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A mostrar mensagens de janeiro, 2021

O NOVO NAMORADO - PARTE III

Temos que nos ir embora, diz a Filipa, vá lá, arrumem tudo e quando chegarem a casa, têm que tomar um bom banho, estão imundos, acrescenta. Ajudo-os a arrumar as coisas, os dois rapazes continuam a olhar-me cautelosamente e eu sinto-me desconfortável. São apenas miúdos, tento convencer-me, mas sinto que eles estão preparados para irem até às últimas consequências se eu magoar alguma das irmãs. Gostam de BTT? pergunto e o rapaz mais velho, o Matias fica interessado. Sim, gostamos, porquê? explico então que pratico o desporto, faço parte de um clube, até os posso levar lá para conhecerem as pessoas, as actividades. Os dois começam a fazer imensas perguntas, só posso responder a uma de cada vez, rio, mas a Filipa intervém, temos que falar com os Pais primeiro e os dois rapazes ficam desiludidos. Estamos em frente ao prédio onde moram, preparo-me para entrar no átrio, quem sabe até subir para os ajudar a levar as coisas, mas o porteiro saí rapidamente. A Filipa faz sinal aos dois rapazes p

O NOVO NAMORADO - PARTE II

A Beatriz diz-me que a Filipa está de serviço naquele sábado. De serviço??? repito, o que queres dizer? e a Beatriz explica que os dois irmãos mais velhos revezam-se para tomar conta dos mais novos. Se saí um à noite, o outro tem que ficar, ou qualquer coisa assim, acrescenta e eu torço o nariz. Que estranho! Nem pensar deixar de sair para tomar conta da minha irmã, penso, e até estou admirado de me ter levantado cedo e estar aqui a passear casualmente no parque. Melhor dizendo, a fingir que estou simplesmente a passear no parque e que surpresa encontrar-te aqui, não te lembras de mim? Sou o Jaime, o amigo da Beatriz, na minha mente, a conversa vai ser assim, tenho a certeza. Vejo primeiro os rapazes, nota-se de imediato as semelhanças com a Filipa, estiveram a andar de bicicleta e estão agora sentados no banco a beber água. Óptimo, sei alguma coisa sobre isso, sou fã de BTT, decerto que gostam do desporto, posso dar-lhes dicas, vai ser fácil conquistá-los, murmuro convencido. O que nã

O NOVO NAMORADO

  A minha Mãe é fã do espião mais charmoso do Mundo e por isso, decidiu que me chamaria Jaime. Cresci à sombra do homem enigmático, sempre rodeado de belas mulheres,; contudo, em breve, aprendi que até pode ser engraçado apresentar-me como Jaime, mas podes chamar-me James Bond numa festa de Carnaval, no dia a dia, as pessoas não acham piada nenhuma. Por isso, estudei cuidadosamente a forma de abordar as mulheres e posso dizer que tenho tido bastante sucesso. Ás vezes, é complicado, porque elas afeiçoam-se demais e eu não me quero prender.  Acusam-me de ser egoísta, pouco confiável, mas acho que não me escutaram devidamente: não fiz promessas nenhumas. Até ao dia em que conheci a Filipa e fiquei loucamente apaixonado. Sabia quem ela era; tinha uma certa reputação porque tinha tido um namorado violento e todos viram as pisaduras. Depois, tinha sido ela a maltratar um outro namorado ao apaixonar-se por um professor.  O namorado ficou de rastros, era um namoro sério, todos pensam que acaba

OS MANOS - FIM

  A paz é restabelecida, eu volto para o meu desenho e os outros meninos para a piscina de bolas. Só o Miguel fica sentada a um canto, isolado do resto do grupo. Que parvalhão! penso. A Tia Carolina diz que é por culpa da Tia Laura, mas a minha Mãe é mais generosa e que temos que o ajudar a ultrapassar a instabilidade. O que é a instabilidade? atrapalho-me a pronunciar a palavra, mas a Inês também não sabe o que é e somos orgulhosas demais para perguntar aos outros. Felizmente, o Tio Pedro tem outros planos e por isso, somos só nós, o Pai e o Gonçalo a fazerem um piquenique no parque. Depois de tanto perseguir as pombas, o Gonçalo adormece e o Pai resolve voltar para casa. Deita o Gonçalo, instala-me na sala com as minhas bonecas e senta-se no sofá a ler um livro. O Mundo está sossegado, a Mãe deve estar a chegar e segue-se o ritual do banho. Às vezes, o Gonçalo finge que é um elefante, mas eu gosto de ser uma ninfa. Os Pais acham imensa piada e até inventam histórias sobre esses seres

OS MANOS - PARTE V

  Na manhã seguinte, o Gonçalo está insuportável. Não se quer vestir, não quer tomar o leite e até luta com a Mãe. O Pai dá-lhe uma sapatada, o Gonçalo fica tão espantado que pára de chorar e deixa-se vestir. Toma o leite desconfiado, atento ao Pai, mas este lê o jornal tranquilamente. É sábado, o Pai não vai trabalhar e se bem que tenha que ficar com estes dois safados, acho que os posso deixar na creche do ginásio, diz à Mãe, estou a precisar de nadar um pouco. Falaste com o Pedro e o Gonçalo? Eles também devem ir, observa a Mãe, podem almoçar todos juntos, sugere. Espero bem que o tio Pedro não vá, ainda leva o Miguel e o Miguel é muito aborrecido! Está sempre a chorar, digo baixinho ao Gonçalo, mas este não me liga. Está entretido com a folha do jornal que caiu ao chão, está a rasgá-la aos bocadinhos, ai, Gonçalo, que o Pai não vai gostar nada, aviso. Mas agora que tem um plano para o dia, o Pai não protesta e dez minutos depois, estamos nas cadeirinhas no carro a caminho do ginási

OS MANOS - PARTE IV

  Mas o que se passa aqui? quer saber a minha Mãe que entra no quarto e dá um pequeno grito quando me vê com a cara pintada. Estas safadas encontraram um batom da Filipa e resolveram fazer desenhos psicadélicos, explica a Tia Carolina, vamos lá para a casa de banho limpar isto. A Mãe segue-a e a Inês protesta, mas a Tia Carolina ignora-a.  Lava-lhe a cara e as mãos, passa um pouco de creme e decide mudar também de pijama. Precisas de um? pergunta, mas a minha Mãe abana a cabeça, trago sempre um extra no saco. Vai buscar o saco e é a minha vez de protestar quando vejo o pijama. Odeio aquele pijama, azul escuro com elefantes brancos, atiro-o sempre para o chão quando o vejo, não gosto disto, declaro, mas a Mãe finge que é um jogo e veste-mo na mesma. Por isso, a Mãe avisa-me logo para não fazer cenas, foste muito marota, Sofia, partir assim o batom da prima! repreende, eu tento defender-me, dizer que a culpada foi a Inês, mas ninguém vai acreditar em mim. A culpa é das duas, intervém a T

OS MANOS - PARTE III

  É a oportunidade perfeita para nos escondermos e a Inês afasta as cortinas.  Ficamos encostadas ao vidro, ninguém nos vê, está em curso um operação de salvamento. O meu irmão é esperto, confidencio, vais ver que encontra uma maneira de os ocupar. Olho fascinada para o tubo, a Inês explica que aquilo é uma tampa e após algumas tentativas, lá a conseguimos tirar. E, agora? pergunto e a Inês diz que a Filipa costuma rodar o fundo e com muito cuidado, roda e aparece um outro tubo, desta vez com cor. Toco, é macio e volto a perguntar, o que se faz agora? e a Inês faz um risco na minha mão. Olho fascinada para o risco, a Inês ri-se e faz um outro risco, desta vez na minha cara. Ah, dá cá, também quero fazer, digo e a minha prima pinta a ponta do meu nariz.  Queres guerra, é? repito, já estou a ficar furiosa e prendo-lhe a mão. O tubo caí, e antes que a Inês tenha tempo de reagir, apanho-o e fujo para o outro lado.  A Inês segue-me, tenta tirar-me o tubo, mas sou eu agora quem lhe faz os ri

OS MANOS - PARTE II

  Há um jantar na casa da Tia Carolina nessa noite e a Mãe decide levar-me já com o pijama vestido. Protesto, mas a Mãe não cede, não, vais adormecer de certeza absoluta, trago-te a dormir e é só pôr-te na cama! explica, mas eu fico amuada e atiro com os chinelos para o outro lado do quarto. O Gonçalo ri-se, o Pai está a vestir-lhe o pijama favorito, do Homem Aranha. Não acho piada nenhuma, Sofia, queres que telefone à Ema e ficas em casa com ela? pergunta o Pai e eu mordo o lábio, abano a cabeça. Não, quero ir, a Inês deve ter umas brincadeiras preparadas e eu não quero perder pitada. A Inês está radiante, faz-nos o sinal secreto de que tem um segredo e mal podemos esperar que nos deixem sozinhos. Instalam-nos no quarto do Matias e do Edgar, deixam a porta aberta e a Tia Carolina encarrega os dois irmãos de nos vigiarem. Vamos tirar à sorte quem vai buscar a comida primeiro? sugere o Matias e claro que o Edgar protesta. Enquanto eles discutem, a Inês mostra-nos um tubo dourado e o Gon

OS MANOS

Gosto de laços e ganchos e de vestidos. A Mãe tenta vestir-me leggings para estar mais confortável, mas eu faço uma grande cena que põe o Gonçalo a rir. Vá lá, Sofia, não podes levar um vestido para a creche, diz a Teresa e o António, atraído pelos gritos, entra no quarto. O que é que se passa? Porque é que ela está aos gritos? pergunta e eu tento explicar-lhe, mas o Pai ri-se. Deves ter muita razão, Sofia, mas deves ouvir a Mãe e vestir o que ela quer, aconselha e eu tive que obedecer. Já sei que não é bom estar zangada com o Pai, é tolerante até certo ponto, não suporta abusos. Por isso, aqui estou sentada no chão, muito infeliz, com uma bola na mão. A educadora quer que eu pinte o céu, mas limito-me a fazer um traço. Depois, quer que me sente no chão e cante com os outros meninos, mas eu estou zangada e fico muda. Passo o dia sozinha, calada e a educadora fica um pouco preocupada, sou muito activa. Não me parece doente, mas aconteceu alguma coisa que tenha provocado esta falta de in

A NOVA VIDA - FIM

  Ninguém dorme naquela noite; a Teresa e o António acabam por subir para o apartamento deles, temos um dia muito ocupado amanhã, desculpam-se. A Madalena insiste com a Matilde para se deitar, tens aulas amanhã, mas a filha diz que não vai conseguir adormecer, pensei que ela estava a dormir, repete, mas tanto o Pai como a Mãe dizem que a culpa não é dela. O Bernardes revista o quarto, repara que a Clarinha levou o mealheiro, planeia viajar? pergunta a Madalena e o Inspector telefona para a esquadra mais perto, identifica-se, será que podem dar uma volta pelos quarteirões, pelos jardins mais próximos? A minha filha de oito anos desapareceu, explica, sim, estamos a telefonar para os amigos dela. Não, a Clarinha não está aqui, não, não se queixou de nada, disse só que a vida em casa estava uma " chatice ", contam os outros Pais admirados, podemos fazer alguma coisa? mas a Madalena agradece e desliga. Onde é que ela está? é a pergunta que lhes queima os lábios e a Madalena tem um

A NOVA VIDA - PARTE VI

  A consulta é complicada, a Clarinha recusa-se a colaborar e, mesmo sozinha com a psicóloga, não fala. O Bernardes e a Madalena sentem-se desesperados, não sabem verdadeiramente o que fazer, tentem passar mais tempo juntos, aconselha a psicóloga, e claro está que vou continuar a trabalhar com a Clarinha. Deixam a Clarinha em casa, precisamos de uma pausa, diz o Bernardes, há um restaurante simpático perto do meu apartamento, ou compramos ou comemos lá. A Madalena gosta do restaurante, decidem jantar lá e a conversa é tranquila, evitam falar da Clarinha, sabem que têm que discutir o assunto, mas agora é altura de pensarem neles. Falam do affair do Bernardes, do que correu mal, dos novos projectos da loja e mesmo dos casos complicados do Inspector. Obrigada, tinha saudades disto, confessa o Bernardes, sempre foste muito sensata, muito perspicaz e às vezes, estamos tão envolvidos no caso que não nos apercebemos de certos detalhes. Mantém-nos a mente activa, concorda a Madalena, e os teus

A NOVA VIDA - PARTE V

  A Clarinha entra nessa momento, quem é que me leva à escola? pergunta e a Rita repreende-a, não é assim que se fala, tens que ser mais delicada, educada. A Clarinha não responde, dá meia volta, saí da cozinha, murmura qualquer coisa que as duas mulheres interpretam como fico à espera no corredor. Eu levo-a, oferece-se a Rita, pode ser que ela me escute, mas a Madalena duvida e tem razão. A Rita tenta conversar com a sobrinha, a Clarinha tenta ligar o rádio, mas a tia impede-a e começa a assobiar. Maria Clara, queres fazer o favor de te calar? Estou a falar contigo; não te disse já que tens que ser educada, delicada, simpática? ralha a Rita, o que é que se passa contigo? Posso ajudar em alguma coisa? A Clarinha cala-se, olha em frente, a Rita não tem a certeza de que a estou a ouvir. Chegam à escola, a Clarinha abre a porta rapidamente, saí do carro sem dizer adeus e a Rita fica ali parada uns minutos a tentar perceber o que aconteceu. Entretanto, a Madalena telefona à psicóloga, desc

A NOVA VIDA - PARTE IV

  A Rita está curiosa, será uma boa ideia irem passear os três? desabafa com o Gonçalo, mas este encolhe os ombros e aconselha-a a gozar também o dia. Vamos ter uma semana muito intensa, podemos até nem estar juntos, vamos sair, divertir-nos um pouco, a tua irmã sabe como resolver os problemas dela, diz. A Rita cede e saem os dois para explorar a cidade, há uma exposição que o Gonçalo quer ver e talvez possam ir ao cinema depois ou a um recital numa das Igrejas da Baixa. A Madalena não telefona nessa noite, a Rita fica preocupada, mas o Gonçalo aconselha-a a esperar, a irmã telefona se achar que é importante. Segunda-feira é um dia complicado na loja, a Madalena está muito cansada e com a Clarinha de tão mau humor, nem pensa em telefonar à Rita. É demais para a Rita, no dia seguinte, às nove da manhã está já a bater à porta do apartamento da irmã É a Matilde quem abre a porta, desculpa. não posso ficar a conversar, estou já atrasada, a Clarinha está insuportável, comenta e desaparece n

A NOVA VIDA - PARTE III

  O que não diria o Bernardes se te visse agora, comenta a Rita e a irmã volta a rir. O Bernardes está muito ocupado, telefona todos os dias à Clarinha, mas nem sempre passa o fim de semana com ela, responde a Madalena, e quando está com ela, a menina queixa-se que ele adormece e deixa-a sozinha. Típico do Bernardes, diz a Rita, mas a Madalena abana a cabeça, a Matilde e o Gustavo compreendem melhor a situação, a Clarinha acha que a culpa é dela. Já falaste com ela sobre isso? E com o Bernardes? pergunta a Rita, tenho a certeza de que ele terá uma opinião sobre essa questão. E, que questão é essa? repete uma voz muito conhecida por trás delas, as duas irmãs sobressaltam-se, olham para trás. É o Bernardes, com um tabuleiro nas mãos, a Rita faz-lhe sinal para se sentar à mesa delas. Obrigada, só comi sandes hoje, suspira e a Madalena comenta, não devias comer pizza! devias comer qualquer coisa mais saudável! Estou cansado demais para pensar nisso e a pizza está quente, defende o ex-marid

A NOVA VIDA - PARTE II

A Madalena concorda com o novo corte e aceita fazer madeixas em vez de pintar numa cor que a Rita diz ser o furor da estação. Não, não, acho que as madeixas vão resultar, diz a Madalena e depois de concluído o trabalho, a Rita dá-lhe razão. Está mais leve, mais brilhante e o próximo passo é a maquilhagem, nada de vermelhos berrantes, protesta a Madalena e a Rita finge-se ofendida, era lá capaz de sugerir isso! A Madalena ri-se, conheço-te muito bem, responde e divertem-se a experimentar bases, sombras e batons. Entram depois na Zara, na H&M, Massimo Dutti, Tiffosi, mas a Madalena não fica convencida com o que vê nos manequins. Gosta da lingerie da Intimissimi e a Rita está a começar a ficar desesperada, não podes andar sempre de jeans e túnicas, comenta, sei que é prático, mas muda um bocadinho! Tenta ser a irmã mais velha da Matilde em vez da Mãe antiquada! Não quero ser a irmã mais velha da Matilde, tenho que ser a Mãe dela! exclama a Madalena, um pouco alterada e a Rita afasta-s

A NOVA VIDA

  E pronto! Tanto que criticou os filhos por utilizarem a expressão e aqui está ela a repeti-la, mas sente-se sozinha! O Gustavo gosta do emprego, está a construir uma vida e quando vem passar o fim de semana, quer encontrar-se com os amigos e não fica muito tempo em casa. Entre a universidade e o trabalho em part-time no escritório da tia, a Matilde pouco tempo tem para se sentar e conversar com a Mãe. Até a Clarinha já tem o seu circulo de amigos... Ainda bem que tenho o blog de culinária e a loja, desabafa com a Rita, caso contrário, a vida seria muito solitária. Os teus filhos vão sempre precisar de ti, sabem onde te podem encontrar, diz a Rita, mas agora já não tens o controlo da vida deles. Pois... por um lado, é bom vê-los levantar voo, mas por outro... e a Madalena abana a cabeça. O que precisas é de conhecer outras pessoas, sair com alguém, observa a Rita, ter um affair, acrescenta, trocista. Oh, Rita, que disparate! reage a Madalena, tenho lá idade para isso! Não vejo porque

OS ORGULHOSOS - FIM

  O Gonçalo aparece no exacto momento em que vão cantar os parabéns à Teresa, todos esquecem a razão porque estão ali reunidos e sucedem-se os oh's, os ah's. Foi tudo combinado ao milímetro, explica a Rita enquanto o António dá um grande abraço ao irmão, que saudades, pá! que saudades! repete. O Nicolau e o Major querem saber tudo sobre a estada na Bélgica, as mulheres perguntam à Rita se se reconciliaram e quais são os planos para o futuro. A Rita ri, é muito cedo, temos ainda muita coisa a resolver, mas sim, estamos novamente juntos. A verdade é essa, acrescenta, não sabemos viver um sem o outro. A Glória acha isso muito romântico, há uma lágrima teimosa no canto do olho da Teresa e a Madalena suspira de alívio. Sorri à irmã, aperta-lhe a mão e murmura, depois falamos. Por vontade deles, ficam a conversar a noite toda, mas a Sofia e o Gonçalo acordam com o barulho, assustam-se e os Pais têm que os acalmar. Fica combinado um almoço no dia seguinte, no restaurante habitual, o N

OS ORGULHOSOS - PARTE V

  Até o Bernardo está nervoso, será que eles se vão entender? pergunta à Mãe e a Aída repete que é o que todos esperam. A Rita está diferente quando regressa, está mais sorridente, mais vibrante, parece a Rita do antigamente, murmura a Matilde. Contudo, quando a Madalena insiste para que ela lhe conte os detalhes da viagem, a Rita apenas sorri e evita o assunto. Reconciliaram-se ou não? É uma pergunta simples, não percebo este suspense, queixa-se o Gustavo que veio passar o fim de semana a casa, para saber das novidades. O Gonçalo também não diz nada, diz o António, sempre que falo na Rita e da viagem que ela fez à Bélgica, ele mostra-se muito admirado. O teu irmão está a mentir, interrompe a Teresa, supostamente a Rita foi à Bélgica porque tinha assuntos pendentes a discutir com a empresa, achas mesmo que ela não encontrou o Gonçalo? Claro que encontrou, isto é uma cena de teatro, dizem-nos quando estiverem prontos. O Nicolau e o Major também concordam, de certeza absoluta que se reco

OS ORGULHOSOS - PARTE IV

Tive uma ideia, diz o Nicolau na quarta-feira seguinte e tanto o António como o Major olham-no com surpresa. A sessão do Clube foi interessante, a Rita fez uma análise pertinente do livro, que serviu de mote para a discussão posterior. Parece que a Rita está a ultrapassar a tempestade, comenta o Nicolau, mas o António abana a cabeça, segundo a Teresa, ela está ainda muito magoada, a Madalena queixa-se que a Rita está distante. O Major concorda, a Glória passou pelo escritório, tentou que fosse almoçar com ela, mas a Rita recusou-se, está com muitos projectos em cima da mesa, conta. A minha ideia é organizar uma video chamada, aqueles dois têm que falar, explica o Nicolau, claro que temos que ser um pouco diplomáticos, não podem saber que vão falar um com o outro, mas é uma solução. Nem o Major nem o António ficam convencidos; a Glória acha que a video chamada vai piorar a situação e a Teresa diz que a Rita vai cortar relações com todos. Lembra-te que ela é responsável pelo marketing da

OS ORGULHOSOS - PARTE III

O Nicolau decide enviar um mail ao Gonçalo. O António queixa-se que o irmão é muito lacónico nas mensagens, não estou a dizer que me envie um mail todos os dias, mas uma video chamada aos domingos seria uma forma de estar em contacto com ele, diz, pouco ou nada sei do trabalho que está a desenvolver, se gosta ou não. Talvez alguém neutro, pensa o Nicolau, consiga abrir uma brecha nas defesas do Gonçalo e ele diga o que se está a passar verdadeiramente. O Gonçalo fica surpreendido com o mail do Nicolau, afinal, não se conhecem muito bem, conhecem-se através do irmão. Mas ali está um mail muito amável, com perguntas sobre o trabalho dele, as impressões que tem da cidade, é que estou a pensar em escrever um livro, escreve o Nicolau,  a situação da personagem é similar à do Gonçalo. O Gonçalo sugere uma video-chamada, o Nicolau acede, o Major explicou-me como se faz isso, tenho que me modernizar, confessa o professor, aliás, fui convidado para dar uma palestra online. O Gonçalo ri, quer sa

OS ORGULHOSOS - PARTE II

  O Gonçalo está no bar do hotel do aeroporto; parte cedo no dia seguinte, vou evitar o stress de ter que me levantar de madrugada para apanhar aquele metro, explica ao Pedro quando este o tenta dissuadir. O hotel é simpático, sossegado e ele sentou-se num canto do bar, a saborear um whisky. Está um pouco nervoso, tem a certeza absoluta de que estará à altura do novo desafio, mas sente a falta da Rita. Pouco falaram nestas últimas semanas, a Rita foi bem educada, uma profissional de alto nível, mas cortou qualquer tipo de conversa pessoal. E a culpa é só dele, como bem disseram a Teresa e o António, destruíste uma relação estável, poderosa e tudo porque te acenaram com dinheiro??? Fui mesmo um idiota, pensa, o que é que eu queria mais? Uma mulher inteligente e muito sexy, uma vida cheia de desafios pessoais e profissionais... Até tem saudades das discussões que tinham... onde é que eu estava com a cabeça? repete, o que é a Rita está a fazer agora? A Rita está cansada, o novo cliente es

OS ORGULHOSOS

  O Nicolau suspira de alivio. Estão todos presentes, até mesmo o Bernardo! O António faltou a umas sessões, estou a ajudar a Rita no novo projecto da empresa, esclarece e o Major estava preocupado com a saúde da Glória, é só stress, convenci-a a pedir uma licença, explica. Ainda bem, responde o Nicolau, senti a vossa falta, não é que a Aída e a Rita não sejam pessoas interessantes, apressa-se a dizer, mas faltava o ponto de vista masculino. Que a Rita não o oiça a dizer isso, Nicolau! aconselha o Bernardo e o Nicolau ri-se. A Rita está diferente, houve qualquer coisa nela que morreu, o Nicolau não sabe como explicar em palavras. Não é de admirar, suspira o António nessa noite ao jantar, o meu irmão não foi exactamente correcto! Escondeu-lhe coisas importantes e a Rita não perdoou! Entendo o ponto de vista da Rita, ela construiu aquela empresa do nada, comenta o Nicolau, não deve ter sido fácil saber que receberam uma proposta de compra e ela não saber absolutamente nada. O Gonçalo diz

O INSATISFEITO - FIM

  A Menina Laura não está bem? comenta a D. Margarida e a minha avó suspira. Fico curioso, porque é que suspiram? Ajuda em alguma coisa? quero perguntar, mas ninguém olha para mim e a fatia de bolo é muito mais interessante. Não, não está e creio que se esquece de tomar a medicação, explica a avó, mas o que provocou isto foi o Pedro dizer-lhe que está a pensar em casar novamente. O Menino Pedro vai casar novamente? repete a D. Margarida, isso é normal, refazer a vida, ter outros filhos, a menina Laura tem que compreender. Vai ser complicado convencê-la disso, diz a avó. Parece triste, cansada, mas sorri-me e eu sorrio também. Não volto a ver a minha Mãe nessa noite, fecha-se no quarto, recusa-se a sair do quarto para jantar, apesar da ordem directa do avô. Os dias seguintes são cheios de descoberta, pouco vejo a Mãe, mas a D. Margarida e a avó estão sempre prontas a ceder aos meus caprichos. Mas o Pai telefona naquele dia à noite, tenho que voltar, que regressar ao colégio, preciso de

O INSATISFEITO - PARTE IV

  Fico no jardim das traseiras enquanto os adultos conversam na sala. Finjo que estou a jardinar, claro que as minhas ferramentas são de plástico, e tento imitar a D. Margarida, a governanta da avó. A senhora acha-me graça, cheira isto, Miguel? sabes o que é? é hortelã e ri-se quando repito a palavra. Mas hoje o que me interessa verdadeiramente é a mangueira. Parece uma cobra, tal e qual a do meu livro, ali enroscada ao Sol. Aproximo-me cautelosamente, será que me está a vigiar? mas não acontece nada. Aproximo-me ainda mais e ups! sou recebido com um jacto de água (ou será veneno?). É o Gustavo, o neto da D. Margarida que abriu a torneira e " regou-me" como diz. A D. Margarida recrimina-o, apanha uma constipação e a Menina Laura fica zangada comigo. Entramos em casa sorrateiramente, os ânimos estão exaltados na sala, ouço a Mãe a gritar e o avô a dizer para se acalmar. A D. Margarida seca-me o cabelo, limpa-me a cara e muda-me a roupa. Depois, olha muito séria para mim e diz,

O INSATISFEITO - PARTE III

  Oh, Pedro, diz o avô, não te preocupes, estão aqui. Chegaram há cerca de meia hora, a Laura foi dormir, mas o Miguel está aqui na cozinha connosco. O que é que se passou?... Ah, conheceste alguém e estás a pensar em voltar a casar?... Pois, compreendo que a ideia não agrade muito à Laura, mas tens todo o direito de refazer a vida, voltar a ser feliz....não, não, deixa-o ficar aqui uns dias... e claro que sim, conversamos com a Laura. Desliga e suspira profundamente. A avó comenta, o Pedro vai casar novamente e a Laura ficou desorientada. O Pedro diz que foi uma cena muito desagradável e que isto de fugir a meio da noite com o Miguel é ridículo,  responde o avô, será que a nossa filha não compreende que isto não abona nada a favor dela, que o Pedro pode em qualquer coisa alterar a situação e ela começar a ver o filho em dias específicos e acompanhada por alguém da confiança do Pedro? Agora é a avó quem suspira e eu escuto tudo atentamente.  O Pai recebe muita gente em casa, mas nem to