MIGUEL PARTE IV
O Bernardo escuta-me atentamente, depois fica uns instantes calado e diz, compreendo que fiques aborrecido, mas tenho que concordar com o teu Pai, não estás na empresa há muito tempo, embora o teu trabalho seja excelente.
Talvez o que te aborreça seja o facto de ter sido a Filomena a ser promovida, acrescenta e após um breve momento de reflexão, tenho que admitir que foi.
E fui um pouco odioso há pouco, confesso, tivemos uma grande discussão... perguntei-lhe se ela sabia, mas ela negou...
O Bernardo volta a suspirar, não foste nada diplomático, concorda, e só tens duas hipóteses: ou continuas a fazer o teu trabalho como até aqui e esperas pela próxima promoção ou procuras discretamente uma nova posição.
Também já pensei nisso, admito, mas até gosto de trabalhar naquela empresa.
Então, encontra uma forma de ultrapassar o facto da Filomena ter sido promovida, aconselha o Bernardo.
Ele tem razão, sorrio, despeço-me, já passa das onze da noite, estou a abusar, observo, mas o Bernardo abana a cabeça, não te desculpes, precisavas de desabafar!
Está frio na rua, apresso-me a entrar no carro.
Pensei que a Filomena já estava a dormir, mas ela continua sentada no sofá, exige saber onde estive.
Não vamos continuar a discutir, interrompo, fui até casa do Bernardo...
Ah, esse idiota, troça a Filomena, não percebo porquê! protesto.
A Filomena encolhe os ombros, quero lá saber dos teus amigos! Estás aborrecido porque fui promovida; esse é que é o problema! Não gostaste nada de ser ultrapassado por uma mulher, confessa lá... e ri-se.
Não me contenho e faço o que nunca um homem deve fazer: esbofeteio-a.
A Filomena deixa de rir, eu não acredito no que acabo de fazer.
CONTINUA
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