MATILDE - PARTE III

 

Tocam à campainha; é o vizinho, o filho estuda na mesma escola da Clarinha e hoje, é o dia de lhe dar boleia.

Apresso-me a tomar duche, vestir roupa limpa, já estou atrasada.

Despeço-me rapidamente da Mãe, parece estar mais calma e apanho o autocarro por um triz.

Mesmo assim, chego cinco minutos atrasada, o professor não gosta muito da interrupção, balbucio uma desculpa e a Maria pergunta-me baixinho, onde é que andaste? O Filipe está doido à tua procura.

Encolho os ombros, o Filipe não me preocupa agora, concentro-me nas aulas; tenho que me preparar para os exames.

Não vejo o Filipe quando saio; tenho que entregar uns livros na biblioteca e depois sigo para o escritório.

Hoje, só vou estar lá uma hora, hora e meia, quero acabar um trabalho e toda a informação está no meu computador.

O Filipe está à minha espera, encostado à porta do escritório, com um ar furioso.

Espera que me aproxime dele e agarra violentamente o meu braço, exigindo saber porque é que não lhe respondo aos SMS.

Onde estiveste ontem? pergunta, apertando-me o braço, enviei-te imensos SMS.

Queres fazer o favor de me largar o braço? peço, sem elevar a voz, o meu Pai sempre me aconselhou a não mostrar medo, estive em casa do meu Pai e dormi lá.

Mas não te disse já para me responderes? Quero saber onde estás e o que fazes, continua o Filipe, sem me largar o braço.

Já te disse para me largares o braço, repito, e, depois, só tenho que me justificar aos meus Pais, a mais ninguém.

O Filipe ergue a mão, como se me fosse esbofetear, mas eu lembro-me das demonstrações de judo que o Gustavo fazia na sala para divertir a Clarinha e afasto o corpo.

A mão do Filipe bate no ar, não atinge a pessoa que vai a passar por milímetros.

Parva! Tu obedeces-me! grita, mas felizmente para mim, o Gonçalo aparece nesse momento.

Posso saber o que se passa aqui? a voz do Gonçalo é calma, mas há ali um leve tom de ameaça.

Eu sorrio, não é nada, Gonçalo, o Filipe já se vai embora, respondo e o Filipe não tem outro remédio senão ir-se embora.

CONTINUA


Comentários

Elvira Carvalho disse…
Foge desse tipo, antes que seja tarde demais, Matilde.
Abraço e saúde
Emília Pinto disse…
E assim começa a violência doméstica!!! Se é assim agora, que será depois? Beijinhos e até ao próximo capítulo. SAÚDE!
Emilia
Emilia
Gostei deste capitulo. Concordo com a Emília Pinto!
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O sol jubila no universo, em esplendor
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Beijo, e um excelente dia

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