O DESAFIO - PARTE II

Nunca o saberei, porque uma noite, o Pai telefona a dizer que a Mãe se sentiu mal e está no Hospital.

Vens cá ter? pergunta e no caminho, mando um SMS ao Francisco que aparece meia hora depois.

O médico fala connosco, avisa-nos que é grave, só daqui a umas horas é que nos poderá dar mais informações.

Esperamos, o Francisco vai à procura de café, mas está tudo fechado.

Por volta das duas, três da madrugada o médico volta a aparecer.

Fala pausadamente, fez tudo o que lhe foi possível, mas a Mãe não resistiu.

O Pai não diz nada, o Francisco pergunta o que fazemos agora e eu encolho os ombros.

Estamos todos chocados, mas mais chocados ficamos quando o Pai se levanta e sem olhar para nós, diz, podem tratar disto?

" Tens que entender, o homem está em choque!" observa a Catarina quando lhe conto.

" Eram dois estranhos a morar na mesma casa." respondo " Ele não sabe nada sobre o que a Mãe queria, mas não o quer admitir. Passou-me a pasta!"

" Não sabes!" insiste a Catarina " Não inventes histórias."

Mas não estou a inventar histórias; é o que sinto.

O Francisco revela-se um inútil, responde a todas as minhas sugestões, faz como quiseres.

Quando tudo termina, a Catarina convida o meu Pai para um café lá em casa, mas ele recusa e apressa-se a sair do crematório.

" Que homem estranho!" comenta a Maria, a namorada do Francisco.

Não digo nada, mas concordo. 

A Catarina fica um pouco aborrecida com a recusa, vai ficar sozinho? não seria melhor ficar uns dias na nossa casa?

CONTINUA