A GOVERNANTA PARTE IV


Ouço uma gargalhada, parece vir do quarto da D.Carolina, curiosa bato à porta e entro.

A Inês está com um livro na mão, declama um trecho, acabo por me rir também, a voz, a cara de Inês são muito expressivas.

Melhor parares agora, Inês, não aguento muito mais, pede a D. Carolina, tinha-me esquecido das tuas vozes.

Mas esse é o meu objectivo, diz a Inês, divertir a Mãe, mantê-la feliz e estavam os manos preocupados!

Preocupados com quê? questiona a Mãe, mas a filha encolhe os ombros, dá-lhe um beijo e saí do quarto.

Ouço-a falar com os sobrinhos, já está a preparar qualquer coisa, espero que não seja um jogo violento para revolucionar a casa.

A D. Carolina suspira, arranjo-lhe as almofadas, posso ajudar em alguma coisa? mas a D.Carolina abana a cabeça, fecha os olhos.

A Filipa chega pouco depois, deixo o jantar pronto no forno, alguém há-de fazer o molho para a salada, talvez o Edgar, não sei.

Está muito desanimada, explico ao jantar, a Inês fê-la rir, aquela rapariga é muito expressiva. Não me admira que não esteja a preparar uma palhaçada qualquer com os sobrinhos.

É tudo muito recente, interrompe o meu marido, temos que dar tempo ao tempo. Mantém-te calma! repete.

Quando lá chego no dia seguinte, a D.Carolina foi para a fisioterapia, o Edgar está a terminar o pequeno almoço e a Inês tenta convencer os sobrinhos a vestirem o casaco.

Os miúdos só se riem, está a ser complicado, mas eu intervenho e os três saem a correr, pois já estão atrasados.

A Mãe? Que tal passou a noite? pergunto, não esteve muito confortável, explica o Edgar, ajudei a Filipa a mudá-la de posição e ela sossegou. Mas eu acho que ela está preocupada com qualquer coisa, confidencia.

A Mãe acaba de perder o Pai, está doente, atalho, é natural que esteja preocupada! acho que é mais do que isso, afirma o Edgar, até já falei com a Tia Teresa sobre isso, mas ela desvalorizou o assunto!

Ou não o quis discutir consigo! penso, a D.Carolina falará quando for oportuno, nunca antes e muito menos se se sentir pressionada! digo alto.

O filho já perdeu o interesse na conversa, está também atrasado e eu fico sozinha.

Arrumo primeiro o quarto da D.Carolina, fico espantada por não haver roupa espalhada pelo chão no quarto do Edgar e tenho vontade de fugir quando entro no da Inês.

O meu telemóvel vibra, é a D.Teresa, que é que aconteceu? e recrimino-me por pensar logo o pior.

CONTINUA


Nota:

Testei positivo à Covid 19 e estou em isolamento.

Infelizmente, há dias melhores e outros piores. Por isso, posso não escrever todos os dias.


Comentários

Elvira Carvalho disse…
Nós, eu e o marido testámos positivo no final de Abril. E só o soubemos porque fazíamos todas as semanas o teste. Se assim não fosse não tínhamos sabido, já que não tivemos qualquer sintoma.
Espero e desejo que esteja bem e que não tenha complicações.
Abraço
Elvira
"Quando lá chego no dia seguinte, a D.Carolina foi para a fisioterapia, o Edgar está a terminar o pequeno almoço e a Inês tenta convencer os sobrinhos a vestirem o casaco."... descrever estes cenários numa única frase parece só estar ao alcance dos grandes escritores. Mas tu fá-lo com uma singeleza e uma elegância sublimes. A maneira como sabes descrever as cenas faz com que nos sintamos lá, integrados no desenrolar dos acontecimentos. Uma escrita de topo, uma escrita top, literariamente perfeita. Muitos parabéns. Há que pensar em editar... as melhoras pelos outros motivos.
Gostei do episodio. A Dna carolina começa a reagir...
Desejo-lhe as melhoras
.
Coisas de uma Vida

Beijo, e uma boa noite

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