A PAIXÃO PARTE II

 

A médica gosta do que está a ouvir, a Matilde está mais entusiasmada, concentrada no curso e até participa activamente nos projectos da Tia Rita.

O que está a preocupar um pouco é a ligação amorosa com o Sargento Meireles, a idade pode ser uma desvantagem, o facto dele ser um subordinado do Pai complica a relação ainda mais.

Quando a Matilde lhe conta que ele não a deixou ficar em casa dele, a médica aplaude mentalmente a atitude do Sargento, um homem com princípios e valores, pensa.

Alto, diz, o Sargento tem toda a razão, não se precipite, Matilde, goze o momento e sobretudo, lembre-se... às vezes, é melhor ter uma amizade profunda do que uma relação maldita.

Foi exactamente isso o que o Meireles disse, exclama a Matilde e despede-se. 

A próxima consulta será dali a quinze dias, a médica acha que brevemente as consultas poderão ser mensais, se continuar a frequentar as reuniões, manter a rotina de estudos, claro está, frisa.

A Matilde promete, a vida está a correr bem e ela sente-se livre.

Os Pais também estão satisfeitos, ainda acham que ela deve ficar mais uns tempos lá em casa, embora a Matilde já tenha tentado convencê-los a deixá-la viver sozinha com uma amiga.

Não, ainda é muito cedo, explica o Pai, tens que merecer novamente a nossa confiança. O que aconteceu foi muito duro para a família; tens que compreender isso.

A Matilde fica amuada, mas quando discute o assunto com o Meireles, este também concorda.

Prova que estás apta a viver sozinha, aconselha, e quando fores viver sozinha, não cometas excessos. Podes gozar a vida sem álcool ou amigos tóxicos!

A Matilde fica corada, então, o Pai contou-lhe, pensa, mas o Meireles é uma pessoa discreta, depreendeu o que aconteceu pelos rumores que ouviu, mas nunca discutiu o assunto com o Inspector Bernardes.

Não vamos falar disso, repete, é um assunto privado, só quero dizer que estás a ter a atitude correcta para ultrapassar a situação.

A Matilde suspira, não se lembra de tudo o que aconteceu, apenas da vergonha, do desapontamento dos Pais, das palavras duras do irmão.

Tem realmente que merecer a confiança deles, principalmente do Gustavo.

Preciso de falar com o meu irmão, confessa, há muito tempo que não temos uma conversa franca... Mas ele ficou muito magoado com o divórcio, tenho medo...

Ora, és irmã dele, interrompe o Meireles, tens que ser franca com ele, abrir o jogo... se calhar, ele está à espera que o faças. Anda lá, telefona-lhe....

Não sabia que eras tão bom a dar conselhos, troça a Matilde, mas o Meireles abana a cabeça, vejo coisas muito sujas no trabalho, mas também sei que há revelações importantes em momentos complicados. O Gustavo deve ter ficado chocado, foi bruto, mas deve estar arrependido, não sabe como atravessar a ponte...

Eu tenho que o ajudar? pergunta a Matilde.

CONTINUA


Comentários

Acho que a Matilde está a ir com muita sede ao pote. Eles têm razão. Estou a gostar do conto- :)
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Escrever, é falar em silêncio
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Beijos. Votos de um dia feliz.

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