A REFORMA PARTE III

 

Não vamos falar de coisas tristes, atalho, o Telmo está a pensar em reformar-se.

O quê??? a Rita está espantada, não vejo o Telmo a passar os dias em casa, a ler o jornal.

Nada disso, interrompo, ele quer reduzir a actividade presencial, ser mais consultor.

Hum, a Rita não parece convencida, quando teve o ataque cardíaco, também prometeu reduzir e acabou por se empenhar ao máximo na investigação dos casos, diz.

Suspiro, tenho que confiar nele, respondo, se ele o fizer, eu também reduzo a minha colaboração na loja, pelo menos, no catering. É a parte que menos gosto! confesso, terei que combinar com a Teresa, ela quer passar mais tempo na vila.

Porque é que não compras uma casa lá? sugere a Rita, o Gonçalo adora lá estar, este Verão, a Francisca vai passar uns dias a Inglaterra e nós resolvemos ficar lá.

Não sei, replico, nunca falamos nisso... A vila ainda se torna propriedade da família! e a Rita ri alto.

Mas quando discuto o assunto com o Telmo, ele não fica muito entusiasmado com a ideia, apareceu um caso complicado, segreda-me a Clarinha, sabes como ele é!

Pois sei, penso, não vai pensar tão cedo na reforma, encolho os ombros, ligo o computador, a Teresa precisa de ajuda na organização de uma festa de aniversário.

Fico ocupada umas horas, a Clarinha trata do jantar, o Telmo aparece já passa das oito e meia.

Explica por alto o que está a acontecer, eu conto da festa e a Clarinha goza-nos carinhosamente, não sei realmente o que fazer convosco! Pensei que ia ter uma vida calma e aqui estão os dois a discutir trabalho!

Ainda bem que estamos activos, observa o Pai, tenho a certeza de que não gostarias de ter dois Pais chatos e doentes!

Deus me livre! a Clarinha finge-se indignada, eu fugia a sete pés! e não sei porquê, mas sinto-me desconfortável.

O Telmo e a Clarinha continuam a brincar, levanto a mesa, coloco a loiça na Máquina, sempre a pensar no que nos acontecerá se adoecermos gravemente?

Nunca pensei no assunto e o Telmo tem uma profissão de risco, desabafo com a Teresa no dia seguinte, mas a brincadeira da Clarinha fez-me pensar!

Mas foi isso mesmo: uma brincadeira, como sempre, a Teresa é prática, os teus filhos são excepcionais, estiveram sempre presentes nos momentos mais complicados! Não penso que isso vá mudar, frisa, e mudando de assunto, sabes que a Maria Rosa quer fazer um estágio aqui na loja?

Maria Rosa? repito, quem é a Maria Rosa? e a Teresa sorri, é a filha do meu irmão, Pedro, não a vemos muitas vezes, é um facto, mas ela veio passar uns dias com a Carolina.

Não me lembro dela, admito, deve ter uns quinze, dezasseis anos? e a Teresa sorri, é isso! Pelos vistos, a Mãe vai casar novamente e a rapariga não gosta do padrasto! Por isso, o Pedro achou melhor ela passar uns dias fora.

CONTINUA