O REGRESSO - PARTE III
O Nicolau prepara-se para tomar café quando a campainha toca perto das duas naquele domingo.
Quem será? murmura, não convidei ninguém e fica surpreendido por ver a Natália na soleira da porta.
Uma Natália mais magra, mais envelhecida, aquele ar de desafio que o Nicolau tanto apreciava nela desapareceu.
Desculpe aparecer assim, Nicolau, desculpa-se, devia ter telefonado antes, mas vim dar um passeio e como dei comigo aqui perto, resolvi bater-lhe a porta.
Minha cara amiga, entre, entre, convida o Nicolau, ia tomar um café, acompanha-me?
A Natália aceita, sentam-se os dois na cozinha, calados.
O Nicolau sente que ela está perturbada, melhor que seja ela a abordar o assunto.
Sabe, Nicolau, estou farta que me digam que vai correr tudo bem, que agora estou em casa, ao pé da família e dos amigos, começa a Natália.
E, não é assim? pergunta o professor.
Não, não é assim, responde a Natália e suspira.
Conta-lhe então que conheceu alguém na América, um professor por quem se apaixonou a ponto de pensar seriamente em ficar lá.
Um dia, foram ao teatro, resolveram regressar a casa a pé, estava uma noite tão bonita, Nicolau, continua a Natália, mas alguém bebeu demais nessa noite.
Galgou o passeio, atirou o amigo ao ar, empurrou-a contra o muro do parque, ela teve sorte, escapou apenas com um braço partido.
Mas o seu amigo não? e a voz do Nicolau é gentil, a Natália morde os lábios, não, teve morte instantânea.
Foi horrível, Nicolau, continua, o interrogatório da polícia, as cerimónias fúnebres, os olhares de pesar, não podia lá ficar, soluça.
O Nicolau afaga-lhe a mão, compreensivo.
Apanharam que o atropelou? a Natália abana a cabeça, seria hipócrita da minha parte dizer que vai passar, não passa, observa, mas vai aprender a viver com isso. Não vai ser fácil, vai haver dias em que vai viver tudo novamente, mas, Natália, tem que se esforçar.
Esforçar-me? repete a amiga, o que quer dizer?
CONTINUA
Comentários
Abraço e saúde
*
Seduzida pela leveza do horizonte
*
Beijos e um dia feliz
Hoje também estou aqui » Sempre Miúda