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O PROBLEMA DO GONÇALO PARTE III

  Volto a suspirar, a Mãe e a Sofia ficam para jantar, é um jantar tranquilo, divertido. O telemóvel toca quando elas se despedem, é o António, queixa-se da escola, não gosta dos professores, dos colegas. Ouço-o atentamente, aconselho-o a ter calma e quando ele finalmente desliga, telefono à Alice para saber concretamente o que se passa. A minha ex acha que o António tem má-vontade, o Bruno adaptou-se muito bem, comenta, está a ser um sucesso entre os colegas e os professores gostam muito dele. Ok, eles vêm cá este fim de semana, respondo, falo melhor com o António, ele tem que fazer um esforço. Mas o meu filho não me quer ouvir, protesta contra o horário, a organização das aulas e acha os colegas "pedantes". O Bruno ri-se, pois eles pensam o mesmo de ti, diz, estás sempre calado, ficas encostado a um canto, não participas em nada! Até já me perguntaram se és atrasado mental!!! Bruno, interrompo, ninguém pode dizer isso, espero bem que tenhas defendido o teu irmão! e o Bruno

O PROBLEMA DO GONÇALO PARTE II

  É tudo uma questão de tempo, diz o Pai, eles próprios têm que descobrir isso e tu mostra-te receptivo, aconselha-os se tiverem dúvidas, deixa-os crescer. É complicado vê-los partir, fico no passeio até o carro desaparecer e depois volto para a minha casa vazia. Vazia é como quem diz, a Mãe descobriu a chave sobresselente e está a arrumar a cozinha, a Sofia na sala a dispor os móveis. Eu ia fazer isso, protesto e a Mãe ri-se, quando? pergunta e continua a arrumar, encolho os ombros e abro o frigorífico para tirar uma cerveja. Está cheio de alimentos, oh, Mãe, comprou isto tudo? exclamo e a Mãe volta a rir-se, já sei que só ias comer take-away, assim não tens desculpa! E, os miúdos? interrompe a Sofia e eu encosto-me ao frigorífico, encolho os ombros, não estão muito convencidos, não sei se se vão adaptar e não sei o que fazer se isso acontecer. O melhor a fazer é manter a calma, ouve-os, aconselha-os, repete a Mãe e eu suspiro, sim, foi isso o que o Pai disse. O teu Pai é um homem sen

O PROBLEMA DO GONÇALO

  Quando as coisas correm mal...correm mesmo mal, não importa o que a Mãe diz. A situação no Centro Desportivo não está famosa, até pedi ao Pai para fazer a revisão de contas e como se não bastasse, a minha companheira decide que está na altura de voar mais alto e quer separar-se. As condições que me oferecem são excepcionais, explica, vou ser a Directora de Operações, responsável pela logística da empresa, não entendes isso, Gonçalo? Entender, entendo, mas o problema é que terá que se mudar para a cidade onde está a sede da empresa e quer levar os nossos filhos. Vêm cá passar os fins de semana de quinze em quinze dias, continua a Alice, a viagem de comboio dura hora e meia e passam o Verão todo contigo, não vejo qual é o problema? Pois... mas eu gosto de jantar com eles, falar sobre o que se passou na escola e ler-lhes um capítulo do livro de aventuras. Quando lhes falo no assunto, a Alice já lhes contou, embora tivesse discordado, devíamos ter sido os dois, contesto, mas a minha ex e

A ENTREVISTA - FIM

  A Francisca não parece convencida e a Teresa suspira, a sobrinha pode ser muito teimosa ás vezes. O que diria a Rita agora? pensa e é então que tem uma ideia, um almoço só de mulheres em casa da irmã Carolina, era isso que a Rita faria. Vamos organizar um almoço em casa da Carolina, e ergue a mão quando percebe que a sobrinha vai protestar, convida-se a Clotilde e tu também vais estar lá.  Separam-se à porta, a Francisca está amuada, mas a tia está muito animada, telefona de imediato ao Gonçalo. Conta-lhe por alto a conversa com a Francisca, a tua filha está a exagerar, diz, mas tenho um plano e é por isso que preciso do nº de telemóvel da tua amiga. Mas o que é que vais fazer? insiste o Gonçalo, estas mulheres são uma confusão, pensa, mas não se atreve a contrariar a cunhada. Avisa a Clotilde de que vai receber um telefonema da cunhada Teresa, vais gostar dela, é muito sensata, muito prática, comenta, não sei o que ela tem em mente, mas vai ser interessante. A companheira gostaria d

A ENTREVISTA PARTE IV

  O jantar, organizado entusiasticamente pelo Rogério, decorre num ambiente tenso. A Francisca mostra-se distante, a Clotilde está surpreendida e só os dois homens comunicam facilmente. O Gonçalo sente-se magoado com a atitude da filha, a Clotilde opta por não dizer nada e deixa-o desabafar quando chegam a casa. Por seu lado, o Rogério critica abertamente a atitude da Francisca, por amor de Deus! Parecias uma adolescente com ciúmes da namorada do Pai! Deixa-o viver, é livre,, tem todo o direito de refazer a vida dele! Não sei, não simpatizei com ela, admite a Francisca, há qualquer coisa nela que não me agrada! Pois eu gostei muito dela, contraria o namorado, e se pensas que ela é uma oportunista e está apenas interessada no dinheiro do teu Pai, estás enganada. Ela trabalhou numa empresa de software, bem cotada no mercado como Directora dos Recursos Humanos com um salário brutal, tem dinheiro de família... vive sem preocupações! Mas, continua a Francisca e o Rogério ergue as mãos, desi

A ENTREVISTA PARTE III

  O teu irmão tem razão, diz a Clotilde quando o Gonçalo lhe conta a conversa, a tua filha tem que entender, ela própria vive com o namorado, qual é o problema??? Porque é que insistes em manter segredo? O Gonçalo suspira, tenho que encontrar a melhor maneira de abordar o assunto, a Francisca adorava a Mãe, explica, deixa-me tratar do assunto! Não vou interferir na tua relação com a tua filha, se é disso que tens medo, afirma a Clotilde, mas é melhor contares e o mais depressa possível. É melhor que ela saiba por ti do que por outros! O Gonçalo volta a suspirar, desvia a conversa e o resto do fim de semana passa-se entre idas ao ginásio, um passeio no trilho e um jantar animado com amigos. O início da semana é complicado, a Francisca quer adiar o almoço semanal, mas o Gonçalo não permite. A filha está nervosa, agitada, o cliente rejeitou o projecto, esforcei-me imenso para responder às exigências do cliente, Pai e tenho quase a certeza de que o que venceu não é tão forte como o meu! Já

A ENTREVISTA PARTE II

  Não estarás a exagerar? pergunta o Pai durante o almoço semanal e a Francisca não sabe o que responder. O almoço semanal foi uma exigência do Gonçalo, ok, vejo-te na empresa todos os dias e nos almoços de família ao domingo, mas estamos rodeados de pessoas. Quero ter uma conversa pessoal, entre Pai e filha sem interferências, justifica quando a Francisca protesta. Não achas que estás a exagerar? insiste o Pai, não tens que ganhar sempre, aprende com isso, onde pensas ter falhado e corrige. O objectivo é isso, aceitar derrotas, críticas construtivas e fazer um novo percurso a partir daí. A Francisca volta a sorrir, tens razão, não podemos ganhar sempre, mas não há nada de mal em querer mais? e o Gonçalo sorri também. Desvia a conversa para a nova loja que a Teresa vai abrir, o irmão António planeia mudar-se definitivamente para a vila para ficar mais perto do filho e do neto que vai nascer. Nunca pensei que o António tomasse essa decisão, confessa a Francisca, bem sei que a vila tem o