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A mostrar mensagens de julho, 2022

A REFORMA PARTE III

  Não vamos falar de coisas tristes, atalho, o Telmo está a pensar em reformar-se. O quê??? a Rita está espantada, não vejo o Telmo a passar os dias em casa, a ler o jornal. Nada disso, interrompo, ele quer reduzir a actividade presencial, ser mais consultor. Hum, a Rita não parece convencida, quando teve o ataque cardíaco, também prometeu reduzir e acabou por se empenhar ao máximo na investigação dos casos, diz. Suspiro, tenho que confiar nele, respondo, se ele o fizer, eu também reduzo a minha colaboração na loja, pelo menos, no catering. É a parte que menos gosto! confesso, terei que combinar com a Teresa, ela quer passar mais tempo na vila. Porque é que não compras uma casa lá? sugere a Rita, o Gonçalo adora lá estar, este Verão, a Francisca vai passar uns dias a Inglaterra e nós resolvemos ficar lá. Não sei, replico, nunca falamos nisso... A vila ainda se torna propriedade da família! e a Rita ri alto. Mas quando discuto o assunto com o Telmo, ele não fica muito entusiasmado com a

A REFORMA PARTE II

  A Clarinha quer saber tudo sobre o nosso fim de semana, descreve o dela em pormenor, faz-nos rir. Com isto, quero falar-vos do meu novo projecto, remata e tanto eu como o Telmo ficamos alarmados. Nem pensar em sair do País, interrompe o Telmo, já recuperaste a mobilidade quase na totalidade, mas tens que ter calma, nada de viagens para sítios exóticos! Nada disso! apressa-se a Clarinha a esclarecer, propuseram-me um lugar de monitora num acampamento ecológico para miúdos entre os seis e os doze anos! Tenho vasta experiência com miúdos, acrescenta com um sorriso. Sorrio aliviada, mas o Telmo ainda não está convencido, quer mais detalhes, oh, Pai, o objectivo é o miúdos perceberem a natureza, saberem como a podem preservar, explica a minha filha, o acampamento é perto da quinta dos Pais do António, já falei com ele, quero saber se posso levar lá os miúdos. Será aconselhável? pergunto, ao que eu sei, a Laura continua internada, mas pode estar nessa altura e pode haver um choque... També

A REFORMA

  Finalmente! declaro enquanto me deito em cima da cama, tempo para mim! O Telmo ri-se, acaricia-me a mão, estás a falar a sério? pergunta e eu rio-me também. Sim, a Clarinha está a recuperar bem, o Gustavo e o Júnior entraram finalmente numa rotina e a Matilde e o Bernardo tomaram uma decisão sensata, contratar uma governanta. Como é que tiveram 4 filhos em tão pouco tempo...explico. O Telmo suspira, é bom ver como a Matilde controla agora a vida dela, houve ali uma altura em que me preocupei seriamente com ela, diz. Não vamos falar do passado! interrompo, creio que posso dizer que somos duas pessoas sensatas, que tomamos as decisões adequadas e ajudamos os nossos filhos! Este fim de semana é para nós... O meu marido volta a rir-se, há muito tempo que não o via assim tão descontraído e é ao jantar num restaurante simpático na vila que me conta estar a pensar em " desligar-se" do trabalho efectivo no Departamento e "ficar-se" apenas pela actividade de consultor. Esp

GUSTAVO FIM

  Talvez por ter sido uma criança rebelde, a Clarinha sabe falar com o meu filho e torna-se o meu maior apoio. O rapaz torna-se mais civilizado, a Clarinha brinca comigo, diz que sou um "pai tirano", ele só estava assustado, acrescenta, tens que ter paciência, tens que falar verdadeiramente com ele e dá-me uma palmada nas costas. Quem diria, que a Clarinha se tornaria tão sensata? confesso à Matilde, mas a minha irmã suspira, não é apenas sensatez, diz, é experiência de vida. Estiveste presente, sabes tão bem como eu os problemas que houve! Quando a audiência é marcada, posso dizer que a relação com o Júnior está mais civilizada, ainda temos um longo caminho pela frente, mas já obedece, fala mais e descubro que é bastante brincalhão. A Luísa faz-lhe uma grande festa quando o vê, o Júnior fica um pouco desconfortável, mas senta-se com todo o aprumo ao lado da Assistente Social. A audiência é breve, o juiz está de posse de todos os factos, considera que o melhor para o Júnior n

GUSTAVO PARTE V

  O Gustavo Júnior não quer tomar banho, não quer dormir, faz uma cena sempre que o contrario. Perco a paciência, os livros aconselham o diálogo, mas não está a resultar e por isso, dou-lhe uma sapatada. O Júnior berra mais alto, tenta sair do quarto, mas eu impeço-o e como está cansado, acaba por adormecer. Na manhã seguinte, a cena repete-se, acabo por lhe dar dois açoites, entrego-o a uma auxiliar que o convence a ir brincar com os outros meninos. Diz-me a educadora ao fim do dia que ele pouco participou nos jogos, foi um pouco agressivo com os outros meninos, explico-lhe por alto o que está a acontecer. Oh, rapaz, não podes continuar a comportar-se desta maneira, aviso, não é nada cool! e o Júnior deita-me a língua de fora, suspiro. Prevejo tempos muito complicados e quando almoçámos no parque com a Matilde, o Bernardo e a prole, confesso que não sei o que fazer. Tens que ter paciência, aconselha a Matilde, pelos vistos, a Luísa deixava fazer o que ele queria, tu és o inimigo, porq

GUSTAVO PARTE IV

  Mas eu não respondo, não sei o que vai acontecer, não sei se separar o filho da Mãe é uma boa ideia. A Luísa entra em pânico quando vê cinco pessoas à espera dela no átrio do edifício onde mora, tinhas que fazer isto? acusa-me, mas o Dr Leonardo convence-a a deixar-nos entrar. Não vamos discutir o assunto em público, pois não? e a Luísa deixa cair as chaves tão atordoada está. Sou eu quem abre a porta, lá dentro ainda reina a confusão, mas a sala está mais ou menos arrumada e a Luísa senta-se. O meu filho está contente por me ver, mas pressente o nervosismo da Mãe e olha-nos desconfiado. É melhor ires brincar para o teu quarto, aconselho e a assistente social vai com ele. O que é que se passa? repete a Luísa, queres fazer o favor de me explicar o porquê deste circo? e eu coro violentamente, sinto vontade de lhe bater. O Dr Marcelo faz-me sinal para estar calado, tenho que manter a calma, penso, o objectivo dela é enervar-me e isso não pode acontecer! Os dois advogados expõem os facto

GUSTAVO PARTE III

  A situação é delicada, avisa o meu advogado, mas o caso está já sinalizado e não vejo razões para não resolvermos isto rapidamente. O que é que vamos fazer agora? pergunto, amanhã, eu, o Dr Marcelo, responde o advogado da minha ex, o senhor, uma funcionária do Tribunal e a delegada dos Serviços de Protecção de Menores faremos uma visita à Luísa para discutirmos o assunto. A Luísa não sabe de nada, interrompe o Dr Marcelo, antecipando a minha pergunta, sinto-me como se fosse roubar o meu filho, confesso. Não estás, e o Pai é brutal no comentário, a Luísa desrespeitou o acordo da custódia, tem que responder por isso. Não quero...eu sei que não quer, Dr Gustavo, interrompe o Dr Leonardo, mas o que está aqui em questão é o bem estar do seu filho e eu também tenho que zelar por isso. É a via que temos que seguir. Aceno com a cabeça, combinamos tudo para o dia seguinte, o Pai respeita o meu silêncio no carro. Infelizmente, diz quando chegamos a casa, vejo muitos casos assim, são complicado

GUSTAVO PARTE II

  Acabamos por ir os três à Argentina, eu, o Pai e o Bernardo, temos que ajudar a Rita e a Clarinha. É um pouco complicado, mas lá trazemos a Clarinha para casa, a Mãe fica mais sossegada e eu posso concentrar-me no problema da tutela do miúdo. O meu advogado telefona-me naquela manhã, diz que é urgente, tenho que interromper. O cliente fica surpreendido, o Bernardo fica aborrecido, o trabalho está um pouco atrasado e temos que nos concentrar, mas eu tenho quase a certeza que a minha ex está a levantar problemas. O que é que foi? quase grito, o que é que ela quer? tenha calma, Gustavo, responde o advogado, a situação é complicada, mas vamos resolver tudo. O que é que aconteceu? pergunto um pouco mais calmo e pacientemente o advogado conta-me que a Luísa mudou-se para outra cidade, levou o miúdo sem a minha autorização. O advogado da Luísa contactou-me, aconselhou-a a não fazer isso, mas ela fê-lo, continua, já estamos a tomar as providências necessárias para reverter a situação. Revert

GUSTAVO

  O dia não podia terminar da melhor maneira... Primeiro foi uma discussão com a minha ex sobre o fim de semana com o miúdo, mas este é o meu fim de semana, protesto, a semana passada foi a festa de aniversário do colega e agora é a comunhão da tua sobrinha? Ele tem que conviver com a família, defende a minha ex, também tem que conviver com a minha família, respondo, mas ok. Na próxima semana, ele vem impreterivelmente passar o fim de semana comigo, doa a quem doer. Desligo, estou furioso, o divórcio está a ser mais complicado que o casamento, penso, tenho que falar com o advogado, estas desculpas para o miúdo não ficar comigo são excessivas! Um alarme rasga o silêncio da noite, bolas, será o meu? murmuro, abro a porta, desço as escadas a correr, já encontro alguns vizinhos na rua. Não é só o meu carro que tentaram assaltar, há vários com as janelas partidas, fechos arrombados, chamamos a polícia que demora cerca de meia hora a chegar. Toma nota dos nossos depoimentos, tira fotos aos c

O SEGREDO DO EDGAR FIM

  O jantar termina, é a minha vez de limpar a cozinha e o Edgar está de serviço ao " infantário" como digo. Os meus sobrinhos apressam-se a corrigir-me, somos pessoas grandes! e o Luís desafia-me a dizer o contrário, mas eu faço apenas uma careta, a Matilde ri-se. É nessa altura que o telemóvel do Edgar toca, ele fica indeciso ao ler o nome no écran e olha para o Matias. Ok, vai atender, replica o meu irmão, eu trato dos miúdos, o livro de histórias está em cima da mesinha, aviso, mas o Matias encolhe os ombros, tem outros planos para os entreter. O Edgar saí com eles, deve ir para o quarto, mas eu estou de serviço à cozinha, a Mãe fica para me ajudar, não posso sair. MATIAS, o Edgar grita minutos depois, ups, boas notícias! Não está grávida, deduzo de imediato e fico um pouco desiludida, adorava gozá-lo! Edgar, não admito gritarias! Assustas os teus sobrinhos, eles têm que dormir, há escola amanhã, a voz séria da Mãe corta o ambiente. Desculpe, Mãe, o Edgar está atrapalhado,

O SEGREDO DO EDGAR PARTE V

  Nos dias seguintes, o Edgar está nervoso, embora fale em código com o Matias, percebo que a namorada já fez o teste. Mas prefere discutir o assunto comigo em pessoa, frisa, é mau sinal, não achas? Mau sinal? Que conversa é essa? pergunto e o Edgar dá-me um empurrão, não devias estar no Abrigo? exclama Não sabes que é falta de educação escutar as conversas dos outros? Estamos na cozinha, não estamos? sublinho, se queriam falar em privado, ficavam no quarto! O Edgar lança-me um olhar colérico, eu deito a língua de fora e a Mãe, que entra nesse momento, diz, Silêncio! Nem mais uma palavra! Realmente, a Inês não deixa de ter alguma razão: há aqui um mistério e eu gostava de saber o que se passa. Nada, não se passa nada, atalha o Matias, a Mãe já sabe que o Edgar é um trapalhão, tem que concluir um relatório e eu estou a ajudar.  A Mãe olha-o atentamente, desconfia de alguma coisa, mas não acrescenta mais nada e os meus irmãos saem da cozinha apressados. Eu acho que o Edgar tem um secreto

O SEGREDO DO EDGAR PARTE IV

  Tenho o cuidado de deixar a casa de banho da Mãe como a encontrei e acabo por me vestir lá. A Mãe fica um pouco surpreendida quando me vê, não me digas, pede, guerra por causa da limpeza da casa de banho? Vocês têm que encontrar uma maneira de se entenderem, já sabem o que ficou combinado. A D. Margarida limpa-a todos os dias e vocês mantém-na em condições de utilização, frisa. Devia fazer uma para mim, respondo, não posso utilizar a de serviço? e a Mãe suspira, abana a cabeça, essa é para uso exclusivo da D. Margarida, repete, não me importo que utilizes a minha, mas aplicam-se as mesmas regras. É a minha vez de suspirar, a casa de banho fica dentro do quarto da Mãe, complica um pouco as coisas. Temos que fazer um horário de utilização da casa de banho, proponho aos meus irmãos nesse noite ao jantar, mas eles riem-se. Estás louca??? troça o Matias, é um pouco despropositado, concede a Mãe, mas não deixa de ter alguma razão. Não ficou combinado deixarem a casa de banho como a encontr

O SEGREDO DO EDGAR PARTE III

  Adormeço, acordo tarde e encontro já o Edgar e o Matias na cozinha a darem o pequeno almoço aos miúdos. Estou atrasado, declara o Matias, um de vocês tem que os levar ao colégio, a Filipa veio muito tarde e está ainda a dormir. Tu, Inês! pedem os miúdos, podemos ir de metro? pergunta o Luís e eu aceno que sim. Fala com ela e depois telefona-me, segreda o Matias ao Edgar, finjo que estou a cortar uma fatia de pão, mas percebi tudo. Se conseguisse apanhar o telemóvel do Edgar e ler os SMS... não seria a primeira vez e sei como o fazer sem deixar vestígios que li as mensagens. Mas o Edgar tem o telemóvel na mão, não o larga nem por um segundo, está à espera de um SMS importante. O telemóvel apita quando estou a preparar os miúdos, vejo que o meu irmão fica um pouco agitado, algum problema? pergunto trocista, mas o Edgar nem responde. Os miúdos adoram a viagem de metro, fazem imensas perguntas e eu estou com a cabeça à roda quando os entrego à auxiliar. Passo a manhã no Abrigo, fico lá a

O SEGREDO DO EDGAR PARTE II

  Depois o quê? repete o Edgar, ouço o Matias a respirar fundo, quando tiraste o preservativo!!! diz, rompeu-se quando o tiraste???? Não sei! grita o Edgar, ela está com um atraso e estamos preocupados. Há quantos dias? pergunta o meu irmão, oh, pá, mas afinal o que é que tu sabes? Por amor de Deus, Edgar, isso é importante!!! Um ou dois dias, responde o Edgar, o Matias suspira, ok, não vamos entrar em pânico! As mulheres podem ter atrasos e pode nem ser gravidez!!! Espera até ao final da semana, ela que compre um daqueles testes rápidos de gravidez e depois, falamos novamente, sugere. Mas o Pai dela é dono de uma farmácia, protesta o Edgar, não pode comprar lá! Valha-me Deus, tu és estúpido ou quê? noto que o Matias está a ficar exasperado, há mais farmácias na cidade, olha, compra tu aqui na farmácia do quarteirão! Um deles aproxima-se da porta, começo a recuar, já estou no meio do corredor quando eles saem da cozinha, o Edgar muito corado e o Matias muito sério. O que é que estás a

O SEGREDO DO EDGAR

  Com a morte do Pai e a doença da Mãe, não pensei muito no que quero fazer. Ok, podes ter um ano sabático, diz a Filipa, faz voluntariado, dá explicações, concorre a um part-time, mas faz qualquer coisa, frisa. Trabalho uns tempos com a Clarinha na organização onde ela é voluntária, tenho as manhãs todas ocupadas e três vezes por semana, trabalho num call-center. Estudo as minhas opções, estou indecisa entre Sociologia e Tradução, parecido! troça o Edgar, mas a Mãe manda-o calar, incentiva-me a expor as minhas razões. Interessa-me essa área, respondo, principalmente agora que estou a trabalhar naquele Abrigo para Mães Adolescentes. Atenção, interrompe o Edgar, não te tornes tu numa Mãe Adolescente! e eu dou-lhe um murro no braço. Edgar, isto não é um assunto para brincadeiras! observa a Mãe, também te posso chamar a atenção para o mesmo! Cuidado com as tuas relações, não sejas Pai muito cedo! O Edgar fica muito corado, não se atreve a dizer mais nada. Observo-o com atenção, o meu irmã

RITA E CLARINHA FIM

  A Rita suspira de alívio, as férias foram muito cansativas e ela está muito preocupada com a irmã. A Madalena parece ter envelhecido um ano, está apática e queixa-se a Matilde que tem que a obrigar a levantar-se, a vestir-se, mesmo a comer, parece estar a viver noutro Mundo, sussurra. É normal, assegura a Rita, só vai ficar sossegada quando a Clarinha regressar. Não sei se foi uma boa decisão ela ter ficado cá, insiste a sobrinha, talvez lá, ela ficasse mais calma. A Rita não diz nada, não tem realmente uma opinião formada sobre o assunto, por isso, limita-se a ouvir a irmã. A Madalena desabafa toda a dor que lhe enche o coração, chora, faz com que a irmã chore também. Resolvem telefonar para a Argentina, é o Gustavo quem atende, a Clarinha está estável, o Pai está a tratar da transferência dela para um hospital português. Creio que no fim de semana estará tudo concluído, remata, por isso, sossega, Mãe. Está tudo em ordem. A Madalena respira fundo, tem já um pequeno sorriso nos lábio

RITA E CLARINHA PARTE V

  Só chega três dias depois, o Gustavo e o Bernardo acompanham-nos, a Clarinha já acordou, não tem quaisquer danos neurológicos, está apenas muito fraca, explica a Rita muito cansada e ansiosa. A irmã está sempre a telefonar-lhe, o Telmo não me deixa ir, diz que estou muito nervosa, confessa, tem razão, acho que ia complicar tudo! A Mãe está uma pilha de nervos, conta o Gustavo, tivemos que chamar o médico para lhe dar um sedativo!  Eu também ficaria se acontecesse alguma coisa à Francisca, protesta a Rita, e tenho a certeza de que tu também se fossem os teus filhos! e o sobrinho cora. Oh, Rita, porque é que não vais descansar? propõe o Bernardo, quer evitar uma discussão, os dois estão muito nervosos, nós ficamos aqui. A Rita sorri-lhe, inveja-lhe a calma, a ponderação e concorda, precisa de tomar um banho, comer uma boa refeição e depois dormir. Combinam encontrar-se para jantar, o Telmo está ainda reunido com o médico, o Gustavo e o Bernardo seguem a enfermeira, vão ver a Clarinha.

RITA E CLARINHA PARTE IV

  Como a Clarinha continua a não atender, a Rita fica preocupada e resolve ir até à sede da organização, onde encontra gente reunida no átrio, muito nervosa e a falar muito alto. Quando explica que é tia da Clarita Bernardes, há um silêncio tão pesado que a Rita percebe que aconteceu qualquer coisa de muito grave. O que é que aconteceu? insiste, por amor de Deus, expliquem o que aconteceu à Clarinha! mas ninguém até que uma senhora com um aspecto austero se aproxima. Apresenta-se como sendo a Chefe da Delegação, convida-a a irem para o gabinete para conversarem melhor e após lhe oferecer um chá que a Rita declina, explica-lhe que houve um acidente de viação. A sua sobrinha e o outro delegado iam visitar aquele bairro, sabemos que é um pouco problemático, diz, mas nunca tivemos grandes... Até hoje, interrompe a Rita muito séria e a Chefe hesita antes de continuar, alguém fez explodir uma bomba e o carro onde seguiam a sobrinha e o colega capotou por causa do impacto. A Clarinha está fer

RITA E CLARINHA PARTE III

  O Gonçalo aceita o convite para jantar, no nosso restaurante favorito? pergunta, que ideia, responde a Rita, vem jantar cá a casa, a Francisca vai jantar a casa da Madalena. O Gonçalo é pontual, aceita uma bebida e ouve-a atentamente. Fica uns minutos calado quando a ex-companheira, a Rita fica preocupada, é uma loucura? insiste. Que ideia! protesta o Gonçalo, deves ir, tu gostas de viajar, de novas experiências. É uma  oportunidade única, aproveita. E a empresa? E a nossa filha? repete a Rita e o Gonçalo abana a cabeça, a nossa filha tem dezasseis anos, é muito independente e pode ficar em casa da Madalena ou aqui comigo, sugere, eu fico a gerir a empresa, aliás, estou a pensar em alternar o trabalho remoto com o presencial, é uma forma de fazer a experiência. Achas que é uma boa ideia? a Rita continua indecisa, o Gonçalo fica impaciente, Rita, goza o momento! A Rita ri-se, discutem os detalhes e no dia seguinte, telefona à sobrinha, diz-lhe que vai aceitar a sugestão, vai passar du

RITA E CLARINHA PARTE II

  Nesse momento, a Clarinha tenta convencer a Rita a ir com ela para a Argentina, estás maluca! diz a tia, o que é que eu vou fazer à Argentina? Não posso ficar lá seis meses!!! E a Francisca? E a empresa? Que ideia! protesta a Clarinha, não estava a falar em ficares lá seis meses, ias comigo e voltavas dentro de 2, 3 semanas! A Rita fica pensativa, toda a gente diz que precisas de mudar de ares, continua a Clarinha, por isso, acho que é uma boa ideia ires comigo, vias o sítio onde vou ficar, sossegavas os Pais! Quem é que diz que preciso de mudar de ares??? interrompe a Rita, a Clara fica embaraçada, ouvi os Pais falarem sobre o assunto, a Francisca também está preocupada. Telefonou-me noutro dia...explica. A Rita suspira, queria tanto que a transição fosse suave, mas pelos vistos, a filha é mais perspicaz do que pensava. A Francisca é madura demais, desabafa, a Clarinha sorri, é muito parecida contigo! Inteligente, trabalhadora, dinâmica, elogia. É a vez da Rita sorrir, ok, prometo q

RITA E CLARINHA

  E agora, o que é que eu faço? pergunta a Rita à irmã durante o almoço. A Madalena ficou surpreendida por a ver àquela hora e num dia de semana, geralmente a Rita está sempre ocupada com reuniões, almoços de trabalho. Não diz nada, sentam-se as duas numa mesa sossegada no bar da loja, hoje o prato do dia é quiche de cogumelos e tofu, escolhem o sumo de tomate. O que sempre fizeste, responde a Madalena, dás a volta por cima... És sócia-gerente de uma empresa de marketing de prestígio, és respeitada no mercado, tens uma filha maravilhosa. Mas falta-me o Gonçalo, interrompe a Rita, sei que um dia isto poderia acontecer, mas tínhamos uma relação tão feliz, tão cúmplice... não sei verdadeiramente onde falhamos, porque a Francisca diz-me que o Pai continua sozinho! Sinceramente, não tenho resposta para isso, confessa a irmã, se calhar, nem o próprio Gonçalo sabe... Até precisam de estar uns tempos separados para analisar o que está a acontecer. Creio que o Gonçalo tem planos profissionais q

OS PLANOS FIM

  O meu tio suspira, não, não vou contar nada, diz, mas isto não se pode repetir, estás a entender? É um voto de confiança, Gonçalo, espero que compreendas e o mereças. Vou falar com o teu Pai, e ergue a mão quando abro a boca para protestar, mas é para terem uma conversa franca sobre sexo, protecção e afins. Ups, o meu Pai falar sobre tema tão melindroso, não estou mesmo a ver, mas posso ter uma surpresa, nunca se sabe, conto mais tarde à Clotilde que ri. O meu tio cumpre a palavra, não se fala mais no assunto, se precisar de estar à vontade com a Clotilde, terei que considerar outro lugar. Talvez o Matias ou o Edgar saibam, ou talvez seja melhor não os abordar, terei que responder a imensas perguntas, decido. Sinto que estou a andar na corda bamba, a Clotilde começa a afastar-se, desculpa-se com os testes de fim de ano. Também estou muito ocupado, não penso muito no assunto, pois, além de irresponsável, encaras as coisas de uma forma muito leve, acusa-me a minha irmã e eu fico sem sa

OS PLANOS PARTE IV

  Espero não ter partido nada, atalho, desculpa se te acordei, ia beber um copo de água, invento. Mas este não é o caminho para a cozinha, interrompe o meu tio e vejo que o olhar dele torna-se duro, estiveste com a Clotilde no quarto dela? Fico muito corado, não sei o que responder, oh, Gonçalo, como é que pudeste fazer isso??? Por amor de Deus, que falta de respeito!!!! Se está a ouvir, a Clotilde não aparece para me defender, afinal, a ideia foi dela, não, não, tenho que ser honesto, eu também quis. Ok, desculpa, digo, mas o Gonçalo abana a cabeça, não é o suficiente! frisa, ainda não entendeste o problema? E a culpa é dos dois!!! acrescenta, mas falamos melhor de manhã, agora vamos dormir e com a porta fechada à chave!!! Não me atrevo a protestar, acho que nunca vi o Gonçalo assim tão furioso e custa-me a adormecer. Acordo com o Gonçalo a abanar-me, vais ficar na cama todo o dia? Está um dia maravilhoso, não queres aproveitar? e saí do quarto. Ouço a falar com a Clotilde, será que l

OS PLANOS PARTE III

  Depois sentamos-nos na cozinha, a comer tostas mistas e café com leite, o tio Gonçalo fala pelos cotovelos. A Clotilde também participa, toda corada e com risinhos parvos, eu decido interromper a troca de galanteios e conhecimentos, quero falar sobre o meu novo projecto. Estamos cá este fim de semana para ver se resulta, remato, é o meu projecto de fim de ano e depois, férias! Vamos passar uns dias no Algarve com uns amigos e depois regressamos para aqui. Os Pais já devem estar cá. É provável, concorda o Gonçalo, eu e a Francisca vamos passar uns dias a Londres, uma semana a Ibiza e depois ela vai ter com a Mãe ao Algarve. Eu volto para cá, estou pronto a participar em qualquer desafio que organizes. Então, podemos ficar aqui na tua casa? pergunto e o meu tio olha-me desconfiado, que mal há em ficares em casa dos teus Pais? frisa. Olha para o relógio, ups! já passa das duas da manhã, é melhor irmos para a cama, diz, Gonçalo, tu vais dormir num saco cama no meu quarto! A Clotilde brin

OS PLANOS PARTE II

  Nada de especial, respondo, podia ser utilizada como residência temporária dos monitores do centro. Sem pagarem renda? Para dar festas malucas e afins, destruírem a casa? exclama a minha irmã, estás doido! Os Pais nunca concordariam...espera lá, não me digas que estavas a planear fazer isso sem autorização???? Também era para estar à vontade com a Clotilde, a minha namorada do momento, mas claro que não vou confessar isso à Sofia, fazia um escândalo maior do que este! E, depois, continua a minha irmã, o tio Gonçalo também pagou a renovação da casa, é dele e da Francisca! Ok, ok, não te amofines! Foi só uma ideia! e levanto as mãos a render-me, a minha irmã deita-me um olhar furioso. És tão imaturo! Vê se cresces! a Sofia saí do quarto, bate com a porta e ouço o Pai a repreende-la. Ás vezes, gostava que o meu Pai fosse um pouco mais descontraído, mais aberto como o Tio Gustavo, enfim, como a Mãe. Não é que tenha uma má vida, longe disso, mas queria que as coisas fossem ainda mais desc

OS PLANOS

  E pronto! A minha irmã Sofia teria um ataque se lesse isto, mas como este diário é " for my eyes only", posso cometer os erros que quiser. Claro que sei escrever correctamente, mas estou sozinho, à vontade e não pretendo ser um escritor da moda! Hoje, tive um dia interessante, estou cansado, tenho que acabar a minha parte no projecto que temos que entregar no Centro de Treinos. Entretanto, recebo um email do Edgar, está a organizar um evento, queres participar? pergunta e eu peço mais detalhes. Suspiro, a vida mudou desde que o Tio Gustavo morreu, era um tipo alegre, descontraído, isso reflectia-se no ambiente da casa. Os meus primos tornaram-se mais discretos, mais retraídos, mesmo o Edgar. Não falo da Inês porque continua irreverente, a miúda maluca que me arrastou para o palco na festa dos meus Pais. O ponto alto da noite não foi o nosso dueto, mas sim, os meus Pais terem dado o nó sem ninguém saber. Depois de tantos anos juntos, porque é que resolveram dar o nó? pergunt