Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2022

O WORKSHOP FIM

  A Sofia respira mais aliviada, a Mãe acaba por contar ao Pai uma versão resumida dos acontecimentos e ele também pensa que tomou a decisão acertada. Se queres trabalhar cá, é realmente importante conheceres a realidade do País, comenta, e concordo que passares uma temporada fora é importante. É uma boa decisão, Sofia. O Nicolau conhece muita gente em França, sugere a Mãe, mas a filha abana a cabeça, não sei, vou escolher Línguas e Literaturas Modernas, provavelmente formação em tradução. Eu vou escolher Ciências Desportivas, versão desporto radical, brinca o Gonçalo, mas ninguém acha piada. O António e a Teresa olham um para o outro, sorriem, claro, Sofia, se é isso que queres, avança, repetem. Contudo, a Sofia decide falar com o Nicolau, ele foi professor universitário, fez investigação, pode dar-lhe boas dicas. O Nicolau está muito frágil, mas de cabeça está óptimo, confidencia a Natália enquanto tomam um chá no jardim, então, vais ser professora universitária? Ainda não sei, confe

O WORKSHOP PARTE IV

  A Filipa fica surpreendida quando encontra a prima sentada na sala de espera, felizmente, o doente cancelou a consulta, tem tempo para falar com ela, vê que a Sofia está preocupada. Ouve atentamente as queixas, faz um teste rápido, confirma o diagnóstico, passa a receita para um antibiótico e para as dores, isso passa dentro de dias, diz, bebe muita água, evita roupas muito apertadas e de tecidos sintéticos. A Sofia respira aliviada, a Filipa observa-a com atenção, queres falar-me do que aconteceu? pergunta, a prima hesita. O Greg também frequentou o workshop, começaram a conversar no jantar de apresentação, passaram imenso tempo juntos. Numa dessa noites, acho que fomos ao teatro, aconteceu, conta a Sofia, passamos a noite juntos e não, não lamento que tenha acontecido. Tivemos cuidado, protegemos-nos. Ok, ainda bem que usaram protecção, concorda a Filipa, mas há outra coisa que te está a preocupar. É que o Greg quer que eu vá estudar para Inglaterra, confessa a prima, tentei explic

O WORKSHOP PARTE III

  O tempo parece que voa, a Sofia nem dorme na véspera da partida e o irmão goza-a, tem calma, vais chegar muito a tempo!exclama. A Teresa bem tenta, confessa à Carolina, mas estou muito preocupada, estará bem? Gosta do alojamento, das pessoas que encontra? repete. A Carolina ri-se, temos que os deixar voar, diz, sei que é difícil, não posso negar, mas basta saber que estão felizes e apoia-los nas escolhas. Pois, mas é a primeira vez que isto me acontece, e a Teresa parece desanimada e a irmã dá-lhe um abraço. Tens dois filhos maravilhosos, bem educados, simpáticos, trabalhadores, comenta a Carolina, a Sofia vai-se sair bem. A Sofia telefona pouco, diz que está a adorar o workshop, tem conhecido gente muito interessante e sim, tem aproveitado para explorar a cidade, responde. Eu queria lá saber do workshop, observa o Gonçalo, ia mas é explorar os centros desportivos, etc. Ficar fechado numa sala a ouvir alguém falar. Ainda bem que nos avisaste, interrompe o Pai, assim, não te pagamos q

O WORKSHOP PARTE II

  Nem sempre, contraria a Sofia, gosto de fazer caminhadas e de natação. Mas escrever um conto, um romance, implica pesquisa e para isso, tenho que consultar arquivos, ir à biblioteca...tu não entendes nada, raramente lês um livro. Não é verdade!!! protesta o irmão, leio bastante, pois, livros sobre desporto e sobre desportistas, troça a irmã, O António acha melhor interromper, todos fazemos escolhas na vida e o que é importante é sabermos respeitar as opções de cada um, diz, estamos entendidos? e os irmãos calam-se. No instituto explicam todo o processo, respondem assertivamente a todas as questões e o António paga o sinal. A Sofia queria pagar metade, mas os Pais não concordam, gasta esse dinheiro em livros, espectáculos, roupas, explicam e a Sofia dá-lhes um forte abraço. Espero que corra tudo bem, a Teresa desabafa com a irmã, a Sofia tem dezoito anos e é muito ajuizada, observa a Carolina. E se se depara com uma situação parecida com a da Matilde? interrompe a Teresa e a irmã susp

O WORKSHOP

  A nossa filha quer fazer um workshop de escrita criativa este Verão, diz a Teresa ao companheiro quando terminam de jantar. O Gonçalo telefonou a dizer que ia jantar com o Edgar e uns colegas do ginásio e a Sofia tem que preparar um conto para a aula de inglês, está já fechada no quarto, com o computador ligada e com os auscultadores por causa do barulho. Um workhop? Porque é que não goza as férias como as outras pessoas? protesta o António, ir à praia, sair com outras pessoas, esquecer o trabalho... A Teresa sorri, a Sofia sempre foi uma pessoa criativa, observa, lembras-te como construía um castelo de areia e inventava uma história? Como os miúdos ficavam sossegados e às vezes, até faziam um teatro? É a vez do António sorrir, não havia berros e lutas, afirma, lembras-te do ano em que o Gonçalo achava que era o Poseidon e tentou fazer um tridente? Era interessante, concorda a Teresa, mas ainda não te disse tudo. O workshop é em Inglaterra, a Sofia soube disso através do Instituto, e

O PROBLEMA FIM

  O Tobias recusa-se a responder às perguntas do Pai, fecha-se no quarto e é o Rodrigo quem conta as peripécias das férias. A Mãe? Ou estava na praia ou na piscina com um grupo de pessoas que " falavam aos gritos" comenta o Rodrigo e eles ficavam entregues aos monitores do clube. E o almoço e o jantar? interrompe o Pai e o filho encolhe os ombros, comíamos com os monitores ou com a família de uns meninos que conheceram no clube. E a Mãe??? insiste o Pai, o Rodrigo suspira, a Mãe almoçava com o grupo e tinha sempre uma festa à noite, nós ficávamos com uma baby sitter no hotel. Foi chato!!! confessa. É a vez do Gustavo suspirar, o que é que eu faço? pergunta à Mãe que também não sabe o que pensar. O Rodrigo vai esquecer mais depressa, responde a Madalena, mas o Tobias está muito magoado e não sei se vai querer voltar. Tens que ter muito cuidado com ele, vigia-o, mas não o pressiones, aconselha. A Mãe tem razão, o Tobias fica histérico quando a Luísa aparece novamente, é o fim d

O PROBLEMA PARTE V

  Porque é tempo de aulas, a viagem é longa, vai estar calor, explica o Gustavo, e a Mãe e o marido casaram há pouco, precisam de estar sozinhos. O filho suspira, não está a entender muito bem, mas está cansado, quer dormir, mas e depois? pergunta. O Pai sorri, depois a Mãe volta para casa, vocês vão até lá passar os fins de semana e regressam para aqui, observa. O Tobias não diz mais nada, o Rodrigo reclama a sobremesa, afinal comeu tudo e não fez barulho!!! frisa e quando se senta na sala depois de os deitar, o Gustavo admite que está cansado e volta a ter dúvidas. Será que vou conseguir? insiste e a Matilde que aceitou o convite dele para almoçar diz, claro que sim! sempre foste o mais cuidadoso, o mais atencioso dos Pais... Como Pais, vamos errar numa ou noutra coisa, mas o fundamental é estarmos presentes e tu sempre estiveste! Por isso, esquece o assunto, está atento claro está, mas estás a proceder lindamente! Um dia destes, deixo-te lá a tropa toda, acrescenta. Por amor de Deus

O PROBLEMA PARTE IV

  Não, obrigada, diz o filho, tenho que ser eu a impor a disciplina Não é fácil, constata nos dias seguintes, os miúdos, principalmente o Tobias, ficam amuados se forem contrariados, mas o Gustavo acha que não pode ceder. O Tobias queixa-se à Mãe, a Luísa aborda agressivamente o assunto, mas o Gustavo apenas responde, é a minha casa, as minhas regras, eles têm que obedecer. Não estão a viver numa prisão, acrescenta, estão com os amigos, brincam, mas têm horas para comer, dormir, fazer os trabalhos de casa, ver TV e ajudar nas tarefas de casa. A Luísa encolhe os ombros, achas isso necessário? insiste e o ex-marido suspira, acho que é, ajuda-os a serem responsáveis, independentes. Foi o que os meus Pais fizeram comigo e resultou. A Luísa cala-se, não sabe verdadeiramente o que há-de dizer, no dia seguinte, partem para o Brasil, vão estar lá duas semanas e ela não tem tempo para se preocupar com ninharias como diz ao novo marido que não faz qualquer comentário. No fundo, até concorda com

O PROBLEMA PARTE III

  O jantar decorre com alguns incidentes, os manos Bernardes insultam-se, falam alto e de boca cheia e o Gustavo repreende-os. O Tobias levanta-se da mesa, o Pai manda-o sentar-se novamente, mas eu já terminei, protesta o rapaz, mas eu e o Rodrigo não e por isso, tu esperas. É uma questão de educação, de consideração, de respeito pelos outros, explica. Isto vai ser complicado, pensa, pois o Tobias está zangado, mas tenho que os contrariar, vamos conversar um bocadinho, diz alto, eu e a Mãe já explicamos o que está a acontecer, mas para vivermos bem, temos que falar de regras. Os rapazes olham para ele alarmados, o que é que isso significa? a D.Sofia vai estar cá todos os dias para nos ajudar, continua o Gustavo, mas nós também temos que a ajudar. Por isso, nada de sapatos, roupas ou brinquedos espalhados pelo chão. Há um cesto na casa de banho, é lá que se põe a roupa suja. Há um armário no hall de entrada e os sapatos guardam-se ali... Não tínhamos que fazer isso em casa da Mãe, inter

O PROBLEMA PARTE II

       As discussões são acesas, algumas das objecções da Luísa são ridículas, mas acabam por chegar a um consenso. Creio que foi o novo marido quem a convenceu a aceitar, diz o Gustavo quando explica a situação aos Pais, os miúdos dizem que é muito arrogante e vaidoso, até pedem para comer na cozinha quando ele fica para jantar, impõe uma série de regras absurdas. Ter regras é bom, interrompe a Mãe, claro que sim, não estou a dizer que não, concorda o filho, mas também temos que os incentivar a participar na vida familiar e isso significa conversar, expor as suas opiniões e ouvir as dos outros. Ao que parece, só ele é que o pode fazer e a Mãe, e estou a citar os meus filhos, " derrete-se" toda. O Inspector Bernardes ri-se, mas onde é que eles aprenderam isso? e o Gustavo suspira, na escola com a certeza absoluta. Como é que te vais organizar? pergunta a Mãe, terás que mudar de casa... Sim, já tenho um T3 em vista, é perto do colégio, eles podem ir a pé, esclarece o filho, fa

O PROBLEMA

  Estou preocupada com o Gustavo, diz a Madalena ao marido enquanto tomam o pequeno almoço, a Clarinha já saiu, tenho muita coisa a fazer hoje, declara e sai a mordiscar uma torrada. Já reparei, responde o Inspector Bernardes, tentei falar com ele, mas o Gustavo é teimoso, tem que resolver tudo sozinho. Estará relacionado com o trabalho? comenta a Madalena, ou algum problema com a ex-mulher? É efectivamente com a ex-mulher, o Gustavo ainda não quer discutir o assunto com os Pais, terá que o fazer se for avante com a ideia maluca que teve. A ex-mulher telefonou, vai casar novamente, mas o futuro marido aceitou um emprego fantástico, declara a Luísa, e têm que se mudar, claro está que vou levar os nossos filhos, concluí. Não, não vais, interrompe o ex-marido, não é uma decisão unilateral. Temos que discutir opções, e a ex-mulher dá uma risada, eu já sabia que ias tornar isto complicado! Tenho todo o direito de ser feliz!!!! continua. Ninguém está a negar isso, repete o Gustavo que sente

A SEPARAÇÃO FIM

  Quando regressam a casa, a Matilde e o Bernardo estão relaxados, felizes, falaram sobre a família, sobre o trabalho, os projectos a solo e em conjunto. Até vamos deixar o Júnior e a Margarida passarem uns dias fora com uns amigos, contam à Aída que aceitou o convite deles para jantar. Os gémeos já tomaram banho, estão a acabar de comer e a Leonor prontifica-se a contar-lhes uma história antes de dormirem. A Margarida e o Júnior estão nos respectivos quartos, não querem jantar, estão " cheios" confessam e ninguém insiste. É uma boa ideia, é uma forma de serem independentes e responsáveis, concorda a Aída, e vocês? Não vão fazer nada? Não querem ir até Cabo Verde, passar lá uns dias, sem meninos? E o que fazemos aos gémeos? pergunta a Matilde, também falamos sobre isso, explica o Bernardo, não chegamos a um consenso por causa dos gémeos. É fácil, atalha a Mãe, converso com a Madalena e coordenamos o babysitting. Dormem hoje na minha casa, amanhã vão para casa da outra avô. Nã

A SEPARAÇÃO PARTE V

  O Bernardo ri, só tu para me fazeres rir, diz, a Matilde também ri e em breve, a casa fica em silêncio. Os mais velhos estão nos respectivos quartos, fechem a luz dentro de meia hora, avisa a Mãe, mas amanhã não temos aulas, protesta o Júnior. Não interessa, é a regra e tens que obedecer, corrobora o Pai enquanto fecha a porta do quarto dos gémeos que adormeceram mal pousaram a cabeça na almofada. Jantam tranquilamente, a Matilde fala-lhe do novo projecto que está a desenvolver, o Bernardo conta-lhe que não está satisfeito com o dele. Não podes refazer? pergunta a Matilde, tenho que fazer isso, mas ainda não encontrei a forma adequada, responde. Acabam por se deitar cedo, estão exaustos e por isso, ficam um pouco aborrecidos quando a campainha toca às nove da manhã e acorda toda a gente. Mas quem é a esta hora da manhã? resmunga o Bernardo enquanto a Matilde se apressa a ir ao quarto dos gémeos. Fica surpreendido por encontrar a irmã no patamar, abre a boca para lhe perguntar porque

A SEPARAÇÃO PARTE IV

  No dia seguinte, o Bernardo resolve falar com o Pai que lhe faz várias queixas que o filho confessa mais tarde à companheira não entender. Acho que está uma crise de meia idade, diz, que não fez isto, não fez aqui, blá, blá, blá... A certa altura, fiquei sem saber o que responder. Não me admira nada que faça um tatuagem ou frequente aulas de dança de salão... estou pronto para tudo!!! A Matilde ri-se, a Margarida ri-se por solidariedade e o Júnior quer saber o que é. O Bernardo explica-lhe calmamente, o rapaz fica pensativo por uns minutos, se o avô for, posso ir? e a Matilde morde o lábio. O Bernardo suspira, depois vemos isto, atalha, para já, quero saber se fizeste os trabalhos de casa? e o filho fica embaraçado. Não ficou combinado que a prioridade é o trabalho de casa, depois as actividades extra? O que é que estiveste a fazer? pergunta o Bernardo e olha para a Matilde. Os trabalhos de casa e as actividades extra são a tua área, protesta, eu encarrego-me das boas maneiras e da h

A SEPARAÇÃO PARTE III

  Os miúdos divertem-se, o Bernardo e a Matilde têm tempo para conversarem, a Clarinha e a Leonor são óptimas a organizarem jogos. Enquanto os miúdos dormem a sesta, inclusive o Júnior que protesta que já não tem idade para isso, as duas conversam. A Leonor não conta o teor da conversa, o Bernardo nota que está mais calma quando a deixa em casa da Mãe, prometes ter calma? pergunta enquanto sobem. A irmã não responde, encolhe os ombros, é a primeira a sair, a Mãe está já no patamar à espera deles. O Pai já levou as coisas dele, comenta a Mãe, a Leonor pede desculpas, vai para o quarto, fecha a porta delicadamente. O que é que aconteceu? pergunta o Bernardo, pareciam tão felizes! é a vez da Aída suspirar, ele acha que temos uma profissão cheia de stress, que não temos tempo para nós e para os nossos filhos, explica, mas sinceramente, não percebo isso, continua, sempre trabalhamos com livros, às vezes, tínhamos horários desencontrados, mas sempre conseguimos gerir a situação. Achas que nã

A SEPARAÇÃO PARTE II

  Então que tal vai isso? pergunta o Bernardo quando a irmã entra no carro, que pergunta parva! reage a Leonor, com os Pais a separarem-se, as coisas não estão bem???? Pois não, não estão, concorda o irmão, mas como é que tu estás? e a irmã encolhe os ombros, os Pais são parvos! O Bernardo dá-lhe uma palmada no joelho, atenção, não podes falar dos Pais assim! Sei que isto não é agradável, mas temos que aceitar... Aceitar o quê? interrompe a Leonor, mas tenho que aceitar o quê? Que vou ficar sozinha com a Mãe e ver o Pai de vez em quando???? Quase todos os meus colegas vivem assim e eu não quero isso para mim!!! O Bernardo suspira, a Matilde tem razão, a Leonor está zangada, o que é que podem fazer? Talvez a Clarinha possa falar com ela, sugere a companheira, a Leonor está no quarto de brinquedos com os sobrinhos e pelas gargalhadas, o jogo deve ser bem divertido. Achas que sim? o Bernardo não tem tanta certeza, a Clarinha era um pouco " selvagem ", mas a Matilde abana a cabeç

A SEPARAÇÃO

  Isto não pode estar a acontecer, grita o Bernardo, está tudo doido??? e a Matilde faz sinal aos filhos para irem para o quarto. O Pai está zangado porquê? o Júnior arrisca a pergunta, mas a irmã puxa-lhe a mão, anda, não faças perguntas. O Bernardo desliga o telefone, senta-se no chão e repete, isto não pode estar a acontecer, os meus Pais estão loucos!!!! Mas o que é que aconteceu? a Matilde está preocupada, o Bernardo ainda não consegue falar, está em choque. Os meus Pais vão separar-se, diz finalmente, outra vez! Acreditas nisto? a Matilde encolhe os ombros, anda lá. levanta-te, vamos conversar na cozinha, propõe. Respira fundo e quando te sentires preparado, conta tudo do principio, pede, o Bernardo deixa-se cair na cadeira, afasta o urso de peluche que um dos filhos deixou no balcão e esconde a cara. Os meus Pais chegaram à conclusão de que, afinal não estão bem juntos, comenta, para não se magoarem, vão separar-se, remata. A Matilde suspira, coloca dois copos de vinho branco em

O ALOJAMENTO LOCAL FIM

  O almoço é uma mistura de estilos, gourmet e vegetariano e o Gonçalo explica-me que a cunhada tem lojas de produtos alimentares biológicos e uma pequena empresa de catering. Lembro-me então do Inspector Bernardes contar que a mulher recomeçou a trabalhar, exactamente naquela área e tenho quase a certeza de que é com a Teresa, uma mulher roliça e exuberante, que a Madalena trabalha. A Célia e a Teresa tornam-se logo amigas, apresentam-me ao famoso Gonçalo e à Sofia, uma rapariga muito pálida, muito elegante que me sorri delicadamente. Diz-se escritora, está a fazer pesquisa para um conto policial, pode responder a algumas perguntas? e eu acho piada, porque não? As perguntas são pertinentes, fico admirado com os conhecimentos, ela fez um bom trabalho de casa e elogio-a. A Sofia fica muito vermelha, volta a sorrir e agradece-me. Fecha o bloco, pergunta-me se preciso de uma outra bebida e quando declino, afasta-se. O António e o Gonçalo reclamam a minha atenção, discute-se política, alim

O ALOJAMENTO LOCAL PARTE V

  A minha irmã chega pontualmente às seis da tarde de sexta-feira, está mais magra e com um corte de cabelo mais moderno. O meu cunhado não veio, estranho a ausência, a Célia murmura, pois, é sobre isso que te quero falar. Adora a casa, quer vasculhar cada canto antes de se sentar e me explicar que ela e o marido decidiram separar-se. As coisas já não estavam a correr bem há algum tempo, diz, deixamos de ter assunto, estávamos praticamente a fazer vidas separadas. Agora é oficial. Demoro algum tempo a digerir a notícia, pareces feliz, observo, mas porque é que não me disseste há mais tempo? Estiveste desaparecido durante dois meses, exclama furiosa, e depois não é uma notícia que se queira dar pelo telefone. Suspiro, não deixa de ter razão, desculpa, não podia pôr em risco a operação, afirmo e a Célia sorri, dá-me uma palmada amigável na mão, é o que eu detesto no teu trabalho, não poderes falar! responde. Ficamos calados por uns minutos, o que é que se faz por aqui? pergunta e eu most

O ALOJAMENTO LOCAL PARTE IV

  O Miguel aparece no dia seguinte, os móveis que faltavam estão prontos e deixa-me sossegado a tomar o pequeno almoço na varanda enquanto dirige a equipa. Convido-o para tomar um café, ele aceita, quer saber se estou bem, se preciso de alguma coisa. Não, está tudo a correr muito bem. Conheci o Gonçalo, o tio, fazemos canoagem juntos, respondo, isto é uma pequena maravilha! O Miguel sorri, os meus tios compraram aqui uma casa, os meus Pais vieram cá passar uns dias com eles e o meu Pai entusiasmou-se, explica, era o projecto dele para a reforma. Renovar casas e alugá-las como alojamento local, ainda não decidimos se vamos continuar, mas para já...e interrompe-se. Sinto que o assunto é doloroso, desvio a conversa para um tema mais seguro, pergunto se a minha irmã e o meu cunhado podem passar aqui o fim de semana. A casa é grande o suficiente para termos privacidade e eles só vão ficar três dias, não vale a pena alugar alojamento na vila. Claro que sim, concorda o Miguel, esteja à vontad

O ALOJAMENTO LOCAL PARTE III

  Rio-me também, a conversa é fluída, animada, combinamos encontrar-nos amanhã no Centro de Desportos, o Gonçalo também gosta de canoagem. É pontual, exploramos o lago, o Gonçalo sugere parar na outra margem e almoçar por lá. Quando regressamos, já passa das duas da tarde, estou exausto, mas feliz. Jantamos juntos? pergunta o Gonçalo, a Francisca chega hoje com mais duas amigas, elas podem fazer um piquenique no jardim e nós ficamos na cozinha. Mas eu declino o convite, estou muito cansado, acho que vou fazer uma sesta e depois pedir que me entreguem uma pizza. O Gonçalo fica um pouco desapontado, mas eu ainda não me sinto preparado para estar com muita gente. Tenho que pensar no que vou fazer depois desta licença, considerei deixar a polícia e dedicar-me à segurança privada, mas rejeitei a ideia. A minha carreira está bem encaminhada, tive bastante sucesso com este caso e por isso, estou curioso em saber o que o Departamento vai decidir. Resolvo ver o email, procuro a senha da Interne

O ALOJAMENTO LOCAL - PARTE II

  Felizmente, o dia amanhece claro, promete calor e eu equipo-me a preceito para enfrentar a caminhada. O trilho está bem assinalado, a vista é extraordinária e encontro um grupo que me acolhe e com quem tomo o pequeno almoço no restaurante no topo. O grupo continua a subir, eu decido descer, quero explorar a vila e o centro de desportos radicais. O primo Gonçalo não está, mas um outro monitor prontifica-se a explicar-me o funcionamento e os horários das actividades. Fico interessado na canoagem, marco uma saída para o dia seguinte e continuo o passeio pela vila. As pessoas são simpáticas, faladoras e sinto-me a relaxar, a respirar calmamente. Resolvo voltar para o alojamento, mas as obras continuam na casa ao lado, o barulho dá-me dores de cabeça, entro no carro, vou até à cidade mais próxima. Vagueio pelas ruas estreitas, almoço num restaurante típico, compro jornais e livros, planeio um fim de tarde de leitura. Há meses que não me sentia assim tão calmo e estou bem humorado quando r

O ALOJAMENTO LOCAL

  Acabo por aceitar a proposta do meu mentor, vou passar uns tempos no alojamento local que pertence a uns amigos. Preciso de descansar, estes últimos meses não foram fáceis, fingir que era corrupto para desmantelar uma rede de tráfico perigoso. O Departamento vai reorganizar a esquadra, mas eu pedi para ser transferido, teria que lidar com muito rancor, acusações e embora fosse apenas uma pedra que teria que enfrentar, não estou disposto a isso. Por isso, vou descansar estes dois meses, passar este mês numa vila com um centro de desportos radicais parece-me uma boa ideia. Quem me mostra a casa apresenta-se como sendo o Miguel, não deve ter mais do que vinte e cinco anos, explica-me que ainda algumas pinturas a terminar e faltam alguns móveis, mas não são essenciais e tenho a certeza de que ficará aqui muito confortável, continua. Esta é a casa principal, comenta, a da família. Há uma segunda casa que será alugada, mas ainda não concluíram as obras. Deixa-me o numero de telemóvel dele,

O CASO FIM

  O Pai volta a chegar tarde, encontra uma ceia deliciosa e um comité de boas-vindas, vocês sabem que não posso discutir uma investigação em curso, protesta. Sabemos isso na perfeição, atalha a Mãe, mas podes dizer se o Meireles está ou não envolvido no caso... É tudo o que queremos saber, e o Pai ri-se. Senta-se, bebe um pouco de chá, ok, digamos que a " pen" explica muita coisa, até a ligação a um caso em aberto aqui e sim, frisa, o Meireles infiltrou-se na célula para tentar perceber a dinâmica do esquema e identificar os culpados. Eu sabia que o Meireles não estava envolvido! interrompe a Mãe, foste tu quem o treinaste e sempre disseste que, apesar daquela faceta radical, ele era inteligente e íntegro. Também estou muito contente, exclamo, mas ainda não percebi muito bem porque é que ele me entregou a "pen"... Não pôs em risco o disfarce dele? O Pai encolhe os ombros, talvez pensasse que fosse mais fácil, diz, se fosse ao correio ou enviasse por estafeta, deixav

O CASO PARTE IV

  Quinze minutos mais tarde, o telefone interno toca, é da portaria, o Pai está aqui, pode descer se faz o favor? pedem e eu nem espero pelo elevador. O Pai está na recepção, mãos cruzadas atrás das costas, um ar muito sério, mas os olhos a brilharem e quase me arranca a " pen" das mãos, nem uma palavra sobre isto! avisa-me e despede-se com um beijo na testa. Fico o resto do dia a matutar nas informações que a " pen " poderá ter, será que tenho razão e o Meireles está a trabalhar infiltrado numa rede de jogo clandestino, de lavagem de dinheiro, de tráfico sexual, considero tudo. Saio tarde, tenho luz verde para ter a manhã de folga e suspiro aliviada, concluí com sucesso o projecto, mereço celebrar. Nem me lembro do Armando que ocupa o lugar favorito, encostado ao carro em frente à porta do prédio e ao ver-me, interpela-me de imediato. Maria Clara, temos que conversar, diz, quero uma explicação, oh, pá, mas tu não sabes o que é um não??? interrompo, vê se cresces!!!

O CASO PARTE III

  O Pai não vem jantar, tento distrair a Mãe com as histórias absurdas do escritório, mas ela não me presta atenção, está preocupada e eu também. Na manhã seguinte, estou aborrecida, acordei tarde e estou atrasada. Ao abrir a porta do prédio, vejo que o Armando está à minha espera, apresso o passo, atiro por cima do ombro, não, não vou falar contigo! não estou com disposição! Espera aí, são só cinco minutos! protesta o Armando, mas eu continuo a andar, sem prestar muita atenção às pessoas com quem me cruzo. Alguém dá-me um encontrão, sussurra " dá isto ao teu Pai", sinto que deixam cair qualquer coisa num dos meus bolsos e depois afasta-se tão depressa que eu penso que sonhei. Mas apalpo o bolso da parka, parece uma " pen" , quem é que me pôs isto no bolso? Só pode ter sido o Meireles, penso, olho em volta, mas só ouço a voz do Armando a insistir que quer falar comigo. Não quero falar contigo! repito, atravesso a rua apressada e apanho o metro um minuto antes de fec