HISTÓRIA DA FAMÍLIA FIM

 

A casa cheira a pó, a abafada, abro de imediato uma janela e o Pai acende a luz.

Há livros pelo chão, jornais rasgados e alguém andou a queimar papéis.

O computador desapareceu, as roupas também, não há qualquer vestígio do Frederico.

O que é que o teu irmão anda a fazer? percebo que o Pai está a pensar o pior e tenho que admitir que o Frederico fugiu.

Mas porquê? O que é que aconteceu de tão grave que ele não pode falar connosco? repito quando regresso exausto a casa e a Cristina, se tem uma opinião, decide guardá-la para si.

No dia seguinte, decidimos ir até à empresa, pode ser que o tenham enviado a algum lado, diz o Pai, mesmo que tivesse que partir à pressa, não nos telefona? ataco e peço de imediato desculpas, estou de cabeça perdida tanto como ele.

A recepcionista pede-nos para aguardar uns minutos, alguém vem já falar com os senhores, explica e é o próprio Director Financeiro quem nos conduz até uma das várias salas de reunião.

Nota-se que está preocupado, respira fundo várias vezes antes de falar.

Não há forma fácil de dizer isto, começa, mas temos razões para acreditar que o Frederico desviou dinheiro da empresa para seu proveito. Ainda não temos todos os detalhes, estamos ainda a investigar como isso aconteceu, acrescenta, mas esta é a situação. Já avisamos a Polícia que está a conduzir a sua própria investigação.

O Pai interrompe, pede mais detalhes, mas o Dr Fonseca abana a cabeça, diz que é tudo o que pode dizer no momento.

Desce connosco no elevador, pede desculpa por nos dar tão más notícias e nós saímos para o parque de estacionamento.

Ficamos sentados uns quinze minutos no carro, sem falar, o que é que há a dizer? pergunto à Cristina que encolhe os ombros, aquele teu irmão é um egoísta e não digo pior porque não te quero magoar!

Mas eu não estou só magoado, estou furioso, capaz de bater no meu irmão até ele ficar inconsciente.

Arrependo-me de imediato, mas o Pai confessa ter tido a mesma reacção.

Seguem-se entrevistas dolorosas com a Polícia, sentimos que as nossas vidas são esquadrinhas ao milímetro e durante uns tempos, nem queremos sair fora do círculo da família.

Até que um dia recebo um mail desconhecido, de alguém que assina " O desejado" e lembro que esse era o código que eu e o Frederico utilizávamos quando precisávamos de cobertura.

O Frederico diz que está bem, que é melhor não saber onde ele está e pede para destruir de imediato o email.

Aquele endereço de email vai ser eliminado, abrirá outro no outro servidor, mas assinará sempre " O desejado".

Mas nada diz sobre o que fez ou pede desculpas pela aflição, embaraço que causou na família.

Como diria a Cristina, típico do egoísta do meu irmão! Afinal, conheço-o muito mal.

FIM


Comentários

Elvira Carvalho disse…
E bom é assim mesmo na vida real. Uma mão tem cinco dedos e nenhum é igual. Assim são os filhos.
Abraço saúde e parabéns por mais uma história bem construída.
Um conto muito bom. A Vida é feita de todo o tipo de pessoas. Depois, os irmãos são sempre diferentes uns dos outros. A Atitude do Frederico foi pura cobardia!

Até ao próximo conto :))
~~
Coisas de uma Vida

Beijos, boa tarde.

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