A FAMÍLIA - PARTE V

 

Que frieza! penso, mas estou tão cansado, tão preocupado com o meu Pai que escondo a Catarina no lado mais escuro da mente.

Quero saber mais sobre a operação, vai ser difícil o teu Pai explicar, comenta a Rita, sabes como ele é, as regras são sagradas e eu concordo com isso até certo ponto. 

Mas ele foi ferido em serviço e a família tem que saber porquê, insisto e a Rita abana a cabeça, a única coisa que ele disse à tua Mãe foi que, quanto menos ela soubesse, melhor para ela!

Talvez o Meireles me possa elucidar, mas lembro-me dos comentários da Rita e eu pouco ou nada sei sobre o homem, quem sabe o que pode acontecer se faço perguntas incomodas.

Valha-me Deus, digo em voz alta, sou mesmo filho do meu Pai! Já estou a ver conspirações em todo o lado!

Deito-me, mas não durmo sossegado e ligo à Mãe logo às oito da manhã.

Ela diz-me que ainda não ligou para o Hospital, está à espera das nove, devem estar na mudança de turno, a preparar os doentes, continua, e se houvesse qualquer alteração, já me tinham telefonado. Não te preocupes, filho, ligo-te quando souber mais alguma coisa.

Apresento-me ao serviço à hora habitual, o Chefe fica surpreendido, mas eu explico que o meu Pai está fora de perigo e afinal de contas, estou a duas horas de distância, há um comboio diário, não vai haver problema!

O dia decorre sem complicações, a Mãe telefona-me à hora de almoço, o Pai vai no dia seguinte para casa, para nossa casa, frisa, não o vou deixar sozinho naquele apartamento!

Quando falo com o Pai no fim de semana, ele ri-se, queixa-se da " atenção excessiva das tuas irmãs; a Clarinha nem me deixa ir buscar um copo de água!"

Já tentaste explicar que não estás inválido? pergunto e o Pai volta a rir, creio que a tua Mãe lhe disse que tem que ser muito carinhosa e ela interpreta isso como uma forma de carinho! esclarece.

Rio também, observo o Pai atentamente, tenho que lhe perguntar o que aconteceu, mas não sei bem como abordar o assunto.

Estás bem, Gustavo? Estás preocupado com alguma coisa? o Pai interrompe-me os pensamentos e eu tento pôr-me numa posição mais confortável.

O que é que aconteceu naquele dia, Pai? Ok, sei que não podes falar abertamente sobre o caso, mas deves poder contar alguma coisa, peço.

O Pai suspira, morde os lábios, sinal de que está preocupado, mas depois diz, não te deves lembrar do Inspector Leandro? Terias uns cinco, seis anos e o Inspector nunca foi homem de frequentar a casa dos subordinados.

O Inspector morreu durante uma operação, os pormenores eram pouco claros e a investigação foi considerado " inconclusiva", observa, mas ficou sempre no ar uma dúvida, percebes?


CONTINUA

Comentários

Elvira Carvalho disse…
Cada episódio desta história, sabe-me sempre a pouco.
Abraço e saúde
ESta estória está muito interessante!:)
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Escondi os olhos em pranto...
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Beijo e uma excelente tarde!

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