A CONVERSA PARTE III

 

O que queres dizer? questiona o Gustavo, curioso e o Bernardo suspira, faz sinal que se vai servir de mais café.

Gosto de pegar, digamos assim, num departamento, numa secção, reorganizar, definir prioridades, objectivos, treinar as pessoas para que tudo funcione como uma Máquina bem oleada e depois sair, explica o Bernardo, repetir o processo noutra empresa.

O Gustavo fica pensativo, é uma ideia interessante, gostas de ser consultor? Estudas a empresa, os problemas com que se debate e encontras uma solução?

Sim, tenho pensado em abrir uma empresa de consultadoria e fazer o que descreveste, confirma o Bernardo, só não tenho capital suficiente e preciso de um sócio.

Estás a pensar em mim? interrompe o Gustavo, oh, pá, eu também não tenho dinheiro e fui pai há pouco tempo. Tenho outras coisas a considerar! afirma.

Eu sei, diz o Bernardo, mas podes pensar no assunto? Claro que temos muito que considerar, acho que uma das primeiras coisas a fazer é falar com a Rita e o Gonçalo. Eles arriscaram, abriram a sua própria empresa...

Mas é um grande risco, contradiz o Gustavo, eu não trabalho propriamente na área, mas podes assegurar a parte prática do negócio, clientes, fornecedores, contabilidade, etc, esclarece o amigo.

O Gustavo suspira, é uma proposta aliciante e ele estava a considerar a hipótese de sair daquela empresa, sente que está um pouco estagnado, está na altura de abraçar um novo desafio e porque não este?

Tenho que falar com a Luísa, observa, não é uma decisão que se tome levianamente.

Claro, claro, concorda o Bernardo, não é amanhã que vamos abrir a empresa, temos que estabelecer um plano, fazer uma pesquisa de mercado...

O telemóvel dele toca nesse momento, é o meu Pai, murmura, sim? é agora? tens a certeza que é agora? e o Bernardo fica tão nervoso que derruba a cadeira ao levantar-se.

O Gustavo ri-se, a mulher e a Mãe entram nesse momento na cozinha, a Aída vai ter o bebé, anunciam, é melhor ires com ele, aconselha a Luísa, ele está muito nervoso.

O Gustavo continua a rir-se, o Bernardo parece que não sabe onde é a porta da rua, abre a da despensa.

É melhor eu guiar, diz o Gustavo e o Bernardo entrega-lhe a chave.

No hall do Hospital, o Pai passeia de um lado para o outro, está a enervar as outras pessoas e o filho arrasta-o para a rua.

O que é que disseram? insiste o Bernardo, mas o Pai não consegue falar.

Oh, Pai, até parece que é o teu primeiro filho! protesta o filho, há mais de vinte anos que não penso em fraldas, vacinas, noites mal dormidas, pediatra, estou cheio de medo! comenta o Pai.

O Gustavo volta a rir-se, acho que é como andar de bicicleta, mas o senhor abana a cabeça, há certos truques que não se esquecem, mas cada bebé é diferente!

CONTINUA

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