DESENCONTROS - O DIÁRIO DELA
Dia 0
"Escreve" dizem-me...
Como se pudesse descarregar no papel toda a dor que ressoa na minha alma...
Como se este diário fosse um romance de cordel, escrito pela heroína sofrida, com um final feliz.
Dia 1
Tentei escrever...
Mas tudo falhou e por isso, tentei escrever sobre a chuva.
Porque está uma noite de chuva e estou sozinha.
Num palco, onde só existo eu, a luz do candeeiro e chuva...
Dia 2
Chuva...
Chamei-lhe, uma vez, impiedosa; noutra, agradeci-lhe por ter ocultado as minhas lágrimas.
Hoje não sei o que lhe chamaria ou o que lhe agradeceria.
Estou cansada e doente e nem de ti quero falar.
Por isso, hoje vou fechar a luz mais cedo e, se a chuva resmungar, deixa.
Dia 3
O pior de tudo é a angústia que fica, o que não consigo explicar...
Porque não sei porque partiste...
Sei que te desejei intensamente; amei-te loucamente e continuo louca, porque tenho saudades de ti...
Ontem, porque hoje tenho que fazer qualquer coisa...
Qualquer coisa diferente, que mude o tempo e a vida.
O quê, ainda não sei.
Excerto do meu conto/história de amor publicado na colectânea "Beijos de Bicos" da Editora "Pastelaria Studios"
Comentários
gostei muito!
:)
...
Este "sobre" é, presumo, acerca dela. Da chuva. Escrever sobre a chuva não é, em todo o caso, uma tarefa impossível. Podia, quanto mais não fosse, ser uma forma de a confundir com gente que bate à porta ou à janela. E, afinal, não era senão a neve.
Escrever "sobre" a chuva - em cima dela - seria, se calhar, um desafio estimulante!... Sobretudo quando ela tenta lavar as lágrimas que correm sobre a saudade. Sobre a angústia dos dias que se confundem com a solidão.
Esse, contudo, seria outro monólogo. Talvez escrito com outras palavras.