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A mostrar mensagens de agosto, 2021

O DILEMA DE LUÍSA FIM

  A Leonor não diz nada, faz um gesto vago na direcção da nova colega que entra nesse momento na sala. Há qualquer coisa nela que não me agrada, conto mais tarde à Dra Lúcia, e não, não sei explicar se é o sorriso rápido, se é a frieza no olhar. Vou estar atenta, noto que os meus colegas ficam muito desconfortáveis quando falo nela. Há pessoas muito tóxicas, concorda a médica, concentre-se nos seus planos, no seu filho. O Gustavo também me dá o mesmo conselho e descubro verdadeiramente o caracter da nova colega quando tem um grande discussão com a Leonor. A Leonor fica muito vermelha, a Rosário ri-se triunfante e o meu chefe é incapaz de intervir. A Leonor levanta-se, murmura qualquer coisa que soa como " não tenho que aguentar isto" e desaparece no gabinete da gerência. Ficamos todos calados, o chefe encontra finalmente a voz, dá instruções que ninguém segue, pois estamos preocupados com o que poderá acontecer com a Leonor. A Leonor aparece meia hora mais tarde, tem os olhos

O DILEMA DE LUÍSA PARTE V

  O Gustavo cumpre a promessa: apresenta-me vários cursos, assinala mesmo a opção que lhe parece mais viável. Também fico interessada, faço uma pesquisa mais profunda e tento ignorar os comentários da minha Mãe. A vida não termina só porque tenho um filho, penso e tanto a Dra Lúcia como o Gustavo concordam. Organizamos um horário do Tobias, diz o Gustavo, a minha Mãe e a Clarinha ajudam e tenho a certeza de que os teus Pais também. A minha Mãe está contra, acho que estou a ser egoísta, conto, tenho que pensar no meu filho, na minha idade, tenho que ter um emprego estável. Isto dito por alguém que me acusa de não ser batalhadora e o mais irritante disto tudo, continuo, é que não o diz a mim, mas aos outros! Confronta-a com isso, aconselha o Gustavo e a Dra Lúcia também o diz. Não, não me sinto com forças para isso, contrario, vou receber um sermão sobre boas maneiras, sobre os deveres dos filhos, etc. Parece-me que a sua Mãe é uma grande egoísta, comenta a Dra Lúcia, devia ficar content

O DILEMA DE LUÍSA PARTE IV

  A Dra Lúcia despede-se, diz que volta no dia seguinte e deixa-me só com os meus pensamentos. E tenho muito em que pensar; a médica lançou-me um desafio e eu tenho que o aceitar. Talvez a vida fique mais fácil, talvez seja mais feliz, não sei, mas tenho que tentar. A voz da minha Mãe soa-me na mente, tens a certeza? acho que é melhor não arriscares e lembro-me como tentou dissuadir-me de casar com o Gustavo, és nova demais, vais arrepender-te. A única coisa de que me arrependo neste momento é ter-me divorciado; o Gustavo foi, é um óptimo companheiro, amigo, amante e deitei tudo a perder por ser radical. O Gustavo visita-me naquela manhã, fica satisfeito por me ver de bom humor e mais ainda quando lhe conto os meus planos. Ups! O que aconteceu? pergunta, mas eu apenas sorrio, a vida será mais interessante se me desafiar. O Gustavo sorri, às vezes, é bom arriscar, estou a adorar esta nova faceta da minha vida, diz, estamos já a considerar contratar mais gente. Posso ajudar? mas acabamos

O DILEMA DE LUÍSA PARTE III

  Acho que sou uma pessoa má, digo lentamente e vejo que a médica me olha surpreendida. Não creio que seja má, tem defeitos como todas as outras pessoas, responde, teremos que nos concentrar nesses defeitos e encontrar uma solução. Fala-me da sua infância, da sua adolescência. Mas eu não quero falar do passado, quero falar apenas do presente, no que aconteceu e como posso viver daqui para a frente. A Dra Lúcia não fica muito convencida, o problema está geralmente no passado, explica, mas eu não concordo. Ouve-me atentamente, por vezes, interrompe-me para esclarecer um pormenor e quando dá a consulta por terminada, eu sinto-me mais aliviada. Penso no meu casamento, na paciência do Gustavo, talvez possam reatar se admitir que está errada, sugere a Dra Lúcia, mas eu abano a cabeça. O Gustavo seguiu em frente, eu não, observo, não lhe perdoo ter avançado com o projecto apesar das minhas reticências. Talvez seja inveja, porque teve coragem de fazer o que a Luísa quer, no fundo, ter o seu pr

O DILEMA DE LUISA PARTE II

  Fico chocada, sou uma pessoa problemática, em conflito comigo e com os outros? penso, mas não me atrevo a dizer isso alto. Tenho muito que pensar, tento rever os acontecimentos presentes e passados, onde é que falhei e como posso corrigir? e estou tão abalada que não vejo o sinal. Passo com vermelho, o outro carro bate-me com toda a força e embato contra o separador. Desmaio e os meus Pais contam-me depois que estive uns dias em coma, que pensaram o pior, que foi um alívio quando disseram que ia sobreviver. Vais ter meses de recuperação, avisam, não vai ser fácil, mas não te preocupes, tu e o Tobias ficam lá em casa o tempo que for necessário. O Gustavo também me visita, tu és tão cuidadosa, como é que não viste o sinal? censura carinhosamente e vejo que está aliviado por o Tobias não estar no carro. Gostava de ver o miúdo, mas um hospital não é o local adequado para um bebé, explica a minha Mãe e tenho que concordar com ela. Naquela tarde, sentam-me num cadeirão, amanhã vai começar

O DILEMA DE LUÍSA

Todos dizem que estou sempre de mau humor. Desde o divórcio, acrescentam e começo a achar que têm razão. Até o Gustavo evita falar comigo, pois tratei-o tão mal e ele precisava de todo o meu apoio. Ok, ninguém está a dizer que tens que concordar com tudo o que ele faz, observa o meu Pai, eu próprio tenho as minhas dúvidas, mas respeito o ponto de vista do Gustavo e sei que, se não resultar, ele será o primeiro a admitir que errou e tomará as providências necessárias para controlar a situação. Mas tu foste radical, continua a Mãe, fizeste-lhe um ultimato, em vez de o apoiares! Pronto, já sei, digo, a culpa é toda minha! e os meus Pais suspiram, oh, Luísa, lá estás tu a armar-te em vítima! Fico calada, furiosa com o comentário, mas, mais tarde a conversar com a minha amiga, Susana, esta, diplomaticamente, confirma a opinião. Achas mesmo que me estou a armar em vítima? pergunto, admirada e magoada e a Susana hesita antes de continuar. Acho que estás a ser egoísta, só pensas em ti, explica

MATIAS FIM

  Os Pais acabam por saber da luta, pois a Inês relata tudo ao jantar, está deliciada com a palavra " verme ". Por isso, paira no ar a ameaça do colégio militar, talvez percebas o que é a disciplina e a organização, explica o Pai. O Matias está aborrecido, culpa o Edgar de tudo, mas o irmão defende-se, tu é que começas as coisas, eu apenas reajo! Mas isso é tão mau como provocar! responde a Filipa que ouve a discussão, é como o Miguel disse, organizem-se. Eu e o Miguel tínhamos um esquema, por exemplo, quem saísse à sexta-feira à noite com os amigos, ficava convosco sábado à noite. Nos jantares de família, a mesma coisa e resultou. Têm que conversar, aconselha. Então, hoje eu vou com a Mãe buscar a Inês e fico com ela até à hora do banho, declara o Edgar, tu ficas com ela depois, lês-lhe a história até ela adormecer e não se fala mais nisso!  Mas isto é uma ditadura? reclama o Matias, mas a Filipa acha uma boa ideia e o irmão não se atreve a dizer mais nada. Em casa, o Edgar

MATIAS PARTE IV

  És um palerma, pá! diz o Miguel mais tarde quando os convidados se vão embora, os miúdos estavam entretidos, os dois podiam ter almoçado na sala sem problemas, mas tu resolveste armar-te em esperto! Está calado! protesta o Matias, até parece que nunca te queixaste por ter que ficar no quarto de brinquedos a aturar estes " idiotas"! Lembro-me muito bem disso! Até posso ter dito, concede o irmão mais velho, mas eu e a Filipa tínhamos um esquema que resultava, é o que tens que fazer! Falar com o Edgar e trabalhar em conjunto para que ambos gozem o momento! Qual era o vosso esquema? pergunta o Matias, curioso, mas o irmão abana a cabeça, tens uma cabeça para pensar, faz uso dela, palerma! e saí do quarto. Palerma! ecoa a Inês, deliciada, palerma, palerma, palerma! e o Matias grita, está calada, Inês! Isso não se diz! Mas claro está que a Inês continua a cantarolar, palerma, palerma e o Edgar junta-se ao coro. O Matias fica muito vermelho, cala-te, verme! ordena e a Inês ri-se,

MATIAS PARTE III

  O que é que vamos fazer agora? pergunta o Edgar, é que estou cheio de fome e não quero comer as sobras!  Fazemos como das outras vezes, diz o Matias, seguro de si, eu vou comer agora e depois, vais tu! Mas porque é que tens que ir tu primeiro? protesta o Edgar, é sempre a mesma coisa! Estou farto de ficar em segundo! O Matias nem responde, saí do quarto, entra na sala de jantar onde a conversa rola ruidosamente. Então, Matias, o que contas? pergunta o Gonçalo, dá-lhe uma palmada nas costas, mas nem espera pela resposta, em breve, está embrenhado numa grande conversa com o Pai. O Matias fica um pouco aborrecido, o Gonçalo podia conversar um pouco com ele, afinal, ele não é um miúdo! Já tem treze anos, é um homem! Suspira, avança até à mesa, cheia de coisas tão boas, está indeciso. Resultado, demora tanto tempo que o Edgar aparece com o Miguel ao colo, muito aborrecido à porta. O Miguel solta um grito ao ver o Pai, o Pedro fica logo preocupado, o que é que se passa? pergunta, está doen

MATIAS PARTE II

  A Mãe está muito zangada, os dois irmãos ficam muito atrapalhados e o Edgar tenta justificar-se. Não quero saber, corta a Mãe, já falamos sobre lutas, isto é uma casa de família, podemos ter opiniões diferentes, mas LUTAS não são permitidas! Façam o favor de ir lavar essa cara, pentear o cabelo. Quanto a nós, periquita, e a Inês ri-se, vamos até à cozinha e almoçar. Meia hora depois, os irmãos apresentam-se na cozinha, lavados, penteados, prontos para receberem ordens, como murmura o Matias. A campainha toca nesse momento, a Carolina faz um gesto vago e os dois irmãos apressam-se a abrir. É a Teresa e o António, o Gonçalo e a Sofia que, ao verem os primos, fazem um estardalhaço tal que a Inês foge à Mãe. A Filipa e o Miguel também aparecem e ficam ali todos no hall a conversar até que a Carolina os interrompe, há uma sala com sofás confortáveis à vossa espera e atenção que o Gustavo está a preparar receitas novas de cocktails! Todos riem, o Matias e o Edgar levam o trio para o quarto

MATIAS

  O Matias sente-se importante agora que fez treze anos. É um homem, não tem que tomar conta dos mais pequenos, o Edgar pode fazer isso, porque o Edgar é um miúdo, protesta. Também tu és um miúdo, diz o irmão mais velho, por isso, organiza a creche; não olhes para mim assim, gira, andor! O Matias fica aborrecido, o Miguel não pode falar assim, explica ao Pai, mas o Pai concorda com o irmão, só que é mais diplomático. Conto com a tua ajuda, diz, vamos ter a casa cheia e precisamos de ter os mais novos ocupados. Precisamos de relaxar, de conversar, compreendes? O Matias acena que sim. começa a dar ordens ao Edgar, arruma a mesa ali ao canto, põe os puffs aqui, o tapete no meio, ordena. E tu não ajudas? protesta o Edgar, não, Inês, dá cá isso, mas a irmã ri e esconde-se no meio dos cortinados. O Edgar persegue-a, mas a Inês já aperfeiçoou o método de fuga e é a muito custo que o irmão recupera a almofada. Anda lá, Edgar, estás a ficar atrasado, diz o Matias, mas o Edgar está a ficar farto

A NOVA LOUCURA DA LAURA FIM

  O que é que vai acontecer agora? pergunta a Teresa quando sabe da história, preocupada com o António que está há imenso tempo ao telefone com os Pais. A Carolina suspira, nunca tive problemas com os vizinhos, desabafa, e agora tenho que pedir desculpa a todos e tudo por causa da loucura da Laura! Todos estão magoados, a brincadeira do Matias não foi bem recebida e o Pai deu-lhe um sermão tão forte que o rapaz fez um esforço enorme para não ceder à vontade de chorar. Quanto à Laura, recusa a falar com os Pais, mesmo com o médico sobre o assunto e o advogado que consultou recusa-se a avançar com o caso. A Laura acusa o Pai de ter interferido no assunto, há uma violenta discussão que termina com a Laura a sair de casa sem dizer para onde vai. Não atende o telemóvel, os Pais telefonam aos filhos, preocupados e o Pedro volta a avisar o infantário para não deixarem o filho sozinho, não vá a louca da ex-mulher tentar raptá-lo. Que disparate! protesta a Beatriz, estás a fazer uma tempestade

A NOVA LOUCURA DA LAURA PARTE V

  O fim de semana não é fácil, o Miguel desconfia daquela senhora que está sempre a dizer, sou a tua mamã. Esconde-se por trás dos avôs, conhece-os bem e adora andar com o Tomás, o jardineiro, a regar as plantas. Fica todo molhado, a avó ralha, mas ele fica feliz e a senhora também ri, mas o Miguel não gosta dela. Há qualquer coisa que não lhe agrada, ri-se, fala muito e por isso, é um alívio quando o levam de volta para a cidade. O Pai disse-lhe que tem uma irmã, o Miguel fica um pouco aborrecido, uma intrusa, confessa à Inês e à Sofia, mas estas riem-se. É bom termos irmãos, dizem, o Matias e o Edgar pensam que mandam em mim, mas sou eu quem dá as ordens, conta a Inês e a Sofia ri-se, o Gonçalo nem se atreve a desobedecer-me! Nessa noite, a Maria Rosa começa a chorar e o Miguel ordena que se cale, mas a irmã grita ainda mais alto. Que estranho, pensa o Miguel, as primas disseram que ela obedecia! e abana a cabeça, vá lá uma pessoa entender os outros! Entretanto, o médico da Laura reg

A NOVA LOUCURA DA LAURA PARTE IV

  E foi isto o que se passou, conta o Pedro sentado no sofá da irmã com uma cerveja na mão. As irmãs e os cunhados bem como o Beatriz não sabem o que dizer, a situação é complicada, não vai ser fácil lidar com a Laura e as idiotices. E, o médico? interrompe a Teresa, o que é que o médico diz? mas o Pedro não conseguiu falar com o médico, está de férias, explica, deixei mensagem, pedi para me ligar logo que possível. Amanhã tens que falar com o teu advogado, aconselha o Gustavo e a Carolina concorda, ele tem que estar a par de tudo, para agir caso seja necessário. Não vamos pensar no pior, diz o António muito sério e tanto a Carolina e o marido suspiram, um pouco embaraçados. Desculpa, a Laura é tua irmã, e a Carolina pousa uma mão no braço do cunhado. O António sorri, um pouco triste, eu sei que ela é complicada, mas é minha irmã! Vou falar com os meus Pais, devem estar abalados com tudo isto! observa e saí da sala. A Teresa levanta-se, dá um abraço ao irmão e segue-o. Fui um pouco inc

A NOVA LOUCURA DA LAURA PARTE III

A sogra fez-lhe os pratos favoritos, o Pai escolheu um vinho óptimo e a Laura parece estar bem comportada. O almoço é agradável até a Laura falar do Miguel, está na altura de estabelecer uma relação comigo, mal me conhece, diz. A culpa é tua, intervém a Mãe, escondias-te no quarto quando ele estava cá, mostravas-te tão distante, tão seca que ele ficava nervoso e começava a chorar! Mas tem que aprender a gostar de mim, insiste a Laura, é por isso que tem que ficar comigo uns tempos!  Acabar com este absurdo de só o visitar em dias marcados e na presença de alguém escolhido pelo Pedro! Mas, para isso, tens que me provar que estás capaz, explica o Pedro, capaz de lidar com ele, de não teres uma crise na frente dele... Longe de mim afastar o meu filho da Mãe, mas tenho que ter a certeza de que ele está em boas mãos. Claro que está! e a Laura exalta-se, eu sou a Mãe dele! Mas onde é que estiveste estes dois últimos  dois anos? pergunta o Pedro friamente, não foi nada fácil gerir a minha vid

A NOVA LOUCURA DA LAURA PARTE II

  O António suspira, não sei o que te dizer, confessa, para todos os efeitos, ela está bem. Voltou a interessar-se pelo trabalho, o Pai diz que tem umas óptimas ideias, tem que a refrear um pouco, mas fora isso... O Miguel não é mais um projecto que tem que resultar, é disso que tenho medo, responde o Pedro, tenho que pensar no bem-estar do miúdo, ele fica retraído na presença dela, não confia nela! Só tens que fazer o que lhe disseste, diz o irmão da Laura, conversa com o médico, com os meus Pais e depois... tomas uma decisão. Entretanto, quer ela queira ou não, vê o Miguel na tua presença ou na dos meus Pais. É a vez do Pedro suspirar, não devia ter pensado que a vida estava em ordem, mas a Beatriz acha que é um perfeito disparate. Tens que pensar que é um acidente de percurso e encontrar uma forma viável de o resolver, comenta, não podes deixar que as loucuras, chamemos-lhe assim, da tua ex-mulher comandem a tua vida! Nem a do teu filho! E se ele me odiar porque o afastei da Mãe? pe

A NOVA LOUCURA DA LAURA

  A Laura está diferente. Está mais magra, o corte de cabelo é moderno e resolveu adoptar o estilo da cunhada Teresa, boémio mas chique. O Pedro ficou surpreendido quando ela ligou e pediu para se encontrarem. Podes vir cá a casa, diz, vês o Miguel, conheces a Beatriz, mas a Laura recusa. Então, o que se passa? pergunta o Pedro quando o empregado se afasta e a Laura sorri. Quero falar sobre o Miguel, responde, quero passar mais tempo com ele, se possível, até partilhar a custódia. Calma! aconselha o Pedro, temos que discutir o assunto com calma, há muitos pormenores a esclarecer. Não há nada a esclarecer! comenta a Laura, estou melhor e quero estar com o meu filho! Ou vais negar-me isso? Não, não vou negar nada! observa o Pedro, mas não basta chegar aqui, quero ver o meu filho e quero vê-lo já, não funciona! Quero saber o que o teu médico pensa acerca do assunto. O meu médico é um idiota, interrompe a Laura, e os meus Pais também! Acham que sou incapaz de tomar conta de um miúdo! Um mi

A CONVERSA FIM

  Mais tarde, todos comentam que o motivo para o divórcio é pouco convincente, pois sempre pareceram se felizes juntos. Mas a Luísa tem medo, não quer assistir à derrota, explica, o que enfurece o Gustavo, pois "esperava maior apoio por parte de alguém que aceitou compartilhar a minha vida". A discussão é acesa por causa da guarda do Tobias, mas o juiz não aceita as alegações da Luísa e a custódia é partilhada. Abrem, finalmente a empresa, a Rita e o Gonçalo encarregam-se da publicidade, o Bernardo já tem dois clientes interessados e os dois amigos empenham-se ao máximo. Claro que não é fácil, às vezes, o Gustavo sente-se desanimado, pensa constantemente se terá sido a melhor opção, mas a Rita continua a incentivá-lo, estas coisas demoram tempo, diz. Até ao dia em que um antigo colega os contacta, a empresa dele precisa de ajuda na reestruturação de um departamento. Estamos a ter prejuízo, explica, não há coerência, não há diálogo e há pessoas que pedem transferência para out

A CONVERSA PARTE V

  O Gonçalo e o Bernardo ficam calados, embaraçados pela discussão e a Rita decide intervir, vocês acabam de jantar e discutir o que há a discutir, diz, eu e a Luísa vamos conversar para a cozinha. Na cozinha, a Luísa desabafa, que tem medo que as coisas corram mal, que a situação da empresa dela é delicada, é possível que haja despedimentos colectivos, acrescenta, o que vamos fazer com uma casa a pagar e um bebé? Viver, não estão sozinhos no Mundo! observa a Rita, começa tu também a procurar um novo emprego. Quanto ao Gustavo, é hora de arriscar; serás mais feliz se o deixares ir atrás do sonho dele do que viver com um homem frustrado! O vosso casamento ainda acaba em divórcio! Mas, se não resultar? insiste a Luísa, não sou tão optimista como tu, Rita, tenho medo! Todos temos medo, continua a Rita, não foi fácil para mim e para o Gonçalo, trabalhamos e muito para conseguir chegar até aqui! Há muita coisa a fazer antes de dar o passo final, sei que é assustador, repete, mas tens que o

A CONVERSA PARTE IV

  A irmã do Bernardo nasce de madrugada, é um alívio para o Pai e para o irmão. Há agora um grande problema, porque o Pai gosta de Sofia e a Aída prefere Madalena. És tu quem vai decidir, diz o Pai enquanto tomam o pequeno almoço numa confeitaria perto do Hospital, eu e a tua Mãe não estamos de acordo. O Bernardo ri-se, só tenho duas opções, comenta, ou fica Sofia Madalena ou escolho um nome completamente diferente. Que tal Mafalda? A Mafalda e a Mãe regressam a casa uns dias depois e a confusão é tanta que o Bernardo nem tem tempo para falar com o Gustavo sobre a ideia de abrirem uma empresa juntos. Mas o Gustavo tem pensado, não está nada satisfeito com o trabalho que está a desenvolver na empresa, o que foi discutido na entrevista de admissão está sempre a ser adiado e ele sente-se encurralado. Por isso, telefona à tia, podem reunir-se um dia destes? Eu e o Bernardo temos um projecto e gostaríamos de falar convosco, explica. A Rita fica curiosa, venham cá jantar, tu, o Bernardo e a

A CONVERSA PARTE III

  O que queres dizer? questiona o Gustavo, curioso e o Bernardo suspira, faz sinal que se vai servir de mais café. Gosto de pegar, digamos assim, num departamento, numa secção, reorganizar, definir prioridades, objectivos, treinar as pessoas para que tudo funcione como uma Máquina bem oleada e depois sair, explica o Bernardo, repetir o processo noutra empresa. O Gustavo fica pensativo, é uma ideia interessante, gostas de ser consultor? Estudas a empresa, os problemas com que se debate e encontras uma solução? Sim, tenho pensado em abrir uma empresa de consultadoria e fazer o que descreveste, confirma o Bernardo, só não tenho capital suficiente e preciso de um sócio. Estás a pensar em mim? interrompe o Gustavo, oh, pá, eu também não tenho dinheiro e fui pai há pouco tempo. Tenho outras coisas a considerar! afirma. Eu sei, diz o Bernardo, mas podes pensar no assunto? Claro que temos muito que considerar, acho que uma das primeiras coisas a fazer é falar com a Rita e o Gonçalo. Eles arris

A CONVERSA PARTE II

  O Pai do Tobias também não fica satisfeito quando a Mãe entra na sala e o chama baixinho. Já não está a dormir, está apenas confortável com os olhos fechados, a gozar o silêncio. Às vezes, o Tobias parece ter prazer em os deixar acordados a noite inteira, já tentaram deixá-lo gritar, se ninguém aparecer, ele cala-se, sugeriu o Gustavo, mas o Tobias ainda gritou mais alto e só sossegou quando a Luísa voltou a entrar no quarto. Mas o que é que o Bernardo quer? protesta quando saí para o corredor, oh, filho, não sei, responde a Mãe, parece estar muito agitado, vai conversar com ele. No quarto da Clarinha, o Bernardo organizou um jogo, o Tobias está a rir-se feliz e a Clarinha já não tem aquele ar de amuada que irrita os irmãos. O Bernardo faz sinal de STOP quando vê o Gustavo entrar e levanta-se. Oh, pá, desculpa incomodar-te num domingo, mas preciso de falar contigo, explica, não há problema, vamos conversar para a cozinha, comenta, a Luísa está a dormir na sala. Não é justo, declara a

A CONVERSA

A Luísa e o Gustavo não sabem como a Clarinha consegue acalmar o Tobias. Os dois adoram-se, é visível, o Tobias fica positivamente louco quando vê a Clarinha e esta, sempre tão inquieta e rebelde, passa horas a brincar com ele. A Madalena ri-se, a Clarinha sente-se um pouco a mãe dele, ter um bebé a sério para cuidar enche-a de orgulho, diz. Por isso, naquele domingo, depois do almoço, os dois rendem-se ao cansaço e adormecem. A Clarinha instala-se com o Tobias no quarto e a Madalena também se senta lá. Os dois estão sentados no chão, a Clarinha tenta explicar-lhe o jogo, mas o Tobias acha mais graça atirar as peças ao ar e ver onde elas caem. Não é isso, Tobias, tens que as colocar aqui, protesta a Clarinha, mas o Tobias ri-se e atira a peça contra a parede mais próxima. Oh, Clarinha, ele só tem seis meses, explica a Mãe, ele não entende o que são regras e afins. Organiza um espectáculo de circo com os peluches, mas a filha está já amuada. Não, Clarinha, não vais ficar amuada, observa

O REGRESSO FIM

  Por isso, relaxa, continua o Major. prova que tens capacidade para desempenhares as funções que te propuseram. E, deixa a vida seguir o rumo... Não quero com isto dizer, acrescenta, que não lutes, que não sejas ambicioso, mas não sejas demasiado! Nunca tinha analisado a situação desse prisma! confessa o Bernardo, tem toda a razão, é melhor esperar e ver o que acontece. Ora bem, concorda o Major, agora que já discutimos este assunto, vamos passar ao próximo? Quero organizar um jogo de futebol com os miúdos. Os únicos que ficaram de fora são a Francisca e o filho do Gustavo. Eu sou o árbitro, tu e a Clarinha os fiscais de linha. O Bernardo começa a rir-se, mas acaba por concordar e discutem todos os pormenores. O jogo fica marcado para sábado, as famílias comparecem em peso e o Matias e o Edgar apresentam-se como massagista e enfermeiro respectivamente. É um verdadeiro sucesso, o António fica orgulhoso do filho e a Sofia chora quando a bola lhe bate nas pernas. Ao fim da tarde, voltam

O REGRESSO PARTE IV

  Tão tarde, meu filho, queixa-se a Aída, tens que descansar um pouco, tens que te habituar a outros horários, a outro ritmo de vida, deviam ter dado uns dias de férias. O Bernardo e o Pai riem-se e nesse fim de semana, o Bernardo decide ver uns apartamentos. Encontra um interessante, num bairro novo. Não é muito longe do escritório e também fica relativamente perto da  casa Mãe. A renda não é muito alta, a cozinha está toda equipada e por isso, o Bernardo assina o contrato. A Aída fica um pouco contrariada, pensei que ficavas mais algum tempo connosco, diz e o Pai sussurra, não te preocupes, é das hormonas! A irmã da Teresa, a Carolina, vai vender a casa da praia e deixa-o ir ver a mobília. Talvez encontres alguma coisa que te agrade, não a vou vender com a casa, explica e o Bernardo passa lá o fim de semana a escolher móveis. Fica com o sofá, o tapete e a mesa que estão na sala de estar, a mobília de um dos quartos e tem pena que a estante esteja embutida, porque ficaria muito bem na