O CASO FIM

 

O Pai volta a chegar tarde, encontra uma ceia deliciosa e um comité de boas-vindas, vocês sabem que não posso discutir uma investigação em curso, protesta.

Sabemos isso na perfeição, atalha a Mãe, mas podes dizer se o Meireles está ou não envolvido no caso... É tudo o que queremos saber, e o Pai ri-se.

Senta-se, bebe um pouco de chá, ok, digamos que a " pen" explica muita coisa, até a ligação a um caso em aberto aqui e sim, frisa, o Meireles infiltrou-se na célula para tentar perceber a dinâmica do esquema e identificar os culpados.

Eu sabia que o Meireles não estava envolvido! interrompe a Mãe, foste tu quem o treinaste e sempre disseste que, apesar daquela faceta radical, ele era inteligente e íntegro.

Também estou muito contente, exclamo, mas ainda não percebi muito bem porque é que ele me entregou a "pen"... Não pôs em risco o disfarce dele?

O Pai encolhe os ombros, talvez pensasse que fosse mais fácil, diz, se fosse ao correio ou enviasse por estafeta, deixava pistas. Visto de fora, ele deu um encontrão a alguém e ninguém viu que ele colocou a pen no teu bolso.

Estou muito contente, repete a Mãe, isto significa que vais finalmente descansar. Eu também vou descansar, acrescenta, porque tu ficas nervoso e eu também.

Rio, a família inteira vai respirar fundo, até os gémeos, concordo e despeço-me.

Quando acordo, o Pai ainda está a dormir e a Mãe já saiu. Resolvo ir até ao ginásio, tenho a certeza que, depois da cena de ontem, o Armando não vai aparecer.

Passo duas horas agradáveis no ginásio, almoço lá perto e entro no escritório às duas em ponto.

Sabes a novidade? segreda a Luísa, não, estou a chegar agora, respondo, o Armando pediu transferência, vai trabalhar para a sucursal no Norte, sabes alguma coisa sobre isso? Vocês pareciam tão amigos!!! continua.

Até ele se armar em parvo! desabafo, a Luísa fica surpreendida, pressiona-me para ter mais informações, mas eu recuso-me a abrir a boca.

Então, Armando, és tão cobarde como a Mãe disse! penso, mas afasto esses pensamentos negativos da mente, os próximos dias prometem ser interessantes.

Sabemos que está a ser preparada uma grande operação, o Pai está nervoso, a Mãe até vai trabalhar no dia de folga, porque tem que " ter a mente e as mãos  ocupadas", confessa.

Eu mal consigo respirar, até tenho uma dor no peito e naquela noite, eu e a Mãe ficamos à espera na cozinha.

O Gustavo telefonou ao fim da tarde, ia a uma festa, gozou com o nosso nervosismo, até parece que é a primeira operação que o Pai dirige, comenta e desliga com grandes gargalhadas.

São quase duas da manhã quando sentimos a porta da rua a abrir-se, precipitamos-nos para o corredor, o Pai sorri-nos.

Atrás dele, está o Meireles, vestido de cabedal preto, muito sorridente e com um brilho trocista no olhar.

Clarinha, muito obrigada, diz e eu fico presa àquele olhar trocista.

FIM


Comentários

Elvira Carvalho disse…
Este Meireles é uma personagem muito instigante. A Filipa esteve enrabichada por ele. Será que rebelde Clarinha se vai interessar também? Penso que há uma considerável diferença de idade, mas...
De qualquer modo penso que o Meireles considera o seu mentor quase como um pai, e não terá outros sentimentos pela família que não a amizade.
Abraço saúde e bom fim de semana
Acabou muito bem. Obrigada por mais um belo conto.
Gostei bastante :)
.
Não quero o silêncio nem a solidão...

Beijos e um bom fim de semana.
Blues Hendrix disse…
¡Hola, Marta!
Decirte que tienes un excelente contenido.
Te dejo el enlace de mi blog por si te apetece pasarte por él, seguirnos y comentarnos.
Saludos desde blueshendrix.blogspot.com
¡Nos leemos!

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