O DIÁRIO DO BÉBE FIM

 

Tentar saber se a minha Mãe ficou numa dessas cidades revela-se um processo moroso, o Pais não tem representação diplomática, explica o tio Gustavo, temos que pedir ajuda às ONG que estejam a trabalhar no local.

Celebro o meu aniversário, há balões, palhaços e um bolo enorme, mudo de sala no infantário e torno-me num perito em desenhos abstractos.

O meu Pai está irritável, aprendo-me a não cruzar o caminho dele quando está muito calado, muito sério, as Avós estão preocupadas, gostava que esta história se resolvesse o mais rápido possível, desabafa a Avó Dalena com a Avó São.

Também eu, confessa a Avó São, não só por causa do meu filho, mas também por si, a Madalena está a sofrer imenso. 

A Avó Dalena suspira, o que é que aquela maluca da minha filha está? Onde é que eu falhei? repete mentalmente, mas não se atreve a dizer isso alto, lê censura nos olhos da outra Avó, ou será imaginação sua?

Nessa noite, sente-se mal, o Inspector leva-a para as Urgências, tem que ficar em observação, dão um nome muito estranho " burnout".

Mais uma palavra para a lista, penso enquanto escuto a tia Matilde explicar à tia Rita que tem que convencer a Mãe a ir passar uns dias fora, ela precisa de estar longe disto.

Estar fora não a vai impedir de pensar nisto tudo, frisa a tia, mas concordo contigo. Até sei o local ideal, vou falar com o Telmo... E quanto a ti, diz, olha-me muito séria, tu não vais com eles! 

Fico indignado, tal não me passou a cabeça e deito-lhes a língua de fora, elas riem-se.

Os Avôs estão fora uma semana, umas vezes fico em casa da Avó São, outras em casa da tia Matilde, mas adoro quando é a Francisca que me vai buscar para fazer uma " corrida de loucos" como ela lhe chama.

Quem não adora andar a alta velocidade pelo parque, evitar o pessoal que anda por lá, ouvir as exclamações furiosas quando a Francisca não vira o carrinho a tempo?

É num desses dias, estamos os dois vermelhos do esforço, mas extremamente felizes, que encontramos a família novamente reunida na sala.

Estão todos tão sérios que a Francisca tem medo de perguntar o que se passa, a Mãe faz-lhe sinal para ir para o quarto comigo.

Mas o que é que aconteceu? Já sabemos onde está a Clarinha, responde a Mãe, depois conto-te tudo e a Francisca obedece.

Contudo, ainda ouvimos o tio Gustavo dizer, quando a vir à minha frente, é melhor alguém segurar-me, porque não respondo por mim!

O que é que ele quis dizer com aquilo? Onde é que a minha Mãe esteve afinal?

A Francisca lança-me a bola, mas alguém deixou a porta do armário aberta e acho muito mais interessante tirar tudo cá para fora.

Esqueço a minha Mãe, afinal, tenho uma vida sem ela.... 

FIM


Comentários

Um estória interessante, com bastante emoção e aflição. Muitas duvidas na cabeça de uma criança. Claramente que vive sem ela. Mas onde está a Clarinha? Nenhuns Pais merecem sofrer assim!!

Será que vamos saber, Marta??
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Guardo em mim mil emoções ...
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Beijos
Bom Domingo!
Elvira Carvalho disse…
Bom que realmente ela não estava no avião. O resto. o que a fez deixar o filho bebé sem os seus cuidados, e a família numa aflição, vamos saber um dia quando a autora decidir dar continuação a esta história.
Abraço, saúde e uma boa semana
A Nossa Travessa disse…
Minha querida Martamiga

Por mor dos três anos e picos em que estive no Inferno (recaída da bipolar + Covid) não acompanhei a tua história e por isso – porque sou sempre sincero e quase sempre verdadeiro – não me poso pronunciar sobre este final. Que, no entanto, me parece muito amargo. Contudo cada um sabe de si e entende das linhas com que se cose.
E mais: quem sou eu para tentar adivinhar o que se passou contigo «de mamando a caducando» como diz e bem o nosso povo especialista em ditados.
Por isso fico-me por aqui, querida Martamiga, acrescentando, mendigando uma visita e quiçá um comentário na NOSSA TRAVESSA (http://anossatravessa.blogspot.pt), com o meu muto obrigado.

Beijos & queijos ����

Henrique

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