O DIVÓRCIO PARTE II

 

Pois, não sei o que fazer, remato e a minha sobrinha Margarida suspira, Leonor, Leonor, não sei o que te dizer, é uma situação delicada, confessa, mas se queres a minha opinião, tu e o Ramiro já não estavam bem há algum tempo e isso era visível para todos.

Abro a boca de espanto, o que é que isso significa? pergunto, o nosso casamento foi sempre um pouco tempestuoso, mas isso é porque somos pessoas com personalidades fortes.

A Margarida volta a suspirar, teimosos queres tu dizer, atalha, nas reuniões familiares, notava-se que tinham discutido forte e feio antes. Ok, às vezes, essas reuniões podem ser aborrecidas, mas organizamos um jogo, qualquer coisa que nos faça rir e o Ramiro ficava sentado com ar de mártir e tu estavas tão amuada que nem falavas, acrescenta.

Olho-a incrédula, é verdade isso? repito e a Margarida encolhe os ombros, o que tens a fazer é arranjar um advogado que leia esses papéis e prepare um bom acordo. Vocês têm bens em comuns e tens direitos.

Estás muito ajuizada, Margarida, quem diria!!! Sempre foste tão travessa, comento e a minha sobrinha volta a rir, todos temos que crescer ...E, depois, tu não és a Leonor de Aquitânia? Ela era uma mulher forte, que não desistia.

Seria? penso no regresso a casa, está tudo muito silencioso, se o Ramiro cá estivesse, pairava no ar uma música no ar e sinto-me tão sozinha que ligo o leitor de CD's.

É uma ária de ópera, não a consigo identificar, o Ramiro era o expert, suspiro e não sei porquê, desato a chorar.

Percebo finalmente que é o fim, tenho que aceitar que é o fim, volto a repetir após rever na minha mente tudo o que aconteceu durante o casamento e no dia seguinte, ligo para o advogado que a Margarida me aconselhou.

É um pouco difícil conseguir uma reunião, mas no dia marcado, lá estou na sala de espera com o envelope com os ditos papéis que não consegui abrir.

O Dr Aragão não deve ter mais de quarenta e cinco anos, é educado e bom ouvinte, não me interrompe enquanto explica a razão da minha visita.

Entrego o envelope que ele abre cuidadosamente e lê rapidamente os papéis. Começa então a fazer perguntas, quer saber se a casa já está paga, quem negociou o empréstimo, quero ficar eu com a casa?

Ele quer ficar com a casa? Mas ele sempre se queixou que fica longe do escritório, que perdia mais de uma hora para chegar ao escritório, observo e o Dr Aragão sorri.

Não, o Dr Ramiro está a propor a venda e a divisão em partes iguais do resultado da venda, por isso, é que estou a perguntar se a senhora quer ficar com a casa, concluí.

NÃO, DE FORMA ALGUMA! quase grito e o advogado volta a sorrir, compreendo, o que quer então fazer?

Mas eu não sei o que fazer...


CONTINUA

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