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A mostrar mensagens de maio, 2021

A FUGA - FIM

No fim de Agosto, a Catarina e o Tomás despedem-se de todos e mudam-se para outra cidade, com novos planos, novos objectivos. A Glória espera que a Catarina não arrependa, sussurra à Natália, mas esta garante que a Catarina é uma mulher forte, vai saber como vencer as dificuldades. O Francisco diz que matriculou o Luís no mesmo infantário das irmãs, para ele não se sentir tão sozinho, justifica-se, e anuncia que se vai mudar para um apartamento ali perto. Fico mais perto dos avós maternos e de vocês, explica, podemos até combinar a boleia. A boleia? repete o Major, sim, uma semana eu levo o trio ao infantário e o Pai vai buscar por exemplo e na semana seguinte, trocamos continua o filho. É uma boa ideia, pensa a Glória, o Francisco está a tentar aproximar-se do Pai, uma forma de o compensar pela ausência do irmão. Eu não sei nada destas combinações; estou a ter sucesso, faço parte da elite da sociedade local, até encontrei uma boa amiga com quem partilho a casa. É muito diferente da Ca

A FUGA - PARTE V

  Tentei acalmá-la, conta a Natália ao Nicolau nessa noite ao jantar, mas ela está muito revoltada! Não deixa de ter razão, aquele rapaz foi muito egoísta! O Nicolau suspira, o Amadeu deixou de falar no assunto, não é bom sinal, responde, sei que ele está a sofrer, mas não está a falar sobre isso, vai voltar a ser o homem sombrio que conheci no início do Clube. Talvez não, agora tem a Glória e as miúdas, são pessoas diferentes, atalha a Natália, não está sozinho como quando o conheceste; tem uma estrutura familiar e a Glória é uma mulher activa, interessada. O Nicolau tem as suas reservas, conhece bem o Amadeu, mas às vezes, as pessoas surpreendem-nos. O tempo passa, o Amadeu fala cada vez menos do filho, a Glória diz à Natália que o Major ainda contacta a Polícia, mas estes têm poucas pistas e o caso está mais ou menos parado. Nunca pensei que aquela rapaz fosse esperto a este ponto, comenta, desapareceu por completo! Pagou tudo em dinheiro, quis mesmo desaparecer e nem sequer temos a

A FUGA - PARTE IV

  Claro que não voltei a falar no assunto, foi mais ou menos nessa altura que conheci as pessoas que me iam ajudar a revolucionar a minha vida. Por isso, se é essa a vida que o meu irmão quer, não o posso impedir, mas eu estou neste paraíso e ele continua preso a regras. Já estou atrasado, saio, respiro fundo e resolvo ir a pé. No outro lado do mundo, o Major convida a companheira para jantar fora, isto não tem sido fácil para ela, tenho que a compensar de tudo isto, pensa. Jantam num restaurante italiano que a Natália recomendou, o ambiente é agradável, o pessoal é uma simpatia, vão gostar, diz. A esta altura, a Natália e o Nicolau devem estar arrependidos de terem ficado com as miúdas, comenta a Glória, a Márcia pode ser uma peste, principalmente quando não conhece as pessoas. Ela conhece muito bem a Natália, interrompe o Major, e o Nicolau é uma pessoa calma, vai contar-lhe histórias. Sobre os trovadores? ri-se a Glória e o Major ri também. Estou certo que vai arranjar uma maneira d

A FUGA - PARTE III

  A Polícia pouco ou nada tem a acrescentar. Não há nada suspeito nos extractos bancários; se o Frederico, e o Inspector frisa o " se ", cometeu fraude, o dinheiro foi directo para uma conta secreta num paraíso fiscal. É inútil, Pai, repete o Francisco quando o Major lhe conta a conversa, o meu irmão não quer ser encontrado e fez tudo para que isso acontecesse. Não posso aceitar, tenho que encontrar uma explicação, diz o Pai, não posso enterrar isto na areia! Estou tão surpreendido, tão revoltado como o Pai, observa o Francisco, não sei se algum dia lhe vou perdoar, mas tenho que seguir a minha vida! Tenho que pensar no meu filho, talvez esteja a ser egoísta, mas é o que tenho a fazer. O Pai também tem que pensar nas suas filhas! O Major suspira, em parte, o filho tem razão, há outras pessoas que dependem deles. O verdadeiro egoísta foi o Frederico; pensou apenas em si. A nora telefona-lhe nessa noite, o Tomás está sempre a perguntar pelo Pai e ela não sabe como responder. Nã

A FUGA - PARTE II

  Enquanto isso, o Major assinala num mapa as rotas que pensa que o Frederico pode ter usado. A filha mais velha, a Mariana observa tudo atentamente. Acha piada às setas que o Pai desenha naquele papel cheio de traços e pede para fazer uma. O Major sorri, senta-a no colo e guia a mãozinha. A Mariana ri feliz e os dois estão tão entretidos que nem notam que a Glória e a filha mais nova já chegaram. A Glória não diz nada, há semanas que não vê o Amadeu tão relaxado. Sabe que ele tenta disfarçar, mas está a ser complicado gerir os acontecimentos. Há aquela sensação de que as pessoas os estão a observar, discutem o assunto nas costas deles e a maior parte das vezes, os comentários são grosseiros, brutais. Como se eles fossem culpados pela atitude do Frederico; a Glória não compreende totalmente o que se passou. O Frederico era um profissional de sucesso, respeitado por todos e a empresa estava a considerar uma promoção com grandes benefícios. Ou era apenas uma fachada e ele já estava a pre

A FUGA

  E cá estou eu num pequeno paraíso fiscal; ninguém vai pensar que eu fugi para aqui. Fiz uma viagem de reconhecimento, estudei o país, as leis, investi numa pequena unidade hoteleira, abri uma agência de consultadoria e comprei uma casa. Nada luxuoso para não chamar muito a atenção, inscrevi-me num dos melhores clubes para conhecer as pessoas certas e preparei a minha fuga. Um dia, terei que explicar tudo ao Tomás, mas por agora, é melhor está calado e gozar a vida. No outro lado do oceano, o Francisco desabafa com a Catarina, nunca pensei que o meu irmão iria fazer uma coisa destas, desviar fundos! Deram-te pormenores? pergunta a ex-cunhada, mas o Francisco abana a cabeça, não, não, sei que a investigação está a decorrer, mas nada mais do que isto! Por um lado, ainda bem que já me divorciei, diz a Catarina, mas mesmo assim, foi complicado! Ter sido chamada à Polícia para responder a perguntas um pouco incómodas... eu sei que têm que as fazer, mas mesmo assim... Compreendo, também ma

O PROBLEMA - FIM

  Mais tarde, a Glória dirá que a viagem de regresso foi um pesadelo, pois o Major parecia feito de mármore. Não lhe dirigiu a palavra, apenas interrompeu o silêncio para lhe perguntar o nome do cunhado da Rita, ele é inspector da Polícia Judiciária, talvez nos possa ajudar, explica. O Nicolau e a Natália também não sabem o que dizer, não há muito para dizer, não podemos dizer que vai ficar tudo bem, diz o professor, não temos todos os factos. O que achas que aconteceu? pergunta a Natália, mas o Nicolau abana a cabeça, estaria a especular e nestas circunstâncias, isso pode levar a más interpretações. O avião aterra com um ligeiro atraso, a Glória suspira de alívio e são os primeiros a saírem. O Major alega " urgência familiar ", está tão sério que ninguém se atreve a contrariá-lo. Recolhem a bagagem, as portas abrem-se e o Francisco é a primeira pessoa que vêem. Está muito sério, está acompanhado por um senhor com um ar muito cansado e que se identifica como Inspector Gonçalv

O PROBLEMA - PARTE VI

  O queres dizer com isso? e a Glória levanta-se e fecha a porta da casa de banho, não quer que o Major acorde. Exactamente isso, responde a Catarina, ele simplesmente desapareceu. Não sabemos onde está, com quem está, faltou a uma reunião importante e como ele não atendia o telemóvel, ligaram para o Francisco.  E? insiste a Glória, o Francisco ficou surpreendido, tinha falado com ele no domingo e estava tudo bem, continua a Catarina, a casa estava desarrumada, mas aparentemente não faltava nada. O carro não estava na garagem, mas o que se passou entre a garagem de casa e o escritório... Ninguém sabe, termina a Glória preocupada, já avisaram a Polícia? Ah, como é que vou dizer isso ao Amadeu? Vocês não regressam amanhã? pergunta a Catarina, diz-lhe durante a viagem, a Polícia vai querer falar com ele depois. A Glória suspira, não tem a certeza de que isso será uma boa ideia,  mas a Catarina acha que não vai resolver nada dizer naquele momento. Quando desliga, a Glória não sabe dizer se

O PROBLEMA - PARTE V

A Catarina fica encantada, vai ser engraçado ver o Tomás a tomar conta das tias, ri-se. Não te importas? Vais ficar doida com três crianças aos berros, pergunta a Glória preocupada, mas a Catarina abana a cabeça, a minha Mãe ajuda-me. Vão ao Frankfurt, descansem que bem merecem. A viagem é um sucesso, o Major adora a cidade, compra Mapas, visita antiquários e a Glória suspira, mais tralha para o escritório! Não sei se lhe vou perdoar, Nicolau! mas vê-se que está feliz, o Major está relaxado, desapareceu o ar sombrio. Foi uma boa ideia, Nicolau, diz a Natália naquele noite, acho que já me " perdoou " ter-te " roubado "! Ora, isso nunca esteve em causa! O Amadeu precisava de se redefinir, de encontrar novos horizontes, observa o Nicolau, esquecer um pouco os problemas com os filhos mais velhos! É estranho a hostilidade, a frieza que há entre eles, concorda a Natália, todos temos problemas com os nossos Pais e conseguimos superar isso! Não conheci a primeira mulher do

O PROBLEMA - PARTE IV

  O Major está muito desanimado, tentou ligar os filhos, mas não conseguiu. Nem sei se estão no País! suspira, não sei verdadeiramente o que fiz de errado! O Amadeu não fez nada de errado; trabalhou apenas, responde o Nicolau, se não compreendem isso, azar deles, o meu amigo não deve deixar que isso o atormente. Gostava de ter uma vida mais normal, continua o Major, como a que tenho com a Glória e as meninas! Ás vezes, até penso que eles têm inveja da minha vida! Oh, Amadeu, não pense nisso! interrompe o Nicolau, eu e a Natália  sempre vamos a Frankfurt, vamos dentro de duas semanas. Tenho que estar na Feira uns dois dias, mas depois, vamos fazer um tour pela cidade. Porque é que o Major e a Glória não vêm também? repete. O Major acha a ideia péssima, quem é que fica com as meninas? diz e o Nicolau volta a suspirar, o Amadeu consegue ser muito teimoso, pensa. Tenho a certeza de que a Glória pode organizar isso, afirma, não é desculpa! Vamos os quatros, exploramos um local diferente, va

O PROBLEMA - PARTE III

  E nquanto a Glória suspira sem saber muito bem como agir, a Carolina continua sentada no sofá. Devia ir para a cama, mas está tão confortável ali que será um sacrifício levantar-se, despir-se e deitar-se. Planeias ficar aí toda a noite? pergunta o Gustavo e a mulher encolhe os ombros, sorri e confessa que não sabe. O jantar correu bem, não achas? Se bem que o Major parecia estranho, não gosta muito da Natália, pois não? observa o Gustavo. Uma estupidez, que a própria mulher não entende, riposta a Carolina, acha que a relação que tem com o Nicolau vai mudar. Mas a Natália já fazia parte do grupo; agora, está a viver com o Nicolau. As prioridades das pessoas alteram-se, concorda o Gustavo, mas isso não significa obrigatoriamente o fim de uma amizade. A pessoa adapta-se se realmente está interessada em preservar a amizade. Até gosto da Natália, diz a mulher, é inteligente, interessada, divertida. Hoje, notava-se que estava feliz, muito diferente da Natália que regressou dos States. Cheg

O PROBLEMA - PARTE II

  O jantar é em casa da Carolina, a Teresa e a Madalena são as responsáveis pelo menu com pratos feitos com os produtos da loja. É um jantar animado, mas a Natália sente-se um pouco posta à margem. Não sei explicar, confessa ao Nicolau quando chegam a casa, todos falaram comigo, incluíram-me no grupo, mas houve ali uma barreira que não pude transpor. Acho que a Carolina e a Madalena foram as que se esforçaram mais para me fazer sentir parte do grupo. Não falo da Glória, porque a questão nem se coloca. E a Rita? pergunta o Nicolau e a Natália sorri, a Rita está completamente apaixonada pela filha, a conversa gira em torno das gracinhas da menina. O que é perfeitamente normal, acrescenta. O Nicolau também sorri, sentiu um pouco de hostilidade por parte do Major, o que o surpreendeu bastante. O António e o Gonçalo aceitaram a Natália como mais uma no grupo, não deixaram que ela perturbasse a dinâmica do grupo. Mas o Amadeu preocupa-o; o Nicolau sabe que ele continua a ser um homem amargur

O PROBLEMA

  A decisão da Natália e do Nicolau de viverem juntos foi uma surpresa para alguns, um choque para outros. Apenas o Gonçalo riu com vontade, por amor de Deus, diz, actualizem-se! Eu vivo com uma mulher mais velha e qual é o problema??? A Natália tem a sua própria carreira, não precisa do dinheiro do Nicolau! protesta a Glória nessa noite ao jantar. As meninas já estão a dormir e ela e o Major usufruem de um jantar de adultos tranquilo. Eu não disse nada! defende-se o Amadeu, mas a Glória interrompe de imediato, mas estás a pensar que isto é um golpe da Natália! Mas são duas pessoas inteligentes, com interesses comuns que concluíram que partilharem a vida é o melhor para ambos! O Major suspira, não acrescenta mais nada, quer usufruir da noite. No fundo, receia que terminem os jantares de quarta-feira. O António nem sempre aparece, mas para ele e para o Nicolau, aquele jantar semanal é sagrado. O Nicolau ri-se quando lhe conta, ah, meu bom amigo, está enganado! Porque é que a Natália ia

A INTRUSA - FIM

  O que se segue é uma grande confusão. A Teresa dá-me um sermão, o António tenta acalmar a Sofia que me chama " ruim " e eu encolho os ombros. No meio disto tudo, o Gonçalo continua a dormir e os meus Tios suspiram de alívio quando a Filipa e o novo namorado chegam para me levarem para casa. A Filipa apercebe-se de imediato que aconteceu qualquer coisa e quando a Teresa lhe conta, desfaz-se em desculpas. A Teresa ri-se, são coisas de criança, diz, a Inês vai fazer mais isto? mas claro que estou decidida em continuar em guerra com a Sofia. Na rua, a Filipa pergunta-se se sou tolinha, o que é que te passou pela cabeça para deitares a boneca à água? mas eu apenas sorrio. O Gaspar ou Gualter, não sei bem, acha imensa piada, a tua irmã é destemida, afirma, mas a Filipa não fica nada satisfeita com o comentário. Pois, contribui para a festa, protesta, eu a tentar que ela perceba que fez mal e tu ris-te! Assim, ela não aprende nada! O namorado não faz mais comentários, faz-me uma c

A INTRUSA - PARTE V

  No infantário, mostro-me muito fria com a Sofia, mas esta só pensa o melhor das pessoas e continua a ser a mesma pessoa feliz. Tão feliz, tão sorridente que até irrita, será que não percebe que estou zangada com ela, que me estou a preparar para lhe pregar uma partida? A Teresa e o António são pessoas felizes, ouço a Mãe dizer ao Pai uma vez, estes miúdos também são felizes e alegres! E nós não somos? pergunta o Pai indignado, mas a Mãe ri-se, claro que sim, mas temos que nos organizar doutra maneira, a nossa vida não é tão simples com sete pessoas a falar ao mesmo tempo! O Pai também se ri, não percebo porquê, para mim o que a Mãe disse é puro chinês e dá-lhe um grande beijo. É outra coisa que não entendo: às vezes, queixam-se que tiverem um dia muito duro, pedem para falarmos baixo e passado dez minutos, estão a falar como dois apaixonados. Suspiro, a educadora pergunta se estou bem, mas eu afasto-me da mão dela e ela ri-se. Hoje, é o António quem nos vem buscar, fico lá em casa at

A INTRUSA - PARTE IV

  Só o Gonçalo é que come o pudim de chocolate, a Sofia faz beicinho e não percebe muito bem porque é que não o pode comer. Então, não disse onde estava o urso? Mas o Edgar explica que somos as duas culpadas, não importa quem teve a ideia, participamos as duas. É o que acontece numa equipa: mesmo que o erro seja de um, todos são castigados, concluí e eu deito-lhe a língua de fora. Para mim, está a falar chinês, mas o Edgar está convencido que estamos a aprender uma grande lição. A Teresa e o António aparecem depois do jantar para levarem os filhos, o Gonçalo já adormeceu, mas a Sofia ainda está bem desperta. Quando a meter na cama, adormece logo, confidencia a Mãe e despedem-se. Agora, minha marota, vamos nós para a cama também, diz a Mãe e eu apresso-me a fugir. O Matias vem atrás de mim, mas eu sou rápida demais para ele e fujo a toda a velocidade para o corredor. Má sorte a minha, o Miguel abre a porta da rua nesse altura e depara comigo a tentar decidir qual a melhor rota de fuga.

O HUMOR - PARTE III

  A missão é um sucesso, o urso fica escondido no meio dos meus peluches e eu sorrio vitoriosa. O Matias entra nesse momento, o Gonçalo e o Edgar continuam entretidos com o jogo de xadrez e nós as duas estamos sentadas no meio dos almofadões com ar de anjos. Vocês aprontaram alguma, diz o Matias, eu e a Sofia rimos. O meu irmão aproxima-se, senta-se ao pé de nós e pergunta, então, quem é que vai contar uma história hoje? É o jogo favorito do Matias, gosta de construir histórias, até de inventar palavras que eu repito e faz com que os Pais me olhem como se eu fosse uma ser extraterrestre. O que é que lhe andas a contar? pergunta o Pai, ela repete isto no infantário e todos pensam que ela não sabe pronunciar as palavras! O Matias encolhe os ombros, adora ser original, qual é o problema em ser criativo? protesta e os Pais respondem que não é esse o problema, é apenas o facto de eu trocar os "f's" pelos " g's" e dizer " estapafúrdio". Estamos a meio da

A INTRUSA - PARTE II

  Rio-me e dou-lhe uma palmada na cara. O meu irmão interpreta isso como sendo um murro e prende-me as mãos. Isso não se faz, Inês!!! Já não te expliquei porque é que não se faz isso? o Matias está indignado, mas pelo canto do olho, vejo o Edgar a disfarçar um sorriso. Ok, senta-se aqui e não saias daqui, ordena o Matias muito sério, o que arranca uma gargalhada ao Gonçalo, o recado também é para ti, fedelho, acrescenta e saí muito empertigado do quarto. O Edgar senta-se no chão e desafia o Gonçalo para um jogo de xadrez. Claro que o Gonçalo não entende nada e espalha as peças pelo chão. A Sofia acha piada e observa-os atentamente. Eu desinteresso-me, olho em volta à procura de qualquer coisa. Não sei bem o quê, mas o ursinho da Francisca caiu, está meio escondido nas almofadas e é a oportunidade perfeita para a aborrecer. Sei que não dorme sem o urso, desata num berreiro sem fim até que encontrem o malfadado peluche e lho coloquem na mão. Faço sinal à Sofia, tenho uma coisa para te di

A INTRUSA

  Mas quem é esta intrusa? O que é que ela faz no meu quarto? E estão todas a sorrir porquê? Parecem todos uns idiotas e eu que os ature! Francamente, se isto é o comportamento de gente civilizada! O Gonçalo é um palerma, nunca resmunga, está sempre a sorrir e a Sofia está encantada com o novo membro da família. É capaz de passar minutos, horas a olhar para a bebé a quem chamaram Francisca. Mas isto é nome de gente??? Eu dou-lhe uma olhadela rápida, a Francisca devolve-me o olhar muito séria, mas depois faz beicinho. O Matias acorre, afasta-me, pergunta-me, o que é que lhe fizeste, Inês? e depois acalma a inimiga. Porque ela é uma inimiga, não gosto dela, está decidido e tenho que convencer o Gonçalo e a Sofia que não podem ser amigos dela. Vou até à sala procurar a minha Mãe, mas esta está a conversar com a Rita que está deslumbrante, a maternidade fez-te bem, declara. A Rita ri-se, está feliz, está orgulhosa, bondade tua, Carolina, tive sorte de manter o meu peso! Tive alguns problem

O HUMOR - FIM

  Então, não temos mais nada a dizer, diz o Bernardo lentamente e a Rosário encolhe os ombros, parece que não! Isto é o fim! Espero que continuemos amigos, responde e estende-lhe a mão. O Bernardo olha-a duramente, a Rosário baixa os olhos, a mão, murmura qualquer coisa e afasta-se. O Bernardo saí atarantado do ginásio, não consegue pensar direito e fica sentado no carro durante uns minutos. Acho que era a única solução, não deixes que isso interfira com os teus planos, recomenda o Major. O Bernardo telefonou-lhe, convidou-o para tomar um café, devia falar com a minha Mãe sobre isto, mas não estou preparado, confessa. O Major compreende, quem lhe dera que os filhos confiassem nele, mas a relação continua a ser distante, até um pouco hostil. Quando sabe, a Aída apenas o abraça, lamento, filho, e não comenta mais nada. Incentivam-nos a telefonar ao Gustavo, o Bernardo acaba por aceitar o convite para jantar deste e a noite é agradável. O Gustavo está cheio de planos, quer abrir uma empre

O HUMOR - PARTE V

O Bernardo parte naquele madrugada, a Rosário não quis vir ao Aeroporto, despediu-se dele em casa. O Bernardo está apreensivo, não tem a certeza do que vai acontecer entre eles, mas o Major aconselha-o a concentrar no estágio que vai fazer. Um estágio que o vai manter bastante ocupado e abrir os horizontes para o que pode fazer a seguir. Mas também tem tempo para conhecer pessoas novas, visitar novos locais e é um guia perfeito para a família e os amigos quando o visitam. Todos menos a Rosário que tem sempre uma desculpa para não lhe telefonar tantas vezes, passar um fim de semana lá. Em vez de aceitar o convite dos novos amigos para passar um fim de semana prolongado numa estância de ski, o Bernardo resolve voltar a casa. A Aída fica contentíssima e tem milhares de planos, mas o filho explica-lhe calmamente que voltou para " esclarecer as coisas com a namorada". Que namorada??? questiona a Aída, mas o Bernardo abana a cabeça e saí. Sabias que ele tinha uma namorada? Disse-te

O HUMOR - PARTE IV

  A proposta é interessante, o Bernardo fica entusiasmado, porque insinuam que o cargo a ocupar quando regressar será diferente. Posso ser director, explica à Mãe quando ela lhe telefona nessa noite, já pensaste nisso? Estás a ser arrogante, recrimina a Aída, tem calma, faz o estágio, torna-te indispensável, mas não sejas ambicioso demais. O que é queres dizer com isso? pergunta o Bernardo, confuso e a Aída suspira, és um rapaz inteligente, acho que sabes perfeitamente o que quero dizer!  Vencer utilizando as nossas próprias armas? responde o filho, estás a ver como sabes o que quero dizer? concorda a Aída. Quando é que vais? Tão cedo? repete quando o filho lhe diz que tem duas semanas para preparar tudo e partir. Onde é que vais ficar? insiste a Mãe, mas não fica muito tranquilo quando o Bernardo esclarece que é  a empresa que se encarrega de tudo. Será que ele fica bem? E supermercados, farmácias, restaurantes? insiste, mas o companheiro, o Bruno acha que está a ser paranoica. O rapa

O HUMOR - PARTE III

  Aproveita a oportunidade, mas fala com a tua namorada, aconselha o Gonçalo, ela tem que saber e apoiar-te. E, se não apoiar? pergunta o Bernardo e o Gonçalo hesita na resposta, mas o Major intervém. Talvez não seja a tal, talvez não tenha os mesmos objectivos, explica e o Bernardo volta a suspirar. Receia a conversa, a Rosário tem uma visão muito própria das coisas e nem sempre aceita as sugestões dos outros. Por isso, não estranha quando a Rosário explode e o acusa de hipocrisia. Estás louca! protesta o Bernardo, estou a discutir o assunto contigo! É uma oportunidade única, vai contribuir para o sucesso da minha carreira. Ah, a tua carreira é mais importante que nós? interrompe a Rosário, fico a saber um pouco mais sobre ti, não há dúvida! Mas a tua carreira também é importante para ti, continua o Bernardo, estiveste fora um mês e não te importaste que eu ficasse sozinho!  A Rosário fica corada, o Bernardo tocou num ponto delicado e tem toda a razão, tem que concordar. Senta-se deva

O HUMOR - PARTE II

  Entretanto, a empresa faz uma proposta ao Bernardo, trabalhar seis meses numa sucursal do Grupo no estrangeiro. Compreendem que precise de algum tempo para pensar, frisam, mas o Bernardo nem hesita. Estou interessado, é uma oportunidade a não perder, explica ao Major quando se encontram no fim de semana para o almoço de anos da Teresa, conhecer novos métodos de trabalho, de gestão, não, não vou dizer não! Olha a sorte que tenho! diz a Aída irónica, ao menos, está a dizer abertamente e em público! Oh, Mãe, tens que perceber que é uma oportunidade única! protesta o Bernardo e a Aída dá-lhe uma palmada nas costas. Estou a brincar, meu filho! Claro que tens que aproveitar as oportunidades, estou apenas um pouco apreensiva, não me podes proibir isso! responde e o filho dá-lhe um abraço. Só te disseram isso? Não falaram do que pretendem realmente? insiste o Major e o Bernardo abana a cabeça. Marcaram uma nova reunião para terça-feira, comenta o rapaz, deve ser para esclarecerem todos os de

O HUMOR

  Após o acidente e os meses de fisioterapia, o Bernardo não estava à vontade para conduzir. Mas as reuniões terminavam tarde, está dependente da boa vontade dos outros ou tinha mesmo que chamar um Uber. Por isso, um dia, alugou um carro e conduziu até casa da Mãe na cidade vizinha. Respeitou os limites da velocidade, teve cuidado com as ultrapassagens e chegou ileso. A Mãe e o Bruno brincaram com o facto, o Bernardo respondeu bem humorado e a única nuvem negra naquele jantar foi perguntarem-lhe pela namorada. O Bernardo encolheu os ombros e deu uma resposta vaga, desviando o assunto para águas mais seguras. Afinal, tens ou não tens namorada? pergunta-lhe o Major no dia seguinte. Continuam amigos, o Bernardo confia mais nele do que no próprio Pai e o Major retribuiu a confiança, convidando-o para padrinho da filha mais nova. Ter, tenho, explica o Bernardo, mas a Rosário diz que ainda é muito cedo para conhecermos as respectivas família. Por causa do que aconteceu com o irmão; namorou v