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A mostrar mensagens de março, 2016

VERSÃO DOS FACTOS

Hoje,  sou eu a cronista do Reino... De um dia absurdamente normal... Sem que nada memorável o assinale... Porque as pessoas teimam em o desperdiçar, falando de banalidades e intrometendo-se na vida alheia... Claro que sei que o Reino tem problemas...  Claro que queria que as coisas fossem diferentes... Resolvo alguma coisa se viver eternamente infeliz e encher os dias com discursos inflamados sobre respeito, moralidade e afins? Não, não resolvo... Torna-me apenas mais infeliz, mais amargurada e isso é o verdadeiro desperdício... Por isso, não me digam como devo viver... Sou uma cronista e esta é a minha versão dos factos....

A CRÓNICA DO REINO

Sou eu, o cronista deste Reino, quem termina esta história. E persiste a dúvida: devo cingir-me apenas aos factos e esquecer a história de amor? Uma história de amor tão intensa, tão verdadeira que ditou a morte do Reino? Como encontrar as palavras certas para descrever a angústia daquele Rei feliz no dia em que a Rainha desapareceu? E a dor daquele filho quando compreendeu que o Pai perdeu o interesse na vida? Houve quem o criticasse por nos abandonar e lutar por causas desconhecidas. O nosso Reino precisava de quem lutasse por ele... Mas o Rei era orgulhoso, recusou a ajuda e o Príncipe não podia ficar... A História dirá que foi um cobarde, mas eu, que vivo nestes tempos, só posso escrever … Que o Reino ficou abandonado, o Rei sozinho porque ninguém soube como os amar depois...

PÁSCOA

Páscoa... Amêndoas, ovos de chocolate e pão-de-ló...  Cheiros... risos... memórias de outras Páscoas.... De almoços no Restaurante Chinês, saboreando como se tratasse do melhor Champagne um Sumol de laranja... De vestidos novos... De estar à mesa com a "gente grande" e ser tratada como tal... Porque era Páscoa, um dia de festa...  Continuo a gostar da Páscoa... Mas nada é como me lembro... Não há tempo... O Mundo pode explodir a qualquer momento... Boa Páscoa....  

PEDESTAL

Há quem viva num pedestal…  E falar com um mero mortal é um grande favor… Um privilegio… Talvez seja feliz no seu pedestal… Porque não?   A felicidade escreve-se… Sente-se de muitas maneiras… Ninguém está certo… Mas também não está errado… O que está errado é ser-se velhaco e humilhar os outros…

CLARIDADE

Esqueço-me... No brilho da noite... Na claridade do tempo... E penso...  Nas cores... Na música... Nos sonhos... E escrevo... Poemas que estão sempre inacabados... Porque há sempre novos caminhos... novos sonhos... novas cores....

FALAR

Hoje, estou cansada demais para pensar...  E até o silêncio me incomoda... Talvez seja porque não encontro a minha voz...  Se não a ouvir, não liberto os sonhos...  Escondo os sorrisos e nada se desenha no olhar... Hoje, não quero pensar... Nem quero falar...  Quero apenas quebrar o silêncio....  

LEANDRO - PARTE III

Este apresentou-se ao supervisor, explicou-lhe o que pretendia e após uma conversa para confirmar detalhes, Leandro saiu, recomendando calma. Na rua, telefonou ao Sargento Bernardes e pediu-lhe que localizasse a Vera Almeida. O Sargento Bernardes protestou, dizendo que seria difícil contactar alguém num domingo à tarde e Leandro impacientou-se. “ Consulta o site dos  Edifícios  Leopardo, estes sítios têm todos sites na Internet. Vê se têm gabinete de segurança e vais lá falar com eles sobre essa Empresa e essa senhora! Contacta também o médico-legista e avisa que vou lá falar com eles.” e desligou, pensando no passo seguinte. Conhecer o morto e avaliar os ferimentos. Por isso, 10 minutos depois entrava na morgue, mas só fariam a autópsia no dia seguinte. Leandro insistiu em ver o morto e observou atentamente os ferimentos na face e no tronco e os hematomas nas mãos. “ Não tinha qualquer identificação nos bolsos!” avisou o assistente “Deve ter 30, 35 anos, não mais do que iss

LEANDRO - PARTE II

“ Se roubaram alguma coisa, só vamos saber amanhã quando o escritório abrir.” ponderou, mas um dos seguranças, que estava a fazer a ronda e passava ali naquele momento interveio: “ Não, a empresa que funcionava neste escritório fechou e estão a transferir tudo para um armazém aqui perto.” Leandro ficou curioso, pois essa informação não constava do relatório. “ Quem está a fazer essa transferência? Tem algum nome, nº de contacto? “ perguntou e o segurança sorriu e desculpou-se: “ A Administração deve ter esses elementos! Se quiser vir comigo até à sala de segurança, dou-lhe o nº de telemóvel de um dos membros! “ acrescentou. Leandro seguiu-o e os dois homens desceram no elevador de serviço em silêncio. “ Conhece alguém que trabalhasse naquele escritório? “ lembrou-se Leandro de perguntar e o segurança ficou pensativo por uns minutos. Quando as portas do elevador se abriram, disse: “ Sim, conheci uma das sócias. Mas ela já deixou de trabalhar na empresa há uns dois, três m

LEANDRO

Leandro Pimenta, inspector da Judiciária, não gostava de trabalhar ao domingo. Se era dia de descanso, como dizia a Bíblia, porque é que os Centros Comerciais estavam abertos? Ou as lojas ao pé do rio? Por causa do turismo? Por causa da crise? Tudo isto era preguiça, falta de valores, de amor a Deus. Leandro suspirou e pegou num dos relatórios que o sargento tinha deixado em cima da secretária. À primeira vista, parecia apenas mais um assalto, mas ninguém sabia de quem era o corpo que encontraram no interior do escritório. A equipa de segurança disse que tinha feito a ronda às 24h00 e não havia nada a assinalar. Portanto, foi uma surpresa quando o alarme soou às 03h00 da manhã e se depararam com aquele cenário de horror no escritório 303. Leandro resolveu ir até ao local do crime. Identificou-se aos seguranças e ao policia de serviço. Este abriu a porta e disse calmamente: “ O assistente do médico legista já levou o corpo, mas creio que ainda não fizeram a autópsia.”