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A mostrar mensagens de setembro, 2022

O CONSELHO DE FAMÍLIA

  O Miguel telefona aos tios, o Avô está muito doente, os médicos receiam que não passe daquela noite. Quando o António e o Gonçalo chegam, a Laura está sentada à mesa da cozinha e a Avó também. O Miguel respira aliviado quando os vê, a Teresa e a Rita também decidiram vir. A Laura sorri-lhes, não diz uma palavra, está muito apática, sussurra o Miguel, faz o que se lhe pede, mas não mais do que isso! O António aperta-lhe o ombro, não te preocupes, diz o Gonçalo e apressam-se a cumprimentar a Mãe, tão frágil, tão assustada. A Teresa e a Rita olham uma para a outra, o ambiente está pesado, sentem-se um pouco perdidas. O Miguel conta aos tios tudo o que sabe sobre o estado de saúde do Avô, os filhos decidem ir até ao Hospital falar com o médico. A Rita convence a sogra a deitar-se um bocadinho, a Teresa organiza uma pequena ceia com a ajuda da governanta. A Laura levanta-se finalmente, vou ver se fecharam bem a loja, anuncia e desaparece no corredor que liga a casa à loja. O Miguel suspir

EM CASA DA MÃE FIM

  Todos temos interesse em resolver a situação, diz o Pai, a Mãe ainda abre a boca para o contradizer, mas fica calada. A negociação é complicada, mas a conclusão é-me favorável, ou seja, a minha " base" é a casa do Pai. Terei que passar alguns fins de semana em casa da Mãe e almoçar sempre que ela estiver na cidade em casa da Avó. O que não será nenhum sacrifício, pois adoro a Avó e ups.... comento com o Pai, a comida dela é fenomenal!!! Ah, eu sou um mau cozinheiro? brinca o Pai, tens que aprender a cozinhar, talvez a tua comida seja também fenomenal... Rio-me, aprendi o básico quando estive no terreno com a ONG, esclareço, não sou uma " expert", mas não sou totalmente ignorante. Podias pedir lições à tua Avó, repete o Pai e eu fico a pensar se não será uma boa ideia. A Avó telefona-me, quer saber como correu a reunião, acho que a Beatriz fez muito mal, meter os advogados ao barulho, confessa, mas sabes como a tua Mãe é teimosa. Pois sei, concordo, ela queria sabe

EM CASA DA MÃE PARTE IV

  O telemóvel do Pai toca, é a Mãe furiosa, acusa-o de ser tolerante demais, agora, ela julga-se dona de si própria, acha que pode fazer o que quiser, diz. Não, ela sabe que há limites a respeitar, que pode discutir qualquer coisa comigo, que encontraremos uma solução que agrade a todos, explica o Pai, pacientemente, mas a Mãe continua a desfiar queixas, sou intolerante, sou malcriada, enfim, tenho todos os defeitos do Mundo! O Pai suspira, tenta ser conciliador, a Mãe insiste que tenho que voltar para casa dela, estou a desafiar a ordem do juiz. Não, não está, interrompe o Pai, como ela te disse, tem dezoito anos e pode decidir, isto não fica assim, grita a Mãe, vou consultar o meu advogado, e desliga. Abano a cabeça, não quero acreditar na teimosa dela, quase nunca está em casa, se não fosses tu, as Tias e a avó Márcia, a minha infância será muito complicada, comento. Mas não foi, interrompe o Pai, não vamos falar nisso, vamos concentrar-nos no momento presente. O melhor a fazer agor

EM CASA DA MÃE PARTE III

  Maria Rosa, não admito que me fales assim! repete a Mãe, sou tua Mãe, quero saber o que andas a fazer. Não, estás a vigiar-me, queres controlar o que eu faço, respondo, Mãe, tenho dezoito anos, estive seis meses fora e nenhum mal me aconteceu! Foi contra a minha vontade, diz a Mãe, o teu Pai insistiu, às vezes, aquele homem é mesmo idiota! Não admira que o Miguel seja uma pessoa problemática. Sempre o tratou com paninhos quentes! O meu irmão é uma excelente pessoa, friso, não sabia que eras defensora de violência! Não distorças as minhas palavras, pois não foi nada disso que eu disse! exclama a Mãe, voltando à questão, quero saber qual é o teu horário, quem são as tuas amigas! Mãe, tenho dezoito anos, não vou fazer nada disso, tens que confiar em mim, interrompo, e sabes que mais? vou para casa do meu Pai! Que idiotice! Também tens que passar uma temporada aqui na minha casa, exijo que fiques, protesta a Mãe e eu olho-a por uns segundos. Não, tenho dezoito anos, posso escolher onde f

EM CASA DA MÃE PARTE II

  O ambiente está de cortar à faca, confesso ao Miguel, estamos no gabinete dele, sei que ele não gosta que eu apareça sem avisar, mas eu preciso de falar. A Tia Teresa é uma boa ouvinte, mas sinto-me mais à vontade com o meu irmão para discutir os devaneios da minha Mãe. O Miguel não responde, estende-me a caixa dos lenços de papel, hoje estou muito emotiva, confesso que não entendo a minha Mãe, nem porque me quer por lá, esta semana só a vi ao pequeno almoço. Está sempre muito ocupada! repito. Não sei verdadeiramente o que te dizer, responde o Miguel, a Beatriz parece ser uma workacholic, já o era quando estava com o Pai. Deve estar pior agora, interrompe, e depois aquele marido dela.... não gosto do tipo nem por nada...Ainda por cima, tem uma opinião sobre tudo... Pois, a Beatriz também tinha uma opinião sobre tudo, eu não gostava nada e respondia-lhe à letra, diz o Miguel, era cada discussão...depois, fui para o colégio interno! Foi por causa da minha Mãe? pergunto, o Miguel encolh

EM CASA DA MÃE

  Tenho que passar uma temporada em casa da Mãe, anuncio nessa noite ao Pai que me olha surpreendido, ela está cá? Não estava em França a fazer um workshop? pergunta. Já voltou, respondo, ela e o seu adorável marido, Maria Rosa, repreende o Pai, não fales assim do marido do teu Pai. Mas ele parece um cachorrinho, está sempre pronto a fazer-lhe as vontades, protesto, até enjoa tanto...nem sei bem como classificar. É o marido da tua Mãe, respeita-o, aconselha o Pai, a vida será mais fácil se o fizeres! Aqui estou no meu quarto, enorme, decorado em tons de azul e branco, um quarto de princesa, troça a Amélia, uma amiga que veio estudar comigo uma tarde. O resto da casa parece um museu, cheio de antiguidades valiosas e uma das grandes paixões do meu padrasto. A Mãe bate à porta, foi um tema que discutimos bastante, sempre detestei que as pessoas entrassem no meu quarto sem se fazerem anunciar, mudarem os objectos de sítio sem me perguntarem a opinião. Por fim, a minha Mãe compreendeu a min

MARIA DA LUZ FIM

  Durante a viagem, não falamos na noite passada, o Zé Guilherme deixa-me em casa com um " amanhã no escritório às nove" e arranca. Não acendo as luzes, fico sentada no escuro, a tentar perceber o que aconteceu, o telemóvel toca, vejo que é a Maria Rosa, mas não atendo. A Júlia aparece sem prevenir, diz que a Isabel lhe contou a minha última conversa com o Pedro, quer saber se já esclareci o assunto. Abano a cabeça, a Júlia suspira, mas tens que conversar com ele, afinal, o que é que tu queres? insiste. Não sei, grito, ainda por cima...e calo-me, ainda por cima o quê? insiste a minha irmã, o que é que aconteceu? Acabo por lhe contar a minha noite " escaldante", apesar da sua irreverência, a Júlia parece chocada, oh, pá, tu já não tens idade para fazer este tipo de coisas! Se estás confusa, não sabes se é isto que queres, fala com o Pedro, parece ser um homem acessível...não durmas com o primeiro que te aparece! Não foi nada disso! repito, mas no fundo, sei que foi e

MARIA DA LUZ PARTE V

  Ele não deixa de ter razão, sabes? diz a Isabel, não podes estar a fazer este tipo de jogo, hoje fico em tua casa, amanhã fico na minha. Se me apetecer, passo as minhas férias sozinha, não, é natural que o Pedro queira um compromisso.  Achas que sim? insisto, a verdade é que não me sinto à vontade para me comprometer, pelo menos para já. Então, termina tudo, aconselha a Isabel, é a atitude mais correcta, tanto para ti como para ele. A vida tem que continuar, e desliga. Estou hesitante, não sei realmente o que fazer, amanhã, penso nisto com mais calma. Mas o amanhã é um dia caótico no escritório, tenho que rejeitar as chamadas do Pedro, mando um SMS apressado à Maria Rosa. Ao fim da tarde, vou até casa, fazer a mala, eu e o Zé Guilherme, o Director do Departamento temos uma reunião importante com um cliente no dia seguinte numa outra cidade. Explico isso ao Pedro durante a viagem, ele compreende, mas acrescenta que temos que falar sobre o futuro, frisa a palavra, quando regressar. Pro

MARIA DA LUZ PARTE IV

  O almoço é um interrogatório discreto ao Pedro que responde a todas as perguntas educadamente. Até que o Beto e o Rodrigues decidem que o ambiente está a ficar sério demais e propõem um desafio de anedotas. A Maria Rosa aceita o desafio e em breve, estamos todos a rir, sem saber bem porquê, algumas das anedotas contadas pelo Beto não têm piada nenhuma. Os homens continuam sentados à mesa depois da sobremesa e do café, nós somos expulsas e reunimos-nos na cozinha. A Maria Rosa vai connosco, a Mãe não faz mais observações sobre a minha relação, mas sei que vai encontrar uma forma de voltar ao assunto. Foi um almoço muito agradável, diz a Maria Rosa quando regressamos a casa ao fim da tarde, os teus cunhados são um máximo! São sempre assim? Sim, não é um almoço de família se não há um desafio de anedotas, explico, ainda bem que te divertiste! Ah, muito, confessa a Maria Rosa, uma das tuas irmãs, aquela com o cabelo azul, Júlia, não é? convidou-me para almoçar lá em casa um dia destes. S

MARIA DA LUZ PARTE III

  No dia do almoço, resolvemos ir todos no mesmo carro, o Pedro leva um garrafa de vinho para o meu Pai, uma caixa de chocolates para a Mãe. A Maria Rosa seguiu os conselhos da Clarinha e apresenta-se com um vestido estampado, tão curto que faz com que o Pedro a olhe desconfiado. A maquilhagem é muito suave e o cabelo rebelde está preso e a rapariga conquista rapidamente os meus Pais com o à vontade que lhe é característico. Observam o Pedro cuidadosamente, vejo que trocam olhares confusos quando percebem que o ele é mais velho do que eu e tem um filho pouco mais velho do que eu. Felizmente, a Isabel e o meu cunhado Rodrigo chegam nesse altura, as perguntas incomodas dissipam-se enquanto esperamos pela Júlia. A conversa é fluída, o Pai e o Pedro sentam-se a conversar no jardim e o Rodrigo e a Maria Rosa trocam anedotas, riem-se alto, bem dispostos. A Mãe chama-me à cozinha, a Isabel já lá está, faz-me sinal para me preparar, o Pedro deve ter uns cinquenta anos ou mais? a Mãe é frontal,

MARIA DA LUZ PARTE II

  Diz-me uma coisa, a Isabel desvia habilmente a conversa, o que é que vais dizer aos Pais? Eles já perceberam que tens alguém na tua vida, estão um pouco surpreendidos por não falares nele. Pois, suspiro, eu sei, mas a verdade é que não sei bem como abordar o assunto. Os nossos Pais podem ser um pouco antiquados, interrompe a Isabel, mas não te vão cortar do testamento, e ri-se... Rio-me também, terei que conversar com o Pedro sobre o assunto, digo, é um dos tais assuntos que ainda não discutimos... Acho que tens que o fazer, repete a Isabel, é melhor seres tu do que alguém que te viu num restaurante com ele. Despede-se, eu fico ainda mais uns minutos sentada, a minha irmã tem toda a razão, mas o que é que o Pedro dirá? Não diz nada por uns minutos quando lhe explico a situação, depois levanta-se do sofá, prepara uma bebida. É isso que queres? pergunta finalmente, pensei que querias dar um tempo, ao apresentares-me aos teus Pais, será assumir um compromisso que, deste a entender, aind

MARIA DA LUZ

  Naquela noite, explico ao Pedro porque é que pedi transferência para outro departamento. O Pedro fica apreensivo, o Miguel está a fazer-te a vida difícil? Eu posso falar com ele, diz, mas eu aperto-lhe a mão, não, não, mantém uma distância polida, esclareço, e isso não é bom quando trabalhamos em equipa.  O meu companheiro suspira, tenho dois filhos maravilhosos, mas tão diferentes! desabafa, o Miguel muito sério, muito distante e a Maria Rosa tão franca, tão aberta! Completam-se, interrompo, um equilibra o outro, já percebi que o Miguel relaxa quando a Maria Rosa está presente, torna-se mais falador, mais divertido. Mas magoou-te, comenta o Pedro, sei que está a falar do que se passou naquele nosso primeiro encontro, o Miguel tratou-me muito mal, mas não é isso que quero discutir. Tens a certeza? repete e eu abano a cabeça, estou interessada em direito empresarial, a empresa tem um departamento que trata disso e é uma promoção. Ah, o Pedro sorri, isso é interessante! e eu sorrio tam

OS DOIS IRMÃOS FIM

  Invento uma história sobre o curso, o Miguel fica um pouco apreensivo, mas acha que é natural ter dúvidas, mas nada de tomar decisões drásticas, afinal, o curso só começou a semana passada, frisa. Suspiro, levanto-me, já terminaste? pergunto inocente, não queres jantar comigo? Podemos também telefonar à Ana, sabes quem? continuo, do chá da Clarinha? Jantamos juntos? Sei quem é, responde o meu irmão, e não, não lhe vamos telefonar. O que é que estás a tentar fazer, Maria Rosa? e olha-me trocista, estás a tentar arranjar-me uma namorada? E se estiver? replico de imediato e o meu irmão, ri-se, dá-me uma palmada amigável, e se te disser, observa, que estou interessado noutra pessoa? Que ta vou apresentar na altura certa? Quase me falta o ar, bolas, Miguel, tu e os teus segredos! desabafo, não te perdoo! A fazer caixinha... Pois, e a arranjar-me namoradas? Também queres que te arranje um namorado? sugere o Miguel e é a minha vez de lhe dar uma palmada. Ok, perdoo-te, concedo, mas quero co

OS DOIS IRMÃOS PARTE V

  Mas eu quero lá saber, até parece que fui eu quem teve a criança e rio-me sozinha. O Pai aconselha-me a não ir de imediato ao Hospital fazer uma visita, deixa a família conhecer a menina antes, combina com a Matilde, diz. A Matilde atende ao primeiro toque, vai lá na hora de almoço, combinamos encontrar-nos na porta principal. Estamos a duas tão excitadas, com os braços cheios de balões e peluches, rimo-nos por tudo e por quase, decerto pensam que fugimos do manicómio, confidencio e a Matilde ri mais alto. Uma enfermeira olha para ela severamente, a Matilde balbucia uma desculpa e chegamos finalmente ao quarto da Clarinha. A Tia Madalena está lá, está orgulhosa, feliz a embalar a nova neta e a Clarinha está sentada na cama, a falar com alguém ao telemóvel. Há muitos comentários cheios de oh's, ah's, olha a mãozinha, é parecido com o Mateus, estás a precisar de óculos, é a cara chapada da Clarinha, protesta a avó. É parecida com ela própria, atalha a Clarinha e estende os braç

OS DOIS IRMÃOS PARTE IV

  Simpatizo de imediato com a Ana, a Clarinha pisca-me o olho, tenho a certeza de que é a mulher ideal para o teu irmão, murmura, agora está descontraída, mas pode ser muito dura quando se trata de impor a disciplina. O teu irmão precisa disso, acrescenta. Sorrio, oh, esqueci-me do teu presente e o Pai não está, digo alto, telefono ao Miguel e a Clarinha volta a piscar-me o olho. O Miguel atende de imediato, fica um pouco contrariado com o pedido, onde é que estavas com a cabeça??? comenta, mas acede a ir buscar o presente. Quinze minutos mais tarde, tocam à campainha, é o Mateus quem abre, oh, Miguel por aqui? ouço-o perguntar e faço sinal à Clarinha. A minha querida irmã esqueceu-se do presente, explica o Miguel, ah, entra, entra, convida o Mateus, entregamos o presente à Maria Rosa e depois vens comigo para a cozinha e bebemos um copo. O Miguel tenta recusar, mas o Mateus não aceita um não, sente-se um pouco perdido no meio de tanta mulher. Eu e a Ana somos as últimas a sair, faz pa

OS DOIS IRMÃOS PARTE III

  O teu irmão precisa de sair mais, sentencia a Clarinha, conhecer mais pessoal, outros bares e restaurantes, talvez aprenda a não ser tão sério, tão controlador! Vai ser complicado, ele pode ser muito difícil, digo, eu sei, sou irmã dele, exaspera-me com os discursos em que se arma de vítima, não vê que muitas vezes ele coloca as outras pessoas na mesma situação!  Por isso, precisa de " levar" na cabeça, interrompe a Clarinha, precisa de conhecer alguém que se ria dele, o faça sentir ridículo, mas que o convença de que é natural... Duvido, repito, o Miguel é muito picuinhas, mas a Clarinha ri-se, conheço a pessoa perfeita, é minha colega na ONG, exclama, agora, o problema é: será que o Miguel não se importa de assistir a um Chá para Bebés? Não, ele ia sentir-se pouco à vontade, comento, mas posso pedir-lhe para me vir buscar, digo-lhe que esqueci o presente em casa e a tua amiga pode não ter boleia para casa... A Clarinha volta a rir-se, Maria Rosa, és esperta! exclama, agor

OS IRMÃOS PARTE II

  Gosto da Maria da Luz, é divertida, acessível e fico surpreendida quando se despede por volta das dez da noite, amanhã é dia de trabalho, decerto queres falar com o teu Pai, diz. Fico com o numero de telemóvel dela, telefona-me um dia destes e vamos almoçar juntas, convida e dez minutos mais tarde ouço a porta a bater e o Pai volta para a cozinha. Ela podia ter ficado, comento, é a tua namorada, não é? e o Pai olha-me surpreendido, oh, Pai, a linguagem corporal denunciou-vos, estão à vontade um com o outro, gostam muito um do outro, acrescento. És observadora, responde o Pai, gostamos um do outro, passamos momentos agradáveis, só que não vivem juntos, interrompo, por alguma razão em especial? Falamos nisso, admite o Pai, mas achamos que ainda é cedo... Ainda por cima, ela é mais nova do que eu. Fico calada uns minutos, o Miguel já sabe? As tias? pergunto, o Pai suspira, sim, sim, a Teresa já desconfiava de que eu tinha alguém e o resto ficou a saber quando a apresentei na festa de in

OS IRMÃOS

  Regressar a casa é sempre bom...ainda para mais para um quarto espectacular como este. O Pai foi " cool " ter pedido à tia Carolina para discutir a decoração comigo. Não destoa do resto da casa, tem o toque de modernidade que eu queria e a primeira coisa que faço é estender-me naquela cama confortável. O Pai sorri-me, sei que estou a precisar de um bom banho e mudar de roupa, mas ele não diz nada. Está diferente, mais calmo, mais sorridente, parece mais feliz, até mais desportivo na forma de vestir. Fez-te bem mudar para aqui, comento e o Pai volta a sorrir, acho que deves tomar um banho, aconselha, depois vai ter comigo à cozinha, e saí. Exploro a casa de banho, que sorte! penso, não tenho que partilhar a casa de banho, a tia Carolina explicou que foi a única modificação que o Pai fez, quis que tivesses a tua própria casa de banho, por isso, modificou o layout do corredor! Demoro a tomar banho, encontro roupa limpa no armário, a Mãe deve ter estado cá, é uma mulher preveni

PEDRO FIM

  O último mês é muito complicado, faço uma ou duas visitas à nova empresa para conhecer a equipa, pedir já relatórios financeiros e afins. Os meus ex-colegas surpreendem-me com uma festa de despedida, é uma noite simpática e no dia seguinte, regresso a casa. Sim, a casa porque as minhas irmãs, os meus filhos, a minha companheira estão aqui. O apartamento está um luxo, o Matias avisa-me que faltam ainda algumas peças, mas está sóbrio, confortável, tal como pedi. Parabéns, Matias, cumprimento-o nessa noite ao jantar, a Carolina fez questão que eu jantasse lá na primeira noite, tu e a Matilde fizeram um trabalho brilhante. E agora temos que organizar uma festa de boas vindas, interrompe a Inês, eu encarrego-me disso! Tem calma, Inês, atalha a Filipa, deixa o tio respirar... sabes lá se é isso que ele quer, mas olha para mim com um sorriso trocista. Eu correspondo ao sorriso, talvez seja uma boa ideia, confesso à Luz que fica no apartamento naquela noite, organizar uma festa de boas vinda

PEDRO PARTE IV

  Naquela semana, recebo o convite oficial para integrar os quadros da empresa, tenho que me apresentar ao serviço dentro de dois meses. Há muita coisa a tratar, explico à Carolina quando lhe telefono para contar a novidade, se estás a falar de uma casa, interrompe-me, não te preocupes, o Matias e a Matilde estão a decorar uns apartamentos num bloco novo, marcam-te uma entrevista com a imobiliária. É uma boa ideia, concordo, se gostares e comprares o apartamento, continua a minha irmã, faço questão de ser eu a decorar, e eu tenho que me rir. Entrego a carta de demissão, sugiro o nome de um dos meus colaboradores para me substituir e vou passar o fim de semana à cidade. O Miguel vai comigo ver o apartamento, a Maria de Luz diz que é a melhor opção, depois levas-me lá e eu concordo. Porquê um T2 +1, Pai? pergunta-me o Miguel, um quarto para a tua irmã sempre que ela quiser cá ficar e não abdico de ter um escritório/biblioteca, e a agente imobiliária sorri, é uma excelente ideia! responde

PEDRO PARTE III

  A noite é agradável, acabo por passar a noite em casa da Maria da Luz e telefono ao Miguel no dia seguinte. Convido-o para almoçar, conto-lhe da entrevista, o meu filho fica surpreendido. É uma proposta interessante, um desafio e tu sabes como eu gosto de desafios, explico-lhe quando estamos já sentados no restaurante à espera do prato, é reorganizar um departamento, definir novas estratégias, novas prioridades. E o ordenado? Justifica a saída da outra empresa? pergunta o Miguel, sim, é o dobro do que estou a ganhar neste momento, continuo, vou estar mais perto de ti, das tuas tias e do resto da família. Por falar nas tuas tias, encontrei-me com elas e elas estão um pouco aborrecidas, não telefonas, não aceitas os convites para almoçar. Tenho uma vida um pouco ocupada, tenho amigos, justifica-se o Miguel, encontro de vez em quanto o Matias e o Edgar, frequentamos os mesmos restaurantes e bares. Mas mesmo assim, interrompo, não fica mal ligares de vez em quando às tuas tias, aliás, se

PEDRO PARTE II

  Em parte, continuo, quero ficar perto do Miguel, foi mais ou menos com esta idade que a Laura começou a ter problemas.... Achas que o Miguel poderá ter a mesma doença? pergunta a Carolina, preocupada, mas percebo pelo olhar da Teresa que ela já pensou nessa possibilidade. Não sei, respondo, mas o meu filho é um pouco obsessivo, passa da euforia para a depressão rapidamente...pode ser o início. As minhas irmãs ficam caladas por uns minutos, não vamos pensar o pior, diz a Teresa, todos temos momentos assim... Abano a cabeça, o Miguel torna-se irascível quando está com esse tipo de humores e maltrata as pessoas, interrompo, estive no gabinete dele há umas semanas e ele reduziu a colega às lágrimas, porque não gostou do parecer dela. Disse-lhe umas verdades, ele acabou por pedir desculpa à rapariga... mas... Pois, não sabes, não tens a certeza de nada, comenta a Carolina e sorri, a verdade é que também eu gostava que estivesses por cá, os três Mosqueteiros juntos. Sorrio também, se tudo

PEDRO

  E já que ninguém fala sobre a minha pessoa, falo eu. O que é que eu posso dizer? Que tenho uma família maravilhosa, não podia ter duas irmãs mais queridas, mais solidárias que a Carolina e a Teresa. Tenho uma boa carreira, agora tenho algumas dúvidas em ter aceite o lugar aqui, foi uma boa promoção, mas estou um pouco isolado, os filhos já têm a sua própria vida e as minhas ex há muito que deixaram de fazer parte do núcleo. A Laura continua internada, de vez em quando passa uma temporada na quinta dos Pais, mas depois volta a ter uma crise e tem que voltar para a clínica. A Beatriz...a separação foi um pouco dolorosa, sei que ela tem um novo marido, outros filhos e está feliz, mas a Maria Rosa não gosta muito de discutir o assunto e eu não insisto. O Miguel ultrapassou com distinção a fase da estupidez, como digo e agora trabalha como advogado numa companhia de seguros, está feliz, vive com alguém que ainda não me apresentou. A Maria Rosa está a fazer voluntariado enquanto não escolh

A DISCUSSÃO FIM

  Os primeiros meses são complicados, o Mateus está sobrecarregado com o trabalho no Hospital e a Clarinha adora o trabalho proposto pela ONG, treinar voluntários. Têm pouco tempo livre, estão cansados demais para falar e discutem por ninharias, vai acabar mal, diz a Mãe e a Matilde suspira. Também está preocupada, mas tem a sua própria vida, atravessa um bom momento profissional e é a Clarinha quem tem que resolver os seus problemas. Naquela noite, a discussão é desagradável, a Clarinha combinou uma saída com uns colegas da ONG, mas o Mateus está a trabalhar há 24 horas, precisa de descansar. A Clarinha acha que o marido está a ser egoísta, o Mateus não concorda, ela não entende como ele está cansado, amanhã talvez possam sair juntos. O Mateus fica a dormir no quarto de hospedes, a Clarinha saí, mas sente que cometeu um grande erro, o marido está de mau humor quando se encontram na cozinha no dia seguinte. O Bernardo telefona, o Mateus está livre? Vamos nadar um pouco, assistir a uma

A DISCUSSÃO PARTE V

  A discussão torna-se um pouco acalorada quando a Clarinha propõe ficarem mais tempo. Não, diz o Mateus, a minha licença sabática está a terminar, quero agora ingressar no quadro do Hospital e desenvolver o meu trabalho aí. Foi importante ter feito voluntariado, mas agora tenho que pensar na minha carreira. Mas ainda há tanto para fazer, protesta a Clarinha, porque é que não podemos ficar? insiste, mas o marido abana a cabeça, cumpriram os objectivos da ONG, é importante entregar o projecto a outras pessoas com outras ideias. Tu continuas a trabalhar nos escritórios dele, concluí o Mateus, o trabalho lá também é importante e quanto a regressarmos a este tipo de projectos, veremos quando é mais adequado. Para nós e para a ONG! acrescenta. A Clarinha sente-se frustrada quando regressa, a Mãe e a irmã organizam um almoço de boas-vindas, mas pela primeira vez na vida, sente-se deslocada. Logo ela que é a alma de qualquer festa, o que é que se passa? pergunta o irmão e a Clarinha encolhe o

A DISCUSSÃO PARTE IV

  O Inspector Bernardes acha que começa a ser demais não ter notícias da filha, já passou um mês, por muito ocupada que esteja com o projecto a desenvolver, pode ligar à Mãe e dizer que está bem. Liga-lhe para o telemóvel, mas a Clarinha não atende e por isso, o Pai liga para o genro que atende de imediato. Eu sei, eu compreendo perfeitamente, diz o Mateus, já falei do assunto com ela, mas sabe como a Clarinha é, empenha-se de tal maneira no trabalho que até se esquece de mim! justifica. Isso não é desculpa, interrompe o Inspector, se não atendesses, ia telefonar à Polícia local e pedir para vos localizar! Bem sei que vocês casaram há pouco, que estão a desenvolver um trabalho importante, mas há limites! Não custa nada falar com a Mãe dez minutos! Tem todo a razão, repete o genro, eu peço à Clarinha para ligar hoje sem falta à Mãe e desliga, ligeiramente embaraçado. Estamos em lua de mel, a trabalhar num projecto importante, não posso perder tempo! protesta a Clarinha e o marido suspir