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  Simplesmente saí, conta o Gonçalo mais tarde ao irmão, já passa das duas da manhã quando lhe bate à porta. Para ser sincero, não sei porque tomei esta decisão, repete, mas estou cansado das atitudes dela, parece que culpa toda a gente e não percebe que o problema pode estar nela. O irmão, Gil, suspira, é tarde, diz, tens que descansar, aconselha, amanhã podes ver a situação de uma outra perspectiva e quem sabe? voltas para a Camila. Mas o Gonçalo acha que lhe deu todas as oportunidades, está na altura de investir na vida dele, nos dias seguintes, ignora os SMS e as chamadas da Camila. Procura um apartamento, não pode ficar eternamente em casa do irmão e da cunhada, acaba por ser a irmã de um dos colegas quem lhe mostra um T1 relativamente perto do irmão, numa zona sossegada e com bons acessos ao trabalho e ao centro da cidade. É na livraria do bairro que volta a encontrar a Núria, há muito tempo que não sabe dela, ouvi dizer que já não trabalhas lá, comenta quando estão já sentad...

  Gonçalo está aborrecido.... está cansado com as atitudes da Camila, se estão juntos, estão juntos, porque é que não podem assumir perante os outros? E a Camila está diferente desde que a transferiram para o outro departamento, está mais calma, mais calada e pouco ou nada revela sobre as novas funções. Mas está a afastar-se dele e o Gonçalo divaga sobre possíveis explicações, nenhum o satisfaz e por isso, quando o convocam para uma entrevista, não hesita e vai. O projecto é interessante, as condições óptimas, o Gonçalo fica interessado, espera ficar com o lugar, explica nessa noite ao jantar à Camila. Tens a certeza? pergunta esta, as coisas não estão a correr bem? e o Gonçalo suspira, a questão não é essa, é um projecto novo, vou participar activamente e estou verdadeiramente interessado, responde. Mas porquê? insiste a Camila, e se cometeres um erro? Cometi, assumo e volto ao princípio, diz o Gonçalo, é a altura certa para arriscar. Não concordo, repete a namorada, acho que é um...

  O Bernardo encolhe os ombros, porque não? e passam a meia hora seguinte a discutir a melhor maneira de resolver o assunto. Já é tarde quando saem, o Bernardo fica com a impressão de que o Nuno está mais satisfeito, mais solto, talvez a ideia de rotatividade de tarefas não seja tão descabida. No dia seguinte, a Camila fica surpreendida quando o Bernardo não a deixa ligar o computador e lhe pede para entrar no gabinete. A discussão é terrível, os outros não se atrevem a falar, apenas o Gonçalo arrisca um comentário, mas o que é que se passa?. A Núria abana a cabeça, não te metas, não é nada contigo, diz e a porta abre-se nesse momento, revela uma Camila muito nervosa. Isto é um escândalo! grita, eu sou uma boa funcionária e o Jorge murmura, vê-se, tenho que refazer todo o teu serviço e o Nuno dá-lhe uma palmada no ombro. E a culpa é TODA VOSSA! repete a Camila, porque é que aceitaram a ideia idiota daquele homem? Ninguém lhe responde, o Eurico, escondido no gabinete, pensa em respo...

  O Eurico apercebeu-se do problema, pensou em intervir, mas o Jorge respondeu tão prontamente e com um plano bem estruturado. O objectivo da rotação é exactamente esse e parece que aquele grupo de três compreendeu, está já a trabalhar nesse sentido. Quanto à Camila, terá que discutir o assunto com o Bernardo, será melhor transferi-la para outro departamento e trazer uma outra pessoa. Eurico suspira, o telemóvel vibra, é uma mensagem dos filhos, querem saber se podem ir almoçar com uns vizinhos. Claro que sim, escreve, mandem mensagem quando regressarem a casa e levanta-se, abre a porta do gabinete no exacto momento em que o Bernardo entra. Bernardo, uma palavra? e nota que o responsável fica contrariado, temos pena, pensa, temos um problema a resolver. O Bernardo entra, fecha a porta do gabinete e aceita o convite para se sentar, o Eurico faz-lhe um resumo da situação. O responsável engole em seco, recrimina-se por não ter vigiado melhor o serviço da Camila, ela sempre questionou ...

  O Almeida volta a rir, pois, se resultar no teu departamento, fazem o mesmo nos outros, diz, se calhar ainda és transferido para o meu!!!! Não me importo nada, replica o Bernardo, desde que não transfiram a Camila... Aquela mulher é insuportável, desabafa, está a fazer uma tempestade que nem te conto. Mal ele sabe que, e apesar dos protestos veementes da Camila, o Jorge começa a abrir os dossiers, quer ter uma ideia geral dos assuntos e compreender como deve avançar para a resolução. Mas isto está vazio, exclama, a informação está só no computador? Tens feito cópias de segurança? Dá-me autorização para eu aceder às pastas.. Anda lá, Camila, estamos a perder tempo... Os dossiers estão vazios??? repete a Núria, espero que, se tiveres tudo no PC, tenhas feito backup, oh, Núria, interrompe o Gonçalo, deixa a Camila em paz... Ela tem que se organizar... Organizar? Mas tudo já devia estar organizado, declara o Nuno, para permitir acesso fácil aos outros. Podemos ter tarefas distintas, ...

  A Camila está nervosa, a cara corada quando saí do gabinete, o Eurico fecha a porta com estrondo, que malcriado! pensa a Núria. Vou ficar com as tuas tarefas, declara o Nuno, vamos fazer como a Núria e ter uma pequena reunião para eu saber exactamente o que estás. EU NÃO VOU PASSAR O MEU SERVIÇO A NINGUÉM, explode a Camila, aquele homem é um idiota!!! Então, Camila, o Gonçalo tenta acalmar os ânimos, quem sabe se não será uma boa coisa trabalhares numa coisa diferente, encara-o como um desafio! CALA-TE, atira a Camila desesperada, cala-te tu, estás a fazer uma tempestade num copo de água, interrompe a Núria, o Gonçalo não deixa de ter razão, encara isto como um desafio! Até vai ser interessante! CALA-TE, repete a Camila desesperada, a Núria abre a boca para responder, mas a Barbara faz-lhe sinal, não vale a pena, sussurra. Então, é exactamente isso que vais fazer, intervém o Bernardo, vais ficar calada, passar as tuas tarefas ao Nuno e ai de ti se não o fizeres!!! Isso é uma amea...

  O quê??? grita a Camila quando o Bernardo explica que vai haver rotação de tarefas, mas o que é isso? interrompe o Jorge. Tu fazes o meu trabalho e eu faço o teu, esclarece o Jorge, olha que disparate! reclama a Camila, levei meses a conquistar a confiança dos clientes. Pois, interrompe a Núria, és muito subtil! e o Nuno ri-se o que enfurece a Camila, mas o que é que queres dizer com isso? insiste a outra. Esqueçam isso, aconselha a Barbara, deixem o Bernardo explicar o que vai acontecer exactamente. Quais são as minhas funções a partir de agora? O Bernardo suspira, detesta este tipo de situações, porque é que o Eurico o encarregou disto? A sua função mantém-se, vai supervisionar, diz o novo chefe, conto consigo para que a partir da próxima semana, as pessoas estejam inteiradas do que se espera delas. Há pessoas que não vão gostar, começa o Bernardo, mas o Eurico abana a cabeça, sei que vai haver reclamações, isto tem que acontecer, é a melhor forma de tornar este departamento ma...

  Eurico está apreensivo, está a trabalhar num paìs com outras regras e exigências, tem que lidar com o mau humor dos filhos que não entendem a razão da mudança. Mas ele simplesmente não podia continuar, talvez não tenha conseguido transmitir o porquê de decisão tão radical... terá que falar novamente com os miúdos, mas ainda não se sente capaz. Quanto a departamento que lhe pediram para organizar, já identificou os problemas e traçou um plano. Convocou o Bernardo para uma reunião, sente que os outros o respeitam, se ele concordar com o plano, o resto do pessoal pode aceitar melhor as mudanças. Já sabe que vai ter problemas com a Camila, é arrogante, tem a mania que sabe tudo e teve que se conter para não lhe dizer umas verdades quando ela contestou o trabalho que lhe pediu. Não prevê ter quaisquer problemas com a Bárbara, está sempre tão calada e concentrada no trabalho e sente que a Núria está receptiva a mudanças. Quanto aos homens, o Eurico pensa que se o Bernardo estiver do la...

  Sabem alguma coisa sobre esse tal Eurico? pergunta a Camila, é estranho, não é contrataram agora alguém? Eu acho que as coisas corriam muito bem.... Pois, tens medo de perderes a " pole position", comenta a Nuria e o Nuno apressa-se a dizer antes que estale uma discussão entre as duas, dizem que esteve a trabalhar no estrangeiro e agora voltou. Parece que a mulher morreu num acidente estúpido e ele achou melhor regressar por causa dos filhos. Estúpido da parte dele, comenta o Jorge, recomeçar do zero...e eu acho que estás a falar demais sobre o que não sabes, interrompe o Bernardo, um homem pacato, que raramente participa nas discussões, apenas intervém para impor a ordem. O Gonçalo ri-se, a Bárbara abana a cabeça e volta a olhar para o computador, francamente, pensa, perder tempo a especular. O homem lá teve as suas razões para voltar, diz para os seus botões. Veremos como é, continua a Camila, espero que não faça muitas modificações, eu gosto muito da forma como organizo ...

  Apresentação dos personagens: Principais Eurico, " o camelo " - exalta-se facilmente, mas já todos perceberam que é fogo-de-vista Camila - convencida de que pode mandar em tudo e em todos Barbara - pouco faladora, limita-se a fazer o trabalho e nada mais Nuria - é a única que faz frente à Camila e as discussões entre as duas são violentas Sérgio - dá-se bem com toda a gente, tenta apaziguar os ânimos, mas nem sempre consegue Secundárias Nuno - está sempre a par das novidades Bernardo - passa a maior parte do tempo escondido no gabinete e ninguém sabe o que pensa Gonçalo - está apaixonado pela Camila, mas não tem coragem de o admitir Jorge - fica amuado quando o interrompem Onde se passa a história? Num escritório... O Eurico acaba de ser contratado e toda a gente está apreensiva...

  No dia do evento, ninguém convidado aparece e o Gonçalo fica muito desiludido. Mas eles prometeram vir, diz, tinha óptimas propostas, podia retomar a actividade, não é possível, repete. Eu suspiro, a Sofia também, não sabemos o que dizer, também nós estamos um pouco sentidas. Mas os meus sobrinhos chegam, barulhentos, felizes e desafiam o Gonçalo para uma aula de boxe. Não sou instrutor de boxe, protesta o meu primo, mas os rapazes riem-se, mistura-se com pilates, observa um, com zumba, interrompe o outro e os filhos da Sofia juntam-se ao coro. O Gonçalo acede e em pouco minutos, estamos todos a fazer exercícios que não sabemos muito bem se é zumba, pilates ou boxe. Até o António participa e a porta da rua abre-se, revela alguém atraído pela música e pelos risos. Venha, venha, convidamos e atrás dele, aparecem mais pessoas. Uma hora depois, o Gonçalo dá a brincadeira por terminada, a Teresa abre o buffet e o que parecia ser um fiasco, torna-se numa festa divertida. À saída, vária...

  Aquela simples frase dá azo a uma grande discussão... é intensa, ruidosa e eu volto apressada para casa da Mãe. Se ela fica admirada por me ver entrar nervosa, não diz nada, a D.Margarida confessa que está preocupada com a Mãe, está muito apática, perdeu a vontade de viver,  já falei com a Filipa, ela pediu-me para marcar uma consulta. A mana deve saber melhor do que ninguém o que fazer, respondo, sei que a decisão do Matias não é fácil, mas a Mãe tem que aceitar. A D.Margarida abana a cabeça, acha que o problema é mais sério do que isso, eu não presto atenção, o Gonçalo está a "entupir" o telemóvel com SMS. Fazemos as pazes naquela noite num abraço sensual e achamos que é um desperdício ir trabalhar ou procurar emprego quando o Mundo é tão brilhante. Não é a melhor decisão, comento, mas não tenho vontade nenhuma de ouvir os discursos do encenador... sim, porque eu encenava aquela peça muito melhor. O Gonçalo ri-se, lembras-te do que fizemos no casamento dos Pais? pergunta,...

  O almoço é abundante, a Mãe fez as sobremesas favoritas de toda a gente, a Filipa diz que é um exagero, mas adora a ideia de levar vários tupperwares com as sobras, vou ter comida para a semana inteira! diz. Há muito barulho, muitos risos, há muito a contar e o ambiente fica muito sério quando o Matias diz que a proposta de emprego é boa demais para recusar. Mas ires para o Dubai??? nota-se que a Mãe está apreensiva e o Matias aperta-lhe a mão, as condições de trabalho são óptimas, o ordenado também, repete, e espero, volta-se para o resto da família, que me visitem. Eu vou ser o primeiro, grita o Edgar, vou tirar uma semana de férias e posso ajudar-te na mudança! A tua casa vai ter piscina? pergunta o Amadeu e a Filipa dá-lhe um safanão, nem penses que vais ao Dubai sozinho! Claro que não, responde o Amadeu, vamos todos e o Matias fica um pouco alarmado, não sei se será uma boa ideia para já, explica, deixa-me organizar a vida primeiro!!! e todos riem. Achas que é uma boa ideia?...

  Quem diria? Após estes anos todos, eu e o Gonçalo descobrimos que não podemos viver um sem o outro. Por isso é que as nossas relações não funcionaram, diz o Gonçalo após aquela primeira noite de paixão, é que faz todo o sentido... Pois, sempre que as coisas correm mal, a primeira pessoa em quem penso és tu, concordo, não é a minha Mãe nem nenhum dos meus irmãos e nota que tenho uma família excepcional. Também a minha, interrompe o Gonçalo, mas contigo consigo falar de tudo sem filtros. Rio, aperto-lhe a mão, estamos numa esplanada a apreciar o fim da tarde à beira rio, e agora o que acontece? pergunto, contamos? O Gonçalo abana a cabeça, não, ainda não, vamos usufruir o segredo e beija-me carinhosamente. Ficas lá em casa esta noite? questiona, mas eu abano a cabeça, é melhor não, prometi jantar com a Mãe e passar lá a noite. Telefono-te amanhã e combinamos qualquer coisa? Despedimos-nos na estação de metro, se nota alguma coisa de diferente em mim, a Mãe não diz nada e a noite é ...

  Os miúdos ficam calados, não insisto e tento organizar um programa divertido para o resto da noite. Mas fico a pensar em quem poderá ser esse Lúcio, talvez seja o novo namorado da Alice, o que não me surpreende. Nos últimos meses, fazíamos vidas completamente separadas, não me surpreenderia que ela tivesse conhecido alguém. Não, não, aconselha a Mãe quando lhe conto a conversa com os miúdos depois de os levar ao comboio, não vais falar com a Alice sobre isso. Ela falará sobre o assunto quando achar que é necessário. A Mãe tem toda a razão, diz a Sofia quando lhe telefona, afinal, vocês estão separados e ela tem todo o direito de refazer a vida dela como tu.  E se o tal Lúcio não for uma boa pessoa? e a Sofia suspira, às vezes, és muito burro!!! e desliga. Continuo a ter problemas com o Centro e o Pai aconselha-me a fechar antes que " percas tudo" diz, mas o que é que eu faço depois? pergunto. Encontrarás uma solução, é a resposta enigmática e durante as semanas seguintes, o...

  Volto a suspirar, a Mãe e a Sofia ficam para jantar, é um jantar tranquilo, divertido. O telemóvel toca quando elas se despedem, é o António, queixa-se da escola, não gosta dos professores, dos colegas. Ouço-o atentamente, aconselho-o a ter calma e quando ele finalmente desliga, telefono à Alice para saber concretamente o que se passa. A minha ex acha que o António tem má-vontade, o Bruno adaptou-se muito bem, comenta, está a ser um sucesso entre os colegas e os professores gostam muito dele. Ok, eles vêm cá este fim de semana, respondo, falo melhor com o António, ele tem que fazer um esforço. Mas o meu filho não me quer ouvir, protesta contra o horário, a organização das aulas e acha os colegas "pedantes". O Bruno ri-se, pois eles pensam o mesmo de ti, diz, estás sempre calado, ficas encostado a um canto, não participas em nada! Até já me perguntaram se és atrasado mental!!! Bruno, interrompo, ninguém pode dizer isso, espero bem que tenhas defendido o teu irmão! e o Bruno ...

  É tudo uma questão de tempo, diz o Pai, eles próprios têm que descobrir isso e tu mostra-te receptivo, aconselha-os se tiverem dúvidas, deixa-os crescer. É complicado vê-los partir, fico no passeio até o carro desaparecer e depois volto para a minha casa vazia. Vazia é como quem diz, a Mãe descobriu a chave sobresselente e está a arrumar a cozinha, a Sofia na sala a dispor os móveis. Eu ia fazer isso, protesto e a Mãe ri-se, quando? pergunta e continua a arrumar, encolho os ombros e abro o frigorífico para tirar uma cerveja. Está cheio de alimentos, oh, Mãe, comprou isto tudo? exclamo e a Mãe volta a rir-se, já sei que só ias comer take-away, assim não tens desculpa! E, os miúdos? interrompe a Sofia e eu encosto-me ao frigorífico, encolho os ombros, não estão muito convencidos, não sei se se vão adaptar e não sei o que fazer se isso acontecer. O melhor a fazer é manter a calma, ouve-os, aconselha-os, repete a Mãe e eu suspiro, sim, foi isso o que o Pai disse. O teu Pai é um homem...

  Quando as coisas correm mal...correm mesmo mal, não importa o que a Mãe diz. A situação no Centro Desportivo não está famosa, até pedi ao Pai para fazer a revisão de contas e como se não bastasse, a minha companheira decide que está na altura de voar mais alto e quer separar-se. As condições que me oferecem são excepcionais, explica, vou ser a Directora de Operações, responsável pela logística da empresa, não entendes isso, Gonçalo? Entender, entendo, mas o problema é que terá que se mudar para a cidade onde está a sede da empresa e quer levar os nossos filhos. Vêm cá passar os fins de semana de quinze em quinze dias, continua a Alice, a viagem de comboio dura hora e meia e passam o Verão todo contigo, não vejo qual é o problema? Pois... mas eu gosto de jantar com eles, falar sobre o que se passou na escola e ler-lhes um capítulo do livro de aventuras. Quando lhes falo no assunto, a Alice já lhes contou, embora tivesse discordado, devíamos ter sido os dois, contesto, mas a minha ...

  A Francisca não parece convencida e a Teresa suspira, a sobrinha pode ser muito teimosa ás vezes. O que diria a Rita agora? pensa e é então que tem uma ideia, um almoço só de mulheres em casa da irmã Carolina, era isso que a Rita faria. Vamos organizar um almoço em casa da Carolina, e ergue a mão quando percebe que a sobrinha vai protestar, convida-se a Clotilde e tu também vais estar lá.  Separam-se à porta, a Francisca está amuada, mas a tia está muito animada, telefona de imediato ao Gonçalo. Conta-lhe por alto a conversa com a Francisca, a tua filha está a exagerar, diz, mas tenho um plano e é por isso que preciso do nº de telemóvel da tua amiga. Mas o que é que vais fazer? insiste o Gonçalo, estas mulheres são uma confusão, pensa, mas não se atreve a contrariar a cunhada. Avisa a Clotilde de que vai receber um telefonema da cunhada Teresa, vais gostar dela, é muito sensata, muito prática, comenta, não sei o que ela tem em mente, mas vai ser interessante. A companheira g...

  O jantar, organizado entusiasticamente pelo Rogério, decorre num ambiente tenso. A Francisca mostra-se distante, a Clotilde está surpreendida e só os dois homens comunicam facilmente. O Gonçalo sente-se magoado com a atitude da filha, a Clotilde opta por não dizer nada e deixa-o desabafar quando chegam a casa. Por seu lado, o Rogério critica abertamente a atitude da Francisca, por amor de Deus! Parecias uma adolescente com ciúmes da namorada do Pai! Deixa-o viver, é livre,, tem todo o direito de refazer a vida dele! Não sei, não simpatizei com ela, admite a Francisca, há qualquer coisa nela que não me agrada! Pois eu gostei muito dela, contraria o namorado, e se pensas que ela é uma oportunista e está apenas interessada no dinheiro do teu Pai, estás enganada. Ela trabalhou numa empresa de software, bem cotada no mercado como Directora dos Recursos Humanos com um salário brutal, tem dinheiro de família... vive sem preocupações! Mas, continua a Francisca e o Rogério ergue as mãos, ...

  O teu irmão tem razão, diz a Clotilde quando o Gonçalo lhe conta a conversa, a tua filha tem que entender, ela própria vive com o namorado, qual é o problema??? Porque é que insistes em manter segredo? O Gonçalo suspira, tenho que encontrar a melhor maneira de abordar o assunto, a Francisca adorava a Mãe, explica, deixa-me tratar do assunto! Não vou interferir na tua relação com a tua filha, se é disso que tens medo, afirma a Clotilde, mas é melhor contares e o mais depressa possível. É melhor que ela saiba por ti do que por outros! O Gonçalo volta a suspirar, desvia a conversa e o resto do fim de semana passa-se entre idas ao ginásio, um passeio no trilho e um jantar animado com amigos. O início da semana é complicado, a Francisca quer adiar o almoço semanal, mas o Gonçalo não permite. A filha está nervosa, agitada, o cliente rejeitou o projecto, esforcei-me imenso para responder às exigências do cliente, Pai e tenho quase a certeza de que o que venceu não é tão forte como o meu...

  Não estarás a exagerar? pergunta o Pai durante o almoço semanal e a Francisca não sabe o que responder. O almoço semanal foi uma exigência do Gonçalo, ok, vejo-te na empresa todos os dias e nos almoços de família ao domingo, mas estamos rodeados de pessoas. Quero ter uma conversa pessoal, entre Pai e filha sem interferências, justifica quando a Francisca protesta. Não achas que estás a exagerar? insiste o Pai, não tens que ganhar sempre, aprende com isso, onde pensas ter falhado e corrige. O objectivo é isso, aceitar derrotas, críticas construtivas e fazer um novo percurso a partir daí. A Francisca volta a sorrir, tens razão, não podemos ganhar sempre, mas não há nada de mal em querer mais? e o Gonçalo sorri também. Desvia a conversa para a nova loja que a Teresa vai abrir, o irmão António planeia mudar-se definitivamente para a vila para ficar mais perto do filho e do neto que vai nascer. Nunca pensei que o António tomasse essa decisão, confessa a Francisca, bem sei que a vila t...