CONTOS DE PRAZER - 1ª PARTE
O
SEDUTOR
Relaxo
com uma chávena de café na mão.
Deixo
que esse cheiro agridoce me domine e fujo da manhã cinzenta, da
chuva aborrecida, do vento frio.
Não
sei se estou no Brasil ou no Taiti; estou onde o sonho me leva e
tudo é diferente.
Até
o ritmo, o sorriso e, sobretudo, o desejo.
Esse
desejo incontrolável que aprisiona os sentidos e torna a vida banal.
Apressada
e insignificante! Ou talvez seja eu quem é insignificante! Não
sei...
Neste
momento, não penso em nada. Saboreio o café com todo o tempo do
Mundo.
Sei
que tenho que voltar, entrar novamente naquele escritório
desarrumado e sorrir serenamente.
Como
se fosse surda, imune ao veneno escondido em cada uma das palavras
que ali se pronuncia.
Não
conheço tais palavras; as minhas podem soar banais e frouxas, mas,
pelo menos, fui eu quem as escolheu e lhes deu tempo e espaço.
Não
o café; deixo que seja ele a seduzir-me, a consolar-me e até os
meus segredos já lhe confessei.
Tenho
pena de deixar o café barulhento, o calor humano.
Mas
o sabor está ainda tatuado na boca; o cheiro entranhado nas narinas
e o sonho do País quente ainda não se desvaneceu.
Perfuma-me
o dia; liberta-me da mesquinhez e escrevo na mente histórias
mirabolantes.
Sorrio
misteriosamente; estarei louca por ler tudo isto numa chávena de
café que os outros bebem para acordar?
Se
estou, viva a loucura! Ainda bem que sou louco e que poucos me
entendem...
Nunca
serão felizes por completo, porque quem desconhece a arte de
sedução, não a vê, não a sente numa simples chávena de
café...está perdido!
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Beijo.