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A mostrar mensagens de outubro, 2005

HISTÓRIAS DE CHUVA E PREGUIÇA

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Estou preguiçosa; nem vontade tenho de sair para tomar um pingo! Está a chover torrencialmente e o barulho da chuva a bater no telhado é ensurdecedor e deprimente . Não me consigo concentrar – eu que escrevi tanto sobre a chuva! e neste momento, estou aqui, com os cotovelos pousados na mesa, a olhar para o écran do computador, sem conseguir ordenar as ideias, como faço habitualmente antes de escrever qualquer um dos meus textos. O telemóvel continua a receber mensagens e em breve vai bloquear, porque eu nem as abro nem as apago. Sei que não são da minha irmã, pois já teria telefonado, preocupada, perguntas rápidas e curtas “o que aconteceu? Porque não me respondes?” És tu que me procuras, mas eu não te quero encontrar! Não quero saber nada sobre ti! Se estás bem ou mal, se vais para fora este fim-de-semana – não quero saber! Se estás arrependido e me queres compensar de alguma maneira – não quero saber, porque sei que não é verdade. Nunca admitiste que erraste; porquê agora? Já repar

FANTASMAS

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O vento arrasta igualmente fantasmas que, com um riso profundo e macabro escondem o rosto, mergulhando na escuridão dos cantos e das salas. O que mais me assusta é o da idade – vaidoso, trocista, irónico – sempre a mostrar-nos um espelho, o reflexo da nossa cara! O problema não é envelhecer; o problema é acharem-nos “ velhas” para trabalhar e a idade nada tem a ver com a competência. A competência é algo que se adquire, que se constrói ao longo do tempo, em que se procura alargar os conhecimentos e aplicá-los ao que se faz. É difícil aceitar que, por causa da nossa idade, as pessoas pensam duas vezes antes de avaliarem a nossa candidatura e escolhi “avaliar”, porque é a palavra correcta. O que está em causa é o que nós podemos fazer pela empresa, com a nossa experiência que é sempre uma “mais-valia”, porque, perante uma determinada situação, não vamos entrar em pânico, mas vamos agir fria, profissionalmente, explorar todos ângulos e encontrar uma solução prática. Desculpem se me esto

ESTAR PERDIDA

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Entre perfumes, sorrisos e amor, pensei que estava perdida. Mas, como é que podemos estar perdidos no meio de coisas tão lindas e cheirosas como um perfume, um sorriso generoso e um amor genuíno? Como é que não podemos relaxar, ao pensar em coisas doces como um bombom ou o cheiro forte do café? Como é que podemos pensar que o amor é, tal como Eugénio de Andrade diz, no seu poema, que, por coincidência se chama “O Amor”: “Assim é o amor: mortal e navegável” Fiquei espantada quando o li a primeira vez, mas quando o reli, compreendi! Sei bem do que fala o poema; já senti a fragilidade do meu ser, senti que podia navegar para outro mundo que não este, sem saber bem porquê. Há sempre uma pergunta; há sempre uma resposta incompleta; há sempre ditos que se negam e eu???? Vou continuar à procura dos perfumes, dos sorrisos e do amor, não para me esconder, mas para marcar a minha presença, mesmo no seio daqueles que me ignoram !

O SORRISO

No seu editorial desta semana da Xis, a Laurinda Alves fala do sorriso, que ela considera ser “uma linguagem silenciosa que diz tanto ou mais do que as próprias palavras.” Que ela está certa, não tenho qualquer dúvida! E sei também como uma “ situação banal”, tal como ela descreve, se pode “transformar num momento especial”. Porque não é a primeira vez que chego chorosa e triste à confeitaria, onde tomo um pingo todas as manhãs, e saio reconfortada. Basta apenas o tom ligeiro e brincalhão do empregado e o sorriso generoso de uma das clientes para que eu sorria também. Triste, com as lágrimas a brilhar ainda no canto do olho, mas um sorriso! Só com os anos, com a experiência de vida é que identificamos as verdadeiras “nuances” do sorriso ou a falta dele e nós próprios aperfeiçoamos o nosso. Até podemos ter um especial, aquele que guardamos só para os amigos especiais, para aqueles em quem confiamos plenamente – aquele sorriso que vai para além da alma e para o qual não há nem palavras n

À NOITE

A noite…….. O que dizem dela! Será realmente “feita para amar” ou para esconder o lado negro das coisas? Será que a noite é realmente Feita de risos, de luzes, de brilhos, de champagne ou outras bebidas, ritmos e danças sul-americanas, de declarações e paixões alucinantes? Ou, pelo contrário e como diz o título do livro, tem um “lado errado”? “Clandestino”, escondido, obscuro, violento que todos conhecem, mas fingem que não há? Será que é possível “esquecer”… As lutas, as discussões acesas, as facas cravadas, o sangue espalhado e os passos furtivos que a noite encobre? E o que dizer dos que têm a sua vida organizada à noite para assegurar que eu tenha pão fresco para o pequeno-almoço? A noite é rica, abunda em segredos e sugestões, em dores e alegrias, em paixões e no exótico. A noite foi realmente feita para amar – qualquer que seja o seu lado!

POEMAS

A minha relação com a poesia nem sequer foi fácil! Para mim, a poesia era uma selva, um pântano que me recusava a desbravar e a atravessar! Porquê? A prosa facilitava a compreensão e eu achava que a minha vida já era complicada! Tudo mudou no dia em que me sentei a chorar amargamente e tive realmente que desbravar e atravessar a tal selva que tanto me assustava! Talvez porque tive que enfrentar o medo que tinha dos outros e do mundo; talvez porque descobri que a prosa não me oferecia a tal protecção que eu insistia que tinha! Talvez porque ao ler a poesia, compreendi que o céu pode ter as cores do arco-íris ou a que eu lhe quiser dar; que posso pintar quadros com as nuvens e arrancar um sorriso ao sol ou posso simplesmente sentar-me e reflectir com a lua. Talvez porque encontrei na poesia uma nova forma de comunicar com os outros; um outro confidente, um outro amigo! O primeiro poema que li foi “A Hora da Partida” da Sophia de Mello Breyner; o

ACREDITAR

Desenhei arcos com os raios do sol e amarrei com um laço espampanante as nuvens. Depois, arrastei-as com esforço e mergulhamos nas águas frias do rio, que se abriu para me acolher. Não sei do que fujo – talvez das tuas palavras, tão gastas, tão tristes, porque nada significam. Apenas que não mudaste; continuas só a olhar para o teu umbigo e eu quero pintar as nuvens com as minhas palavras. Quero renovar a minha vida, com outras palavras, com outros significados, com outra luz. E contigo presente……eu não consigo pensar! Tenho que partir; tenho que reescrever novamente a minha vida e parar de me sentir culpada, porque o meu único pecado…. Foi acreditar!

LER ROMANCES DE AMOR

Não sei porquê – lembrei-me do livro de Luis Sepúlveda “O Velho que lia romances de amor”. É um livro muito pequeno, lê-se num instante, mas fica-se com vontade de o reler logo de seguida. Como se cada palavra encerrasse nela um segredo que queremos desvendar, custe o que custar e o maior segredo do livro é a simplicidade dessas palavras. Como se a vida fosse fácil, mesmo muito fácil, mas a selva é densa demais, cruel demais e rapidamente engole tudo o que lhe aparece pela frente. Também eu li romances de amor – com grandes tragédias pelo meio, mas todos ficam felizes no fim, conhecem o estilo? Não estou nada feliz com o meu romance de amor; mesmo nas páginas da história que escrevo, tal como eu, a minha personagem procura novas saídas, reencontra antigos projectos e desafios para se esquecer do amor que escorreu pelos dedos, tal como a areia, nem ela própria compreende como! Talvez deva novamente reler “O Velho que lia romances de amor”. Talvez para me convencer que chamar-me “querida

SABES O QUE É??????

Olho, vezes sem conta para o relógio. Assusto-me quando um telemóvel toca. Mas não é o meu – continua mudo e eu já sei que amuaste e que me vais evitar durante dias. Até que…. Um dia, vais acordar e pensar “Vou sacudir a vida dela” e sem que eu tenha tempo de reagir, invades a minha zona, afastas para o lado qualquer resistência que haja, porque… “Levas uma vida tão apagada; tão parada!” Talvez seja parada; talvez não tenha mistérios,não esteja envolvida em brincadeiras exóticas, sensuais, excitantes! Mas, pelo menos, eu sei que sou “amada” e tu? Sabes o que é isso????

QUEIMAR OS ASES

Hoje, não tenho vontade de brincar com o vento ou com as folhas que começam a cair! Nunca pensei fazer tal pergunta ao espelho: Vale a pena levantar-me da cama, lavar-me, vestir-me e sair para trabalhar? Nem sequer tenho vontade de sorrir ou mesmo de disfarçar o meu aborrecimento. Não posso ficar bem disposta com alguém aos berros às 09h00 da manhã – nem sequer tinha tirado o casaco! Também não me posso zangar com ele – até tem razão; só que não é em mim que deve descarregar a frustração. E, neste momento estou a olhar para o écran do computador e a escrever sobre a minha frustração, o meu ressentimento e o meu aborrecimento. E não devia estar! Oh, eu sei; estou a armar-me em vítima! Mas sabem verdadeiramente o que é ser-se vítima? É estar-se mal com o mundo inteiro; achar que o mundo inteiro está a conspirar contra si e estar presa ao que mundo inteiro diz de si! O mundo não me fez mal nenhum; já fez, mas eu contornei o

BRILHAR MAIS FORTE

Subi até ao cume da montanha mais alta do mundo! Estou ofegante; tenho uma dor que me apunhala o peito e faz com que tenha que me sentar. Ali, na neve fofa e fria, mas eu estou tão cansada que nem noto! A nuvem, onde eu passeava com tanta alegria, acaba de se fragmentar e já que tinha que cair, pensei que a neve me amorteceria a queda. Não amorteceu e durante uns dias, vou sentir-me rejeitada, punida, como se estivesse em carne viva. Perguntas que ficavam sem resposta, encontros cancelados à última hora, desculpas esfarrapadas – a repetição do nosso último filme, com os mesmos cenários, apenas com ligeiras alterações nos diálogos. Só que desta vez eu não estou a chorar – estou desapontada, mas encolho os ombros e vou cuidar dos meus amigos, alguns dos quais estão já a refilar por eu ter “desaparecido” da rota habitual. E nem preciso de dizer que se o meu amigo (do post Honesto) me ligar e me convidar para jantar fora, eu vou dizer que sim. Nunca se sabe os que os Deuses têm reservado p

A PROCURA DO LUZ

Ontem, eu a falar em “tropeçar no escuro” e alguém acendeu a luz para que eu pudesse atravessar o meu caminho com segurança. Esse alguém escreveu na dedicatória do livro que publicou, que eu comprei e lhe enviei para esse efeito: “Para os verdadeiros amigos, não há distâncias” e essa é a verdade, a realidade, o mundo que eu e esta minha amiga conhecemos. A minha amiga tem uma vida muito ocupada; não lhe foi, portanto possível responder-me pessoalmente, mas pediu a alguém que o fizesse em seu nome. Entendi isso como um gesto de amizade, de carinho, de gentileza e sobretudo, de boa educação, porque, e como o mail diz, ao pedir desculpa pelo atraso, “pior seria ficar sem resposta.” A boa educação não ocupa lugar; devia ser inato, mas muita gente anda por aí, sem saber do que se trata e pensa que é “grande”. “Grande” em quê? Gostaria de saber, porque muitas vezes confunde isso com sorte e a sorte nada tem a ver com o fundamental da questão – boa educação, valores! Por isso, é sempre bom sa

TROPEÇAR

Há frases engraçadas que nos fazem reflectir, como por exemplo, o título de abertura de um das partes do livro “A guardiã de sonhos”. “Crianças que tropeçam no escuro” e a minha pergunta é a seguinte: Os adultos não tropeçam também? Há, no entanto uma diferença – a criança esquece porque é que tropeçou; em breve nem se lembra porque é que tem aquela cicatriz no joelho. As nossas cicatrizes são mais complicadas e eu tropeço muito e tenho muitas! Até agora, tenho conseguido levantar-me, olhar em frente e continuado! Porque, tal como o título do livro, temos que guardar os sonhos para quem já nasceu, está a crescer ou começa hoje a formar-se no ventre materno. Não sei para quem guardo os meus sonhos; mas, pelo menos, tenho muita gente com quem os compartilhar! Por isso, não vou ter medo se tropeçar novamente no escuro!!!

BOOKCROSSING

Esqueci-me de falar de uma outra maneira de nos consolarmos. Que é importante, porque nos permite fazer uma espécie de levitação, ou seja, deixarmos o nosso corpo aqui e entrarmos na alma de uma das personagens. Estou a falar de um livro e este ano resolvi inscrever-me no BookCrossing e fazer parte de uma comunidade, cujo objectivo é fazer uma biblioteca universal. Tenho montes de livros aqui que estão “mortinhos” por sacudir o pó, viajar, conhecer nova gente e novos objectivos. O livro voltará para mim – não por uma questão de egoísmo, mas porque faz parte da minha vida e não podemos abandonar um companheiro de batalhas, que, por vezes, perdemos. Ele é o único que sabe dos nossos segredos, que nunca revelará, porque a única coisa que regista é o toque e o perfume da nossa pele. No BookCrossing, tenho uma estante com uma série de livros registados. Um dos membros desta comunidade, que me convidou a visitar a sua estante, diz que os “livros dizem muito sobre a pessoa que os compra.” Se