COM FRIO


As manhãs começam a estar frias e eu, friorenta, já fui buscar um casaco mais grosso.
O vento, à minha frente faz rodopiar as folhas, como se me dissesse
“Prepara-te, Marta! Vou começar a soprar com mais força e não te vou dar descanso.”
Pouco me importa o vento; o que me preocupa é o frio e é por isso que hoje saio, relutante de casa.
Estranho pensar que há alguns anos não me custava nada sair de casa para vir trabalhar!
Como nós nos modificamos; como compreendemos e vemos as coisas doutra maneira; como aquelas pessoas, por quem tínhamos tanta consideração, desceram até ao último patamar da minha escada de vida.
Estranha a sensação de que para essas pessoas, isto não passa de uma grande brincadeira; pouco lhes importa nós termos “investido” parte da nossa energia e dedicarmos tanto do nosso tempo para construirmos uma coisa a partir do nada!
Nem um “obrigado”, nem uma explicação – somos tratados como se não existíssemos: como simples “zeros”!
Numa das suas crónicas, Edson Athayde fala do seu tio Olavo, "que coleccionou durante a vida de trabalho frases que ilustram o que é na realidade a vida de quem trabalha para assegurar o dia seguinte".
Uma dessas frases retrata exactamente o que acabo de dizer e termina com “Isto significa que está a sonhar e corre o risco de se atrasar”.
Raramente me atraso, mas isso é porque sou uma boa profissional e se assumi um compromisso, mesmo que haja problemas, devo cumpri-lo até ao fim.
Tão preocupada que eu estou com o beijo que recebi e com as suas consequências;
oh, vou gozar o momento e deixar que ele me beije novamente!
P.S.: A fotografia chama-se "A Calma" e é de Ricardo Martinelli

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