O INSATISFEITO

 

Quando for grande, vou dar uma lição à Inês!

Atrevida, arrogante, prepotente tal como a minha Mãe se refere ao meu Pai.

Não sei bem o que significam as palavras, a única certeza é de que quando as ouço, a minha Mãe não está de acordo com o que o meu Pai propõe.

Fico também irritado, começo a chorar e a Mãe diz logo, estás a ver o que fizeste? está assustado, não vai comer nem dormir.

O Pai apenas suspira, invejo-te a paciência, pá, diz o tio António, eu resolvia o assunto doutra maneira, opina o tio Gonçalo.

Não deixam de ter a sua razão, a Mãe é muito nervosa, indecisa e isso baralha-me.

O ambiente em casa do Pai é mais estável, ele contratou uma baby sitter muito engraçada e o único senão é o colégio que ele escolheu.

Sei que ele teve uma grande discussão com a Mãe sobre isso, mas em parte, talvez tenha razão, a Sofia, a Inês e o Gonçalo são meus colegas.

A Sofia está numa sala diferente, é um pouco mais velha que nós, por isso, nem sempre a vemos.

Só à saída e a Sofia comporta-se como uma verdadeira senhora.

Agora, a Inês gosta de agitar as águas e tanto a Sofia como o Gonçalo acham graça e seguem-na sem qualquer objecção.

Como sou contrariado, faço o que faço com a Mãe: choro e a Inês chama-me medricas.

Não gosto da palavra, ainda choro mais e fico apenas sossegado quando o primo Miguel me fala " de alto", como se eu fosse um homem de verdade.

Mas o primo Miguel não está sempre em casa, tem muitos afazeres, está a preparar-se para entrar na Universidade e quem brinca connosco são o Matias e o Edgar.

São bons rapazes, mas muito dedicados à irmã e acham piada a tudo a que ela faz.

Tenho vontade de lhes gritar, olhem para mim, eu também sou engraçado, mas eles suspiram e queixam-se que sou um " insatisfeito".

CONTINUA