MAIS UM





Deveria estar contente



por sentir, finalmente


os aromas da Primavera.


O cheiro da terra,


a profusão de flores,


ter luz do Sol até mais tarde.






Mas não estou....






Posso ficar no jardim mais tempo,


- gosto de me sentar naquele cantinho


ao pé do lago, sabem qual é? -


mas continuo a falar sozinho.


Em casa, já não posso ler os meus livros


e apaixonar-me pelas palavras.


Olho para a televisão e não compreendo nada.


E as memórias não me afastam


da tristeza desta vida,


deste passar do tempo.


Sou apenas mais um,


sentado à beira do lago.




Foto de André Domingos, "Lost Soul" (Olhares)


Comentários

Nilson Barcelli disse…
Para muitos idosos, a velhice é uma espécie de solidão sem retorno.
Brilhante poema, gostei muito, querida amiga.
Bom fim de semana.
Beijos.
Unknown disse…
É um lindo poema, embora triste, amiga!!!
Há que buscar a luz da primavera para iluminar nossos corações...
beijos, flores e muitos sorrisos!
AC disse…
Marta,
Mais um grande poema, constatação da falta de dignidade no ocaso da vida... Estaremos todos cegos e surdos?

Beijo :)
Sofá Amarelo disse…
Hoje sente-se o cheiro da terra molhada envolta nos aromas primaveris, onde as flores proliferam nos jardins ao pé dos lagos onde os livros e as memórias desfiam as palavras, quais sentinelas de um tempo que passa irrepetível...
A. Jorge disse…
Mais uma obra de arte que vinda de ti já é um hábito.

Beijos

Jorge
Secreta disse…
Mais um...que se perdeu algures no tempo da juventude.
Beijito.
Boa semana.
Unknown disse…
Muito bom, Marta. Gostei muito. Obrigado por você vir acompanhando "A Viúva Desgovernada" lá no mundo suspenso. Fico contente. Abraço.
Unknown disse…
Está uma delícia, este texto.
Simples
Rigoroso
e emocionante.

Sobre a velhice, há um livro do valter hugo mãe «A Máquina de Fazer Espanhois» que é brilhante.

Bjs
Marta

comovente embora retrate de uma maneira subtil a velhice.

um beij

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