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A mostrar mensagens de setembro, 2023

GONÇALO E INÊS PARTE III

  Mas, pelos vistos, a Inês desapareceu, até a Tia Carolina está preocupada, bem sei que a vida dela é agitada, diz, mas tomar uma decisão assim tão rápida sobre um projecto que ela acha duvidoso...ah, estou preocupada. A minha irmã olha-me desconfiada quando lhe conto a conversa, vá lá, conta tudo, exige, aconteceu alguma coisa entre vocês e estão arrependidos??? Sorrio, estivemos juntos e agora a Inês não me fala, conto e a Sofia dá-me um safanão, dormiste com a Inês??? Não acredito!!!! Acredito, pois foi o que aconteceu, repito, onde é que estão a cabeça? interrompe a minha irmã, quem te ouvir, pensa que é a primeira vez que primos dormem juntos, não é pecado!!! contesto. Pelos vistos, a Inês acha que sim, replica a minha irmã e abandona a sala antes de eu protestar. Não sei o que vai acontecer daqui para a frente, temos é que conversar e esclarecer o assunto, podemos decidir preservar a amizade e não continuar a ter uma relação amorosa, declaro ao primo Miguel quando o encontro no

GONÇALO E INÊS PARTE II

  Estamos exaustos quando entregamos os miúdos à Sofia, estão tão excitados que vai ser difícil adormecerem, queixa-se, mas eu e a Inês só nos rimos. A minha irmã tem sempre razões para se queixar, comento, será que não se cansa???? Deve ter sido por isso que o Dinis saiu de casa e não o culpo! A minha irmã é uma chata!!! Os meus irmãos podem ser uns chatos, mas ai das minhas cunhadas se os magoarem!!! exclama a Inês e eu encolho os ombros. Claro que o importante é o bem-estar da minha irmão, apresso-me a dizer, mas tenho consciência de que ela não tem um feitio fácil! A Inês não me responde, já adormeceu na posição fetal e eu estendo-me ao lado, adormeço também. Acho que acordamos os dois a meio da noite, trocamos carícias e beijos, mas não tenho a certeza de nada quando acordo. A Inês já não está, vejo as horas, bolas, estou atrasado para a primeira aula do dia, penso e tomo um duche rápido e saio de casa sem tomar o pequeno almoço. Só consigo comer por volta das dez, a minha aluna f

GONÇALO E INÊS

  "Se sou o original da família? Não, creio que a original é a minha prima Inês que é actriz, escritora, encenadora... faz tanta coisa que eu desisti de a seguir. E, para ser franco, a verdadeira original é a minha Mãe... Quem é que aos sessenta e tal anos entrega o negócio, um negócio bem lucrativo diga-se de passagem, e vai viajar para a Índia e para o Nepal?..." A Inês interrompe a leitura, olha para mim trocista e solta uma gargalhada, Uau, diz, quem diria que és tão eloquente? Não sabia, estou...admirada, fascinada, acrescenta. Atiro-lhe uma almofada, deixa-te de histórias, apenas respondi às perguntas, tenho que fazer publicidade ao Centro Desportivo, explico, e tu, aponto-lhe o dedo, também podes ajudar! Queres que deixes panfletos na bilheteira do Teatro? Ou na sala de ensaios? Ou no escritório da editora? goza a minha prima e devolve-me a almofada com violência. A Sofia entra nesse momento, a almofada atinge-a de raspão, mas é o suficiente para a minha irmã soltar um

ANTÓNIO FIM

  Os dias seguintes são um autêntico pesadelo, a Francisca parece uma zombie, o Gonçalo tenta manter a calma, mas descontrola-se quando fica a sós com o irmão. O António volta a pensar na Teresa, suspira, ela faz-me muito falta, saberia o que dizer, como consolar o meu irmão, murmura. O Gonçalo diz ao Pai que deixou mensagem na embaixada, a Mãe já deve ter deixado o ashrama e está quase de certeza num local com acesso à Net, diz. Mas continua a haver silêncio por parte da Teresa, o António ajuda o irmão e a sobrinha a organizar a herança que a Rita deixou, mas a cunhada foi sempre uma pessoa metódica e pouco têm que fazer. A muito custo, o Gonçalo convence a filha a voltar ao trabalho, até propõe regressar à empresa para a ajudar, mas só part-time, avisa, e apenas para me certificar que os processos da tua Mãe estão a ser concluídos.  A Francisca ri-se, tem muitas dúvidas em assumir a gerência, a Mãe treinou-a bem, há sempre aquele ponto de interrogação, compreendes? confessa ao Tio. M

ANTÓNIO PARTE VI

  A Rita ouve-o atentamente, claro que sim, falará com a Sofia, mas a tua filha é um pouco teimosa, não prometo nada, diz. O António sorri, basta que tentes, comenta, e tu, como vão as coisas? e a cunhada encolhe os ombros. O António repara que ela está a comer muito pouco, a maior parte da comida está no prato, não gostaste? Queres pedir outra coisa? pergunta, mas a Rita abana a cabeça, a verdade é que não me tenho sentido bem nestes últimos tempos, responde, marquei consulta para o médico, mas tive um projecto tão interessante que desmarquei. A Francisca não podia organizar isso? interrompe o António, pelo que diz o Gonçalo, está a tornar-se uma boa profissional, segura de si. A Francisca participou, ajudou bastante, conta a Rita, mas era um pouco complicado, eu tinha que estar presente, e interrompe-se, tem um ataque de tosse violento e o António fica preocupado. Acho melhor levar-te a um Hospital, Rita, decide, não estás nada bem! e levanta-se, pede a conta. A Rita tenta recusar, m

ANTÓNIO PARTE V

  Mas a vida continua, a Teresa vai dando notícias, parece feliz, descontraída e o António estabelece uma rotina. Acaba por passar muito tempo com o irmão, acho que não convivíamos tanto desde adolescentes, confessa e o Gonçalo ri-se. Continua preocupado com a ex-mulher, pensa que a filha está a esconder alguma coisa, mas não me quer dizer, explica ao António um dia ao jantar. Não te preocupes, aconselha o irmão, ela dir-te-a quando achar conveniente, e desvia a conversa para a decoração do escritório. Porque resolveu seguir o conselho da ex-mulher e adaptou o quarto do Gonçalo, fez um pequeno escritório, estarei no escritório presencialmente duas, três vezes por semana, justifica, mas vou desenvolver a maior parte da minha actividade aqui. O filho acha uma boa ideia, a filha teme que ele se torne um recluso e tem nova discussão com o marido sobre o assunto. O Dinis começa a ficar farto, nunca está satisfeita, queixa-se ao sogro e o António suspira-se, a Sofia parece mais filha da Laur

ANTÓNIO PARTE IV

  A Teresa parte feliz,  toda a família está presente no aeroporto, as recomendações são repetidas e tanto a Carolina como o Pedro estão preocupados. Não a podíamos proibir, diz o irmão, a Teresa é desembaraçada, vai saber como contornar os obstáculos, e a Carolina suspira. Quem continua amuada é a Sofia, ainda por cima ela e o Dinis continuam zangados e o Gonçalo é o mesmo cabeça no ar de sempre e não ajuda. Deixa a Mãe em paz, exclama, ela sempre quis fazer isto e o que interessa se tem mais de sessenta anos? Ainda bem que tenho uma Mãe atenta, cheia de energia! Tu é que pareces que paraste no tempo!!!! Calem-se, interrompe o António, porque é que não vão jantar fora? Talvez essa tensão desapareça e fiquem mais bem dispostos. Eu fico com os miúdos, levo-os ao McDonald's ou encomendo uma pizza... A Sofia abre a boca para rebater a sugestão, mas o Dinis impede-a, por amor de Deus, protesta baixinho, deixa os miúdos irem com o avô, ele precisa de companhia e de se divertir. Vamos co

ANTÓNIO PARTE III

  Não achas que a minha Mãe enlouqueceu? a Sofia está irredutível, foi muito radical e o Dinis percebeu que magoou a Mãe. Não, não acho, responde Dinis, até tenho alguma inveja, gostaria de fazer a mesma coisa, viajar sem rumo. Estás doido???? grita a Sofia, pode acontecer muita coisa, terramotos, atentados terroristas, raptos... Por amor de Deus, Sofia, interrompe o marido, és uma escritora, trabalhas numa editora, passas a maior parte do tempo a ler livros, não gostavas de ter uma aventura? Não, não quero, confessa a mulher, não sou como tu e o Gonçalo feitos no ar! e a discussão estala. Só termina quando o Dinis bate com a porta da rua e se vê na rua sem chaves do carro, da casa, sem a carteira, sem um casaco. Felizmente, o cunhado vive perto, não vai gostar muito de me ver aparecer, pensa o Dinis quando bate à porta, mas surpresa, o Gonçalo está sozinho e ri-se quando lhe conta o sucedido. Precisas de uma boa bebida, diz e passam o resto da noite a planear as aulas do mês, deitam-s

ANTÓNIO PARTE II

  A Teresa quer viajar para a Índia e para o Nepal, confessa o António num dia em que o Gonçalo aparece de surpresa no escritório e o convida para almoçar. O irmão suspira, mas ela sempre falou nisso, não sei porque estás tão surpreendido, responde, mas ela quer ficar por lá um ou dois anos, explica o António. O Gonçalo pousa os talheres, um ou dois anos a fazer o quê? questiona e o irmão encolhe os ombros, absorver a cultura, talvez fazer trabalho de voluntariado, observa, sei que tem tido grandes conversas com a Clarinha sobre o assunto. E as lojas e o serviço de catering? Isso era o sonho dela! protesta o Gonçalo, pelos vistos, o nosso sobrinho Miguel e a mulher querem mudar para cá por causa do filho e estão prontos a assegurar o funcionamento disso. Tens que admitir que nem os meus filhos nem a Francisca estão interessados em assumir a gerência, comenta o António. Pois e não há dúvidas de que o nosso sobrinho fez um bom trabalho com a quinta dos nossos Pais, concorda o Gonçalo, é

ANTÓNIO

  O anúncio do divórcio da Teresa e do António surpreende todos e é tema de conversa nos jantares de família. A Sofia e o Gonçalo não sabem o que dizer, estão tão surpreendidos como os outros, os Pais não se podem divorciar, são o exemplo de um casamento forte, solidário, comentam. Viveram juntos tantos anos e depois casaram tão discretamente, lembras-te? acrescenta a Sofia e o irmão abana a cabeça, foi há tanto tempo que se lembra de poucos detalhes. Apenas o Dinis fica calado, embora partilhe da opinião da mulher, os sogros foram sempre um exemplo de como um casamento pode resultar, o que aconteceu verdadeiramente? Mas não vamos perguntar, aconselha, pelo menos, para já. O Gonçalo abre a casa ao irmão, pelo menos, até organizar as coisas, diz o António, fica o tempo que quiseres, responde o Gonçalo. Não quero dar cabo da tua vida amorosa, observa o António, mas o irmão ri-se, estou entre namoradas e é muito raro que elas passem a noite aqui! explica enquanto abre a porta do quarto de

A QUESTÃO FIM

  O Edgar divaga muito sobre o assunto, não entendo muito bem o que ele diz sobre solidariedade e suspiro aliviado quando ele desvia a conversa. Talvez seja melhor falar com a Avó Carolina, escrevo nessa noite no diário quando estou sozinho no meu quarto. Porque na casa da Mãe, temos quartos separados, o Pai acha que é um absurdo, o Amadeu está a entrar numa idade em que precisa de espaço e não quero ter que os estar a separar por idiotices! remata a Mãe. Fecho o diário, escondo-o no sítio habitual e desligo a luz, não tenho vontade de jogar, ouço os gritos do Luís no quarto ao lado, ele não gosta nada de perder! A Mãe resolve organizar um jantar de família naquele fim de semana, até convida o Pai e a Marina. Quase tenho um ataque cardíaco quando sei, mas porquê??? Ela é uma idiota! protesto e a Mãe encolhe os ombros, o Pai escolheu-a, deve ter encontrado alguma coisa nela de que gosto e depois, é a vida dele! acrescenta. O Pai chega mais cedo, diz que tem que falar connosco e sentamos

A QUESTÃO PARTE IV

  Vocês comportaram-se como dois idiotas, diz a Inês quando nos sentamos para almoçar, tu não tinhas nada que ler o diário do teu irmão, sabes o que é privacidade? e olha muito séria para o Luís, e se não sabes, continua, tens que aprender o que é... Mas somos irmãos, interrompe Luís, e entre irmãos, não deve haver segredos! Eu não conto tudo aos meus irmãos, responde a tia, tem que haver confiança, solidariedade entre os irmãos, é um facto, se atacarem a Filipe, o Miguel, o Matias ou o Edgar, eu defendo-os até à última instância. O que é que significa isso? pergunta o meu irmão, a fingir-se confuso e eu dou-lhe uma cotovelada, sabes muito bem o que significa, não te faças de parvo! exclamo. E, tu, a Inês bate-me suavemente na mão, tu tens que controlar melhor o teu feitio, tens que aprender a escolher as tuas lutas. Sim, eu sei que o Matias e o Edgar tinham grandes lutas, o Pai ou o Miguel tinham que os separar, mas lembro-me também que este foi o conselho que eles lhe deram. Fico cal