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A mostrar mensagens de fevereiro, 2018

PACIÊNCIA

" NÃO GRITES!" e toda a gente olha. Que gritaria é aquela? Ainda ninguém despiu os casacos... " Bem lhe disse para não atender os telefones antes das nove!" pensa a D.Goretti, pois reconhece a voz da Rita, que está já muito nervosa e com a cara vermelha. Mas a Rita sempre gostou de chegar dez, quinze minutos mais cedo. Diz ela que assim tem tempo para organizar convenientemente o trabalho.  D.Goretti encolhe os ombros; não percebe a diferença entre estar já preparada quando alguém telefona e ter que pedir desculpa e oferecer-se para retribuir a chamada, pois o computador ainda não está ligado, etc. " Já te expliquei que hoje vão estar encerrados... Mas eu disse isso tudo; não somos exclusivos... há mais gente..." e, pouco depois, a Rita desliga. " Não entendo! Devo realmente ser muito burra, porque não entendo!" repete. " Não entende o quê? " pergunta a D.Goretti. " Já sabe que ele é um parvalhão e

O ACIDENTE - O FIM

Resolvi ficar em casa da minha Mãe... Não sei porquê, mas não quis ficar sozinha com o Jaime na minha casa super moderna. Apesar dos conselhos médicos, comecei o meu trabalho de pesquisa e um dos meus colegas confirmou as suspeitas do detective. Não sobre a Madalena, mas sobre a proposta de fusão. Ele também não estava de acordo. Concorda comigo: a empresa está sólida no mercado, para quê arriscar? Poucos dias depois, sei que a Madalena está a organizar os relatórios financeiros e o meu colega avisa-me de que ela encontrou umas pequenos "desvios". " Que desvios???  Deixei as contas direitas! Não brinco em serviço!!!" contesto e a minha Mãe sugere: " Desacreditar-te? " e o detective Figueiredo, quando sabe, concorda. " Mas não se preocupe; já informamos os Administradores da situação. Queremos que eles alinhem. Já não é só a Madalena que nos interesse." e não diz mais nada. Umas semanas mais tarde, o Grupo retirou

O ACIDENTE - PARTE V

Figueiredo hesita antes de responder. " Está ao corrente da proposta de fusão que a empresa recebeu? " e eu fico espantada. " Não, ocupo um cargo importante, mas não a esse ponto." explico " Mas porquê? " insisto. " Segundo sabemos, a proposta foi apresentada por um Grupo, em que o marido da D.Madalena tem interesses. Aliás, a oficina onde deixa o carro para reparar pertence a esse Grupo." acrescenta. Começo a ter uma ideia do que se poderá estar a passar e quando o detective se prepara para falar novamente, interrompo: " Foi efectivamente a Madalena quem me recomendou essa oficina e terá todo o interesse em que eu não esteja na empresa enquanto decorrerem as discussões. Porque, eventualmente comunicar-me-iam e eu opor-me-ia." declaro. " Acha que a Madalena poderá estar envolvida no acidente? " atalha a minha Mãe. " É uma das pistas que estamos a averiguar. Pode explicar-me porque é q

O ACIDENTE - PARTE IV

A Mãe trouxe-o hoje, mas o Jaime pouco fala. Senta-se numa cadeira ao fundo do quarto a jogar qualquer coisa no telemóvel. Fico destroçada; pensei que poderíamos conversar, saber o que ele pensa e quer.  Fecha-se em copas; parece estar muito à vontade com a avó e nota-se que a visita está a ser uma " seca ". A Mãe sorri e percebo que tem alguma a coisa a dizer, mas a presença do Jaime impede-a. Chega um dos detectives que está a investigar o meu caso. O Jaime fica curioso e até gostaria de lhe fazer umas perguntas, mas a avó manda-o sair do quarto. O detective, Figueiredo creio, abre um bloco de notas e diz: " Investigamos todos os nomes que a D.Madalena nos deu. Um deles está a viver em Londres e os restantes estão já a trabalhar noutras empresas. Funcionários exemplares e os que têm carro, não utilizam a oficina onde deixa o seu. " " Mas falaram mesmo com eles? " interrompe a minha Mãe. " Sim, sim..." confirma

O ACIDENTE - PARTE III

Mas não tenho tempo para reflectir sobre o assunto, pois a polícia faz-me uma visita. Não tenho culpa que o acidente tivesse ocorrido (se calhar, pensaram que eu estava intoxicada com álcool), pois a perícia determinou que alguém "mexeu" nos travões. O nome da oficina onde levo o carro quando tenho problemas? Sei o nome do mecânico? Quando é que foi a última vez que levei o carro lá? Recebi mails, telefonemas estranhos, em tom de ameaça? Rio-me, se os recebesse, limpava-os de imediato, digo. Nessa altura, a Madalena, a minha assistente, interrompe e fala de um incidente que acha ser importante para o caso. " Não se lembra quando despediu o Chefe da Manutenção e este a ameaçou? Tivemos que chamar a segurança... E, da manifestação que os Chefes de Turno fizeram por ter reorganizado os horários? " A polícia fica interessada e pede detalhes. A Madalena prontifica-se a entregar todos os elementos no dia seguinte. A minha Mãe fica aborreci

O ACIDENTE - PARTE II

Não sei porquê, mas lembrei-me da minha Mãe, dos comentários que fazia sobre a vida apressada que levava. " Goza o tempo... vais perder muita coisa, se continuas assim..." Analisando agora a situação, de que me serve ter subido até ao topo se o meu ex mal fala comigo e o meu filho é um estranho? Na altura do divórcio, acusei-o de ser pouco ambicioso... Ele não respondeu; virou costas e saiu de casa, da minha vida. Falamos o indispensável sobre o filhote, que prefere a companhia dele à minha. Por amigos comuns, sei que a empresa de informática que abriu pouco depois do divórcio está a ter sucesso. Mas nunca me apresentou uma proposta nem eu a pedi. Magoei-o? Como?  Um dia, perguntei à minha Mãe que, sensatamente, respondeu: " Se não o sabes, é porque nunca prestaste atenção!"  Atenção a quê? CONTINUA  

O ACIDENTE

Morri?... Não morri? Não sei.... estou dorida demais para pensar... Custa-me a respirar e o rosto do médico é uma mancha branca... Afinal, o que é que se passou?... Será possível alguém desligar esse alarme? " Siga o meu dedo..." alguém diz e eu tento ordenar os meus pensamentos.... Onde é que eu estava antes de tudo acontecer? No carro? Tenho que fazer um esforço e lembrar-me... Sei que recebi um telefonema quando entrei no carro.  Era da escola a perguntar-me onde estava o meu filho que tinha ido passado o fim de semana com o Pai. Entrei em pânico e resolvi ir de imediato ao escritório do meu ex. CONTINUA

LATITUDE - O FIM

Jaime está ciente do prazo.... Mas está num impasse... É um momento decisivo na narrativa...  Não é o Latitude aceitar a missão que está em causa...  O problema é que poderá não escapar...  "Matar" uma personagem que o público começa a conhecer poderá ser um erro fatal. Mas é a única alternativa... Caso contrário, o Latitude passará o resto da vida a " fugir " e ele é um homem corajoso... Por isso, quando chega a casa e abre o computador, Jaime escreve os últimos capítulos. Latitude é descoberto, torturado e morto. É um sucesso, o livro, mas Jaime não está contente... Já se tinha afeiçoado ao feitio do Latitude, tão parecido com o seu.... FIM

LATITUDE - PARTE V

Quando entra na sala de reuniões, reconhece de imediato o Inspector Graça e o Comissário Maurício. Não conhece o terceiro homem que apenas sorri quando o cumprimenta. Depois dos cumprimentos da praxe, surpreendem-no ao mostrarem fotos dele a conversar com um director da tal empresa interessada nos seus serviços de segurança. Latitude fica boquiaberto; não notou nada de estranho. " Devo estar a perder qualidades!" pensa, mas lembra-se de que a reunião foi num local público e que, certamente não era ele a pessoa a vigiar. " Quem é ele? " pergunta e o Inspector Graça ri-se. " Temos quase a certeza de que essa empresa é uma fachada, uma " lavandaria". Pensamos que pertence ao Grupo do Maurício, a " cara " por detrás da qual eles escondem as operações de protecção/ extorsão dos bares da zona da Ria." explica o Comissário Maurício. " O assassinato do Joaquim do Bar da Estrela pode estar relacionado com essas operaçõ

LATITUDE - PARTE IV

" Olha o Latitude! Que andas a fazer? Disseram-me que estavas suspenso? Por causa de uma stripper? " diz baixinho o Salgado. Latitude ignora o comentário e pergunta: " O que se passou aqui? " " À primeira vista, parece ser um assalto violento, mas não temos a certeza. Há muitas coisas a ter em conta." responde o Salgado, acendendo um cigarro. " Então, suspeitam de mais alguma coisa? " observa o ex-detective, mas o Salgado abana a cabeça e ri-se. " Não posso dizer mais nada! Vamos tomar um café um dia destes? " e com um aperto de mão, afasta-se. Latitude fica parado no meio da rua. Tem que descobrir o que se passou, mas o acesso ao local do crime está vedado. Só se " assaltar " o bar à noite, mas afasta logo essa ideia da mente. Talvez consiga alguma coisa através do Gonçalves da equipa forense. Telefona-lhe quando chegar a casa, decide, mas não o faz, porque recebe uma chamada do Comando a pedir-lh