A DISCUSSÃO

 

É o próprio director da missão quem lhe entrega a carta do Pai marcada " URGENTE".

A Clarinha fica perplexa, sabe que está em falta com a família, já lhes devia ter escrito, enviado um email, um SMS a dizer que está tudo bem, mas o trabalho é tão exigente que tudo o quer é tomar um banho e dormir.

Lamento, murmura o director e a Clarinha fica assustada, alguém morreu? Mas quem? O Gustavo, a Matilde, um sobrinho? O filho? Não pode ser o Pai se é ele quem escreve.

Abre a carta apressada, lê a primeira linha, abafa um grito, foi a Mãe, um ataque cardíaco fulminante, mas porquê? a Mãe era uma senhora ainda jovem, cheia de energia e criatividade.

Faz o saco à pressa, apanha uma boleia até ao aeroporto mais próximo e um dia depois, aterra na cidade onde sempre viveu.

A Tia Rita está à espera dela, como sempre elegante, mas a sobrinha não gosta de a ver de preto, torna a notícia mais verdadeira.

Choram as duas, a Rita é a primeira a desfazer o abraço, é melhor irmos, diz, o teu Pai já deve estar em casa à tua espera.

O Pai deve estar muito magoado comigo, porque é que não me avisaram mais cedo? pergunta a Clarinha e a Tia fica muito séria, avisaríamos se soubéssemos onde estavas! a voz soa dura, desculpa, desculpa, ainda estamos todos muito...

Eu compreendo, interrompe a sobrinha e aperta-lhe o braço, a culpa é toda minha, devia ter dado notícias mais amiúde!

Agora não podemos pensar nisso, aconselha a Tia, ninguém esperava que a tua Mãe tivesse um ataque cardíaco de repente, tinha feito um check-up há pouco tempo!

O Pai recebe-me com a reserva habitual, acena com a cabeça quando lhe digo que vou ficar no meu antigo quarto por uns dias, até me organizar, esclareço.

A Tia Rita despede-se, a Matilde e o Gustavo devem aparecer à hora de jantar, avisa, é natural que eles estejam um pouco magoados, mas não te preocupes!

Vou tomar um banho, encontro roupa minha no armário, ainda me serve e está limpa, aproveito e ponho a que trouxe na Máquina.

A Matilde encontra-me na cozinha a fazer uma tosta mista e um chá, olha quem é ela, exclama, a desaparecida! acrescenta trocista.

CONTINUA