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A mostrar mensagens de abril, 2018

O VIDRO DA PORTA - PARTE II

Eu e a Sofia varremos os vidros enquanto o Amadeu desce à arrecadação para ver se encontra alguma coisa para tapar o buraco. Acha que a empresa que os rapazes contactaram não vai resolver o problema. Também tenho a mesma opinião, mas não quero desapontar os rapazes. Foram muito correctos: assumiram a culpa e tentaram ajudar. O António está sentado nas escadas a fumar um cigarro. Sofia olha-o de vez em quando; parece nervosa, distraída. Proponho fazer um chá enquanto esperamos. Os homens recusam; o Amadeu encontrou uma placa de madeira e os dois querem ver se a conseguem pregar. Sentamo-nos na cozinha. Vamos passar o resto da noite acordados...  Revejo mentalmente a minha agenda; talvez possa adiar a reunião para a tarde. " A Luisa trabalha em quê? " pergunta-me a Sofia. " Tenho uma pequena empresa de serviços. E, a Sofia? " questiono-a.  " Sou recepcionista num gabinete médico. Em part-time, mas fizeram-me uma proposta para

O VIDRO DA PORTA

" Estou aborrecida... " suspiro e viro-me.   Não encontro uma posição confortável na cama e acabo por me levantar. Uma da manhã! Levanto-me dentro de cinco horas e estou com insónias! " Mas aborrecida porquê? " pergunta-me aquela vozinha que ninguém mais escuta. Só eu... Em noites como esta em que acho que sou a pior pessoa do Mundo. " Quase toda a gente tem dias assim! Porque é que tu hás-de ser diferente?" insiste a vozinha. Mas varro essas considerações da mente quando ouço uma porta a bater com tanta força que alguma coisa parte. " O que se passa? " e saio para o patamar.  Viver no rês-do-chão tem os seus inconvenientes. Ah, são os estudantes do quinto andar que partiram o vidro da porta da rua. Vêem-me e apressam-se a pedir-me desculpa. " Desculpe... A porta fugiu-me da mão... " diz um. " Pois e agora? Já viram as horas que são? " pergunto " O que vamos fazer? Isto é um

BERNARDES - FIM

" Conclusão: acham que sou novo demais para ser promovido a Inspector!" comunico ao Tavares e ao Torcato quando nos encontramos no café ao fim da tarde. " Será que posso pedir transferência para os Crimes Informáticos?" pergunta o Tavares. " E a minha para a Brigada Anti-Fraude? " suspira o Torcato. " Temos que esperar. O Mateus diz que o chefe ainda não tomou uma decisão... O mais certo é sermos incorporados noutra unidade. Ai, Leandro, Leandro, porque é que tinhas que morrer? " resmungo. " Porque é que te chateaste com este? " questiona o Tavares. É muito frustrante trabalhar assim... sem saber exactamente o que vai acontecer com o fim da investigação. Que prova que o Inspector Leandro nos treinou muito bem...  Mas não pesa na decisão do Chefe. Aceitam o pedido de transferência do Tavares para os Crimes Informáticos e o Torcato vai para os Crimes Violentos. Eu ???  O Inspector Mateus pede para

BERNARDES - PARTE V

Quando regresso, dizem-me que o Inspector vai ser transferido e o Inspector Mateus tomará conta da investigação. Provisoriamente, acrescentam, sem mais explicações. O Torcato encolhe os ombros e o Tavares limita-se a passar-me as notas. Porque eu tenho razão: o local onde foi encontrado o corpo era uma casa "segura" do Gangue da Paixão, mas tem estado abandonada, porque a Brigada Anti-Droga fez lá uma rusga e apreendeu vários quilos de heroína e alguns milhares de euros. Onde opera agora o Gangue da Paixão, a Brigada ainda não descobriu, mas, atendendo à forma violenta como o homem morreu, tudo leva a crer que foi um ajuste de contas. " Dizem que são brutais." comenta o Tavares. " Já foi identificado? " " Ainda não! Mas pode estar relacionado com o Gangue, porque um dos meus contactos disse - me que houve uma luta entre os da Paixão e da Boa Vida." comenta o Torcato. " Luta pela rota ou pela zona? " pergunt

BERNARDES - PARTE IV

Os dias são enfadonhos na unidade a rever pormenores já confirmados e é com alívio que tomamos conta de um novo caso. O local do crime não é me estranho e confesso ao Torcato que poderá ser uma boa ideia contactar a Brigada Anti-Drogas. " Houve qualquer coisa relacionado com aquela casa no ano passado. Tenta saber se pertence a algum gangue, se há alguma guerra... enfim, tudo o que puderes saber." digo. " Ainda não sabemos quem é!" interrompe o inspector " Temos que esperar pela autopsia. Eu já disse que sou eu quem decide como a investigação vai ser feita!" " Mas aquele é um local conhecido por guerras de gangues e droga! É uma linha a seguir!" explico. "NÃO! JÁ DISSE QUE NÃO! VAMOS ESPERAR PELA AUTOPSIA!" grita o inspector. " Mas o que é que quer fazer então? Não diz o que pensa, veta toda e qualquer ideia, obriga-nos a rever detalhes que já foram verificados... temos uma pessoa morta num local que sabem

BERNARDES - PARTE III

" Nem o Inspector Leandro permitia! " contraponho " Mas consentia que seguíssemos a nossa ideia. Até certo ponto, porque a última palavra era dele, mas permitia que explorássemos outras linhas de investigação." O novo Inspector fica muito sério e repete: " Eu comando esta unidade e determino o que se faz. Estamos entendidos? " e faz-me sinal para sair. Como se eu quisesse ficar no gabinete mais um minuto! Ao fim da tarde, antes de irmos para casa resolvemos ir até ao café perto da esquadra. " Vamos ter sérios problemas com este idiota!" diz o Tavares. " Tem cuidado com a língua!" aconselha o Torcato " Mas não posso negar que tens razão! Vamos perder tanto tempo a confirmar aqueles depoimentos! Não sei o que ele quer fazer!" " Eu também não!" confesso " Ele é que comanda a unidade e ai de quem o desafiar... foi muito claro nisso!" " Que é que vais fazer? " question

BERNARDES - PARTE II

O novo inspector interrompe o silêncio desconfortável.  Tem uma voz baixa, educada, mas um pouco ríspida. " A morte do Inspector Leandro foi um choque para todos. Contudo, temos que superar esta situação e não deixar que a equipa fique à deriva. Tenho a certeza de que, juntos vamos fazer um bom trabalho. Reunião no meu gabinete dentro de uma hora para actualização."  e entra no antigo gabinete do Leandro. " D eriva... uma ova! " comenta o Tav ares " Somos profissionais!" " Juntos vamos fazer um bom trabalho!" imita o Torcato, acrescentando " Dandy!" " Calem-se! Como diz o Tavares, vamos ser p rofissionais! Quem sabe? Pode ser tão bom como o Inspector Leandro ." observo, mas tenho as minhas dúvidas. O no vo Inspector cansa-nos com detalhes e constantes pedidos de e xplicação. Leandro era exigente, mas estava aberto a sugestões e ouvia-nos sem interromper como este. " Não estou a entender! Foi uma pe

BERNARDES

" Matei o Inspector Leandro!" e acordo todo suado. Tenho todas as noites o mesmo pesadelo...  A morte do Inspector foi um acontecimento traumático; abriram fogo, ripostei e procurei um abrigo, convencido de que o Inspector me seguia. Mas não; tinha sido atingido mortalmente e, embora ainda respirasse quando o tiroteio terminou, não sobreviveu. Houve um inquérito, uma reconstituição do tiroteio e concluiu-se que o Inspector foi morto pelos membros do gangue, que estão a monte. Não sei porque me sinto tão culpado quando a culpa não foi minha. É o que a minha mulher e o psiquiatra dizem... o inspector não reagiu a tempo, estava ferido demais... Tenho que ir trabalhar... Temporariamente, até nomearem outro inspector, sou responsável pela equipa. Para já, estamos só a fazer trabalho de secretária... O Tavares não se importa, mas o Torcato odeia. Quando chego, o Chefe já lá está.  Está acompanhado por um homem alto, magro, de cabelo ruivo corta

O FIM DO LIVRO - O FIM

A autopsia revela que a senhora morreu de causas naturais.  Um ataque de coração fulminante e tanto o médico de família como o filho confirmaram que ela não se sentia bem há alguns dias. A única coisa de que o investigador tinha culpa era ter saído de casa sem se ter apercebido de que a mulher estava a morrer. " Porque... " diz-me a D.Guida, deliciada " ele ouviu os senhores baterem à porta, admitiu isso à Polícia. Mas estava a fazer as malas e saiu pela porta da cozinha, indo directo para a garagem. Deixou-a sozinha na sala e tadinha, morreu sozinha!" acrescenta. " Pois... Sabe o que vão fazer do andar? " desvio a conversa para outros assuntos e D.Guida responde imediatamente. " Ah, nem o marido nem o filho querem a casa; vão vender... Se bem que é melhor não dizerem que morreu lá uma pessoa... " comenta. Sorri, pois tenho a certeza absoluta de que arranjará uma maneira de o dizer aos futuros inquilinos. Termino o

O FIM DO LIVRO - PARTE V

Respondo calmamente às perguntas dos dois polícias.  Eles querem apenas confirmar os acontecimentos da noite passada e quando pergunto porquê, apenas dizem que a senhora está morta e estão a tentar localizar o marido. " Muito calados, não acha? " comenta a D.Guida " Ainda é cedo para dizerem qualquer coisa.  Quem sabe? A senhora pode ter tido um ataque de coração fulminante!" digo. " Não conseguiste saber nada? Mesmo nada?" interroga-me o Jorge ao almoço. " Não. Estão apenas a inteirar-se dos factos. Mas que é estranho ele ter desaparecido... é!" confesso. " Tens a certeza de que ele estava lá? Quem te diz que não gravaram a discussão antes? " sugere o meu amigo. Olho-o surpreendido. É uma possibilidade... Com as novas tecnologias, tudo é possível. " É uma possibilidade... não digo que não... Mas não a vou partilhar com a polícia! " acrescento. Jorge ri-se e diz: " Depois não diga

O FIM DO LIVRO - PARTE IV

Está zangado, pois, explica, tem um exame dali a umas horas e precisa de descansar. " Não podemos fazer nada? " interroga e o Senhor Sousa, que vive no 1º Andar e que esteve sempre calado, decide. " Vamos bater à porta e manifestar-lhe o nosso descontentamento. Amanhã manda-se um mail ao Administrador e diz-se que, se houver uma próxima vez, chama-se a polícia." e começa a subir as escadas. Os homens seguem-nos e as senhoras ficam a comentar o caso no patamar.  A discussão tinha cessado, entretanto, mas mesmo assim, o Sousa toca à campainha. Ninguém atende, mas o Sousa não desiste e dá uma pancada na porta, dizend o bem a lto para todos ouvirem. " Não toleramos mais isto, Dr Mesquita! Vamos apres entar uma queixa formal ao Cond ominio e , se houver uma pr óxima vez, chamamos de imediato a polícia!"  Ainda esperamos uns minutos, mas, como nem o Dr Mesqui ta nem a mulher abriram a porta (que falta de educação, diz a D.Luisa), regressamo

O FIM DO LIVRO - PARTE III

Nessa noite, estala uma discussão no andar de cima.   Ouço qualquer coisa a cair... Terá sido a senhora?... " Já sei que ele esteve cá! Não mintas!" diz o investigador. Não consigo perceber a resposta da senhora, mas não deve ter agradado ao marido, porque uma porta fecha-se com estrondo. Fica tudo em silêncio e resolvo reler as minhas notas. Escrevo no Google " violência doméstica?"  e aparecem-me várias artigos que leio atentamente.    Deparo-me com o contacto da APAV e envio de imediato um mail, a solicitar uma entrevista. S atisfeito com a pesquisa, deito-m e por volta das duas da manhã. Acordo duas horas depois em sobre ssa lto. Os meus vizinhos estão a ter uma nova dis cussão .  Está a ser b astante violenta e não sou só eu quem sai para o patamar.  Encontro aí o s vizinhos de baixo e eles perguntam- me: " O que acha? Chamamos a Polícia ou batem os à porta? " sugere a D.Luisa do segundo andar. " Nã

O FIM DO LIVRO - PARTE II

Nesse dia, quando regresso a casa, ouço vozes no patamar do andar de cima. É a voz de uma mulher, clara, educada: " É melhor que ele não te encontre aqui. Desce pelas escadas... tem cuidado, não deixes que ele te veja." Entro apressadamente em casa, mas não fecho totalmente a porta. É um rapaz com vinte e poucos anos que desce. Tem cabelo ruivo, um pouco comprido e veste umas calças pretas e um anorak preto. Lá em cima, a porta bate. A vizinha já deve ter entrado e uns segundos depois, o elevador sobe e para naquele andar. " Hum, quem será o rapaz? " murmuro " Amante dela? " mas a D.Guida trata de me elucidar na manhã seguinte. " Sabe quem vi sair ontem daqui do prédio? " e continua sem esperar pelo meu acordo " O filho dos vizinhos de cima." " Ah, eles têm um filho? " pergunto. " Sim, deve ter 22, 23 anos. Estão zangados, disse a Madalena da mercearia. Ao que parece, o pai queria que

O FIM DO LIVRO

Devia começar esta história pelo fim... A discussão violenta do andar de cima distraiu-me e acabei por ficar a olhar para o écran, sem saber o que escrever. " O que fizeste? " pergunta o Jorge ao almoço no dia seguinte. " Bateste à porta, telefonaste à polícia?" " Não, enviei um mail à Administração do Condomínio ." repli co . O Jorge sorri. É consult or financeiro; deu-me boas dicas para uma das minhas person agens, mas não lê os meus livros.  Diz que con hece as personagens tão bem como eu, está ciente das dúvidas e medos de cada uma delas de t anto me ouvir falar.  Se lesse e o en redo fosse diferente do que pensou , teria uma grande desilusão. " Mas o que sabes sobre esses teus vizi nhos? " insiste. " Pouco. Sei que ele é investigador e ela profess ora numa universidade. Quem me contou foi a D.Guida, a senhora que me faz a limpeza." comento. " Violência doméstica? Estará ele envolvido com uma colega? Ou

PAZ

Ups,mais um dia! Mais uma grande confusão! Porque tenho a impressão de que não controlo nada... E sinto-me estúpida...  Talvez porque sinto que isto não é um desafio e eu gosto de um desafio... Por isso, hoje celebro sozinha a Páscoa... Por ser egoísta e os egoístas morrem sozinhos?  Por ser misteriosa? Mas há certos aspectos da nossa vida que são só nossos... Inveja? Mas inveja de quê? Se tenho tudo o que preciso? Por isso, o que é que está a correr mal? Mas hoje não é um bom dia para pensar nisso. Porque é Páscoa e preciso de PAZ.... BOA PÁSCOA PARA TODOS