A DISCUSSÃO PARTE II

 

A Matilde diz tudo o que lhe vai alma, algumas coisas bem injustas, mas a Clarinha não a interrompe.

Sente que a irmã precisa de desabafar, em certos pontos até tem razão, a palavra certa é abandono, ela abandonou tudo por amor a uma causa.

A Matilde para de falar, tem que respirar, sente-se tonta e a Clarinha rebate calmamente o discurso.

Cala-se finalmente, a Matilde não diz mais nada e é o Gustavo que desanuvia o ambiente pesado que reina na cozinha.

O Gustavo também a repreende, mas as palavras são gentis, há uma ligeira troça, espero que fiques algum tempo, remata, o Pai precisa de ajuda!

Estou perfeitamente bem, contrapõe o Pai, vamos jantar a qualquer lado? Ou encomendamos por telefone e comemos aqui?

Talvez seja melhor encomendar, responde a filha mais velha, estamos muito emotivos!

Sim, concorda o Pai, não vamos fazer cenas no restaurante! Aliás, hoje não se fala mais no assunto, vamos apenas gozar a vinda da Clarinha, e sorri.

O Gustavo encomenda pizzas, a Matilde põe a mesa e quando se sentam à mesa, desviam a conversa para assuntos gerais.

Falam na nova empresa do Gustavo, dos projectos da Matilde e os planos do Pai para a reforma, e tu, Clarinha? querem saber.

A Clarinha suspira, não pensei bem nisso, comenta, acho que vou fazer um intervalo e retomar as minhas actividades como formadora. Tenho que marcar uma reunião na organização e discutir isso com eles?

E o Mateus? E o teu filho? Vais falar com eles? o Inspector está curioso, mas a filha abana a cabeça, também não pensei nisso, confessa, sei que o Mateus voltou a casar e talvez não aceite bem eu querer ver o meu filho.

Tem toda a razão, a Matilde é veemente, deixaste o miúdo com os avós e fugiste para o Quénia ou outro País similar!

Tomei a decisão que me pareceu mais adequada, repete a Clarinha, deixei-o num lugar seguro!

Mas és a Mãe dele! grita a Matilde, mas nem todas temos...a irmã procura a palavra adequada, a mesma sensibilidade para ser Mãe!

Ora treta! e a Matilde levanta-se da mesa, desaparece na cozinha, ouvem-na a abrir a máquina de lavar a loiça e depois fechá-la com estrondo.

Não deixa de ter uma certa razão! o Pai é diplomata, não queres mesmo tentar reatar a ligação com o teu filho?

CONTINUA


Comentários

Muito bem. Acho a Clarinha muito pouco interessada no filho. Se calhar também não teve contacto com ele. Vamos a ver como vai correr!!
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É preciso fazer a natureza especial ...
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Beijo, e um excelente fim de semana.
Elvira Carvalho disse…
Parece que é genético, não. A clarinha acabou por fazer ao filho o que a mãe lhe fez.
Abraço e saúde

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