REDUZIDA
Podemos
escrever muitas cartas na vida, algumas divertidas, outras mais
tristes, mas nunca pensamos verdadeiramente como uma carta nos pode
surpreender, magoar até.
Não,
nunca pensei receber uma carta tão seca, tão formal que tive que a
ler uma outra vez para ter a certeza de que compreendi o conteúdo.
A
primeira reacção foi amarfanhar a pobre carta e protestar contra a
estupidez de quem a enviou. Depois, mais calma, alisei o papel e
reli-a.
Uma
vida inteira reduzida a isto – uma simples folha de papel cheia de
termos pomposos.
Posso
voltar a usar o meu nome de solteira se quiser; fico com a casa e
tudo o que estava só em meu nome – o resto será dividido como
previsto.
Nem
isso me consegues dizer!!! Podíamos conversar sobre o assunto; mas
não, tinhas que pedir ao teu advogado para me mandar esta carta.
Sim,
estou furiosa e com vontade de te telefonar. Ou talvez te escreva uma
carta, uma carta verdadeira escrita com o coração, que deixe a nu a
minha dor.
Pensando
bem, para quê desperdiçar as palavras com alguém que as poderia
utilizar contra mim?
Golpe
baixo, meu caro, atitude de quem se sente inseguro. E tens o Mundo a
teus pés!
Nota:
"Tema: Carta"
Excerto do texto desenvolvido para o tema, mas não enviado para a Editora para publicação na Colectânea"
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