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A mostrar mensagens de fevereiro, 2021

A REUNIÃO - O FIM

O André tenta perceber o que aconteceu, mas a Catarina está tão perturbada que mal fala. O Frederico está à espera na entrada, olha rapidamente para o André, mas a Catarina não dá explicação, quer saber o que aconteceu. O Tomás tropeçou, raspou o joelho e bateu com o queixo na esquina do móvel. Fez um golpe, tem que levar dois, três pontos, ah, Frederico, diz a Catarina, pedi-te para protegeres aquela esquina. Esqueci-me, protesta o ex-marido, não me posso lembrar de tudo! Claro que tens que te lembrar, repreende a Catarina, não é o Tomás, ele tem dois anos, está a explorar o mundo! Pois, já sei, eu faço tudo mal, responde o Frederico e a Catarina suspira, lá estás tu a armar-te em vitima! É uma simples observação! O ex-marido encolhe os ombros, e quem é este? aponta para o André que se mantém afastado, a observar a cena, o teu amante? A Catarina olha-o muito séria, se não estivessem na entrada do Hospital, o André tem quase a certeza de que ela esbofetearia o ex-marido que foi realmen

A REUNIÃO - PARTE V

A Catarina ri-se também, está bem disposta, convidou o André para jantar. O Tomás está com o Frederico, só regressa no dia seguinte à hora de almoço e por isso, está livre esta noite. Por isso, recusa-se o convite para jantar da Glória, diz que combinou um encontro com umas amigas e sente-se um pouco culpado por estar a mentir. Mas ainda é cedo para falar sobre o André; hoje é a primeira vez que se encontram num lugar relaxado e íntimo. A Catarina teve algumas dúvidas, talvez seja ainda cedo, mas está sozinha há tanto tempo que precisa de se sentir apreciada, de namorar um bocadinho. O André chega à hora marcada, com uma garrafa de vinho e um ramo de flores que faz com que a Catarina core. O jantar é muito simples, uma sopa de alho francês, lasanha de marisco e uma tarte de amêndoas, mas o André elogia tudo e a Catarina volta a corar. A conversa é fluída, divertida e a certa altura, o André beija-a.  A Catarina abandona-se ao beijo, desfruta-o, mas quando o André lhe desaperta o botão

A REUNIÃO - PARTE IV

  A Catarina também está a pensar na conversa que teve com o Frederico, mas não, não quer sequer pensar na hipótese de reconciliação. Talvez esteja a ser injusta, mas o pouco tempo que estiveram casados, foi muito complicado e é como disse ao sogro, quer um companheiro, alguém que a proteja e a incentive, não a anule. Não, não lhe vou dar uma outra oportunidade, diz à Mãe quando discute o assunto com ela, sei que é Pai do meu filho, está a esforçar-se, mas é egoísta. Acho que nunca se vai modificar, apesar de tudo o que aconteceu. A Mãe não diz nada, concorda com ela, o Frederico sempre foi egoísta.  Quando se reuniam para um almoço em família, estava sempre aborrecido, mal falava e era sempre o primeiro a ir-se embora. Nunca percebi o que a Catarina viu nele, desabafou com o marido e não foi uma surpresa quando a Catarina se divorciou pouco tempo depois do Tomás ter nascido. Espero que a Catarina continue a ter o bom senso que está a demonstrar, confessa ao marido, não seria nada bom

A REUNIÃO - PARTE III

  A Catarina fica surpreendida pelo convite, falar o quê sobre o Tomás?  Já está tudo combinado, passa quinze dias contigo, depois ficamos em casa dos meus Pais alguns dias. E em Setembro, ele vai para o mesmo colégio que os filhos do amigo do teu Pai, diz, não me digas que mudaste de ideias? Não, responde o Frederico um pouco relutante, queria falar de nós. De nós??? repete a Catarina, não há nada a falar sobre nós. Já te disse uma vez e volto a repetir, não há qualquer hipótese de reconciliação. Mas eu mudei, tenho outras prioridades, protesta o ex-marido, gostava de tentar uma outra vez. A Catarina suspira, esta vai ser uma conversa dolorosa. Eu sei, fico muito contente por isso, observa gentilmente, mas eu também mudei, Frederico. Tenho uma outra vida, outros interesses de que não quero abdicar. Não estou a pedir para abdicares de nada! exclama o Frederico, acho que nunca o fiz! Sim, pediste mais do que uma vez, não te lembras das discussões que tínhamos? as decisões unilaterais? i

A REUNIÃO - PARTE II

O Frederico vai ficar hoje com o Tomás. Vai buscá-lo à creche, é a muito custo que o convence a tomar banho e a comer. Quando finalmente adormece. o Frederico está exausto e toma nota mentalmente para falar com a Catarina sobre o assunto. O rapaz está muito mimado, muito agarrado às saias da Mãe, precisa de uma mão firme. Mas, depois lembra-se de que a culpa talvez seja dele; afinal, pouco tempo passava com ele, deixava-o entregue aos cuidados da baby sitter enquanto se divertia com a Dalila. Alguém lhe disse que ela se ia casar, com um fulano cheio de nota, esclarecem uns, o que ela sempre quis, acrescentam outros, coitado, nem sabe o que lhe vai calhar na rifa! O Frederico encolhe os ombros, a Dalila foi um grande erro; por causa dela, é que está a viver neste apartamento modesto (não sei porque dizes que é modesto, protesta a Glória, é amplo, cheio de luz) e a ter que contar os cêntimos. O Francisco já o visitou, veio sozinho com o filho, a Maria está muito cansada, nunca pensou que

A REUNIÃO

A Catarina não quer acreditar no que o sogro lhe está a contar sobre o Frederico. É domingo, veio almoçar com o Tomás que está a dormir agora a sesta com a tia (uma catraia que nem dois anos tem e já é a tia, ri-se) e os três adultos estão sentados à mesa da cozinha a beber café. Tive sempre que controlar os gastos, por vontade do Frederico, gastava-se tudo, diz, mas nunca pensei que chegasse a esse ponto. Eu ainda acho que é por causa daquela Dalila, interrompe a Glória, segundo sei, raramente estavam em casa e claro que nós também gostamos de passar um fim de semana fora, jantar com uns amigos e organizar uma festa aqui em casa, mas não é todas as semanas! O Frederico vive muito em função do que as pessoas pensam, isso raramente dá bons resultados, admite a Catarina, era um dos temas em que não concordávamos e... Uma das razões porque acabaste por pedir o divórcio, concluí o Major e a Catarina abana a cabeça. Não era bom para o Tomás ter os Pais sempre a discutir e eu também me senti

A SESSÃO DO CLUBE - FIM

  O Nicolau ri-se, calma, estou apenas a fazer pesquisa, não sei se vou avançar com a ideia, afirma. Ora, dizes sempre isso e depois escreves um livro que é sucesso! diz a Rita, mas o Nicolau abana a cabeça, não, não, estamos aqui para discutir o livro do Bernard Cornwall e não o meu! acrescenta. A discussão é acesa, principalmente porque a personagem ouve vozes e pedem ao Major para descobrir mais detalhes sobre o arco longo. Naquela quarta feira, nem o Major está disponível para jantar com o Nicolau que acaba por ir para casa e comer os restos do almoço. O Major vai jantar com o Frederico, vão rever o plano que tem resultado até agora. O Frederico encontrou um apartamento em conta na zona onde o Pai vive, aproveita alguma da mobília da outra casa e pensa mudar-se naquele fim de semana. Há um parque perto com uma pista de atletismo onde pode praticar a corrida e evita assim ter a mensalidade de um ginásio. Conseguiu renegociar o empréstimo do carro, precisa dele para as deslocações do

A SESSÃO DO CLUBE - PARTE V

Fiquei seriamente preocupada quando ele me contou, desabafa a Glória quando se encontra com a Aída e a Rita num dia daquela semana na livraria, pensei mesmo que íamos ficar endividados por causa do Frederico, mas a única coisa que ele fez foi pagar a pensão ao Tomás. Está a ajudar o Frederico a negociar o empréstimo do carro e os prémios dos seguros e mais nada! E já é muito, comenta a Aída, foi tão maltratado pelos filhos, o Amadeu é tão boa pessoa, não merecia isto! Foram protegidos demais, mimados demais, suspira a Rita, a mãe quis compensar a ausência do Pai. Não faço comentários sobre a mãe dos rapazes! diz a Glória, o Amadeu pouco fala nela e tenho que respeitar isso. Ele também pouco fala sobre os problemas com os rapazes, mas eu sei que ele sofre e muito! Por falar em filhos, já conheceram o filho do Francisco? pergunta a Aída e a Glória suspira novamente. Foram lá almoçar um dia destes, é um bebé muito engraçado, confessa a Glória, mas a Maria parece que tem medo dele e só fal

A SESSÃO DO CLUBE - PARTE IV

A Rita ri-se, mas no fundo, até concorda com o Gonçalo. O filho do Major deve ter conhecido uma mulher e esta não deve ser boa pessoa.  O Major tem que vencer a relutância e dizer umas verdades aos rapazes. Os acontecimentos precipitam-se, porque o Frederico apercebe-se que está atrasado no pagamento das prestações da casa, do carro, da pensão de alimentos e está quase falido. Não admira, diz o Francisco quando sabe, viagens caras, jantares em restaurantes de luxo, festas quase todos os dias, o dinheiro não estica. Mas não me podes ajudar? pede o Frederico, mas o irmão abana a cabeça, tive um filho há pouco, tenho as minhas próprias despesas, não te posso ajudar! O Frederico não sabe o que fazer, tenta explicar a situação à Dalila, esta olha-o como se ele fosse um estranho e saí sem dizer uma palavra. O Frederico sente-se abandonado, perdido e é a muito custo que telefona ao Pai. O Major fica surpreendido, claro, vem até cá, a Glória está no parque com a menina, podemos conversar à von

A SESSÃO DO CLUBE - PARTE III

  O Frederico almoçou algumas vezes comigo, pensei que o Francisco também apareceria, confessa o Major, fiquei convencido de que era possível termos uma relação cordial, civilizada. Mas o Francisco nunca apareceu e o Frederico conheceu a Dalila. A Dalila? Quem é essa? repete o Nicolau e o Major suspira profundamente. Segundo a Catarina, a ex-mulher do Frederico, é a nova namorada. Conheceu-a  através da namorada do Francisco, a Maria e ao que parece, é tão parvinha ou mais que a Maria, esclarece o Major, o meu neto, o Tomás não gosta nada dela, a Catarina disse que o rapaz fica nervoso, assustadiço sempre que está com ela. Isso não é nada bom, comenta o Nicolau, o que é que o Tomás conta? O que é que fazem quando estão juntos? O Major encolhe os ombros, acho que o rapaz passa a maior parte do tempo no quarto a brincar com a baby sitter, explica, a Catarina diz que o Frederico o enche de brinquedos sofisticados. E o que é que eles fazem? insiste o Nicolau, não me digas que deixam o miúd

A SESSÃO DO CLUBE - PARTE III

  Tudo isso é muito interessante, mas eu quero falar sobre o papel da Igreja, interrompe a Rita, sobre os valores do Sir Martin. Fica fascinado pela herege, viola-a, mas grita " crime" quando o arqueiro lhe bate. A Igreja era muito poderosa naquele tempo, diz o Nicolau, e todos sabemos que se cometem abusos. Aliás, uma aldeia, uma cidade nascia à volta de uma Igreja, o povo pensava que estava protegido. A verdade é que, para salvar a pele, o Nicholas Hook teve que fugir e estar em Soissons quando esta é atacada, intervém o Major. Sempre houve duas interpretações da verdade, declara a Aída, ora, aí está um tema que podes desenvolver no teu próximo livro, Nicolau. Sim, o que é que a Igreja pensava dos jograis, dos trovadores, acrescenta o António, decerto que há livros que falam nisso, podes perfeitamente estruturar uma história. Oh, não sei, contraria o Nicolau, tenho a agenda um pouco cheia, a editora quer que participe numa Feira do Livro na Alemanha, fui convidado para as &

A SESSÃO DO CLUBE - PARTE II

O Major chega entretanto com dois grandes canudos.  A Rita e a Aída depreendem que são Mapas da França Medieval, já que escolheram o livro Agincourt de Bernard Cornwell para discussão. Mais um livro sobre guerra, pensaram, mas sabiam que era uma maneira de despertar o interesse do Major e por isso, acederam quando foi sugerido. Que falta me faz o Bernardo para montar isto, lamenta-se o Major, e as duas mulheres prontificam-se de imediato a ajudá-lo. Enquanto estão ocupadas com a montagem dos Mapas, o António e o Nicolau entram na sala, estão a falar animadamente. Não é sobre o livro, mas sobre a nova proposta que a editora fez ao Nicolau e que o António acha um absurdo recusar. Que proposta é essa? quer saber a Rita e o António explica que o Nicolau foi convidado para integrar um júri de um concurso de escrita. Tipo " Textos de Amor de Manuel António Pina"? questiona a Aída e o Nicolau abana a cabeça, mais ficção histórica, diz. Mas estás como um peixe na água! Afinal, os teu

A SESSÃO DO CLUBE

Com a saída do Bernardo, a casa parece vazia e a Aída acorda muitas vezes com vontade de chorar. O Bruno tenta consolá-la, ele tem que viver a vida dela, a Aída sabe isso, mas há sempre aquele vazio que não a deixa concentrar-se nas tarefas diárias. Agora que ele não está cá, podemos fazer algumas obras, decide o Bruno, não vou pedir dias de férias, protesta a Aída. Claro que não, não vou contratar qualquer um, vai ser o meu irmão, responde o companheiro, estivemos a falar nisso noutro dia e ele tem ideias brilhantes para a cozinha e a casa de banho. A cozinha e a casa de banho? repete a Aída e vamos ter dinheiro para tudo? Somos família, diz o Bruno, ele faz-nos um preço especial e a Aída pede para ver o projecto, mas o Bruno recusa, vai ser uma surpresa! Espero é que não pintem a cozinha de preto ou o quarto de banho se transforme num arco-íris, confessa a Aída à Rita. A amiga ri-se, se o fizerem, convida-me para ver, comenta, mas agora a sério, o teu cunhado é bom nesse tipo de trab

A VISITA - FIM

Fica, então combinado que a Clarinha dorme lá uma vez por mês. O Bernardo convence-a que é " cool", a Clarinha fica lisonjeada e durante uns meses, a situação resulta. De vez em quando, a Clarinha ainda tem acessos de fúria, como lhe chama o Gustavo, mas reconhece que está errada, pede desculpa e aceita o castigo. No emprego, o Gustavo brilha e é promovido.  O Bernardo nem acaba o estágio, é tão criativo, tão interessado que a Administração lhe propõe o lugar de assistente numa sucursal. Os dois começam a ter horários diferentes, às vezes, só se cruzam de manhã cedo antes de irem para as respectivas empresas. Entretanto, o Gonçalo conhece uma rapariga numa festa da empresa, fica encantado com ela, mas o Bernardo não confia nela. Há qualquer coisa de falso nela, confidencia à Mãe, não posso dizer o que é, mas não é a rapariga certa para o Gustavo. Não lhe digas nada, aconselha a Aída, o Gustavo vai descobrir. Mas o Gustavo está cada vez mais apaixonado pela rapariga, o Bernard

A VISITA - PARTE VI

O torneio fica adiado, porque o Gustavo encontrou o apartamento perfeito para os dois e têm que organizar rapidamente a mudança. A Rita oferece um sofá e o Gonçalo dá-lhes a chave do depósito onde estão os móveis do antigo apartamento dele. Pensei que os tinhas vendido, diz a Rita admirada, e o Gonçalo encolhe os ombros, sorridente. Há uma cama, um sofá, mesas, cadeiras, puffs, cadeiras e até uma estante que é perfeita para a sala de estar. Abrem uma caixa que está cheia de utensílios para a cozinha; tudo muito simples, mas em muito bom estado e os rapazes levam tudo. A Madalena compra cortinas para a sala e para o quarto do filho; a Aída faz o mesmo para o quarto do Bernardo e para a casa de banho. Entregam um grande pacote, é da avó do Bernardo, é roupa de cama e de mesa que a Matilde se encarrega de arrumar. A Clarinha está muito bem disposta, pedem-lhe para arrumar as caixas vazias no hall de entrada, eu depois vou lá fora e deixo-as no contentor, explica o Gustavo. Encomendam uma

A VISITA - PARTE V

A Clarinha está bem disposta, descreve ao pormenor o novo jogo ao almoço e o Gustavo decide comprá-lo. Será boa ideia? protesta a Madalena, queremos que ela entenda que faz parte de uma família, que há regras a seguir e isso é a mensagem errada! Talvez não, diz o filho, vamos fazer com que ela se sinta desafiada! O jogo é uma recompensa se ela cumprir os objectivos como arrumar o quarto, fazer os trabalhos de casa, etc... Isso é passar a mensagem errada! insiste a Mãe, mas o Gustavo não concorda e compra o jogo. A Clarinha quase desmaia quando o vê instalar o jogo, está pronta para o desafiar, mas o irmão afasta-a, não, isto tem um preço! A irmã abre a boca de espanto, um preço? do que é que ele está a falar? endoideceu? pensa. Não vou fazer um discurso, dizer a sorte que tens por teres uma família, porque isso tens que ser tu a descobrir, continua o Gustavo, mas para jogares, tens que o merecer. A Clarinha tem agora a certeza de que o Gustavo está doido, as palavras não fazem sentido,

A VISITA - PARTE IV

A Clarinha fica calada, não sabe o que dizer, mas o Bernardo tem razão: ela era divertida, alegre. O que se passa com ela? Abre a boca para perguntar isso, mas o Bernardo teve uma ideia que está a discutir com o irmão. Já ando só com uma muleta, o meu fisioterapeuta diz que mais um mês e largo-a, poderei ter que andar com uma bengala, confessa, mas isso é o menor dos meus problemas. Achas que, se falares com eles, deixam-me continuar com o estágio? O Gustavo fica surpreendido, é realmente uma boa ideia, terá que falar com a coordenadora do estágio, diz. Há lá centros de fisioterapia, o meu terapeuta deve conhecer, continua o Bernardo, podemos partilhar o apartamento e ajudo-te nas despesas. Certo, concorda o Gustavo, mas primeiro temos que falar com a coordenadora, saber se é possível continuares o estágio no ponto em que deixaste e não começares do principio. O resto vemos depois! O Bernardo suspira, está entusiasmado, espera que concordem.  O Gustavo também está entusiasmado, os dois

A VISITA - PARTE III

  Não, não ficas em casa da vizinha, decide o Gustavo, vais comigo visitar o Bernardo. Mas porquê? pergunta a Clarinha, quero lá saber do idiota do Bernardo! Calma aí, não se fala assim de alguém que é muito teu amigo, responde o irmão, vais comigo e não se fala mais nisso! A Clarinha anda o mais lento que pode até que o Gustavo perde a paciência e a obriga a acompanhar o passo dele. Não é fácil, o Gustavo anda muito depressa, a Clarinha tem quase que correr e está muito cansada quando chegam a casa do Bernardo. O Bernardo também está mal humorado, não está muito interessado em falar com o Gustavo, mas a Mãe insistiu. Temos que conviver um pouco mais, não és eremita, diz a Aída, ok, compreendo a frustração, o acidente arruinou os teus planos, mas não resolves nada se ficares aí a pensar no que poderia ter acontecido. Aproveita a pausa e refaz os teus planos! Só tu é que podes decidir! No fundo, o Bernardo até sabe que a Mãe tem razão, mas não pode negar que tem ciúmes do Gustavo, podia

A VISITA - PARTE II

  O jantar seria um sucesso se a Clarinha não estivesse de tão mau humor. O Gustavo conta piadas, tenta que ela participe, mas a Clarinha resmunga um " deixa-me em paz, idiota" e a Madalena diz-lhe para ir comer na cozinha. Até aprendes a comportar-te como um ser humano, insiste, mas a Clarinha limita-se a obedecer, não faz qualquer comentário. Ups! Não pensei que as coisas estivessem neste ponto, comenta o Gustavo, teremos sorte se ela não ligar o rádio às duas, três da manhã, conta a Matilde, a Mãe já a proibiu de o fazer, o rádio pode ser confiscado a qualquer momento, mas não sei! Sobressaltam-se com o barulho, a Clarinha deve ter ido buscar o rádio ao quarto e ligou-o no máximo. O Gustavo levanta-se, eu trato disto, murmura e entra na cozinha. A Clarinha está a dançar, de vez em quando mete uma garfada na boca, mas continua a dançar e a cantar. O Gustavo não está com meias medidas, desliga o rádio, a Clarinha olha espantada. Estava a ouvir, protesta, liga-o de novo, quer

A VISITA

  O Gustavo gosta do emprego, são exigentes, mas os benefícios são óptimos. A cidade também é simpática e já tem um pequeno grupo de amigos. Às vezes, aparecem amigos da Universidade para passarem o fim de semana e por isso, raramente está sozinho. Pena o Bernardo ter tido aquele desastre e ter meses de fisioterapia pela frente; podiam ter ficado na mesma empresa ou se tal não fosse possível, um deles ter encontrado emprego numa outra empresa. Nunca se sabe, pensa o Gustavo, mas o Bernardo está muito revoltado, culpa tudo e todos pelo que aconteceu e o Gustavo sente que se estão a afastar. É uma pena, o Bernardo era uma pessoa divertida, leal e o Gustavo sente a falta dele. Talvez o possa visitar no próximo fim de semana, tem que ir a casa, a Clarinha está a dar problemas, se fores tu a conversar com ela, diz a Mãe, quem sabe? ela pode escutar-te. O Gustavo duvida, a Clarinha consegue ser muito teimosa, nem sempre compreende (ou finge) o que os outros lhe dizem e persiste em fazer o qu

MATIAS - FIM

  Também adormeço; foi um dia cansativo e se tiver que competir com o Edgar, não sei bem se vou aguentar. Claro que vou aguentar; o Edgar é meu irmão, vou lutar por ele, ao lado dele toda a vida, somos uma equipa como o Pai nos dirá vezes sem conta anos mais tarde. O Miguel é o líder da equipa, é o mais velho, é mais fácil obedecer-lhe que aos Pais. Quanto à Filipa, ela é uma rapariga, mas ela não admite abusos, sou a vossa irmã mais velha e exijo respeito. O Edgar olha para mim, o que é isso de respeito? é a pergunta muda que leio nos olhos, mas eu encolho os ombros, como quem diz, deixa-a falar. Mas a verdade é que não me atrevo a desafiá-la, se o Miguel sabe, há um grande sermão e a vida é preciosa demais para estar sempre a ouvir discursos que não entendemos. Ou não querem entender, diz o Miguel um dia após uma grande discussão com a Filipa, porque aqui não há separação do género, somos todos iguais! A Filipa queixa-se ao jantar, estamos em minoria, Mãe e esta ri, temos apenas que

MATIAS - PARTE IV

  Desta vez, só aparece o Miguel que, ao aperceber-se da situação, fala com a " voz de comando". Na altura, não sei o que é a voz do comando, mas depressa aprendo que, quando fala assim, é melhor não desobedecer. Os castigos podem ser mais duros que os dos Pais e até ao primo Miguel não se atreve a desafiá-lo. Por isso, embora proteste veementemente, o Edgar vai para a cama e eu recebo um lenço molhado em água fria para o " galo". Depois, o Miguel também me põe na cama e eu fico indignado, não fiz nada de mal, mas o meu irmão abana a cabeça, se não o tivesse provocado, nada disto aconteceria, diz. Fico pensativo, talvez tenha razão, mas a verdade é que o Edgar parece estar sempre a competir comigo. Será que vamos ser assim a vida inteira?  Não sei, acabo por adormecer, acordo com a Mãe ao pé da cama, indecisa sobre o que fazer. Mas eu cheiro qualquer coisa boa, o que será? estendo-lhe os braços e ela põe-me no chão. Nem espero por ela, o jantar deve estar na cozinha

MATIAS - PARTE III

  Não, não quero e lá almoço contrariado. Mas não estou feliz no jardim, não participo nas brincadeiras dos outros meninos e fico muito contente quando o Miguel aparece para me levar a casa. Então, hoje foi um bom dia? pergunta o meu irmão, mas não está interessado nas minhas respostas, pois trouxe uma amiga que me faz uma festa na cabeça, ri-se e diz oh, que amor, Miguel! Não sei quem é mais idiota, se ela ou o nosso irmão, conto ao Edgar mais tarde, mas este não olha para mim, olha para a minha bola vermelha que seguro contra o peito. Adivinho o que ele está a pensar, mas nem tentes, aviso-o, um de nós vai ficar magoado, mas não vou ser eu! O Edgar não quer saber disso, persegue-me pelo quarto, não, não, nem penses, repito e tento esconder a bola num sítio alto. Atiro a bola para a minha cama, o Edgar fica furioso e tenta meter a mão entre as grades. Fica com a mão presa, grita e eu rio. O Edgar fica ainda mais furioso, grita mais alto e a Mãe e a D. Margarida aparecem de imediato. A

MATIAS - PARTE II

  Ups! Estou no corredor, consegui; agora, tenho que encontrar a saída para o jardim, sei que é por aqui. Avanço cuidadosamente, ouço risos nas outras salas, estão todos ocupados, quando derem pela minha falta, já estou no jardim. Mas uma porta abre-se, alguém saí e vê-me de imediato, mas o que fazes tu aqui? Estás perdido? pergunta. Olho-a desconfiada, não sei bem quem é, é alta, tem cabelo loiro e uns olhos azuis trocistas e a bata é diferente da da Rita. Fico encostado à parede, ela sorri-me e bate na porta mais perto. Este fugitivo é da tua sala? mas a educadora abana a cabeça, penso que é da sala da Rita, diz e a senhora pega-me na mão e encaminha-me para a minha sala. Oh, Rita, aqui está o seu fugitivo, declara quando entra e a Rita olha-me espantada, oh, Matias, que feio! recrimina. Sento-me à mesa de trabalho, os outros meninos estão a fazer desenhos, mas eu não estou interessado. Porque é que não estão no jardim? Estão de castigo? quer saber a vigilante e a Rita explica que fu

MATIAS

  Não me lembro bem do Edgar em bebé; tinha dezasseis meses e andava, segundo diz o Miguel, a explorar o Mundo e as pessoas. Um dia, instalaram uma outra cama de grades no meu quarto e o Edgar passou a dormir lá. De vez em quando, acordava-me aos berros, a Mãe acorria, o Pai perguntava o que é que ele tem, talvez seja uma cólica, respondia a Mãe. Outras vezes, olhava-me fixamente e fazia-me caretas.  Eu também fazia caretas, mas não sei porquê, ele ficava assustado e berrava novamente. Nessa altura, aparecia a D. Margarida ou a Filipa e olhavam para mim, o que é que lhe fizeste, Matias? mas eu apenas sorria inocente. Eu já corria a casa toda, sei que isso intrigava o Edgar que caia sempre que tentava pôr-se de pé. Talvez seja por isso que tenha aprendido a andar de um dia para o outro, para me seguir, imitar-me e provocar alguns desastres e berreiros infernais. A Filipa ficava desesperada, tenho exames, D. Margarida e não posso estudar com estes dois aos berros! explicava, mas como não