Mensagens

A mostrar mensagens de maio, 2018

O " IDIOTA"

Está decidido... Já que tenho fama de ser " idiota", vou abrir um bar para " idiotas". O que quero dizer com isso? Um local onde se possa estar à vontade, conversar, rir e não ser gozado, humilhado e agredido verbalmente. Haverá um canto onde se poderá ler sossegado; outro para tomar um chá à moda antiga e simplesmente conversar. Haverá um tabuleiro de xadrez, uma mesa de bilhar e até um pequeno palco para karoeke ou encenar uma peça. Enfim, ser criativo... vender sensações? Claro está que o meu irmão riu-se e chamou-me " idiota ", mas ajudou-me a preparar tudo. E creio que ficou surpreendido pela festa de inauguração ter sido um sucesso. Só não gostou quando lhe disse que o bar estava " off limits" para os amigos dele... CONTINUA

1985 - O FIM

" Só pode estar a brincar..." repito mas o Sargento ri-se e explica-me pacientemente o que quer que eu faça. Liga-se para o tal nº de um telemóvel descartável ( para não localizarem a chamada, penso eu, ou será que vi filmes policiais a mais?) e a dita Clotilde/Carlota atende. Noto um certo nervosismo na voz que disfarça imediatamente e não pode ser mais acolhedora. Combinamos um encontro nessa noite num bar cujos clientes, assegura-me o Sargento Condes, serão polícias à paisana. O João resolve ir também; acha que vai ser uma noite interessante. Ela ainda não chegou; combinamos para as nove e meia e cheguei cedo demais. Mas estava tão nervoso que achei melhor ir logo para o local da acção. O bar só tem meia dúzia de pessoas e calculo que o dono seja cúmplice do Sargento. Sento-me ao bar, peço uma bebida enquanto o João desafia um dos " clientes " para uma partida de bilhar. São quase dez horas quando ela entra. O cabelo está sol

1985 - PARTE V

" Conhece-a, não é verdade? Ela usa vários nomes. Depende da personagem que idealizou.  Chama-se Clotilde." explica o sargento. " Carlota, ela disse que se chamava Carlota. Mas o que se passa aqui? " pergunto. " A Carlota e o cúmplice, um tipo que se chama António tem um guião. Encenam uma cena de ciúmes, ele abandona-a sem dinheiro, sem telemóvel e esperam que alguém morda o isco. Esse alguém deixa-a telefonar, ela telefona para o António e a partir daí... creio que o Senhor sabe o que acontece." diz o sargento. Faço um resumo dos acontecimentos, o sargento toma algumas notas, mas avisa-me que é muito pouco provável que eu recupere o que me foi roubado. " Eles são bons, " limpam " muito bem as cenas, mas temos uma pista. Um pormenor insignificante, pode não resultar, mas queremos tentar." continua o sargento. " Um pormenor insignificante? " repito. " Descobrimos que o nº de telemóvel que ela lhe

1985 - PARTE IV

" É melhor veres o que falta enquanto eu telefono à polícia." aconselha o João. O plasma desapareceu bem como PC e a impressora. " Bolas! Perdi os planos das aulas e as notas para os testes! " penso e vou até à cozinha. A máquina do café, presente da minha Mãe e o micro-ondas fazem agora parte do passado. O pouco dinheiro que estava na gaveta da cozinha também desapareceu bem como um dos meus cartões de crédito. Felizmente, o pin estava guardado noutro local, mas o João diz para contactar o Banco mesmo assim. " Arranjam sempre maneira de contornar os obstáculos." explica. " Como é que entraram? " faço a pergunta óbvia e sei que tanto a D.Alice como o João pensam o mesmo. A porta parece não ter sido forçada... alguém copiou a chave...  Mas como? Só se roubaram a da D.Alice.  Depois da polícia tomar conta da ocorrência, ajudamos a D.Alice a pôr a casa em ordem. Nos dias seguintes, trato da participação ao seguro, compro

1985 - PARTE III

Quem será a minha convidada inesperada? Abro a porta e lá está ela, a rapariga da praia (chama-se Carlota). Sentada num dos meus sofás, a beber uma cerveja... Perfeitamente à vontade....  Como se a casa lhe pertencesse...  Fico um pouco ressentido, até porque não a conheço bem. " Olá, espero que não leves a mal." cumprimenta " Estava aqui perto e resolvi visitar-te. Sei que foi um atrevimento da minha parte, mas estou aqui." e sorri. Eu não sorrio. Não a deixo beijar-me e creio que fica surpreendida. " Olá, não me lembro de te ter convidado. Foi realmente um atrevimento!" replico. " Mas somos amigos, não somos? Qual é o mal? " diz " Pensei que seria uma boa ideia aparecer e desafiar-te para um jantar agradável." " Nenhum, só que estou muito cansado e esta noite, não posso sair. Tenho muito trabalho pela frente. " e calo-me. Ela percebe que esta visita foi um erro e apressa-se a sair. Vejo

1985 - PARTE II

Ela é o centro das atenções do bar. O vestido é vermelho, muito justo e o cabelo está apanhado na nuca. A maquilhagem é discreta e tem um enorme sorriso nos lábios pintados. Mas reparo que os olhos são frios e calculistas e tenho pena de não poder voltar atrás. Não confio nela... Posso sempre pagar-lhe um copo e depois desculpar-me com uma chamada imprevista. Ela cumprimenta-me com um beijinho e os outros homens olham-me com inveja. A conversa torna-se interessante, mas sinto-me desconfortável. Aproveita todos os momentos para me tocar, beija-me suavemente nos lábios, mas continua a ter uma certa frieza no olhar. Creio que fica desapontada quando a levo a casa e declino o convite para uma última bebida. Volta a telefonar-me no dia seguinte, mas eu dou uma desculpa e vou para a biblioteca fazer pesquisa. Quando chego a casa, a D.Alice, a porteira do prédio, vem ter comigo e diz-me: "  Tem uma visita. É uma rapariga muito bonita. Pergunt

1985

Devo estar maluco.... Escrever sobre os anos 80 do século passado e escolher 1985 porquê? Foi o ano do meu nascimento... podia começar por aí... Falar sobre as minhas memórias como um bebé que a minha Mãe diz ter sido " muito ruim para comer"... Não entendo bem porquê, porque adoro comer... E, não, não estou obeso.   Tenho uma alimentação saudável, frequento o ginásio e faço longas caminhadas pela praia. Aliás, foi durante uma dessas caminhadas que assisti a uma cena inacreditável... Ele deixou-a sozinha na praia e levou o carro. A pobre da rapariga estava desesperada, porque tinha deixado no carro a carteira e o telemóvel. A única coisa que pude fazer foi oferecer uma boleia para casa.  E deixar que utilizasse o meu telemóvel... Imaginem a minha surpresa quando a rapariga da praia me telefona e convida-me para um copo num bar conhecido. CONTINUA

O BILHETE - O FIM

Respiramos de alívio quando nos dizem que eles vão mudar nessa semana. Houve imenso barulho, mas foram os homens das mudanças a trazerem a mobília para baixo. Ouço um deles a dizer que podiam ter embalado as coisas um pouco melhor e alguém resmunga porque não pode utilizar o elevador. Por volta das seis da tarde, resolvo sair.  Quero caminhar um pouco, beber um café. Calço as sapatilhas e nem espero pelo elevador.  Desço as escadas, feliz da vida e quando chego ao hall, nem acredito no que vejo. Está cheio de papeis, bocados de corda e de cartão, de plástico e parece que alguém espalhou areia. A D.Margarida e o marido chegam nesse momento e não sabem o que dizer. " Mas está tudo doido ou quê? " comenta o marido " Não, ninguém vai limpar. Vou telefonar ao condomínio, alguém tem que vir cá ver e limpar." Telefona e meia hora depois, aparece o Dr Andrade com a mulher e a D.Mercedes, a senhora que faz a manutenção do prédio. O D

O BILHETE - PARTE IV

" Mas o que é isto? " exclamo e o marido da D.Esmeralda ouve-me e desce. " O que aconteceu? " pergunta e também ele fica espantado. " Quem fez uma coisa destas?"  " Terão sido os de lá de cima? " observa a D.Esmeralda e prontifica-se a ajudar-me. Quando terminamos, estamos as duas irritadas e apreensivas. " Eu só me queixei do barulho e achei que não tinha nada de mal enviar aquele bilhete." comento. " Não se preocupe! Temos direito a noites sossegadas e isso demonstra que eles realmente não são pessoas confiáveis. Ainda bem que se vão embora!" diz a D.Esmeralda. Mas o que é fariam enquanto não se fossem embora? é o que me preocupa e tenho razões para isso. O meu tapete aparece cortado e a senhora da limpeza queixa-se de que alguém deita detergente pouco depois dela estender a roupa. Alguém deixa a torneira da arrecadação aberta, mas, felizmente a D.Esmeralda ia a passar no hall e fechou-a.

O BILHETE - PARTE III

Conto-lhe tudo e a Teresa aconselha-me a escrever ao condomínio. " Mas sou apenas uma inquilina!" protesto, mas a Teresa abana a cabeça e diz:  " Os direitos e obrigações são iguais!" e acabo por escrever o mail para o condomínio. Nessa noite, recebo um mail deles a dizerem-me que se vão reunir com os ditos inquilinos no dia seguinte. Contam-me depois o que se passou.  Foi uma reunião de tal maneira violenta que um dos Administradores pensou que tinha que chamar a polícia para acalmar os ânimos. O casal disse estar a ser vítima de assédio, que não percebia qual era o problema dos outros inquilinos, porque, de certeza, também ouviam música e falavam alto se estivessem entusiasmados. " Não há problema.... Saímos logo que encontrarmos uma casa! Não queremos viver com estes puritanos! " afirmaram. Dormi como não dormia há muito tempo. No andar de cima, silêncio em absoluto e entro no escritório, alegre, sorridente como os meus

O BILHETE - PARTE II

Não há barulho no andar de cima quando chego nessa noite. " Boa! " murmuro " Leu o bilhete e vai comportar-se como uma pessoa decente." Mas engano-me, pois alguém liga a música no máximo e batem com a porta com toda a força. Olho para o relógio, mas ainda não são dez da noite e não me posso queixar. Mas às dez e meia, o barulho continua e fico indecisa. Vou lá bater à porta ou ligo ao condomínio? Estou nesta indecisão quando se instala o silêncio e eu respiro finalmente. Nem tinha dado conta que tinha retido a respiração! Curioso! Preparo-me para me deitar e adormeço logo.  Por volta das três da manhã, acordo sobressaltada. Que é isto?  Parecem que estão a arrastar um móvel, alguém grita: " Cuidado com o vaso!"  e ouço este a estilhaçar-se. Risos e uma voz de mulher diz claramente: " Cuidado para não acordar a vizinha!" Mais risos e depois sossegam. Na manhã estou irritadiça e respondo agressivame

O BILHETE

" Caro vizinho, Longe de mim dizer-lhe como se deve comportar na sua casa, mas... O Senhor fala TÃO ALTO, que, mesmo sem querer, estou a par de todos os problemas da sua vida! Não estou interessada em saber se alguém perdeu a carteira ou deixou o portátil na escola... Tenho os meus próprios problemas para resolver! Mas o pior até não é isso... É que o Senhor fala ao telefone às horas mais incríveis.... Meia noite, uma da manhã, noutro dia acordou-me às quatro da madrugada!!! Não pode ser; entro muito cedo, trabalho muito e tenho que descansar.  O Senhor não me deixa! Peço-lhe encarecidamente que utilize o telefone até horas decentes e no resto do tempo, mande SMS!!! Obrigada A vizinha de baixo " Satisfeita, meto o bilhete na caixa do correio e espero que ele leia. Vou ter um dia complicado e aquele idiota telefonou a alguém depois da meia noite e esteve uma hora a falar. Ainda por cima, abriu a janela e o som propagou-se

O VIDRO DA PORTA - O FIM

" Mas não tem que responder já." apressa-se a dizer o Amadeu e o momento passa. Acabamos por jantar uma ou duas vezes por semana e gosto cada vez mais dele. A Sofia também aparece de vez em quando para conversar.  Aceitou o trabalho em full-time apesar das reservas do António. Estou a conhecer melhor os meus vizinhos e a gostar da companhia deles. A empresa está a ter sucesso e estou a considerar mudar para um escritório maior. Mas resolvo pensar nisso depois das férias, pois aceito a proposta do Amadeu e vou passar uma semana com ele a Londres. É uma semana mágica e quando regressamos, somos mais que amigos. Torna-se numa relação confortável, sem pressões, em que cada um respeita o espaço do outro. " Mas não pensam viver juntos? " pergunta-me a Sofia. Abano a cabeça e digo: " Está a resultar... Para quê mudar? " Quem diria que a vida mudaria e tudo por causa do vidro da porta? Talvez o único que este

O VIDRO DA PORTA - PARTE V

Por causa do vidro, trabalho até tarde e chego muito cansada a casa. Vejo que já colocaram o vidro e encontro o Amadeu no átrio, pronto para sair. " Olá, vizinha, dia complicado? Sabe, abriu uma hamburgeria aqui perto e vou experimentar... Não quer vir? " convida " Prometo que está de volta antes da meia noite como a Cinderela." ri-se. Eu sorrio também e dou por mim a pensar que é uma boa ideia sair um pouco.  Relaxar, conviver.... Abro a porta de casa, pouso a pasta e o portátil na mesa do hall e, depois de lavar as mãos e retocar a maquilhagem, estou pronta para a " night". O Amadeu é um companheiro bem disposto e tem histórias engraçadas para contar. Fico a saber que é consultor freelancer, trabalha em casa e tem horário livre ("estou velho demais para trabalhar das nove às seis!" confessa). É divorciado e tem duas filhas, de quem me lembro vagamente. Não devem ter mais de 16, 20 anos. " Vivem com a Mãe?"

O VIDRO DA PORTA - PARTE IV

" Acho que faz muito bem..." digo, mas somos interrompidas pela porta a abrir. Curiosas, saímos para a patamar. A empresa contactada pelos rapazes chega finalmente.   Entra também o Sr Adelino que mora no terceiro andar e está muito surpreendido por encontrar tanta gente a pé. O Amadeu explica-lhe o que se passa enquanto os Técnicos da Empresa acabam o serviço que aquele começou. Dizem ao António que podem colocar um vidro novo ao fim da manhã (sim, já passa das quatro) e aconselham a instalar um outro tipo de porta. Os homens concordam e a empresa promete voltar às duas da tarde para colocar o vidro. O orçamento para a porta será enviado mais tarde por mail, para mim e para o António que fazemos parte da administração do condomínio. A Sofia despede-se e sobe. Os rapazes seguem-na e o Amadeu fica uns minutos a conversar comigo. " Que noite interessante, não foi? " comenta. " Não lhe chamaria isso! Acho que vou mandar

O VIDRO DA PORTE - PARTE III

Só quando a Sofia murmura " Mas é..." é que depreendo que falei alto. " Desculpe, desculpe... O que é que a Sofia quer? " desculpo-me. " Quero aceitar. Agora faz todo o sentido que aceite; os nossos filhos estão na Universidade, têm a sua própria vida. E gosto de estar em contacto com o público, de sair para almoçar com os meus colegas..." explica a minha vizinha. " Compreendo. Sente-se viva, útil.. Infelizmente, ainda há homens como o António. Foi por isso que me divorciei. A empresa era do meu Pai e o meu ex convenceu-se de que seria ele a gerir quando o Pai se reformasse." confidencio. " Mas a Luisa não esteve para isso? " pergunta a Sofia enquanto no hall, o Amadeu dá instruções ao António e aos dois estudantes. " Mais para a esquerda!" grita o Amadeu " Oh, pá, para a tua esquerda!" Rimo-nos e eu respondo: " Eu tirei um curso de Gestão e já ajudava o meu Pai. Era lógico que eu assum