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A mostrar mensagens de maio, 2017

O REGRESSO

Leandro sentia-se velho... Ou convenceu-se de que era, afinal, mortal....  Nestes dois meses que esteve ausente do Departamento, além da ida diária ao fisioterapeuta, tinha organizado a biblioteca, comprado novos livros e num passeio pelos arredores da cidade, tinha encontrado uma casa com um pequeno jardim. Talvez pudesse arrendar o apartamento da cidade quando se reformasse e ir viver para ali naquela pacata vila, longe do transito, do barulho. Mas, para já, tinha que estudar o relatório do Sargento Bernardes. Que história macabra era aquela de terem encontrado uma mão no Jardim e mais tarde, dois corpos quase em decomposição numa casa abandonada? E porque razão tinha sido o Comandante a tomar conta do caso e não o Meireles? Não que se surpreendesse com o facto; às vezes, o Meireles agia como um imbecil... Mas mesmo assim... Bateu no vidro e Bernardes entrou de imediato. " Oh, Ch... Inspector, que bom estar de volta!" confessou o sargento.

ESTRANHO - O FIM

Avançaram com cuidado; em alguns locais, o telhado tinha caído. Encontraram velhas seringas, colheres enferrujadas, garrafas vazias e numa das salas das traseiras, meia escondida por uma escadaria podre, viram um outro corpo. Com o lenço a tapar o nariz e a boca, Bernardes aproximou-se com cuidado para não contaminar o local. " Este está irreconhecível. A cara está feita num bolo. Assinala o local e diz a equipa que também tem que o processar." ordenou ao Torcato que acenou que entendia. Quando voltaram para o exterior, o médico legista já estava a examinar o outro corpo e o sargento perguntou-lhe: " Acha que a mão que encontramos é dele? " e o médico riu-se: " Sabe muito bem que ainda não lhe posso responder. Mas creio ter elementos ainda hoje..." acrescentou. " Pois, há outro corpo dentro da casa. O Torcato explica-lhe tudo. Eu vou falar com o comandante." anunciou o Bernardes. " ... tenho mesmo que espera

ESTRANHO - PARTE V

Entretanto, o Torcato tentou contactar um colega nos Narcóticos e o Bernardes consultou casos antigos para tentar descobrir um desconhecido sem a mão direita. O telemóvel do Bernardes tocou e era uma patrulha que tinha visto um carro suspeito em frente a uma casa em ruínas. Como a casa ficava numa rua transversal ao Jardim, acharam melhor avisar o Departamento. " Fiquem aí até chegarmos."  instruiu o Bernardes que fez sinal ao Torcato que se levantou de imediato. Os dois seguiram à velocidade máxima permitida e dez minutos depois, examinavam o carro, um Citroen vermelho. O Torcato verificou a matrícula enquanto o Bernardes abriu a porta da frente que não estava trancada. Viu logo manchas suspeitas no lugar do condutor e no banco traseiro. Resolveu abrir a mala do carro e recuou com o cheiro nauseabundo. Lá dentro, estava um corpo, sem a mão direita, reparou de imediato Bernardes que pediu ao polícia para chamar o médico patologista e a equipa for

ESTRANHO - PARTE IV

Satisfeito, o Bernardes fez o relatório preliminar e no fim do turno, saiu sem informar o Meireles. No dia seguinte, o médico legista apenas confirmou que estava à espera dos resultados das impressões digitais e do teste de ADN. Sim, era a mão de um rapaz jovem; não teria mais de vinte, vinte e dois anos. Os dedos tinham sido partidos com um objecto de madeira, talvez um bastão e sim, o corte tinha sido feito post-mortem. Não, não podia adiantar mais; o Bernardes já sabia que ele não gostava de especular. " Bolas! Espero que o Torcato e o Tavares tenham descoberto qualquer coisa; caso contrário, terei que arquivar o caso..." resmungou para consigo o Sargento. Mas o Torcato e o Tavares tinham algumas coisas para contar. A "família" não os tinha acolhido calorosamente, mas depois de assegurarem não serem dos Narcóticos, lá tinham confessado que o " Bicudo" não aparecia no local há alguns dias. " E quem é o Bicudo?" pergunt

ESTRANHO - PARTE III

" Mas o que é isto? Insubordinação? Onde é que estiverem? " perguntou o Meireles. " Recebemos uma chamada sobre um objecto estranho no Jardim da Praça... " explicou o Bernardes. " Que objecto estranho? " interrompeu de imediato o inspector " Uma bola de uma criança? " e riu-se. " Não, por acaso, foi uma mão humana. Já está com o médico legista; devo ter mais detalhes amanhã." continuou o Sargento, calmamente. " Oh, não seja ridículo! Nem pense que vai perder tempo com isso." desvalorizou o Meireles. " Não concordo consigo!" disse uma voz por trás do Meireles que se virou rapidamente, pronto a enfrentar quem o ousava desafiar em frente dos homens. Corou violentamente quando viu que era o Comandante. " Peço imenso desculpa... " mas o Comandante nem o quis ouvir, pois estava mais interessado em saber o que o Bernardes estava a planear fazer. ".... por isso, esta noite, o

ESTRANHO - PARTE II

" Então, o que é? " perguntou o Torcato ao técnico forense " É um esqueleto de um animal?" Mas o técnico abanou a cabeça: " Não, é uma mão humana. Os dedos estão partidos e o corte foi ao nível do pulso." concluiu. " O resto do corpo estará por aqui? " questionou o Bernardes e o Torcato olhou em volta. " Vamos escavar o jardim? " sugeriu e o Bernardes respondeu: " A primeira coisa a fazer é falar com quem frequenta o jardim à noite, saber se há alguém que não tem aparecido... Depois, teremos que ver aquelas casas abandonadas..."  " Ok, eu e o Tavares podemos vir cá esta noite e falar com a "família"." anuiu o detective, ligando o telemóvel. Bernardes ligou para o departamento e pediu uma equipa de técnicos para fazerem uma busca nas casas abandonadas. Depois deu uma volta pelo jardim, mas não viu nada de suspeito. De quem era a mão? Luta entre gangues? Perseguição de drogados? Extorsão

ESTRANHO

O Sargento Bernardes estava aborrecido... Melhor dizendo, "chateado", mas segundo o Inspector Meireles, o inspector interino, essa palavra não existe no vocabulário da policia. " Bolas!" pensa o Sargento " Porque raio havia do Inspector Leandro adoecer agora?" Não que Leandro fosse para brincadeiras.... Não, exigia respeito, dedicação e rigor... Mas tratava os subordinados de igual para igual e todos apreciavam isso. Por isso, quando o Torcato lhe falou da chamada estranha que a central tinha recebido, o Bernardes não hesitou. " Vamos lá ver o que se passa!" e pegou no casaco. " Se calhar, é o esqueleto de um cão!" contrariou o Torcato. " Quero lá saber!" disse o Sargento e abriu a porta do gabinete. O Meireles estava numa reunião e por isso, os dois atravessaram o átrio calmamente, desceram até à garagem e requisitaram um carro. Cinco minutos, seguiam para a Praça da República onde os

A DISCUSSÃO - O FIM

A peça continuava sem aparecer no final do expediente. A Sofia tinha contactado a UPS e estes pediram imensa desculpa pelo atraso.  A razão era simples: tinha havido um acidente de viação e o estafeta tinha alterado a rota. De qualquer maneira, seria entregue naquele dia.   Apesar de terem na portaria um segurança que receberia a peça, o Fontes decidiu ficar mais algum tempo. O Arnaldo até sugeriu, malicioso: " Um dia destes, ainda trás uma cama e dorme aqui..." Todos se riram e a peça, agora designada " a perdição do Fontes" virou objecto de piadas bem-humoradas. No dia seguinte, o segurança confirmou a recepção da peça, ter entregue ao Fontes, mas não tinha visto este sair.    " Talvez saísse enquanto estava a fazer a minha ronda." admitiu, o que originou mais uma série de piadas. De repente, ouviu-se um grito e os passos apressados de alguém a subir a escada que ligava os gabinetes ao armazém.   O Arnaldo aparec

A DISCUSSÃO - PARTE III

" E o estafeta? Sabe onde está que eu vou ter com ele? " insistiu o Fontes, fazendo com que a Cristina gritasse, exasperada. " OH, FONTES...." mas o Sr Daniel, que chegou naquele momento, decidiu intervir e numa voz baixa, pediu: " Cristina, ao meu gabinete, se faz favor." e esperou que ela entrasse para fechar a porta. O resto do pessoal concentrou-se no trabalho e nem sequer se atreveu a fazer qualquer comentário. A Cristina reapareceu dez minutos mais tarde, muito corada e muito nervosa. A Sofia ainda pousou a mão no braço dela, mas a Cristina abanou a cabeça. O Fontes apareceu dali a uns minutos e teve também uma conversa à porta fechada com o Sr Daniel. Quando pararam para almoço, a peça ainda não tinha aparecido, mas o dia de trabalho ainda não tinha terminado e segundo o site, a entrega seria feita até ao fim do dia. O Fontes não voltou a falar sobre a peça com a Cristina e esta, quando questionada, apenas respondeu:

A DISCUSSÃO - PARTE II

" Aquele Fontes.... " queixou-se a Cristina à saída " Está impossível de aturar.... Sei que já enviaram a peça e até podem entregar na 2ª Feira, mas aquela insistência dele... aborrece-me de tal forma que tenho vontade de o esbofetear..." A Sofia riu-se e comentou: " É 6ª Feira! Diverte-te e deixa lá o Fontes entregue à estupidez..." e dando-lhe um abraço rápido, correu para apanhar o autocarro. Cristina passou um fim de semana agradável em casa de uns amigos e só quando regressou no domingo à noite, é que se lembrou do que a esperava na segunda de manhã. " Aquele homem vai entrar a matar logo às nove." disse para o marido que encolheu os ombros e a aconselhou a ter calma. Quando entrou no escritório, a Sofia contou-lhe que o Fontes já lá estava desde as sete da manhã. " Diz o Arnaldo que não saí da rampa das descargas!" ao que Cristina replicou com azedume: " Pensa mesmo que o estafeta vai dar priorid

A DISCUSSÃO

A discussão surpreendeu-os e todos esticaram o pescoço para ver melhor o que se passava. Bem, quase todos, porque a Sofia, a recepcionista tentava ao telefone acalmar um cliente nervoso. Mas, nem os espectadores nem os dois envolvidos na discussão se aperceberam do apelo mudo da recepcionista para que falassem mais baixo. " Preciso de ter a peça cá na 2ª Feira, sem falta.  Eles prometem entrega em 24 horas!" dizia o Fontes. " Mas hoje é sexta-feira e mesmo que a enviem hoje, não vai entregar de certeza absoluta a Máquina ao cliente na segunda à tarde." contradizia a Cristina. " Tem que ser! Em vez de estar aqui a discutir comigo, devia estar a pressionar o fornecedor." sugeriu o Técnico das Reparações. " Não posso! Já fiz tudo o que tinha a fazer... Não faça este tipo de promessas; já lhe chamaram a atenção para isso, mas o Fontes insiste. ESTOU FARTA!!!" gritava a Cristina. " E consigo não se pode falar...&qu

O LADO ESQUERDO - FIM

Felizmente, consegui salvar grande parte do texto e terminei-o mesmo em cima das 18h00. Ainda estávamos a desligar os computadores e já a Madalena saia, sem um "até amanhã". " Trata-nos como se fossemos lacaias dela!" disse a Cristiana baixinho. Eu sorri e apressei-me a sair para a noite ventosa, desagradável. Não me importei com isso; manteve-me alerta, protegida. Há dias em que não nos apetece conversar e analisar minuciosamente as atitudes de alguém nocivo pode ser muito negativo. Por isso, quando cheguei a casa, abri o computador e escrevi tudo o que estava abafado na alma. Pequenas histórias, poemas sobre sorrisos e alegria...  Sem palavras tristes e enfadonhas... Sem lágrimas, sem queixas... Mesmo que haja uma lágrima teimosa no canto do olho...  Porque este foi o meu momento feliz...  Apesar de ter acordado no lado esquerdo da vida e  de ter duvidado do meu lugar nela.. . FIM

O LADO ESQUERDO - PARTE II

Como disse, acordei para o lado esquerdo... E, quando o computador avariou, sem me dar tempo de gravar o texto em que trabalhava, entrei em pânico. Ouviu-se um riso e a voz estridente da Madalena encheu a sala: "Acudam que ela vai ter um chilique!" Voltei a não responder... Para quê?  Há pessoas que vivem com a desgraça dos outros e não entendem as regras de boa educação e respeito. Ou até sabem quais são, mas acham que só funcionam unilateralmente. A palavra "unilateral" sugere-me uma ideia para um novo texto.  Enquanto o informático trabalha no computador, escrevinho umas notas, umas frases chave. A Madalena passou nesse momento e atirou nova boca: "A mandriar nas horas de expediente?" E estar horas ao telemóvel é o quê? Porque discutir o corte de cabelo ou as cores da nova estação não é trabalhar.... CONTINUA