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A mostrar mensagens de fevereiro, 2020

O PROFESSOR DE LITERATURA - PARTE II

O Nicolau fica interessado, preenche a ficha para ficar com o cartão da livraria e saí satisfeito. Há muito que não lê um livro que não esteja relacionado com o trabalho, será uma aventura ler outros autores e sobretudo, saber o que as outras pessoas pensam. As obras estão bem adiantadas e o Nicolau opta por passar os dias ou na biblioteca da Universidade ou na Casa de Chá perto de casa. " Sabes o que o Professor me pediu? " conta a D. Florbela ao marido nessa noite " Se não me importava de lhe comprar roupa de cama e casa de banho? Sim, porque eu disse-lhe já que finalmente vai modernizar a casa, também pode fazer o mesmo relativamente à roupa." " Não vai ter problemas. Afinal, quem gosta daquelas camisas tão garridas, não se deve importar de dormir em lençóis iguais." responde o marido. " Oh, homem, não vou fazer nada disso! Não disseste que escolheu azul claro para o quarto e cinza para a casa de banho e o estúdio? " pergun

O PROFESSOR DE LITERATURA

Só quando a jornalista se foi embora é que o Nicolau percebeu como a casa era fria e antiquada. Há anos que a D.Florbela lhe diz que a casa precisa de obras, o meu marido pode fazer isso, é um bom profissional e não o vai explorar. O Nicolau fala com o empreiteiro, concorda com o plano proposto e as obras começam. A D.Florbela queixa-se que o Nicolau podia também renovar a sala de jantar e o outro quarto, mas este diz que não vai receber pessoas e o estúdio é o suficiente. Por isso, moderniza a cozinha e a casa de banho, pinta e compra novas mobílias para o quarto e o estúdio. Até aceita instalar a Internet, embora não fosse grande fã, mas acredita que será útil para continuar o trabalho sobre o tema favorito - literatura medieval. " O Sr Professor devia fazer outras coisas." aconselha a D.Florbela " Não é bom passar tanto tempo ao computador." O Nicolau encolhe os ombros, passou tanto tempo na Universidade que nem tem amigos fora do ci

A HISTÓRIA DO MAJOR - FIM

Entre os passeios, a procura de Mapas antigos, o desenho e as sessões no Clube, posso dizer que estou feliz... Feliz, não... contente... Tenho pena que a relação com os meus filhos continue a ser distante, um pouco hostil, lamento que não tenham em mim a confiança que o Bernardo demonstra. Tento chegar sempre um quarto de hora mais cedo para conversarmos, o rapaz é inteligente, criativo e adora debates. Às vezes, só participo para o desafiar e fico surpreendido como defende as opiniões. Os outros acham piada à nossa relação e mantém-se um pouco afastados. Gostaria de conversar mais com a Rita, mas ela está num outro Mundo. Está diferente, ri mais e surpreende-nos a todos com a ideia do jantar. Até me divirto no jantar, o Bernardo e os sobrinhos da Rita sentam-se ao pé e a conversa gira em torno de livros, novas tecnologias e os meus mapas. É a Rita quem dá por finda a noite. O António oferece-lhe boleia, mas ela recusa educadamente, já combinei tudo

A HISTÓRIA DO MAJOR - PARTE IV

Decido não o levar para a sessão, embora faça scanner e envie para o Bernardo. Hoje é a discussão final. Chegamos ao fim do livro e temos que decidir qual é o próximo. A Rita propõe fazer uma lista, eu pergunto quais são os critérios, uma pergunta com toda a lógica, mas eles não apreciam. Tenho que me convencer que nem toda a gente observa as mesmas regras que eu. Lembro-me que eu e a Ana discutíamos muitas vezes sobre as regras que eu queria impor aos rapazes. " O Sr Major tem que se lembrar que a negociação é também vital para a conclusão da guerra!" dizia e os rapazes acediam mais facilmente aos argumentos dela do que aos meus. É isso que está a acontecer nesta sessão e tenho que confessar que não estou nada satisfeito. Mas esforço-me para fazer a lista que me pedem. A Catarina telefona-me, está bem? precisa de alguma coisa? quer vir almoçar no domingo?, mas eu recuso educadamente. Sinto que ela fica triste e sugiro um café ao fim da

A HISTÓRIA DO MAJOR - PARTE III

Não creio que a Rita, é como se chama, note. Escuta o Nicolau com uma certa deferência, talvez porque o ex- Professor tem uma certa idade, mas quando defendo a minha opinião, há uma certa troça no olhar dela. Fico um pouco melindrado, mas hesito, não sei se a devo confrontar ou não. O que me admira mais é a relação rápida de amizade que estabeleço com o Bernardo, o filho da Aída. O rapaz gosta de desafios, eu também e estamos a dar-nos muito bem. Porque a relação com os meus filhos continua complicada, apesar dos esforços da Catarina, a mulher do Frederico que insiste em me convidar para o almoço de Domingo. O Francisco e a namorada, Maria também lá estão, mas o ambiente é pesado. Não temos grande coisa a dizer, embora a Catarina me faça imensas perguntas sobre os meus hobbies. Os meus filhos ficam calados, não contribuem para a conversa e vejo que a Maria está pouco à vontade. Despeço-me logo que possível e ainda escuto a voz irada da Catarina quand

A HISTÓRIA DO MAJOR - PARTE II

A D.Fátima diz que continuará a trabalhar cá em casa, deve ter pensado que a casa tornar-se-á numa pocilga, mas terá uma surpresa ao ver a cama feita, a cozinha arrumada e a casa de banho limpa. Não vou limpar pó ou aspirar e espero que ela saiba engomar as minhas camisas com rigor. O que vou fazer com o meu tempo está ainda um pouco confuso... mas gostava de saber mais sobre a cidade. Vou até à Biblioteca, encontro mapas e procuro outros nos Antiquários. Sempre gostei de Mapas e de desenhar e é isso mesmo que vou fazer. A D.Fátima fica admirada quando me vê a instalar cavaletes no antigo escritório da Ana. Não sei se o computador é adequado aos programas que quero instalar e dou uma vista de olhos. A caixa de correio da Ana está cheia de mails. Alguns são publicidade, outros de amigas (algumas até encontrei no funeral) e vários são de alguém que assina José. São íntimos e fico a pensar se não terá sido por causa dele que a Ana falou em divórcio. Nunca saberei,

A HISTÓRIA DO MAJOR

Gosto de mulheres esbeltas e ruivas. Foi uma surpresa quando decidi casar com a Ana, que não era esbelta mas sim roliça e tinha cabelo preto. Mas tinha uma alegria de viver contagiante que me atraiu deveras. Seguiu-me sem um queixume para onde fui destacado, fazia amizades facilmente e estava sempre ocupada. Contudo, tudo mudou com o nascimento dos gémeos, o Francisco e o Frederico e a Ana começou a dizer que era melhor mudarmos para uma cidade grande. Seria mais fácil encontrar boas creches, escolas, etc e nem de propósito, fui destacado para um vila a uns cem quilómetros da capital do distrito. Tornou-se incomodo viajar todos os dias e por isso, optei por alugar lá um apartamento. A Ana e os miúdos instalaram-se na cidade e em breve, tinham uma rotina da qual eu não fazia parte. Viam-me ao fim de semana, a Ana tentava ser o ponto de equilíbrio, mas a verdade é que eu e os meus filhos tínhamos um relacionamento hesitante, distante. Quando me refo

BERNARDO - FIM

Estou a gostar imenso do livro e falo largamente sobre ele na Página do Face do Pedro e dos amigos. Estes também estão a gostar do Encontro de Leitores, dizem que o Bruno é muito criativo e até lhes pediu para escrevem uma breve crónica policial. Nós descobrimos que o Major gosta de Mapas e de desenhar. Até fala em construir um modelo 3D da batalha, o que me interessa imenso. Faço imensas perguntas, mas ele ainda não tem nada em concreto. Está a fazer pesquisa, diz e o António só se ri. Se calhar, pensa que o Major não sabe trabalhar com computadores... É a Rita quem sugere o jantar de comemoração e eu fico muito contente quando escolhem uma pizzaria. Os sobrinhos da Rita são " fixes" e ficam interessados quando o Major começa a explicar como está a construir a Batalha. Em breve, esquecemos os outros que também se devem estar a divertir a avaliar pelas gargalhadas. Ás onze horas, a Rita levanta-se, tem que ir para casa, já passa da ho

BERNARDO - PARTE IV

O Pedro aparece com mais dois rapazes que conheço de vista. Os meus amigos, Dinis e Henrique, diz, espero que não haja qualquer problema, mas estamos interessados em saber mais sobre esse Clube de Leitura. O Bruno está cheio de ideias para o Clube, não é um Clube, é mais um encontro de leitores e vamos começar pela literatura policial, explica. " O objectivo é o membro escolher o livro e no encontro, fala-se sobre o crime em si, a forma como está descrito, a veracidade das testemunhas, etc. Até podemos discutir o que modificaríamos, etc." explica. Até eu fico interessado, mas não, não vou abandonar o meu Clube. Deixo-os com o Bruno, há já uma outra pessoa inscrita e com ele, são cinco. O " Encontro " pode arrancar, vai reunir-se quinzenalmente às quintas-feiras. " O Bruno está todo empolgado." comento e a minha Mãe diz que a sede está satisfeita com os resultados obtidos. " Claro que o do Bruno tinha que ser diferente

BERNARDO - PARTE III

O Major diz que qualquer plano depende da concentração, dedicação e disciplina. O Nicolau aconselha a ponderar várias hipóteses para ter um plano B caso o principal não funcione. O António concorda, é como se fosses dar uma palestra, defender um trabalho teu, tens que estar preparado para responderes a todo o tipo de perguntas. Por isso, levanto-me mais cedo para ler e levo o livro comigo para a escola. Aproveito para ler durante o intervalo para almoço e deparo com a incompreensão de alguns dos meus colegas. Acham ridículo perder tempo com leituras quando há um novo jogo que vai ser lançado brevemente e estão já a fazer pré-reservas. Nem lhes respondo, guardo o livro e volto para a sala de aula. O Pedro Gomes segue-me, senta-se ao meu lado e pergunta: " Que tal é o livro? " " Estou a gostar... Foi o Clube de Leitura que o escolheu, pensei que era uma seca, mas é bom." confesso surpreendido, porque não falo muito com o Pedro. É muito

BERNARDO - PARTE II

Afinal, o livro não é a " seca " que eu pensava. Dou por mim a pesquisar o Google, quero ver Mapas do País, tentar encontrar o local certo da cidade onde tudo se passa, estudar o clima. " Sabes que a cidade é fictícia? " pergunta-me a minha Mãe, mas eu acho que isso não é relevante. Por isso, naquela quarta-feira, estou ansioso à espera do Major e como ele chega uns minutos antes dos outros, comparamos notas. Quando os outros chegam, estamos a discutir exactamente onde pensamos ser a cidade. O Nicolau pede-nos para partilharmos as nossas opiniões com os outros membros, o que penso não ser boa ideia, porque o Major fica furioso quando o António lhe diz abertamente que " não está a perceber bem a mensagem". " Mas que mensagem? " repete o Major e o Nicolau intervém muito calmo, impondo ordem. Teria sido assim nas aulas dele? murmuro, mas o certo é que todos obedeceram. Há uns minutos de silêncio, parecem estar desc

BERNARDO

Fiz asneira e da grossa! O meu Pai fica muito sério quando lhe explico o porquê de ficar suspenso um mês. Só me pergunta se a cabeça serve só para passear com os ombros e não diz mais nada. Preparo-me para ouvir música, jogar até às quinhentas e dormir até tarde. Depois encontro-me com os colegas no Shopping para darmos uma volta. Contudo, a minha Mãe tem outras ideias e embora proteste veementemente, é-me dito que a " sentença"  está dada e é irrevogável. " Mas o que é que eu vou fazer todo o dia na livraria? " " É fácil..." explica a Mãe pacientemente " De manhã, ficas sentado no meu gabinete a rever a matéria, a fazer os exercícios que vais pedir a um dos teus colegas que te envie e à tarde, ajudas-me a repor as prateleiras... Ah, e vais ao Clube de Leitura que começou hoje." " O quê? Clube de Leitura?" repito e os meus Pais confirmam. Por isso, cá estou eu à espera que esta porcaria do Clube comece. A Mãe entre

ANTÓNIO - O FIM

O Nicolau não põe qualquer objecção em irmos a uma pizzaria e a Rita leva os sobrinhos, pois, segundo percebi, os Pais foram passar o fim de semana fora. O rapaz deve ser da idade do Bernardo e a rapariga não tem mais do que treze anos. Há ainda a Clarinha, a benjamim da família que prova ser tão divertida como a Tia. A Rita está muito animada e embora tenha vestido jeans e T-Shirt como a Aída e a sobrinha Madalena. continua a estar elegante e sexy. O Nicolau e o Major também a observam, devem estar a pensar o mesmo que eu, mas a Rita nem dá conta. Estamos todos divertidos, os adolescentes monopolizam a atenção do Major, creio que por causa do modelo 3D e a Clarinha quer saber se tenho irmãos. " Ah, como eu!" diz muito sério quando lhe digo que tenho uma irmã gémea e um irmão mais novo " É bom ter irmãos, não é? Ás vezes, o Gustavo ouve a música muito alto e não me deixa dormir, mas... acontece? " Concordo solenemente, a Rita intervém, dei

ANTÓNIO - PARTE IV

A muito custo, reduzo a lista a apresentar no Clube. As senhoras do escritório falam muito no Moita Flores e na Laura Esquivel e eu fiquei curioso com os temas. Quanto ao Bernard Cornwell, o caso é diferente, porque há colecções inteiras sobre uma personagem e não estou a ver o Clube dedicar-se à leitura de onze volumes sobre o soldado Sharpe. Por coincidência, a Rita e o Bernardo também falam do Bernard Cornwell, tem o meu nome, justifica o adolescente e a única questão que se coloca é efectivamente qual. É a Aída quem sugere a leitura da trilogia " Rebelde ", são só três e se não gostarmos do primeiro, não temos que ler os outros, diz. Até o Major concorda, pois, fala de guerras, estratégias, sussurra a Rita e o Nicolau sorri. A Rita está linda hoje. Não sei se é das madeixas, se do vestido estampado em tons de preto e vermelho e vejo como o Nicolau a admira. No fim da sessão, o Nicolau convida-a para jantar, depreendo isso pelo olhar admirado

ANTÓNIO - PARTE III

Com o fim da tarde, chegam a Luísa, a namorada do Gonçalo e o Pedro, o marido da Laura e duas grandes pizzas. É uma pena desarrumar a cozinha, penso, mas a Laura dá-me um empurrão, não te preocupes, ajudamos todos e o jantar é uma sessão de risos e conversa leve, divertida. Segunda e terça-feira são dias complicados a nível de trabalho, mas na quarta, saio às seis em ponto. A sessão é interessante, se bem que não goste que o Major esteja sempre a interromper as pessoas. Começo a perder a paciência, não concordo com o que está a dizer, quero explicar o meu ponto de vista, mas ele não deixa. É o Nicolau, com toda a sua calma que o interrompe.  O Major não está satisfeito, mas estamos aqui para conversar, não é verdade? refiro  e os outros concordam. No meio disto tudo, quem me está a surpreender é o Bernardo. Para quem estava sempre com cara de quem está a fazer um favor, o rapaz está a mostrar como é inteligente e criativo na análise que faz sobre o livro. &

ANTÓNIO - PARTE II

Não sei verdadeiramente o que se passa comigo, se estou a despertar novamente para a vida. O que é certo é que é quarta-feira, e estou a conversar com o Nicolau à porta da livraria.  Este confessa que está quase a terminar o livro. " Sei que eram apenas os primeiros dois capítulos que devíamos ter lido, mas está escrito de uma maneira tão fluída, tão cativante e a história é tão intensa que não consegui largar." " Também me aconteceu isso." digo " E a mensagem é poderosa, não acha?" . Mas o Nicolau não me responde, já estamos dentro da sala do Clube e há duas pessoas novas que nos olham desconfiadas. A Rita (Ups! Mudou de penteado e o vestido.... não sei se a palavra correcta será sexy!) sorri-nos travessa e a Aida (maldita a hora em que as mulheres optarem por este "uniforme" de calças jeans e T-Shirt) faz as apresentações. " O meu filho Bernardo e o Major Amadeu Almeida. Como é a primeira vez que os dois estão pre

ANTÓNIO

Quando me perguntam pela minha mulher, hesito e as pessoas concluem que sou divorciado ou então viúvo. A separação foi tão dolorosa que acabo por não as corrigir e é isso que pensam aqui no Clube de Leitura. Hesitei em entrar, até porque já estava a começar, mas o empregado disse que não havia problema e aqui estou eu na sessão de apresentação do Clube de Leitura. O que a organizadora está a dizer é interessante e estou a ver que a mulher exótica que diz chamar-se Rita concorda. Quanto ao velhote com a camisa xadrez e a boina basca, Nicolau Vaz, as observações que faz são pertinentes e tenho a certeza de que este Clube será uma boa maneira de esquecer o lado escuro da minha vida. No dia seguinte, compro o livro e leio umas páginas enquanto tomo um café. O título, Cem Anos de Solidão, intriga-me e dou por mim a fazer pesquisas no Google sobre o escritor e o País. Quando chego a casa, e não posso dizer porquê, noto pela primeira vez como é fria, impessoal. Os móve

RITA -FIM

" Não sei como pode estar perdido... além do mais, conheceu aquela Sally..." repete o Bernardo, mas a um sinal da Mãe, cala-se. A Rita ri-se baixinho, pois tem quase a certeza de que o rapaz ia dizer " boazona" e é a palavra correcta. Será também interessante falar da Sally, que é ambiciosa e provavelmente, tornar-se-ia numa perita, e utilizando um termo moderno, em " tráfico de influências". Ou teria sorte e casaria com alguém que lhe daria segurança, uma casa e criados. Mesmo que os outros a olhassem com desdém. A Rita volta ao presente, o Major acha que o Nat será um bom soldado e o Nicolau não concorda, porque a história dele com os Pais não está terminada. " Se ficar no Sul, lutar pelo Sul... os Pais podem não lhe perdoar, a ruptura pode ser completa!" " Como o Adam diz, a guerra será a perda da inocência... As pessoas terão que enfrentar finalmente o Mundo, evoluir, desenvolver....enfim, viver a época.&quo