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A mostrar mensagens de agosto, 2023

A QUESTÃO PARTE III

  Que ideia, Luís! atalha a Marina, a nova namorada do Pai que assistiu a tudo da porta da sala e resolve dar agora uma opinião. Isso não é desculpa e ainda tens que o respeitar mais, exactamente por ser teu irmão, continua o Pai, se não se respeita a família, não se respeita ninguém! Não quero saber o que aconteceu, mas o que acabo de presenciar, não pode acontecer novamente! Por isso, hoje, não há saídas, ficam no jardim, leiam, joguem, inventem qualquer coisa, o que quiserem, mas sobretudo, pensem em como evitar este tipo de situações. O Luís protesta, mas foi ele quem começou! porque tu o provocaste, diz o Pai e o meu irmão amua. A Marina sorri-nos solidária e o Luís deita a língua de fora e eu empurro-o para o quarto antes que o Pai se aperceba. Porque é que fizeste isso? Se o Pai te visse, o castigo seria ainda maior! recrimino, eu também não gosto dela, a única coisa que podemos fazer é manter a distância! Ela é tão parva, veste-se daquele maneira ridícula e parece uma galinha a

A QUESTÃO PARTE II

  É tempo de acender as velas e cantar os parabéns, o Gustavo adora o coro, a Maria Henrique esconde o rosto no ombro do Pai e a Gabriela desata a chorar, assustada pelas vozes. Temos mesmo que os " trabalhar", sussurro, não se podem comportar assim, temos que os endurecer! Pois, concorda o Luís, temos que desenvolver um plano, caso contrário, eles ficam uns medricas e isso não existe na nossa família, acrescenta. Estamos muito cansados quando regressamos a casa, amanhã pensamos no assunto e até me esqueço de esconder o caderno de notas. O Luís acorda mais cedo, aproveita o facto de eu estar ainda enroscado nas mantas para se deliciar com as minhas observações. Acordo com as gargalhadas dele, eh, pá, não sabia que eras tão trocista! goza, mas isto de dizeres que o Edgar é um "gozão".... não sei se ele gostaria!! e ri-se. Não sei o que se passou pela minha cabeça, mas dou-lhe um murro tal que ele caí. O Luis levanta-se rapidamente, atira-me ao chão e dá-me igualmente

A QUESTÃO

  A questão que se coloca, começo e o meu irmão Luís desata a rir, vais fazer um discurso para estes bebés? aponta para os nossos primos que me olham com estranheza. Têm que se habituar, respondo, afinal, fazem parte da família e tens que concordar que somos uma família de doidos!!! Não sei porquê, replica o Luís, só se for porque a Inês é uma original, tanto está a escrever livros infantis, como a actuar numa peça. O Gustavo olha-nos curioso, a irmã e a Maria Henrique não se interessam pela conversa, parecem estar a comparar notas sobre os vestidos. O vestido da Gabriela é azul claro, provavelmente para contrastar com as jardineiras azuis escuras do Gustavo, mas a Maria Henrique parece um "pudim flan", segreda o Luís à Mãe que lhe aperta o braço, não dizes isso alto! pede. Oh, Mãe, tem que concordar que aquele vestido é exagerado! Não é nada prático! protesto e a Dra Filipa morde os lábios. Ok, talvez seja um exagera, a Matilde quis assinalar o aniversário da filha com pompa

A ENDIABRADA

  Parece que o meu sobrinho ouviu-me, pois o Matias telefona a meio da manhã a dizer que a Núria começou a ter dores e a médica disse para irem para o Hospital. Pois é, Avó, hoje vamos conhecer os novos elementos da família, troço gentilmente, mas a Mãe não acha piada e manda novo SMS aos meus irmãos. Estamos já a almoçar quando o telemóvel toca e um Miguel muito excitado anuncia o nascimento da Maria Henrique. Maria Henrique??? repito, que raio de nome!!! Não podiam ter escolhido um nome mais civilizado???? Henrique é o nome do Pai da Matilde e da Núria, explica a Mãe, e ela quis homenageá-lo. Mesmo que não se goste do nome, e tenho que confessar que só lhe vou chamar Maria, acrescenta, temos que respeitar a escolha! Abro a boca para a contrariar, mas o telemóvel volta a tocar e é o Matias a dizer que tiverem que fazer uma cesariana à Núria, mas ela e os gêmeos estão bem. GÊMEOS??? grita a Mãe, e vocês sabiam e não disseram nada??? e ouve-se o riso do Matias, queríamos que fosse uma s

A ENDIABRADA PARTE V

  Está a dizer isso para ser simpática, respondo, mas a Mãe abana a cabeça, gosto, está bem escrita, bem estruturada, Inês, isto pode ser um êxito. Duvido, porque não sei o que fazer agora, insisto e guardo o rascunho numa gaveta, mas a minha cunhada Matilde surpreende-me, ao anunciar que tem um amigo que trabalha uma editora. Tens aqui o telemóvel dele, telefona-lhe, explica, eu já lhe disse que tu tens um livro para ele ler, e como eu pareço indecisa, marca ela o numero e estende-me o telemóvel. O Alfredo, que raio de nome! penso, tão antiquado, é muito simpático e sim, editam livros infantis, estão interessados em ler a minha história. O Amadeu quer ir comigo à reunião, eu acho que é um absurdo, mas o teu sobrinho sabe comportar-se em público, exclama a Filipa, e afinal de contas, ele ajudou-te a escrever a história. O Luís também quer ir, mas todos dizem que três é demais e no dia marcado, eu e o Amadeu subimos as escadas da editora, os dois muito nervosos. Se o Alfredo e as outras

A ENDIABRADA PARTE IV

  Hesito ao ver a cara angustiada do meu sobrinho, o Luís faz beicinho e eu atiro o guião para cima do sofá. Ok, vamos ver o que escrevi até ao momento, decido, e depois vê-se. Os miúdos ficam entusiasmados, passamos o resto de tarde a discutir os eventos e só terminamos quando o Matias chega para jantar. Tudo bem, explica, não há problema em ajudar a Inês a escrever a história, mas agora é hora de tomar um banho, jantar e ir para a cama. Os miúdos ficam desanimados, mas obedecem e eu volto a sentar-me, estou exausta, confesso, ainda não posso andar por aí ao sabor do vento! Talvez seja ainda cedo para participares na peça, comenta a Mãe e o Matias olha-me surpreendido, então, estás de volta às lides da representação? É o que eu faço, repito, entusiasmei-me um pouco com a ideia de escrever um livro infantil, porque estava aborrecida... Pois, mas pediste a ajuda dos teus sobrinhos, interrompe a Mãe, agora tens que ir até ao fim... É interessante ter dois projectos activos, declaro e a M

A ENDIABRADA PARTE III

Acabo por ficar sentada no banco, os meus sobrinhos acenam-me, estão felizes e tenho que confessar que há muito tempo que não me sentia tão confortável. Adoro actuar e cantar, não posso negar, mas talvez possa explorar outra vertente da profissão. Os meus irmãos não dizem nada nem a Mãe, mas sinto que gostariam que estivesse mais perto. E tenho que confessar: nos últimos tempos, não tenho estado muito feliz, perdi aquele papel interessante para uma outra actriz da companhia e não gosto nada de trabalhar com aquele director. Foi uma relação tóxica, a nossa separação foi dolorosa, abalou-me física e emocionalmente e talvez seja por isso que estava distraída no dia em que tive o acidente. Foi o que confessei à Filipa, ela acabou por me contar a verdadeira razão porque se mudou para aquela vila simpática e eu estou a pensar que tenho que fazer o mesmo. À noite, contacto um amigo, será que me podes pôr em contacto com um grupo de teatro local? peço, para já, não quero voltar, quero ficar ma

A ENDIABRADA PARTE II

  A tarefa não é tão fácil como eu pensava, a Mãe abana a cabeça quando confesso as minhas dificuldades, mas eu continuo a achar que é uma boa ideia. Estabeleço contactos com outros autores, participo em workshops e aos poucos começo a esboçar um texto que os meus sobrinhos insistem em ler. Fazem algumas críticas que eu me apresso a pôr em prática e exigem ler o resultado final. Mas o que é isto? Tencionam ser críticos literários? protesto, estou realmente a considerar isso, diz o Amadeu muito sério. E não é só isso, acrescenta o Luís muito sério, temos que zelar pelo bom nome da família e eu atiro-lhes uma almofada. Mas que falta de respeito é essa? grito e os meus sobrinhos fogem a rir, entram na cozinha a correr e a D. Margarida assusta-se. Mas o que é isto? repete a governanta, ainda é muito cedo para o lanche, e tenta esconder a tigela com os restos do creme de chocolate. Hum, vai haver bolo de chocolate, anuncia o Amadeu deliciado, eu rapo a tigela e os dois irmãos lutam pela pos

A ENDIABRADA

  É a minha vez de falar... claro que os meus irmãos são importantes, mas eu mereço umas linhas. Escolhi ser diferente, optei pela via artística, alcancei alguns êxitos, mas um dia, caí no palco, parti uma perna e eis-me de volta à casa materna. A Mãe ficou animada por me ter novamente em casa, não gostou muito que a Filipa mudasse para outra cidade e levasse os filhos. Era uma alegria, comenta a D. Margarida, quando eles tocavam à campainha e gritavam, espero que tenha feito uma coisa boa para o almoço... Rio, também eu sinto a falta dos diabretes, concordo, mas temos que pensar nos que vão chegar!!! Quem diria que o Miguel, sempre tão sério e exigente e o Matias, tão descontraído, iam casar com duas irmãs e vão ser pais quase ao mesmo tempo? A festa de casamento do Miguel e da Matilde foi umas semanas antes do meu acidente, optaram por uma cerimonia muito simples e uma festa discreta e estavam tão felizes que não gozei com a situação. Fiz questão de animar a malta num palco improvisa