A GOVERNANTA PARTE II

 

Eu sei isso muito bem! riposta a Inês, mas posso ler em voz alta, fazer vozes para cada personagem e a Mãe vai adorar, concluí.

Não estamos a falar disse, corrige a Filipa e a irmã encolhe os ombros, ajudo-a também a vestir e a despir-se, ok? Que complicados vocês são!

Eu vou mudar-me para cá, explica a Filipa, pelas razões óbvias. Só enquanto a Mãe precisar...acrescenta, entre todos, vamos tentar que a Mãe tenha uma recuperação fácil.

Os irmãos ficam em silêncio por uns minutos, não sabem muito bem como é que a Mãe está a aceitar a morte do Pai e eu suspiro também.

Isso também me está a preocupar, não sei o que esperar, devo ou não falar com ela sobre o Dr Gustavo? confesso, observa-a, se ela falar no assunto, fala, caso contrário, conta-lhe anedotas, inventa histórias engraçadas, fá-la rir, aconselha o meu marido.

Quando A D.Carolina entra, a Filipa empurra a cadeira de rodas, a primeira coisa que noto é que está mais magra, os olhos muito tristes, aperta-me a mão quando me vê, obrigada, D. Margarida e eu apenas sorrio.

Ajudo a Filipa e a D.Teresa a instalá-la no quarto, a Filipa está indecisa, não sabe se voltar para a clínica é uma boa ideia, toco-lhe no braço, vá trabalhar sossegada, eu fico até a Filipa ou um dos seus irmãos chegarem!

Nem pensar! interrompe a D.Teresa, eu já combinei tudo com a Madalena e fico aqui o tempo que for preciso.

Eu estou bem, interrompe a D Carolina, vou descansar e se precisar alguma coisa, peço à D.Margarida. Por isso, vão as duas trabalhar e se acontecer alguma coisa grave, que não vai, frisa, telefonamos.

Nem a filha nem a irmã estão à vontade com a ideia, percebo pelos olhares que trocam, mas acabam por se ir embora.

Quero que feche as persianas? pergunto, mas a D.Carolina abana a cabeça, não, por favor deixe-as abertas, quero que a luz entre, quero ouvir barulho.

Faço-lhe um chá, uma limonada? oferece, mas a minha patroa volta a abanar a cabeça e fecha os olhos.

Interpreto como um sinal de que quer ficar sozinha, deixo a porta do quarto aberta e tento pôr alguma ordem na sala.

Nem quero pensar como está o quarto de brinquedos, a Filipa instalou lá os filhos e disse-lhe que podem fazer o que quiserem, desde que o deixem arrumado.

Se saírem à Tia Inês, nada vai estar no lugar.

CONTINUA

Comentários

Elvira Carvalho disse…
Continuo a acompanhar com muito interesse.
Abraço, saúde e bom domingo
Lembrei dos brinquedos meus
Em um baú de madeira
Que enchia a sala inteira
Quando o abria. Ai, meu Deus,
Minha mãe com os ralhos seus
Fazia eu os por de volta
Menos um. Eis a revolta
Que eu sentia e remoía.
Mas era a minha mania
Ver todos à minha volta.

Crianças são alegrias da casa. Belo texto. Parabéns! Abraço fraterno. Laerte.
A recuperação da Carolina vai ser lenta, mas ela vai dar a volta por cima!
-
Recebam com carinho ...

Beijos, e um excelente Domingo.

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