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A mostrar mensagens de outubro, 2014

CONTOS DE PRAZER - 2ª PARTE

2ª PARTE O PROVOCADOR Adoro provocar-te... Ver como a tua boca se entreabre, antecipando um prazer que te vou negar. Por enquanto... Quero contornar os teus lábios, acenar-te com o cheiro e fazer-te salivar. Só depois é que te deixo mordiscar-me e sinto como a tua língua fica enfeitiçada. Esmago-me completamente contra os teus dentes, derrama-se o recheio que desliza lentamente pela garganta e o teu corpo explode. É uma onda gigante, uma sensação de calor brutal que te queima e que és incapaz de descrever. Não resistes; fechas os olhos, emites sons de prazer, um prazer profundo, enraizado e que perdurará em ti por tempos infinitos. O que interessa a chuva irritante a bater nos vidros? Ou a discussão que não leva a nada no quarto ao lado? Ou mesmo o livro que apertas contra o peito como um tesouro, um talismã? A tua vida é este momento em que continuo a entranhar-me na tua corrente sanguínea numa aventura impossível. Depois? ... Sinceramente, não

DESENCONTROS - O DIÁRIO DELA

Dia 0 "Escreve" dizem-me... Como se pudesse descarregar no papel toda a dor que ressoa na minha alma... Como se este diário fosse um romance de cordel, escrito pela heroína sofrida, com um final feliz. Dia 1 Tentei escrever... Mas tudo falhou e por isso, tentei escrever sobre a chuva. Porque está uma noite de chuva e estou sozinha. Num palco, onde só existo eu, a luz do candeeiro e chuva... Dia 2 Chuva... Chamei-lhe, uma vez, impiedosa; noutra, agradeci-lhe por ter ocultado as minhas lágrimas. Hoje não sei o que lhe chamaria ou o que lhe agradeceria. Estou cansada e doente e nem de ti quero falar. Por isso, hoje vou fechar a luz mais cedo e, se a chuva resmungar, deixa. Dia 3 O pior de tudo é a angústia que fica, o que não consigo explicar... Porque não sei porque partiste... Sei que te desejei intensamente; amei-te loucamente e continuo louca, porque tenho saudades de ti... Ontem, porque hoje tenho que fazer qualquer coisa... Qualquer coisa difere

LUST

Sentei-me confortavelmente... Comprei uma resma de papel, imprimi a minha pesquisa sobre os pecados mortais e abri o Word... " Escrevo sobre a gula? Ou sobre a luxúria?" pensei " O chocolate podia ser a personagem principal"  e, durante uns minutos, escrevi palavras associadas com chocolate e gula. " Não, é capaz de ser banal demais. Prefiro a luxúria." e, segura de mim, apaguei o que tinha escrito e recomecei. Em negrito, o título " LUST " e tomei nota mentalmente de que, algures no conto, teria que explicar o porquê da palavra em inglês. " Lust... A luxúria... O pecado da carne... O pecado de sentira sensualidade à flor da pele... O meu corpo em pecado...." Mas continuei a martelar nas teclas, sem pensar no encadear das palavras, das frases, preocupada apenas em deixar fluir a ideia. Falei sobre o cheiro na pele, comparei o prazer a um rio em tormenta. Questionei a importância do pecado, se estava a falar

SOM EM MIM

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Percorro a noite à tua procura... Falo-te por entre a chuva, ansiosa pelo som da tua voz em mim... Depois... Desiludo-me contigo e com o tempo... TELA DE VICTOR NIZOVTSEV

SOPHIA

Esta é a história de uma gata felpuda... O nome é Sophia, com “ph”, por ser francesa e aristocrata. Não é aventureira e desdenha o jardim, preferindo a suavidade dos tapetes. Até que um dia, confusa com a multidão que invade a casa, os choros e os lamentos, foge para a cave e ali fica. Nunca lá esteve; é um local escuro e com um cheiro estranho, mas sente-se segura. Não entende a comoção, não sabe ainda que o dono morreu e está sozinha. Enrosca-se em cima de uma velha manta e adormece. Quando acorda e se aventura até lá cima, estranha o silêncio. Mia, percorre as salas vazias, à procura de comida e do dono. Mas há qualquer coisa que mudou, Sophia sente-o e entra em pânico. Volta a percorrer a casa, à procura de uma janela, uma porta aberta para fugir para o jardim, também ele já diferente, cheio de folhas secas e relva pisada. O que se passa? Repete Sophia incessantemente. Onde está o seu amado dono? E se saiu, porque é que não lhe deixou leite na  tigela  com o nome d

CONTOS DE PRAZER - 1ª PARTE

O SEDUTOR Relaxo com uma chávena de café na mão. Deixo que esse cheiro agridoce me domine e fujo da manhã cinzenta, da chuva aborrecida, do vento frio. Não sei se estou no Brasil ou no  Taiti ; estou onde o sonho me leva e tudo é diferente. Até o ritmo, o sorriso e, sobretudo, o desejo. Esse desejo incontrolável que aprisiona os sentidos e torna a vida banal. Apressada e insignificante! Ou talvez seja eu quem é insignificante! Não sei... Neste momento, não penso em nada. Saboreio o café com todo o tempo do Mundo. Sei que tenho que voltar, entrar novamente naquele escritório desarrumado e sorrir serenamente. Como se fosse surda, imune ao veneno escondido em cada uma das palavras que ali se pronuncia. Não conheço tais palavras; as minhas podem soar banais e frouxas, mas, pelo menos, fui eu quem as escolheu e lhes deu tempo e espaço. Não o café; deixo que seja ele a seduzir-me, a consolar-me e até os meus segredos já lhe confessei. Tenho pena de deixar o café

VIAGEM

Viajo algures. Por entre as cores do arco-íris quando tocam as ondas do mar. Ou desafiam a brisa. Ou quando me provocam e abrem as portas ao infinito. Sem que haja um dia marcado para voltar. Porque não quero voltar; quero libertar-me do hoje... Viajo em sonhos . Invento Mundos; desenho-os em cores exóticas. Nas minhas cores exóticas e loucas, porque falam de luminosidade, de alma. Essa alma que sonha em mim e me dita as palavras. Viajo em mim. Sem limites. Sem dor. Apenas com o olhar. Ou o riso que se revela franco, cristalino como nunca o ouvi. E porque tanto anseio... Viajo, simplesmente viajo. Não para outro País, outro Continente. Descubro-me; penso-me sem nós que me atem, controlem. Porque o Mundo assim escreve e eu obedeço. Sem que seja feliz... Viajo, livre. Posso estender a mão e apreciar a brisa, sem que me achem louca. E se for, gozo esse momento de loucura por completo... Continuo a viajar Mesmo quando a viagem física acaba. Viajo sem rumo, expl