, diz a Matilde quando sabe, oh, Matilde, que insensibilidade! recrimina a Mãe e a Rita acrescenta que a violência doméstica é uma humilhação e uma injustiça para todas as mulheres.  Não foi bem isso que quis dizer, justifica a Matilde, mas se a Júlia sabia que ele era violento, porque é que não se afastou? Até se pode ter afastado, explica o Gustavo que estava a escutar da porta, mas ele encontrou uma maneira de penetrar as defesas dela. Não acho que tenha sido o caso, explica o Bernardo mais tarde ao Major, alguém que a conhece bem, disse-nos que ela andava novamente com ele, até estavam à procura de um apartamento para viverem juntos. A mente humana tem caminhos sombrios, comenta o Major, mas como estará o Gustavo? O incidente no bar veio à baila, interrogam novamente

A BRIGA - PARTE IV

O Gustavo continua abalado e para o animarem, o Bernardo e o Jaime convencem-no a ir ao bar que descobriram. A Mãe insiste em que leve a Matilde, ela já convidou uma amiga e sinto-me mais segura por saber que estão contigo e com os rapazes, diz. A Matilde e a amiga estão excitadas, uma aventura num bar, comenta a Matilde, é um bom título para um livro. Estás a planear escrever um? goza o Jaime e a Matilde solta uma gargalhada bem disposta.  O Jaime fica completamente rendido pelo à-vontade da rapariga e desafia-a para um jogo de bilhar. O Bernardo e a Amélia, a amiga ficam a observar, mas depois, a Amélia sugere que se organize uma pequena competição. Os que perderem, pagam as bebidas na próxima saída, declara.  Ela e o Bernardo contra a Matilde e o Jaime e estes concordam, porque não? é uma forma saudável de passar a noite. Em breve, todo o bar está interessado pelo jogo e há até apostas. Menos o Gustavo que se mantém sentado, a olhar para o fundo do copo. De vez em quando, levanta os

A BRIGA - PARTE III

  " Ao que parece, a Júlia tem um ex-namorado, violento e ciumento. O Pai diz que já tem duas queixas de agressão.." acrescenta a Matilde e eu e o Major abrimos a boca de espanto. " Lá está o Gustavo a conversar com a Júlia, entra o ex-namorado e ao ver a cena, questiona a Júlia. O meu irmão tenta acalmar os ânimos, mas o bruto parte logo para a violência. Empurra-o de tal forma que o Gustavo embarra com a mesa do lado, bate com o pulso no tampo e caem os dois ao chão." continua a irmã " Resultado: duas costelas partidas e o pulso esquerdo também. A Mãe não sabe se deve ficar furiosa ou preocupada e o Pai só pergunta porque é que não foi a outro bar."  " Estou arrependido de o ter deixado sozinho. Ainda o tentei convencer a vir comigo, mas ele está tão interessado naquela Júlia." confessa o Bernardo mais tarde ao Major. " Não te culpes! O Gustavo fez uma escolha, não foi a mais acertada e não será a última." atalha o Major " Tenho