O CASAMENTO PERFEITO
Continuo a dizer que isto de ser a irmã do meio, não tem piada.
A Rita acha que é apenas uma fase, a Mãe não concorda e diz que serei sempre a voz da razão entre o Gustavo e a Clarinha.
Como se fosse possível lidar com a arrogância do Gustavo e a teimosia da Clarinha!
Como se tu também tivesses um feitio fácil, comenta o simpático do meu irmão.
E tu não te tivesses esquecido da Clarinha no parque, observo e o Pai manda-nos calar de imediato.
Obedecemos, nem sempre o Pai janta connosco e sabemos que não gosta muito de palhaçadas.
Mas, esta noite, os Pais estão nervosos e eu e o Gustavo esquecemos as hostilidades e concentramos-nos nos sinais corporais.
Os Pais não se tocam, evitam olhar-se e a conversa é formal, com grandes pausas.
Ups! sucedeu qualquer coisa grave, penso e vejo pela cara do meu irmão que concluiu o mesmo.
Quando terminamos de jantar, a Mãe faz-me sinal para levantar a mesa enquanto prepara a Clarinha para a cama.
O Pai e o Gustavo instalam-se na sala, discutem o jogo de futebol do dia anterior e quando a Mãe saí do quarto da Clarinha, pede-me para ir também para sala.
Temos uma coisa para discutir convosco, acrescenta e eu passo rapidamente em revista os acontecimentos do dia para ver o que fiz mal.
Os Pais estão desconfortáveis, não sabem como abordar o assunto e é o Gustavo quem pergunta:
" O que se passa? Podemos ajudar em alguma coisa?"
" Eu e a vossa Mãe decidimos divorciar-nos. Foi uma decisão difícil, mas é o melhor para nós. Para nós, como família." explica o Pai.
" Mas o que é que sucedeu exactamente? Vocês pareciam ter o casamento perfeito!" comento.
" Nenhum casamento é perfeito, Matilde. Há altos e baixos e o segredo é saber navegar por entre os obstáculos!" responde a Mãe.
" E qual é obstáculo desta vez? Outra mulher, outro homem?" a voz do Gustavo é tão séria, tão cortante que até me assusta.
CONTINUA
Comentários
Abraço e saúde.