SOFIA COMO A POETISA FIM

 

Não compreendo muito bem o que a Tia Carolina diz, está muito zangada, mas durante um mês, a Inês não vai a festas de aniversário nem pode dormir em casa de alguém.

Na escola, fica na sala com uma auxiliar até alguém aparecer para a trazer para casa, a Inês protesta de imediato, mas a Mãe cala-a com um gesto.

Tudo na vida tem consequências, portaste-te mal e aqui está o teu castigo, declara, agora ficas aqui no quarto até à hora de jantar e não quero ouvir um som que seja, repete.

A Tia Carolina saí, ficamos os três calados por uns minutos e depois, a Inês diz, não é justo! Não é nada justo!

Nós ficamos contigo na sala à espera da boleia para casa, afirmo para a consolar, o quê? Não estamos de castigo, protesta o meu irmão.

Temos que ser solidários, explico e o Gonçalo olha-me como se eu tivesse enlouquecido, soli... quê? Estás a inventar! comenta.

Não, não estou, defendo-me, a palavra existe! e calo-me. 

Ainda não sei muito bem o que significa, acho a palavra interessante, elegante e surpreendo o Pai quando lhe peço uma explicação.

Apoiar uma pessoa, uma causa, esclarece, mas que história é essa?

A Inês tem que ficar na sala à espera da boleia, não pode estar no pátio e nós resolvemos ficar com ela e o Pai faz ah.

É uma atitude muito bonita, mas sabes que o que a Inês foi errado, não sabes? frisa, sei, ela queria que fossemos com ela... e volto a calar-me.

Tudo bem, mas quero que percebas que se a Inês tivesse apanhado o autocarro, coisas muito graves podiam ter acontecido. É por isso que NÃO DEVES SAIR SOZINHA DO COLÉGIO! Estamos entendidos, Sofia? o Pai faz um pausa, aguarda que eu lhe responda.

Prometo, ele dá-me um beijo e apanha a luz. Custa-me a adormecer, mas depois, esqueço-me de tudo e estou a ter um sonho tão bonito que fico aborrecida quando a Mãe me acorda.

A Inês está implicativa, porta-se mal durante as aulas, é repreendida várias vezes.

Mas o pior é a hora da saída, ela protesta tanto por ficar dentro da sala que até o Gonçalo se enfurece e o meu irmão é um "paz de alma".

Tento convencê-la a calar-se, mas a Inês não escuta ninguém, continua o protesto e nós pedimos para sair.

Ufa! Que chata! é o comentário do Gonçalo e eu não tenho coragem para o corrigir. 

Ele tem toda a razão e a partir daquele dia, a Inês fica sozinha na sala.

A nossa relação também muda, já não confio tanto nela, não acho piada às aventuras dela, tento seguir o meu próprio caminho.

A Inês nunca o perdoará, mas só vou compreender porquê anos mais tarde.

FIM


Comentários

Elvira Carvalho disse…
E bom acabou mais uma história e já estou a pensar quem irá reaparecer na próxima.
Abraço e saúde

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