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A mostrar mensagens de junho, 2021

O DESATINO DA MATILDE PARTE III

  Claro que sim, afirma a Mãe, faz parte da família e isto é um problema de família. Vai jantar lá a casa hoje, vamos falar sobre o que se está a passar. Suspiro, sei que não vale a pena protestar, quando a Mãe decide uma coisa, está decidido. Mas primeiro, continua a Mãe, vamos acabar de limpar este apartamento. Não quero que a Isabel diga que és uma desleixada... Foi por isso que discutimos, atalho, era a minha vez de fazer a limpeza e não a fiz. Ah, agora já sei porque é que a Mãe me perguntou se estavas bem, interrompe a Mãe. Demoramos duas horas a pôr o apartamento em ordem, a roupa lavada ficou estendida na marquise e enchemos o frigorífico. Esperamos-te às sete e meia, não te atrases, pede a Mãe, entretanto, nada de bebidas! acrescenta como se adivinhasse os meus pensamentos. Suspiro quando ela saí, resolvo tomar um outro duche e passo a ferro uma T-Shirt ainda um pouco húmida. A primeira pessoa que vejo quando entro na casa dos Pais é a Clarinha.  Dá um grito de gelar o sangue

O DESATINO DA MATILDE PARTE II

Mãe, o que é que estás aqui a fazer? e a minha Mãe olha espantada para os sacos do lixo. Não atendes o telemóvel há uns dias, diz calmamente, depois encontrei a Mãe da Isabel que me perguntou se estavas bem. Fiquei curiosa com a pergunta e vim cá ver. Tenho que ir deitar isto ao lixo, explico, evitando olhar directamente para a Mãe. Deram uma festa, foi? Porque isso são garrafas, pergunta, e tu estás com um aspecto terrível. Fico corada, não sei bem o que responder e a Mãe insiste, estou à espera de uma resposta, Matilde, também sei que não estás a frequentar o curso e quero saber porquê. Um dos meus vizinhos passa por nós, fica surpreendido por nos ver ali paradas no hall e a Mãe acha que é melhor subir. Quando abro a porta e a Mãe vê o caos que ainda reina no apartamento, fica muito séria, a Mãe da Isabel tem razão, há qualquer coisa que não está bem. Isto está um verdadeiro desastre, pensei que vocês tinham um plano de limpeza. E, temos, confirmo, mas atrasei-me e é por isso que est

O DESATINO DA MATILDE

  Estou a beber demais, estou consciente do facto, mas não faço nada para contrariar. Está tudo a correr mal, o curso está a ser uma desilusão, tive uma grande discussão com a minha companheira de casa e terminei tudo com o meu novo namorado, João. Porque é que há homens que não aceitam, não compreendem a razão porque estamos a dizer não? Cedi ao meu  outro namorado e nem me quero lembrar das complicações que tive... Foi o que tentei explicar ao João, mas este ficou muito sério, já percebi tudo! atira, és uma púdica e ainda por cima falsa!  A fazeres olhinhos, a dares-me esperança e no fundo, é só show! e afasta-se, descontente. Recebo bocas trocistas dos amigos dele, mas sigo em frente. Nessa noite, apanho a primeira bebedeira, falto às aulas e a uma frequência importante, mas penso, quero lá saber. Repito a dose, a Isabel não gosta de encontrar garrafas espalhadas pela casa, fica furiosa quando não faço as compras da semana e ainda mais quando não faço a limpeza do apartamento. Tínha

O GUSTAVO E O BERNARDO - FIM

Estão a gozar comigo? pergunta o filho, a não ser... e olha-os abismados. Dormiram juntos??? exclama, incrédulo e volta a rir, sim, vocês são uma caixinha de surpresa! Aconteceu, Bernardo, não somos de ferro!!! justifica-se a Mãe, mas o filho continua a rir. Está tudo bem, Mãe! Desde que estejas feliz, mas tens que concordar que é engraçado, continua o Bernardo, vou ter um irmão mais novo vinte e cinco anos! AH, AH... Os Pais suspiram de alivio, estavam um pouco apreensivos, mas o Bernardo está a aceitar bem a ideia. Foi um choque! confessa o Bernardo mais tarde ao Gustavo, não queremos pensar que os nossos Pais têm sexo, tanto mais que estão divorciados há anos!!! Pois, também foi uma surpresa descobrir que os meus Pais estavam novamente juntos, concorda o Gustavo, eles comportaram-se como adolescentes, escondidos em casa do Pai. Mas a tua Mãe não ficou grávida! atalha o Bernardo, já imaginaste teres cinquenta anos e o teu irmão ter vinte e cinco???? Ups!!! E, a tua Mãe? Como está? di

GUSTAVO E BERNARDO PARTE V

  Olá, és o Bernardo, não é? e o Bernardo olha a rapariga ruiva que lhe sorri abertamente com surpresa. Conheço-te? pergunta e a rapariga ri-se, espero bem que sim, fomos colegas de turma até ao décimo ano, depois tu seguiste gestão e eu optei pela medicina. Desculpa, mas não te estou a reconhecer, desculpa-se o Bernardo e volta a soar um riso cristalino, que o faz sorrir. Chamo-me Cristina, morava naquela casa rosa perto do Parque, o ponto de encontro era a Confeitaria Barcelos, diz a rapariga. Ah, tinhas um irmão chamado Pedro, já me lembro e o Bernardo afasta-se um pouco dos colegas. Sentam-se ao balcão, há pouca gente ali e pedem uma cerveja. Conversam o resto da noite, os colegas do Bernardo querem continuar a noite noutro bar, mas ele declina o convite e eles partem sem ele. As despedidas são ruidosas, boa sorte para Cabo Verde, desejam uns, não te apaixones e não fiques por lá, dizem outros maliciosos. Vais para Cabo Verde? quer saber a Cristina, para onde vais? É que também vou

GUSTAVO E BERNARDO PARTE IV

Não é isso, diz a Aída, é que descobri que estou grávida. GRÁVIDA??? repetem a Madalena e a Teresa e a Aída fica muito corada. Pois, um descuido, eu e o pai do Bernardo jantamos juntos, ele tinha algumas reservas acerca da ida do Bernardo para Cabo Verde, continua a Aída, uma coisa levou a outra e aqui estou grávida de seis semanas, sem saber o que fazer! A primeira coisa a saber é, atalha a Madalena, queres esse filho? Claro que sim! e a Aída soa horrorizada, então, tens que falar com o teu ex e saber o que ele pensa sobre o assunto, aconselha a Madalena. Tens que fazer isso, sabendo isso, podes avançar e decidir outras coisas, concorda a Teresa, não estás sozinha, estamos todos aqui para te ajudar no que for preciso. A Aída sorri, é um sorriso triste, mas teme a reacção do ex-marido e do Bernardo. Não vai ser fácil, diz a Madalena, o Gustavo e a Matilde não gostaram muito da ideia de terem uma outra irmã, mas agora são os melhores amigos da Clarinha. Não lhe facilitam a vida, aliás,

GUSTAVO E BERNARDO PARTE III

  Assino o contrato e passo as semanas seguintes em reuniões, consultas médicas, vacinas. A Mãe ajuda-me a embalar coisas que ela acha indispensável eu levar, compra-me roupa e sorri-me corajosamente. Sei que vai ser um pouco duro para ela, mas, como o Gustavo diz e com razão, tenho que fazer o que é melhor para mim no momento. Estuda bem o mercado, está alerta a outras oportunidades, aconselha o Gustavo, convive, mas não te precipites. Estamos os dois numa esplanada ao fim da tarde, a Luísa foi fazer compras com a Mãe, não gostou muito, conta, também é teu filho, mas elas demoram tanto tempo a decidir-se... Sorrio, nesse aspecto, a minha Mãe é muito prática, gosta, gosta, não gosta, avança, respondo. O Gustavo ri-se, a minha Mãe também era assim, mas desde que começou a trabalhar na loja, está diferente. Influência da Rita, que é um modelo e continua gira, mesmo após o nascimento da Francisca. Tenho saudades da Rita, confesso, ela gozava tanto com o Major durante as sessões do Clube.

GUSTAVO E BERNARDO PARTE II

  Ok, então fala com os teus Pais e diz que sim, continua o Gustavo, vê isto como uma espécie de promoção e quando regressares, decides se queres continuar na empresa ou avançar para outra coisa. Mas para já, fica sossegado no teu canto. Tem lógica, penso e olho para o relógio, fico espantado com as horas, valha-me Deus, já é tão tarde! desculpo-me, mas o Gustavo abana a cabeça, estamos cá para isto! Telefona-me se precisares de alguma coisa, diz, foi bom falar contigo novamente! Também eu! Tens sido um bom amigo, eu é que tenho sido um pouco...interrompo-me, um bocado estúpido, acrescento. Deixa lá! É passado, tiveste um acidente, a recuperação foi complicada, não admira que estivesses um pouco confuso! observa o Gustavo. Acordo tarde no dia seguinte, telefono à minha Mãe e combino almoçar com ela. Deixo mensagem ao meu Pai, peço-lhe para passar lá por casa ao fim da tarde. A Mãe fica surpreendida com a proposta, mais ainda quando lhe digo que vou aceitar. Oferecem-te casa? Quem vai c

GUSTAVO E BERNARDO

  Se o Gustavo ficou surpreendido por lhe ter tocado à porta àquela hora, não o disse. Convidou-me a entrar, ofereceu-me uma bebida que recusei e optamos por beber antes um café. A mulher, a Luísa sorriu-me e desapareceu na cozinha. Nós ficamos na sala, calados, o Gustavo a olhar-me curioso, mas a respeitar o silêncio. A Luísa regressa com um tabuleiro e duas chávenas fumegantes, volta a sorrir-me, desculpa-me, estou um pouco cansada, vou-me deitar, diz. Aceno com a cabeça, forço um sorriso e após um beijo ao Gustavo, a Luísa saí, fecha a porta da sala. Então, o que se passa? pergunta o Gustavo e eu conto-lhe tudo. A discussão violenta que tive com o meu superior hierárquico,  que só terminou porque o Director Geral interveio, da reprimenda severa que recebi e a suspensão por três dias, sem vencimento. Hoje, tive nova reunião com o Director Geral, concluo, fizeram-me uma proposta, deram-me a entender que era melhor aceitar se quero continuar a trabalhar na empresa. Que tipo de proposta

AÍDA- FIM

  É uma longa noite de insónia e tenho dificuldade em me concentrar no trabalho. Continuo a ver o Bruno à minha frente bêbado e a dizer disparates e não sei verdadeiramente o que fazer. Talvez conversar com o Bernardo, ouvir o que ele tem a dizer, mas não quero envolver o meu filho nesta história. É possível que o Bruno ganhe juízo e o que aconteceu a noite passada não se repita. Mas não sabes, diz sensatamente o Pai do Bernardo, telefonou-me, está um pouco preocupado com a proposta feita pela empresa ao Bernardo. Ir seis meses para Cabo Verde? Será boa ideia? repete, não sei, o Bernardo diz que é uma promoção, quando regressar, pode ocupar outro lugar, ter outras funções mais importantes, explico. Não sei, não estou convencido, responde o meu ex-marido, disse-lhe para analisar cuidadosamente a proposta, até a levar a um advogado. Temos que o deixar decidir, é a vida dele, observo, ele está todo entusiasmado e suspiro. O que é que se passa? pergunta e acabo por lhe contar o que se pass

AÍDA PARTE V

  Há um pequeno debate, a Natália acha que devemos escolher outro livro já que a Glória leu este, diz, mas esta não concorda, que disparate! lembro-me da história em geral, há pormenores que me esqueci! Está decidido, interrompe a Rita, lê-se o " Mataram o Sidónio" e o encontro é daqui a um mês na casa da Madalena, decide. Estás doida? protesta a irmã, não devíamos fazer uma votação? Ou esperar que as pessoas se oferecessem? A Teresa ri-se, até calha bem, só tenho que descer de elevador e todas nos rimos. Jantamos, falamos nos respectivos companheiros, fico a saber que a Madalena e o Inspector Bernardes estão a viver juntos novamente. A Matilde mudou-se para o apartamento dele, conta a irmã da Rita, e se bem que haja ainda pormenores a esclarecer, estamos a entender-nos bem. Estão mais velhos, mais sensatos, goza a Rita e a irmã atira-lhe uma almofada à cabeça. Isso pode ter influência, às vezes, certas situações revelam-nos o que não queremos fazer e levam-nos a procurar out

AÍDA PARTE IV

  Rio-me e a Rita propõe uma data para a reunião. Manda-se um mail às outras, a Natália envia uma lista de livros e o sítio escolhido para a primeira reunião é a casa da Rita. A Glória leva uma lasanha, eu faço um salada e a Natália prepara uma mousse de chocolate para a sobremesa. A Teresa e a Madalena levam uma quiche vegetariana e a Rita oferece as bebidas, tem também aperitivos que todas apreciamos. O Gonçalo levou a Francisca para casa do António, esclarece e a Teresa ri-se, vou encontrar a casa de pantanas, afirma, a Sofia acha que é um ás na decoração e muda tudo de sítio. O António deixa-a fazer tudo. E o Gonçalo? pergunto e a Teresa abana a cabeça, continua a ser um paz de alma, está tudo bem para ele. Aparentemente, acrescenta, pois quando abusam da paciência dele... não é fácil lidar com ele. São fases, observa a Madalena, e é melhor passarem por elas. O Gustavo e a Matilde tiveram a sua fase rebelde, tivemos alguns problemas principalmente com o Gustavo, mas agora são dois

AIDA PARTE III

  Eu não digo nada, responde a Glória, a relação entre eles melhorou, mas o Francisco não conta tudo. Acho que ninguém conta tudo, interrompe a Natália, mas isto é um assunto importante e se ele está em contacto com o irmão, deve dizer. Sei que o Amadeu vai de imediato à procura dele, mas tenho medo que seja um desperdício de tempo. Nem eu nem a Natália respondemos, desviamos a conversa para assuntos mais leves e é a Natália quem sugere organizar um novo clube de leitura. Só para mulheres, explica a rir-se, uma vez por mês para nos divertirmos. Jantar, discussão sobre um livro, sem companheiros, sem filhos, o que é que acham? É capaz de ser uma ideia interessante, concordo, mas como é que vai funcionar? Primeiro que tudo, temos que falar com a Rita, a Teresa e a Madalena, exclama a Glória, e depois acertamos os pormenores. Fica decidido que eu falo com a Rita e a Glória com a Teresa e a Madalena, a Natália encarrega-se de fazer uma lista de livros. Nada de comédias ou fábulas, pede a G

AÍDA PARTE II

  Gosto da disposição da casa e fico encantada com as alterações que a Catarina fez na cozinha e na casa de banho. No que foi o quarto do Tomás, posso fazer um pequeno estúdio, preciso de um local para trabalhar quando estiver em casa e o Bernardo pode dormir lá. O senhorio aceita a minha proposta e faço a mudança durante as minhas férias. O Bruno oferece-se para ajudar, fico hesitante, mas acabo por recusar.  Melhor terminar tudo, manter apenas o contacto profissional, porque, tens que admitir, diz o meu filho, ele não vai gostar nada de trabalhar para ti. Não é bem assim, Bernardo, tenho uma certa liberdade de movimentos, posso organizar as equipas e os eventos, mas recebo instruções da Chefia. O meu filho encolhe os ombros, mas eu sei que é capaz de ter razão, o Bruno é um pouco ciumento, o Clube que formou na livraria dele não teve tanto sucesso. Será que tem ciúmes da minha promoção? mas eu afasto a ideia da mente, seria uma idiotice e depois, trabalhei muito para a conseguir. Por

AÍDA

  Foi uma pena o Clube de Leitura ter terminado, mas a livraria quis renovar, apostar noutro tipo de eventos. Foi um bom trabalho, asseguram-me, um escritor tornou-se visível no nosso Clube de Leitura e a Aída é responsável por isso. Sorrio, mas tenho pena que os encontros às quartas-feiras tenham terminado, continuamos a encontrar-nos em almoços, jantares, mas aquela hora podia ser muito divertida com a Rita a gozar com o Major e o Nicolau a impor a ordem. O Bernardo cresceu, foi o primeiro a sair, tinha que explorar novos horizontes, o António e o Major têm famílias jovens que exigem toda a atenção, o Nicolau as suas palestras e as feiras e até a Rita nos surpreendeu ao ter uma filha. Eu fui promovida, sou responsável pela agenda cultural de toda a rede de livrarias, o Bernardo ficou todo satisfeito, lutaste por isso, Mãe, aproveita, diz. Contudo, o que ele não previu, ninguém previu foi que a minha relação com o Bruno terminou. Acho que ele teve ciúmes da minha promoção, começou a s

PEDRO E OS AMIGOS - FIM

  Não é fácil convencer o Miguel a deitar-se, mas lá adormece e eu tomo um duche rápido antes de me deitar. A Carolina enviou-me um SMS, quer saber as novidades, mas a única coisa que lhe posso dizer é que me diverti. A Margarida foi uma companhia agradável, mas ela tem uma vida própria e fiquei com a impressão de que não está à procura de uma relação. Eu acho que é cedo, a minha relação com a Laura é complicada e terei sempre que a gerir, ela será sempre a Mãe do meu filho. Temos que estar preparados para eventuais escândalos por parte da Laura e nem todos as mulheres podem viver com isso. Por isso, não é uma surpresa quando encontro a Margarida uns meses mais tarde num jantar em casa do Rogério e da Marta acompanhada por um " amigo ". Sorrio quando ela mo apresenta, conversamos os três durante uns minutos e até acabo por gostar do senhor. Entretanto, o Rogério apresenta-me a uma amiga, é instrutora de yoga, segreda-me, mas embora a rapariga seja simpática e culta, não me de

PEDRO E OS AMIGOS - PARTE V

  O passeio pela vila é agradável, estamos todos mais descontraídos sem a presença da Clotilde e do Telmo. Regressamos a casa por volta das cinco da tarde, a Margarida acaba de nos contar uma anedota e ficamos muito surpreendidos por encontramos a Clotilde e o Telmo no hall com as malas feitas. Acho melhor irmos para a casa, explica a Clotilde, não, não digas nada, apressa-se a dizer quando o Rogério protesta, queremos apenas pedir desculpa pela cena triste que o Telmo fez, especialmente a ti, Pedro. Sorrio para a tranquilizar, mas a Clotilde nem vê. Soa uma buzina. a Clotilde chamou um Uber, há despedidas rápidas e quando eles partem, ficamos todos a olhar uns para os outros. Não vou dizer que tenho pena, diz a Marta, porque não tenho e começamos todos a rir. O jantar dançante é um sucesso, sinto-me relaxado, mesmo feliz. O verdadeiro problema é quando vou buscar o Miguel no domingo à noite a casa da Teresa. Prepara-te, ela vai querer saber tudo, sussurra o António, ela e a Carolina n

PEDRO E OS AMIGOS PARTE IV

  Há quanto não fazes uma noitada, não tens sexo? insiste o Telmo e eu abano a cabeça, é uma pergunta muito intima, esclareço, de vez em quando, o Miguel fica em casa dos avós ou na das minhas irmãs. Mas todos têm a sua vida, organizam-se para me ajudar e eu não quero abusar. Ora, ri-se o Telmo, estás a perder os melhores anos da tua vida, ainda por cima, não tens a maluca da tua mulher por perto. Onde é que está o Pedro que não perdia nada? Cresci, digo simplesmente, tenho outras prioridades e desculpa-me a franqueza, mas não te refiras à Laura como a " maluca ". A Laura é uma pessoa problemática, está em tratamento, mas continua a ser uma pessoa! Oh, pá, não precisas de levar as coisas tão a peito! o Telmo está desconfortável, não sabe o que dizer. É, Telmo, o Pedro tem toda a razão! interrompe a Marta, que desceu entretanto as escadas, seguida pela Clotilde. Esta puxa o Telmo para o outro lado do deck e vejo que discutem baixinho.  A Marta fica a meu lado, suspira, este Te

PEDRO E OS AMIGOS - PARTE III

  Não digo nada disto à Margarida, apenas sorrio, sou vago, claro, depois combinamos, respondo. Terminamos de jantar, as mulheres reúnem-se na cozinha, nós homens instalamo-nos na piscina com um digestivo. O Telmo continua a falar de carros, o Rogério troça amigavelmente e eu não sei bem o que fazer. Estou a ficar cansado, levanto-me quando as mulheres regressam. O quê? Já vais? repete o Rogério, a noite é ainda uma criança, mas a Marta interrompe, o Pedro tem toda a razão e temos um dia cheio amanhã. Suspiro de alívio quando chego ao quarto, não sei se isto foi uma boa ideia e espero sinceramente que a conversa não se resuma a carros. O dia amanhece claro e com Sol, o Rogério grita às oito da manhã do andar de baixo, vamos lá, pessoal, toca a levantar, temos que estar no cais às nove. Levanto-me relutante, tomo um duche rápido e desço. O Telmo ainda não apareceu, a Marta parece estar ainda ensonada, mas a Clotilde e a Margarida estão bem dispostas e não param de conversar. O Rogério d

PEDRO E OS AMIGOS - PARTE II

  A Marta apresenta-a rapidamente, a Margarida, minha colega de trabalho, também vai connosco enquanto o Rogério sugere ao outro casal que deixe ficar o carro na garagem deles. Vocês vêm connosco, decide, e o Pedro leva a Margarida. A Margarida sorri-me, noto que não está muito à vontade, responde cuidadosamente a todas as perguntas que faço, mas não mais do que isso. Por isso, a viagem é um pouco aborrecida e o Rogério apercebe-se quando chegamos à Barragem. Não te preocupes, a Marta diz que ela é boa rapariga, mas teve um mau casamento, está a recuperar e a Marta quer ajudar, segreda e eu rio-me. Não vim à procura de uma aventura, replico e o Rogério finge-se escandalizado, era lá capaz de uma coisa dessas! repete, pelo menos, é diferente da Laura, acrescenta. Completamente, concordo, a Laura já estava a protestar, a implicar com qualquer coisa. Tens notícias dela? Sabemos que é um assunto delicado, não queremos aborrecer-te, mas já que estamos a falar dela, e o Rogério cala-se. Cont

PEDRO E OS AMIGOS

Não sei bem quando, mas foi muito antes de conhecer a Beatriz, a Carolina perguntou-me se estava a cuidar de mim. Ri-me, o que é isso? Entre o emprego, assegurar-me do bem-estar do Miguel e aturar as maluqueiras da Laura, achas que tenho tempo? respondo. A minha irmã mais velha abana a cabeça, acho que não estás! Precisas de ir para fora com uns amigos, um sítio divertido, sugere. Pois, e o Miguel? O que é que eu faço ao Miguel? repito e a Carolina dá-me uma palmada no ombro. Pode ficar comigo ou com a Teresa, estamos aqui para te ajudar, observa a Carolina, combina qualquer coisa com os teus amigos e para este fim-de-semana, eu organizo tudo com a Teresa, declara. Perante este ultimato, acabo por aceitar o convite do Rogério e da Marta para passar o fim-de-semana na casa deles na Barragem. Vais gostar, assegura o Rogério, podemos andar de barco no lago, fazer um piquenique numa das ilhas e aos sábados, o Hotel organiza um jantar dançante. Ainda bem que vens, diz a Marta, precisas de d

O ENCONTRO - FIM

  O novo emprego é uma boa aposta, a Luísa está satisfeita, eu também, porque sou promovido e tenho uma certa liberdade nas decisões do Departamento. A vida corre-nos bem, estamos já a pensar no próximo passo, o casamento, mas a Luísa acha que é cedo demais. Só agora é que estamos com as carreiras consolidadas, justifica, mais um ano, ano e meio e podemos pensar nisso. Concordo com ela, ainda há muita coisa a fazer antes de pensarmos no casamento e em filhos. Mas um dia a Luísa descobre grávida, fica um pouco assustada e eu também. O que é que vamos fazer? pergunta-me, acho que o importante aqui é saber se o queres ter? replico. A Luísa olha-me espantada, o que é queres dizer com isso? Claro que sim, não estou a pensar em fazer um aborto... este bebé vai nascer, temos é que reorganizar a nossa vida e preciso de saber se estás disposto a isso. Isso nem se pergunta, digo, temos que mudar para uma casa maior, vamos ter muitas baby sitter e quanto a infantários, pode ir para o da minha pri

O ENCONTRO - PARTE V

  Exactamente o que penso, confesso, a família faz parte de mim, da minha vida. Depois teremos que organizar a agenda, diz a Luísa, porque quero que conheças os meus Pais e os meus irmãos. É justo, não é? Claro, claro, apresso-me a concordar e suspiro de alívio. Esta relação tem tudo para dar certo, admito à Rita naquele domingo. A Luísa encantou toda a gente, conversa animadamente com a Matilde e até a Clarinha a escuta com atenção, calma, calada. Ela parece simpática, até conquistou a Clarinha, observa a minha Tia, estou muito contente por ti. Ela é advogada, não é? Sim, trabalha nos Recursos Humanos, confirmo, porquê? O que se passa? Nada, nada, repete a Rita, não te preocupes! É bom saber que há um advogado na família...  O Gonçalo chama-a, a Francisca acordou e reclama a Mãe e a Rita afasta-se, deixando-me pensativo. O almoço é um sucesso, a Mãe conhece a quinta dos Pais da Luísa, vai ter uma reunião com eles para discutir uma parceria naquela semana, a minha companheira fica entu

O ENCONTRO - PARTE IV

  Explico sucintamente como é que a Clarinha acabou por ser adoptada pelos meus Pais, não falo dos problemas que estamos agora a ter com ela, é cedo demais. A Luísa fica impressionada, é um acto de coragem adoptar uma criança, diz, mas todas as crianças merecem amor, família... Gostava de a conhecer, acrescenta, e aos teus Pais também. Agora sou eu quem fica impressionado, conhecer os meus Pais foi sempre um problema para as minhas ex e nem me quero lembrar da razão porque eu e a Catarina terminamos. A Luísa continua a falar, tem dois irmãos mais velhos e uma irmã mais nova, os Pais têm uma pequena quinta, estão a explorar a agricultura biológica, talvez a tua Mãe esteja interessada em os conhecer, sugere. Fico calado, sorrio, a Luísa também e temos pena quando o jantar termina. Não estamos interessados em ir para um bar, por isso, damos um passeio pelas ruas desertas. Acabamos por parar em frente do prédio onde vivo e sem dizermos nada, subimos e passamos a noite juntos. A partir daí,

O ENCONTRO - PARTE III

  A ideia da Matilde de se matricular a Clarinha num colégio interno é rejeitada de imediato pelos nossos Pais e eu concordo com eles. É um bilhete para situações complicadas. observo e ficamos num impasse, não sabemos verdadeiramente o que fazer. A Mãe sugere falar novamente com a psicóloga, talvez nos ajude a encontrar uma outra solução, diz, mas eu duvido, não acertou até agora, não vai ser diferente.  A Mãe quer que fique para jantar, mas eu recuso. Estou cansado, amanhã tenho um longo dia e quero deitar-me cedo. Mas estou ansioso demais, decido ir até à marginal e dar um passeio pelo paredão. Encontro a Luísa e uma amiga lá, sentadas num café a observar o pôr-do-Sol e após as apresentações, convidam-me a sentar. Ficamos lá até o Sol desaparecer por completo e despedimos-nos no parque de estacionamento. A Luísa faz-me prometer que lhe telefono no dia seguinte para combinarmos qualquer coisa, mas a semana é tão caótica que só lhe consigo telefonar na quinta-feira ao fim da tarde. Co

O ENCONTRO - PARTE II

  A ver TV, responde a minha irmã muito descontraída, estou aborrecida com a Mãe e por isso, escapei-me para aqui. Mas estás doida? protesto, pensei que esta fase de estupidez tinha passado e depois, não podes entrar aqui quanto te apetece. Avisaste a Mãe? A Clarinha suspira, olha para mim com cara de poucos amigos e diz, não, não disse, mas ela deve saber. Tirei-lhe as tuas chaves da carteira. MARIA CLARA, grito exasperado, mas o que é que se passa contigo? e apresso-me a telefonar à minha Mãe. Ainda bem que ela está contigo, confessa, já telefonei a todas as amigas dela, ia avisar o Pai para ele contactar os colegas. Isto não pode voltar a acontecer, comento, temos que voltar a falar com ela como família, acrescento, eu levo-a. A Clarinha não fica nada satisfeita quando anuncio que a vou levar a casa, grita alto, quem a ouvir, pensa que a alguém a está a maltratar. Perco a paciência e dou-lhe uma bofetada, o que nunca tinha feito na vida e nos surpreende.  A Clarinha cala-se de imedi