OS DISPARATES DO GONÇALO PARTE IV

 

Ninguém fala, apenas a Inês sorri trocista, ah, demoraram muito tempo e mais tarde, confesso à Sofia que o tio Gustavo parecia ter asas tão depressa se aproximou da Inês.

A minha prima cambaleou com o impacto da bofetada que ficou marcada no rosto e o sorriso trocista, a descontracção desapareceram.

Cinco minutos depois estávamos no carro, proibidos de dizer um ai que fosse, arranco-vos o cabelo, ameaça o Matias, mas estamos os dois tão surpreendidos que não temos coragem de dizer seja o que for.

O " esquadrão negro" como lhes chama a Inês quando recupera o humor, ou seja, a Tia Carolina e a Sofia estão no hall de entrada.

As duas estão muito sérias e tenho quase a certeza de que avisaram os Pais, mas a Tia sossega-me de imediato.

Ainda não telefonei aos teus Pais, diz, porque, primeiro que tudo, tenho que entender o que se passou, porque é que desobedeceste às instruções deles. E, quanto a ti, Inês, também vamos ter uma grande conversa. Para já, vai para o teu quarto.

A Inês não se atreve a protestar, passa a correr pela Tia Carolina, fecha a porta do quarto com estrondo.

A Tia faz-me sinal, entramos na sala, o Matias desaparece na cozinha, leva a Sofia com ele e eu fico só com os Tios.

Aguardam que eu fale, conto os acontecimentos da noite, os tios suspiram, e achaste que a Inês era a pessoa ideal para te ajudar? repete o Tio Gustavo, vocês não sabem pensar? Traíste a confiança dos teus Pais, é o primeiro passo, mas o pior de tudo, foi a mentira, o secretismo. Pelos vistos, os Pais do Tadeu não sabiam da festa e muita coisa podia ter corrido mal!

Gonçalo, todos passamos por momentos de revolta, achamos que o Mundo está contra nós, interrompe a Tia, mas também temos que começar a pensar, a encontrar alternativas para solucionar os problemas sem magoar os outros.

Hoje, não vamos falar com os teus Pais, comenta o Tio, amanhã, vamos contar-lhe tudo e eles decidem o castigo desta indiscrição.

Partilho o quarto com o Matias, o Edgar foi passar o fim de semana fora, mas não quero falar no assunto e o meu primo entende, dá-me uma palmada nas costas e aconselha-me a dormir.

Mas eu não consigo dormir, penso no que os meus Pais vão dizer, os Tios têm razão, traí a confiança deles e eles até são uns bons Pais.

São simpáticos, atentos, apoiam-nos em tudo, dão-nos liberdade para pensar e agir...

O que é que eu fui fazer?

CONTINUA