MATILDE PARTE IV
Mas? insiste a Dra Lúcia, ok, não fiquei muito contente por o Bernardo ter decidido procurar um apartamento sem discutir primeiro o assunto contigo, explico, ele redimiu-se depois, pôs-me à vontade, mas fiquei um pouco magoada.
Há uns meses, teria ficado calada, interrompe a Dra Lúcia, a remoer tudo, mas já foi capaz de falar, de explicar ao Bernardo do que não gostou. É isso mesmo que quero que faça... é um bom passo!
Mas ainda não estou totalmente convencida, confesso à Tia Rita, o Bernardo não quer aceitar as minhas economias, acha que é melhor ter um fundo de maneio.
Tem toda a razão, concorda a Rita, sempre achei o Bernardo um rapaz sensato, têm bons salários, são jovens, e se souberem negociar... pagam a casa em dois tempos!
Suspiro, às vezes, fico um pouco irritada com esse positivismo, digo e a Rita solta uma gargalhada, já há muitas sombras no Mundo, temos que ver o lado positivo das coisas. Goza a vida, Matilde, não te preocupes com os pormenores.
O preço do apartamento não é muito alto, o Bernardo diz que não temos que pedir um grande empréstimo, não queres usar as minhas? volto a oferecer, mas ele recusa.
No Banco descubro uma outra faceta do Bernardo: é assertivo, forte, negoceia um bom empréstimo, não admira que lhe tenham oferecido uma outra promoção.
Os meses seguintes são uma confusão: escritura, escolha de móveis (contacto directamente os fabricantes, obtenho preços vantajosos), mudanças e o meu irmão Gustavo reclama uma festa de inauguração.
A Clarinha faz coro com ele, deixam-me gozar a casa primeiro, ainda tenho muita coisa a fazer, protesto.
Nós ajudamos-te, declara a minha irmã e a minha cunhada suspira, sempre tão irreverente, critica.
O que achas da ideia? pergunto ao Bernardo quando ficamos sozinhos na nova casa.
Vamos descansar primeiro e depois pensamos nisso, afirma o meu companheiro, porque temos que dar essa festa, a Clarinha não se vai calar.
Rio alto, o que surpreende o Bernardo e até a mim, há muito que não me rio tão à vontade.
CONTINUA
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Abraço e saúde