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A mostrar mensagens de maio, 2023

AS AVENTURAS DO EDGAR PARTE V

  Convido-o a entrar, ficamos em silêncio uns minutos, não sabemos verdadeiramente o que dizer. O Miguel fala primeiro, pede desculpas por ter reagido tão violentamente, és meu irmão, diz, não vou negar que fiquei ofendido, magoado, mas tinha que conversar contigo, entendido o que se passou. Admito que foi um flirt, a tua ex não estava interessada em mais nada, explico, e eu tenho que confessar que achei interessante ser cobiçado por alguém...interrompo-me à procura da palavra certa, tão sexual? sugere o Miguel com um sorriso. A partir daí, a conversa torna-se mais fácil e o Miguel passa o fim de semana comigo. Não te disse??? Porque é que vocês são tão teimosos? pergunta a Inês quando lhe conto, afinal, tudo se resolveu e a Mãe pode respirar fundo. Não respondo, não vamos esquecer o que se passou, murmuro, temos que ser cuidadosos e falar abertamente sobre o assunto que nos preocupa. O que devias ter feito logo, repreende o Tio Pedro, poupavas imenso tempo, vocês são irmãos, têm que s

AS AVENTURAS DO EDGAR PARTE IV

  Saímos juntos algumas vezes, a Letícia apresenta-me aos amigos e eu começo a sentir-me mais à vontade. Penso que a Letícia quer um pouco mais que a amizade, evito dar o passo seguinte, não tenho a certeza de que gosto verdadeiramente dela. O corte dá-se no dia em que me aparece em casa, sem avisar, furiosa porque não lhe respondi ao SMS e faz-me uma cena de ciúmes ao ver a Inês sentada confortavelmente no sofá. É a minha irmã, explico, ciente do olhar trocista da Inês, tenho quatro irmãos e eles visitam-me de vez em quando. Mas podias ter-me respondido ao SMS, interrompe e Letícia e eu encolho os ombros, o que enfurece, não me apeteceu, porque vou jantar com a minha irmã e tu não estás convidada! Aliás, esquece que me conheceste! acrescento. A Letícia respira fundo, fica muito corada, ainda abre a boca para falar, mas a Inês aproxima-se com um sorriso tão trocista que ela dá meia volta e vai-se embora. Bolas, Edgar, não se pode dizer que não tens dedo, diz a Inês, primeiro a ex do Mi

AS AVENTURAS DO EDGAR PARTE III

  Escolho uma série de coisas, aviso o porteiro do prédio das entregas, deixe tudo no hall de entrada, eu depois trato de tudo, digo. Contudo, as caixas ficam por abrir no meio do corredor, chego tarde, muito cansado, sem disposição de arrumar, tornar a casa bonita. Por isso, a casa continua vazia quando os meus amigos chegam na sexta feira à noite, jantamos no hotel e passamos o resto da noite no bar. No entanto, no sábado eles insistem em ver a minha " toca " e soltam "oh" e "ah" quando vêem a desarrumação. E és filho e irmão de designers, diz a Gabriela, francamente, eu pensei que ia entrar num palácio encantado, troça a Íris que abre um das caixas para ver o que lá está. Resultado, em vez de explorarmos a cidade, passamos o sábado a decorar a casa, agora sim, é uma casa habitada, declara a Gabriela no final, e agora... Agora, voltamos para o Hotel, interrompe o Nuno, e vamos jantar fora. O tipo do Hotel disse-me que o "Pantera" é muito bom e

AS AVENTURAS DE EDGAR PARTE II

  Claro que mudar de vida é complicado, tenho saudades da família, a casa estava sempre cheia de gente. Regresso a uma casa vazia, ainda não arrumei tudo, sinto falta da comida da D. Margarida, a opção é encomendar. Por isso, inscrevi-me num curso básico de culinária, peço receitas à D. Margarida e a Inês troça, mas a Mãe entende. Porque é que não convidas um ou dois colegas para jantar contigo? sugere, inscreve-te num ginásio, tenta descobrir alguma coisa sobre a cidade e a vida cultural. Sim, sim, já estou a fazer isso, respondo, mas... não é igual... falta isto e abro os braços abarcando a cozinha cheia de cheiros, os meus sobrinhos a disputarem a atenção da D.Margarida. A Mãe sorri, às vezes, tomamos más decisões e temos que aprender a viver com elas, diz, nunca te devias ter envolvido com ela, o teu irmão está muito magoado. Baixo os olhos, fico muito corado, o Miguel vai jantar fora com uns amigos, vai voltar tarde para não me encontrar. A Mãe dá-me um abraço, vai correr tudo bem

AS AVENTURAS DE EDGAR

   Ok, estou de acordo, procedi mal... devia ter falado com o Miguel, explicado a situação. Ele não devia ter descoberto daquela maneira, mas como é que eu ia saber que ele estava a passar o fim de semana ali? Quando sabe, o Matias insulta-me, a Mana Filipa pergunta, de todas as mulheres do Mundo, envolveste com a ex do teu irmão??? e a Inês só se ri. Quanto à Mãe, sei que a desiludi, mantém-se fria, distante e isso magoa-me mais do que o silêncio do Miguel que evita estar comigo na mesma sala. É o Tio Pedro quem me convence a aceitar o emprego numa outra cidade, vai ser bom para todos, diz, o Miguel acalma, tu pensas seriamente no que queres fazer da vida. O teu irmão vai perdoar-te, mas não agora. Suspiro, acha mesmo que devo fazer isso? insisto e o Tio Pedro sorri, é a melhor opção, precisam de respirar fundo, reorganizar-se e pouco a pouco, a relação vai restabelecer-se. Não compreendo bem a confusão, eles já estavam divorciados, respondo, um divórcio de que o teu irmão saiu bastan

O ALÍVIO FIM

  O palerma do inglês não me responde, tenho que improvisar, focar-me no que realmente estudei. O Pai devolve-me o rascunho, está um pouco confuso, escreve, acho que podes desenvolver mais, até incluir fotos, sugere. Volto à estaca zero, tirei poucas fotos, amaldiçoo ter conhecido o Marc e deixado que ele me distraísse, mas empenho-me em concluir o relatório, não tenho grande escolha. O Pai dá luz verde ao rascunho final, embora ache que esteja muito " pobre ", o quê??? fiquei exausta e não podia fazer mais, estava no limite do prazo. A nota não é brilhante, pois, comenta o Miguel, não te empenhaste! Mas queres ou não ser uma designer de jóias? Mundialmente conhecida, acrescenta, tens que te empenhar! repete. Passo de ano com uma média baixa, os Pais continuam a achar que podia fazer melhor, esperam que o faça no próximo ano. Não estou muito preocupada, penso no assunto na altura, talvez tenha realmente que rever as minhas prioridades, mas agora quero saber se posso fazer a v

O ALÍVIO PARTE V

  Fico espantada, não sabia que tinha essa alcunha, a Mãe continua a discursar, não percebo metade, estou mais interessada em saber quem começou o boato. Tocam à campainha, o Antero levanta-se e vai abrir a porta, é o Pai, está muito sério, repete as recriminações da Mãe. Tento rebater, eles acham que não tenho o direito de me defender, traí a confiança deles, dizem, a prioridade agora é terminar o relatório, entregar, concluem, depois veremos. Entretanto, não há fins de semana, festas, seja o que for, determina a Mãe, também não vais fazer a tal viagem com os teus colegas, interrompe o Pai, vais ajudar o Miguel com a loja e o alojamento da Quinta. Isso não! protesto, mas o Pai não quer saber, quer uma cópia do relatório no email dele amanhã à tarde sem falta, frisa. Despede-se, é tarde, tem um dia complicado amanhã, explica, mas quero ler o relatório. Fecho-me no quarto, o Antero convenceu a minha Mãe a deitar-se, bate mais tarde à minha porta, quando abre, é melhor fazeres tudo o que

O ALÍVIO PARTE IV

  Encolho os ombros, o Antero abana a cabeça, mas não diz nada. Leva-me a casa, felizmente a Mãe está já a dormir, tem uma conferência amanhã de manhã, sussurra o meu Padrasto, pode ser que tenhas sorte e ela não te faça perguntas. Fecho-me no quarto, adormeço vestida e quando acordo, a casa está silenciosa. Vejo as horas, já passa das duas, sinto a boca seca e cheiro mal, dispo-me e tomo um longo duche. Depois, saio cuidadosamente do quarto, atravesso o corredor até à cozinha, está tudo a brilhar, depreendo que a senhora que faz as limpezas já esteve cá. Abro o frigorifico, resolvo fazer uma salada, espalho uma camada generosa de manteiga num fatia de pão. O telemóvel vibra, é o professor responsável pelo meu relatório, quer uma resposta ao email que me enviou, que email??? repito, procuro freneticamente, vejo que há realmente várias emails que não li. Abro-os apressadamente, o tom de alguns é ofensivo, mas eu não me preocupo e continuo a comer. Passo o resto do dia a ouvir música, a

O ALÍVIO PARTE III

  Uma rapariga conhecida fala-me numa festa, queres ir? e eu não penso duas vezes, sigo-a. A festa está no auge quando lá chegamos, não conheço metade das pessoas, perco de vista a pessoa que me levou. Alguém me dá uma cerveja, ando por ali, danço um pouco, alinho no karoeke, pouco importa que não conheça esta gente e não tenha boleia para voltar para casa. Ninguém vai para os meus lado, fico sozinha numa zona da cidade que mal conheço e às três da manhã, já não há autocarros e ninguém atende da central de táxis. O que é que eu vou fazer? Ou fico aqui na paragem à espero que o autocarro apareça às seis da manhã ou começo a caminhar e hei-de chegar a algum lugar.~ Se telefonar ao meu Pai ou à minha Mãe, vou ouvir um grande sermão...a não ser que ligue ao meu Padrasto, não gosto dele, também me vai recriminar, mas manterá isto em segredo. Arrisco telefonar-lhe, ele atende ao primeiro toque, fica admirado por ouvir a minha voz, acordei-te? pergunto, não, não, estou de serviço, responde, o

ALÍVIO PARTE II

  A Matilde evita falar no assunto quando a abordo, é passado, Maria Rosa, é uma época complicada, consegui resolver a situação e não quero pensar mais no assunto. Mas eu queria saber se tens algum conselho, pergunto, começa a pensar nas consequências dos teus actos, interrompe a Matilde, não podes ser egoísta, há outras pessoas envolvidas. Não me atrevo a dizer mais nada, a Matilde está obviamente de mal humor, está grávida, em breve vai ter que aturar cinco crianças. Credo, quem é que tem cinco filhos quando o Mundo está virado do avesso? tenho que falar com a Clarinha, talvez seja mais aberta. A Clarinha fica surpreendida quando me vê aparecer no escritório da organização, convida-me a sentar e escuta-me sem interromper. Quando termino, ela fica uns minutos calada, acho que não deves procurar esse tipo, diz, se estivesse verdadeiramente interessado em ti, já te tinha contactado. Achas? duvido, claro que sim, repete a Clarinha, foi um affair, um romance entre colegas do mesmo estágio

ALÍVIO

  Quando abortei, um aborto espontâneo, devo frisar, a família respirou de alívio. Tive que explicar o que se passou na Bélgica, a Mãe acusou o Pai de ser muito liberal e o mano Miguel ficou furioso, a culpa de teres tomado uma má decisão foi do Pai! comenta. Não tomei uma má decisão, respondo, encolhendo os ombros, tive um descuido! e o mano Miguel fica ainda mais furioso, tu pensas antes de falar??? um descuido que nem sequer devias ter tido? repete. Sh,sh, diz a Luisa, tem calma, Miguel! A Rosa já compreendeu o problema, tenho a certeza de que será mais inteligente da próxima vez! Espero que não haja uma próxima vez!!! reage o Miguel e a Luísa dá-lhe um ligeiro empurrão. Nessa noite, a Luísa conversa comigo, fala de responsabilidade, de discernimento e outras palavras caras e eu abano a cabeça em sinal de concordância. Só queria que ela se calasse, explico mais tarde à Francisca, que mania que as pessoas têm de empolgar as situações! Mas tu estás parva??? pergunta, não entendes as c

O DIVÓRCIO FIM

  Mas a verdade é que tanto a Teresa como o António estão surpreendidos pela atitude da cunhada, como convencer a Francisca de que a Mãe precisa de espaço, de tempo para se reconciliar a situação. Os dias passam, a Rita não dá notícias, a filha continua desesperada, até pensa em telefonar para a Polícia e dar a Mãe como desaparecida. O Pai impede-a, o António telefonou-lhe, pede-lhe para vir, a tua filha precisa da tua ajuda, diz e o Gonçalo aparece de surpresa uma noite, está a Francisca a tentar ligar novamente para a Mãe. A tua Mãe precisa de tempo e espaço, repete, concordo contigo, devia ter confiado em ti, explicado o que se passa com ela, mas a Rita pode ser muito teimosa. Há três ou quatro locais onde ela pode estar... Então, vamos lá, interrompe a filha, mas o Pai abana a cabeça, não, temos que ter alguma diplomacia, a tua Mãe está magoada, explica. O cunhado Bernardes também concorda, não acha absurdo como a Francisca separarem-se, ir cada um a um local diferente. São os loca

O DIVÓRCIO PARTE V

  A Francisca promete tratar da viagem, a Rita promete " tratar de si" e acaba por aceitar o convite de uns amigos para jantar fora. É uma noite agradável, evita-se falar do Gonçalo e do divórcio e a Rita sente-se relaxada. Mas acorda no dia seguinte chorosa, chama baixinho pelo Gonçalo e tem vontade de ficar ali, enroscada nos cobertores, escondida do Mundo. Não, quase grita, não posso, tenho que reagir, mas não posso ficar aqui, tenho que sair e sem pensar mais no assunto, faz uma mala. A Francisca já deve estar na Faculdade, pensa, será que vai entender o porquê da minha partida? Vai compreender, ela já é uma adulta e muito responsável. Passa no escritório, deixa instruções à assistente, escreve um mail ao cunhado António a explicar o que vai fazer, a pedir ajuda na gestão da empresa. Está um dia bonito de Sol, nota quando põe o carro em marcha, não sabe para onde vai, tem que sair da cidade. Arranca, respira fundo quando ultrapassa os limites da cidade e liga o rádio, des